Arquitetura e Permacultura

Importância

A arquitetura se caracteriza por planejar abrigos, integrando ao lugar ambientes que respondam às necessidades básicas das pessoas: de espaço e necessidades fisiológicas e emocionais. Estes abrigos atendem demandas variadas, podem ser local de moradia, trabalho, serviços e devem proporcionar condições de desenvolver as atividades humanas com conforto, segurança e salubridade, além de responder, também, a criação de identidades culturais. Compreendidos na Permacultura como Zona Zero, os abrigos concentram atividades e fluxos intensos, seu posicionamento nos sítios define boa parte do arranjo das outras atividades desenvolvidas no lugar, as Zonas 1 e subsequentes,  a partir da eficiência energética de sua implantação e de suas aberturas. Em sua materialidade embarca grande quantidade de energia, em insumos e processos, que impactam fortemente o ambiente natural e as pessoas, em todo o ciclo de vida da construção, local e globalmente, sendo, portanto, sua concepção, um elemento-chave na Permacultura.

Objetivo

O objetivo desta aula é construir um universo de conhecimento relevante sobre a moradia, na perspectiva da Permacultura. A partir de um nivelamento inicial instigador, elaborar, conjuntamente com o grupo participante, um painel com toda a complexidade das características, necessidades e funções dos abrigos humanos. Tecer em conjunto  requisitos de espacialidade, ambiência, estabilidade, estanqueidade e identidade cultural, em observação e adequação ao contexto local. Estimular os participantes a tomar decisões a partir da leitura do lugar, da reflexão inspirada na visão sistêmica, na busca da eficiência energética, especialmente pela atualização dos modos tradicionais e experimentais de produção da arquitetura, compreendidos como mais resilientes e apropriados.

Conteúdo mínimo

Arquitetura e sua interface com o lugar e a permacultura. Necessidades humanas e as funções de seus habitats. Características dos habitats humanos, de modo a responder pelas necessidades dos indivíduos e da regeneração ambiental. Atualização técnica da arquitetura tradicional e experimental.

Metodologia

Na temática da Arquitetura e Permacultura procura-se proporcionar um nivelamento sobre o tema construção de abrigos resilientes e estimular a inteligência coletiva dos participantes, no sentido de construir um conteúdo potencializado, a partir da bagagem de conhecimento do grupo, em sinergia.

Em um primeiro momento do nivelamento propõe-se uma exposição de base teórica instigadora, com a abrangência necessária para a compreensão da natureza e do campo da Arquitetura. Esta exposição se desenvolve observando especialmente os modos tradicionais, experimentais e de busca de resiliência e impacto positivo ao lugar, em suas relações ecossistêmicas.

Num segundo momento, segue-se com intermédio da dinâmica World Café (Café do Mundo) com grupos ancorando trocas intuitivas e racionalizadas sobre temas relevantes. Estas trocas buscam a construção de um aprendizado referente às características, funções e necessidades da moradia, como espacialidade, ambiência passiva, estabilidade e materialidade racionalizada, interfaces ecossistêmicas e identidade cultural. Esta atividade, portanto,  visa a criatividade coletiva na busca de insights a partir das trocas sistematizadas entre os participantes, dinamizando um conteúdo mais rico e complexo, elaborado sinergeticamente.

Por último, é desenvolvida uma atividade prática conforme o perfil do grupo e disponibilidade de acesso às obras de interesse (arquitetura tradicional/ bioconstrução), por meio de visita técnico-pedagógica ou de execução ilustrativa de técnicas, oportunizando a experimentação prática com materiais naturais  como a terra crua ou o bambu.

Exposição

60 min

Exposição oral com apoio de recurso audiovisual

Arquitetura como processo decisório de materialização dos abrigos humanos , em  resposta às suas necessidades espaciais, de conforto e proteção.

A partir de bibliografia clássica sobre o tema, explora-se o arquétipo do abrigo, a casa,  como a arquitetura essencial do ser humano, assim como as características históricas relativas à sua metamorfose, de elemento integrado à natureza, passando por desconexão com o entorno até um recente redirecionamento para uma abordagem ecológica. Por esta via, busca-se reforçar a ideia da concepção arquitetônica pelo  dialogo da intuição com a tecnologia, de modo circular, lapidando intuições num movimento dialético junto a filtros tecnológicos no caminho da verificação e validação das hipóteses (croquis).

Posicionada como Zona 0 em relação aos fluxos de circulação de pessoas, seu planejamento deve observar os 12 princípios de planejamento da permacultura, como apresentado no tema Arquitetura e permacultura pelas colega Soraya, Júlia e Carolina. Além disto, perseguir o viés do bioregionalismo e das soluções baseadas na natureza apreendidas no estudo dos padrões naturais e do fazer histórico, que, por milhares de anos, empiricamente aprimora modos de produção local, com destaque ao uso da terra crua, de estrutura de madeira e de bambu.

O conteúdo deve, ainda,  proporcionar reflexão sobre usos essências do espaço, como a ancestralidade da centralidade do elemento fogo nos assentamentos humanos ou sobre como milenarmente evoluímos em responder a percepção de nossas carências de suporte para um grau mínimo de infraestrutura de conforto físico e emocional, até respondermos as mesmas questões hoje, com toda perspectiva tecnológica da formação da civilização ocidental.

Primordialmente adotávamos materiais disponíveis no entorno imediato ao local do assentamento humano. Após a revolução industrial passamos a adotar materiais preprocessados e direcionados às nossas demandas urbanas, de adensamento e concentração de estruturas físicas e pela perda e alienação em relação ao saber fazer construtivo tradicional. Isso limitou a produção do habitat a disponibilidades de recursos imediatos, passando nossas escolhas a serem mediadas pelo que Milton Santos chama de meio técnico-científico informacional, ou seja,  os elementos industrializados componíveis, como blocos de concreto, telhas de fibrocimento e janelas metálicas, que por sua acessibilidade no mercado, torna-se a resposta instintiva contemporânea.

Por outro lado, integramos, como seres pensantes, outros sistemas vivos ou em comunidades de organismos, e estas também podem ser representadas por um sistema social como família, escola, cidade – ecossistemas, ou melhor, sistemas cujas estruturas específicas resultam das interações e interdependências de suas partes (Ferry, 1994). Ou seja, ao buscarmos a arquitetura alinhada à visão da Permacultura, temos que compreender que a sociedade deve refletir sobre os impactos de sua ocupação na Terra. Nossa civilização se acostumou a desfrutar e exaurir o que o ambiente generosamente proporciona: o ar, a água, a terra, a diversidade de espécies, o clima e tudo o que daí provém, gerando pressão desproporcional à sua capacidade de resiliência e regeneração. Daí a importância em termos a “percepção do lugar” como um conjunto de padrões e sistemas interdependentes, “conhecer” o lugar numa estrutura íntima e profunda com base nos padrões, forças e energias existentes. Os padrões e sistemas desenvolvem um retrato específico do lugar A dinâmica do local revela dados tangíveis que são informação generativa da arquitetura” (WAHL, 2016). O design regenerativo procura construir, em vez de reduzir, o capital social e natural no lugar.

Outro conceito importante relacionado à Arquitetura em interface à Permacultura é Emergia, que a vem a ser “toda energia necessária para um ecossistema produzir um recurso”  (Odum, 1986). Compreende a energia abarcada em todo processo da execução e uso das construções. O padrão de consumo dos moradores, a ciclagem de água e de resíduos e a geração de energia das residências também participam fortemente de sua “pegada ecológica”, durante o ciclo de vida das residências.

Dinâmicas

World café

180 min

Educandos em uma sala de aula separados em grupos realizando a atividade World café.

Educandos realizando a atividade World café em grupos.

Um cartaz mostrando as conclusões de um dos grupos da atividade World café.

Cartaz mostrando as conclusões de um dos grupos da atividade World café.

Após a exposição com o propósito de instigar a reflexão, inicia-se o World Café, uma dinâmica que busca fomentar, a partir da criatividade coletiva, a inteligência em diálogos em rede colaborativa e desenvolver debates sobre questões relevantes ancoradas por subgrupos em circuito de trocas e construída pela costura de aportes e sínteses afloradas no processo.

O desafio ao grupo deve ser: a partir da palavra-chave “moradia”, quais os temas que estruturam os principais aspectos necessários para uma compreensão mais ampla, a ser tecida conjuntamente. Estes tópicos irão compor o foco de cada mesa temática, que serão suporte à construção do universo da moradia resiliente e regenerativa. Conforme o número de participantes haverá um número de grupos proporcional, buscando uma média de 6 participantes por grupo, resultando 4 ou 5 mesas.

Os temas, por mesas, podem ser a Zona -1 (o ser humano) como um primeiro tópico e uma divisão em outros 3 ou 4 temas principais relativos a moradia como Zona 0. Notoriamente, temas arquitetônicos da moradia são os que tangem a espacialidade: os cômodos e suas relações, a ambiência: as condições ambientais desejáveis para os ambientes, os fluxos previstos, como os de pessoas, água, energia, alimentos e outros, assim como a materialidade da casa: as adequações de materiais e sistemas construtivos.

Cada grupo ancora um dos temas. Os anfitriões do debate sobre cada um dos temas terão um período inicial, que pode ser entre 20 ou 30 minutos, para organizar as idéias iniciais, a partir de uma questão geradora em uma folha de papel tamanho A0, sobre uma mesa com lápis e canetas coloridas. A partir desta primeira troca, em períodos de 20 ou 30 minutos, parte do grupo irá se revezando entre as outras mesas temáticas de maneira que sempre haja um pequeno grupo inicial, 2 ou 3 pessoas, que irão fomentar as trocas com os colegas. Simultaneamente os colegas irão colaborar com o tema da mesa, e organizar a relatoria destas articulações, e assim segue, em rodízio, proporcionando uma participação de todos em todos os temas.

As questões tratadas devem ser organizadas a partir da reflexão sobre a Zona -1 (o ser humano) e pela busca da compreensão das necessidades, funções e características do abrigo humano, a Zona 0, em todas as suas interfaces.

Práticas

  4h

Instalação pedagógica 1: Visita técnica a um patrimônio arquitetônico, colonial ou eclético.

Turma do segundo Curso de Planejamento em Permacultura para a academia visitando uma construção colonial no Instituto Sociambiental em Viçosa/MG.

Grupo de participantes visitando uma construção colonial.

De acordo com a disponibilidade da Instituição organizadora, é proposto uma atividade de visita técnica em uma obra original da arquitetura tradicional brasileira. Nesta visita deverá ser observado a data da construção, as características da obra, os materiais de sua fundação, estrutura, alvenarias e revestimentos. A distribuição dos cômodos e suas relações, os modos de captar a luz solar e os ventos dominantes, a posição das aberturas, o pé direito, o tipo de cobertura, o estado de conservação geral e tudo mais que for possível observar. Se houver algum morador, ou conhecedor da história da construção, é de extrema relevância a conversa sobre as condições da execução e de preservação deste patrimônio.

INSTALAÇÃO PEDAGÓGICA 2: OFICINA DE INTRODUÇÃO À BIOCONSTRUÇÃO (TERRA CRUA OU BAMBU)

Uma instalação pedagógica compreendendo alguma técnica de bioconstrução pode ser realizada, de acordo com o contexto de organização da aula. Uma experiência de execução prática de técnicas construtivas tradicionais é bastante produtiva como aproximação com a realidade física do material tradicional e seus modos de processamento. No caso, da terra crua, base construtiva da arquitetura brasileira, a preparação anterior a dinâmica vai exigir tarefas específicas, ou seja,  caso se proponha a experimentar a produção de adobes, haverá a demanda de formas para os tijolos ou, se a opção for a taipa de sopapo (pau-a-pique), demandará uma estrutura prévia de bambu ou madeira para possibilitar a atividade de barreamento. Ou ainda um taipal, formas de madeira para a confecção de paredes de terra compactada, a partir da técnica da taipa.

Outra possibilidade é a apresentar para o universo da técnica do bambu. A partir de um nivelamento sintético sobre a história da planta e seus usos, seu manejo, colheita e tratamentos, passando pela manipulação do material. Este contato prático pode se dar por meio de tratamento, cortes, furações e execução de algum elemento de bambu e pode ser o treino sobre algum sistema de encaixe, ou a execução de uma peça simples. Ou ainda, conforme  a disponibilidade da preparação anterior, a montagem de um domo geodésico de bambu, com sistema de conectores previamente produzidos, de PVC ou outro material.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Referências sugeridas

A casa ecológica. Ideias práticas para um lar ecológico e saudável. Barcelona: Gustavo Gili 2011.

ADDIS, Bill. Reúso de materiais e elementos de construção. São Paulo: Oficina de textos, 2010

ALLEN, Eduard. La casa outra. La autoconstruccion segund el MIT. Barcelona: Gustavo Gili 1978

BARDOU, Patrick. Sol y arquitectura. Barcelona:Gustavo Gilli, 1980

Cobijo. Madrid: H. Blume Ediciones, 1979

Des architectures de terre. Paris: Centre Georges Pompidou, 1982 (Catalogo).

FERRY, Luc. A nova ordem ecológica: A árvore o animal e o homem  São Paulo: Ed. Ensaio,  2009

MINGUET, Josep Maria. Low Tech Archicteture. Barcelona: Instituto Monza Ediciones, 2010

NOVAES, Sylvia. et alii. Habitações indígenas. São Paulo: Nobel/Editora USP, 1983

Odum,H.T., 1996. Environmental accounting: Emergy and Environmental Decision Making, Ed John Wiley & Sons Ltd, USA.

RAPOPORT, Amos. Vivienda y Cultura. Barcelona:  Gustavo Gili, 1972.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo: razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1999

VASCONCELOS, Sylvio de. Arquitetura no Brasil: Sistemas construtivos. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 1970.

WAHL, Daniel Christian. Design de culturas regenerativas. Rio de Janeiro: Bambual editora, 2020

WEIMER, Günter. Arquitetura popular brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

HAYES, Samantha; et alli. Enabling Biomimetic Place-Based Design at Scale.

VAHAN, Agopyan, O desafio da sustentabilidade na construção civil.- São Paulo: Blucher, 2011.

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Arquitetura e permacultura

Importância

A arquitetura comparece no ambiente planejado da permacultura como um conhecimento importante, pois via de regra as edificações estão presentes em zonas energéticas de uso mais intenso. Assim, um entendimento de seus conceitos se torna pertinente no processo de planejamento do espaço, pois será a partir do ambiente construído de forma adequada, como um abrigo, que as pessoas poderão morar, trabalhar e pensar sobre as demais ideias de planejamento e manejo do espaço, de forma holística e sustentável.

Objetivo

Auxiliar as pessoas que têm vontade de construir a própria casa, ou alguma outra edificação, a partir do olhar da permacultura.

Dica: É importante embrar que é necessária formação técnica para construir com segurança, especialmente edificações grandes e complexas, pois é preciso conhecer a resistência dos materiais, ter noção de estrutura e respeitar as normas técnicas, por isso é fundamental o conhecimento, o estudo e a experiência no ofício de construir.

O processo de construir, seja um abrigo, casa, oficina, galpão, deve haver intensa participação dos que pretendem desfrutar desses espaços. Um primeiro requisito, recomendável, seria o envolvimento afetivo, considerar a obra como uma extensão das pessoas, expressando seus gostos e valores. O segundo aspecto importante é aprender com a experiência de construir, pois “a mesma casa que edificamos é a casa que nos edifica” (ditado grego). E, finalmente, é importante entender que a edificação “vive”, interage com as pessoas e com seu entorno, respira pelas paredes, precisa de cuidados e envelhece com o tempo, como se possuísse uma espécie de metabolismo que envolve ar, água, energia e resíduos.

Conteúdo mínimo

  • Pensar as edificações como elementos integrados ao local e à paisagem planejada.
  • Entender como as energias da natureza fluem em relação às edificações e como podem contribuir para minimizar gastos energéticos e impactos ambientais.
  • Compreender que, por estarem geralmente em zonas energéticas de uso intenso, há necessidade de abrigarem as pessoas com conforto e segurança, bem como, terem supridas suas necessidas e cumrpirem suas funções.

Metodologia

A forma de ensinar arquitetura e permacultura no CPP da UFSC leva em consideração duas etapas. Na primeira, são introduzidos alguns conceitos básicos de arquitetura associados aos 12 princípios da permacultura, por meio de uma exposição permeada por diálogo com os estudantes. Na segunda, convida-se a turma para aplicar os conceitos apresentados em uma atividade prática, realizada em grupos.

Utiliza-se a casa, uma residência unifamiliar, como exemplo de edificação, por ser a mais próxima da experiência de vida dos permaculturandos, procurando facilitar o entendimento dos conceitos em relação aos atributos e características dos ambientes (como quartos, cozinha, sala etc.).

Exposição

90 min

A exposição prevista na primeira parte busca apresentar conceitos da arquitetura associados aos 12 princípios de planejamento em permacultura. Assim, inicia-se propondo que os estudantes pensem nas necessidades, características e funções de uma casa. Pode-se listá-las no quadro. Qual seria sua Zona 0? Após uma breve conversa sobre essas ideias, passa-se a refletir sobre cada princípio.

O princípio 1 – observe e interaja – aborda questões relativas à concepção do projeto, que deve partir de uma análise do terreno disponível, considerando a topografia, a resistência do solo para as fundações, o entorno imediato, como vizinhança e vistas privilegiadas. Aborda também as características do clima local, a orientação solar, a direção dos ventos predominantes, a incidência de chuvas e as temperaturas e suas variações nas estações do ano. Inclui ainda as demandas dos usuários, o tamanho da família, suas preferências e necessidades.

Sobre o princípio 2 – capte e armazene energia – são lembradas as necessidades de uso de energia na edificação, a depender do clima local. Para aquecimento do ambiente ou da água, pode-se utilizar energia solar, eólica, queima de madeira de poda, escolher materiais com boa inércia térmica para as paredes, assim como empregar a ventilação cruzada para refrigeração dos ambientes, sendo também importante conhecer as maneiras de melhor aproveitar a iluminação natural e o uso de sistemas de baixo impacto ambiental.

Já o princípio 3 – obtenha rendimento – inclui o aproveitamento de espaços para plantio de alimentos de ciclo curto junto à casa, bem como noções de ergonomia no mobiliário e na organização do espaço interno.

O princípio 4 – pratique autorregulação e aceite conselhos (feedback) – trata da importância de usar o recurso do projeto arquitetônico, visto como uma atitude sustentável, uma vez que as concepções e mudanças são desenhadas previamente no papel, não acarretando custos adicionais de uma demolição, por exemplo, para corrigir algum erro de construção no futuro. São também abordadas noções de escala e de modelo reduzido como auxiliares para o ato de projetar.

No princípio 5 – use e valorize os recursos naturais renováveis – a partir de uma análise do clima local, observa-se o posicionamento das edificações, relacionado à sua eficiência energética e ao seu conforto térmico. Versa-se sobre o uso das cartas solares, a relação entre sol, ventilação e salubridade dos ambientes internos de maior permanência, o uso da vegetação adequada no entorno e os efeitos de radiação, condução e convecção das formas arquitetônicas e dos materiais utilizados.

Quanto ao princípio 6 – não produza desperdícios – procura-se abordar o tratamento dos efluentes produzidos em unidades habitacionais, como banheiro seco, círculo de bananeiras, bacia de evapotranspiração, bem como ressaltar a importância do aproveitamento de materiais na construção via reuso, reaproveitamento e reciclagem.

O princípio 7 – design partindo de padrões para chegar aos detalhes – traz noções de proporção e harmonia para a concepção da edificação e de seus ambientes, por meio da percepção do retângulo áureo e da sequência de Fibonacci presentes na natureza e na obra humana.

Em relação ao princípio 8 – integrar ao invés de segregar – apresentam-se os espaços comuns de convívio de pessoas, as funções compartilhadas, as diferenças entre ambientes que demandam maior ou menor privacidade, alerta-se para a acessibilidade universal, bem como para a importância dos mutirões para a construção solidária e pedagógica.

No princípio 9 – use soluções pequenas e lentas – chama-se a atenção para a qualidade dos materiais, especialmente da rede elétrica e hidráulica, em relação a sua segurança e durabilidade (sustentabilidade), abordando também a necessidade de cuidados durante a execução da obra, evitando improvisos que podem colocar as pessoas em risco, e a necessidade de uso dos EPIs (equipamentos de proteção individual), como luvas, óculos e capacetes em algumas atividades.

O princípio 10 – use e valorize a diversidade – aborda os múltiplos métodos de bioconstrução, a partir dos materiais disponíveis no local e adequados ao clima, como o uso de pedra, madeira, palha, bambu, a construção com terra, como adobe, superadobe, hiperadobe, cob, taipa de pilão, pau a pique, cordwood, solo-cimento, solo-cal etc. Introduzem-se as diversas técnicas, testes e aplicações, de modo a facilitar o reconhecimento dos materiais que apresentam maior potencial de uso no ambiente que se deseja planejar de forma sustentável.

Com o princípio 11 – use as bordas e valorize os elementos marginais – questiona-se qual seria a borda da casa: suas paredes, fachadas, jardins… O tópico versa sobre as relações interior/exterior.

Por fim, o princípio 12 – use a criatividade e responda às mudanças – remete a pensar sobre as dinâmicas do tempo, os ciclos do dia, da semana, das estações do ano, levando também em consideração as diferentes etapas da vida das pessoas, as gerações que habitam a casa ao longo do tempo, com diferentes necessidades de espaços e com diferentes formas de utilização.

Práticas

Pensando o abrigo

90 min

Sugere-se que esta prática seja realizada em grupos, preferencialmente com a mesma configuração dos grupos que serão constituídos para o projeto final do CPP. Essa sugestão de composição das equipes tem por objetivo que os integrantes possam retomar as discussões em vários momentos do processo de aprendizado, com maior fundamentação para a tomada de decisões.

A proposta é que cada grupo projete uma residência unifamiliar, considerando que os permaculturandos possuem um conhecimento comum compartilhado sobre a vivência em uma casa.

Escolhe-se, coletivamente, um local para a construção que seja do conhecimento de todos e estipulam-se as mesmas características para os moradores, como o número de filhos, as idades etc., ou seja, todos os grupos terão a mesma demanda.

Assim, propõe-se que os participantes construam uma maquete de argila, contemplando os diferentes ambientes da residência, aplicando os conceitos e os princípios apresentados e discutidos na etapa anterior.

Para a atividade prática serão necessários os seguintes materiais:

  • papel para rascunho e eventuais desenhos;
  • uma base de madeira com cerca de 40×50 cm, por grupo;
  • recipientes com água; e
  • argila para modelar, cerca de 1 kg por grupo.

Na base de madeira é fundamental que seja previamente fixada uma seta indicando o posicionamento do Norte ou Equador, para que sejam observados na decisão de distribuição das ambientes da casa, a insolação, os ventos, as vistas etc.

Permaculturandos moldando em argila a residência planejada. Foto: Arthur Nanni.

Os grupos devem trabalhar por cerca de 60 minutos, sendo a última meia hora reservada para que cada grupo apresente a maquete da casa aos demais.

Essa apresentação deve ser desenvolvida num ambiente interativo, que possibilite a troca de informações e o enriquecimento da experiência para maior apreensão dos conceitos, para que também possa ocorrer a percepção sobre a diversidade de ideias e de soluções possíveis aplicadas à prática da arquitetura.

Atividade no EaD

Utilizando o mapa da área de estudos escolhida pelo participante e com base no diagnóstico dos setores e nas características climáticas da área, solicite:

  • Análise do clima local (características climáticas, trajetória solar).
  • Determine o melhor local para inserir edificações (Zonas 0 e 1).
  • Analise os elementos, utilizando a metodologia de planejamento permacultural para a(s) estrutura(s) a ser(em) construída(s), prevendo suas características, funções e necessidades.
  • Defina e justifique quais seriam as melhores técnicas de bioconstrução para o local, considerando o clima e a disponibilidade de materiais naturais.
  • Desenhe, manualmente ou em um software de sua preferência, um projeto básico para essas estruturas. É importante sempre indicar a orientação (o Norte ou Equador). No caso de escolher desenhar em papel, digitalize ou envie uma fotografia com boa qualidade à tutoria.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leituras

Aula

Referências sugeridas

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento RuralvSustentável. Departamento de Desenvolvimento Rural Sustentável. Curso de Bioconstrução. Texto elaborado por: Cecília Prompt – Brasília: MMA, 2008. 64 p.

DOCZI, Gyorgy. O poder dos limites. São Paulo. Mercuryo. 1990.

FATHY, H. Construindo Com o Povo – Arquitetura para os Pobres. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

FRANCO, José Tomás. Como integrar os 12 princípios da permacultura para um projeto realmente sustentável. Archdaily. Tradução de Eduardo Souza. 2016. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/793829/como-integrar-os-12-principios-da-permacultura-para-um-projeto-realmente-sustentavel. Acesso em 8 mar 2022.

GIVONI, B. Comfort, climate analysis and building design guidelines. Energy and Buildings, 1992.

HINZ, E. GONZALEZ, E. Proyecto, clima y arquitectura. V. 3. G. Gili. México. 1986, 215p.

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HERZOG, J.; DE MEURON, P. Ricola Kräuterzentrum. Iluminação natural. Ambiente construído: Porto Alegre, 2005.

HOLMGREN, David. Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade. Porto Alegre: Via Sapiens, 2013. 416p.

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LAMBERTS, R. et al. Casa eficiente: Bioclimatologia e desempenho térmico. Florianópolis: UFSC/LabEEE, 2010.

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HIDALGO-LÓPEZ, Oscar. Bamboo – The Gift of the Gods. Ed. D’Vinni Ltda, Bogotá,
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MASCARÓ, Juan L. Loteamentos Urbanos. Porto Alegre, 2003.

MAZZETI, Bárbara Machado. Permane(sendo) na cidade: valores, atores e ações de permacultura no município de São Paulo. Extrapensa. São Paulo. V.12, p.574-595, set. 2019.

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SATTLER, Miguel A. Habitações de baixo custo mais sustentáveis. Porto Alegre, 2007.

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