Éticas e princípios de planejamento

Importância

Abordar as éticas e os princípios de planejamento logo no segundo encontro possibilita trabalhar com esses temas desde o início, permitindo que sejam resgatados ao longo do curso. As éticas e os princípios de planejamento são uma das bases que estabelecem a permacultura como uma ciência socioambiental e uma filosofia de vida, ou seja, muito mais que um balaio de técnicas.

Objetivo

Apresentar as éticas e os princípios de planejamento para que, além de serem incorporados, também possam ser consultados ao longo do curso.

Conteúdo mínimo

Éticas e princípios de planejamento propostos por David Holmgren. As Éticas propostas por vários autores são apresentadas e comparadas para que cada estudante opte pela forma que melhor se identificar. Os princípios propostos por Bill Mollison também são mencionados, mas de forma complementar, visto que muitos dos princípios sistematizados por Holmgren já contemplam aqueles a que Bill Mollison propôs.

Metodologia

Introdução às Éticas e História dos princípios

45 min

Se fazem duas perguntas de provocação à aula – como por exemplo: O que é ética? E o que nós humanos necessitamos para viver? – aguardando as respostas dos participantes que são escritas na lousa ou quadro de forma que todos vejam, tentando organizar as respostas, sem que os participantes percebam, segundo elas se encaixem nas necessidades propostas por Maslow em sua Pirâmide das Necessidades Humanas: sendo as necessidades das mais básicas até as mais complexas ou difíceis: Fisiológicas – de Segurança – Sociais – de Estima – de Autorrealização.

Então, apresenta-se a Pirâmide das Necessidades Humanas de Maslow, e se explica sua teoria: de que os humanos não conseguem focar no próximo degrau em busca de atender suas necessidades, enquanto não forem satisfeitas completamente as de níveis inferiores na hierarquia, e como isso explica  muitas atitudes humanas e formas de agir. Portanto quando buscamos uma sociedade/comunidade com adequadas condições de vida para todos, precisamos buscar esse crescimento de satisfações de forma que todos cresçamos em conjunto.

Isso nos leva à apresentação da Flor da Permacultura, proposta por David Holmgren, que mostra como a permacultura transpassa por todas essas necessidades humanas.

Éticas

A esta altura do encontro introduzimos a questão “O que é Ética?”

Assim, apresentamos as Éticas da permacultura por ordem, explicando a teoria proposta por Bill Mollison: de que se compreendêssemos a primeira ética que inclui o cuidado com o planeta, não precisaríamos de nenhuma das demais. Mas como ser humano não se vê como parte do planeta, precisamos ter algo mais explícito, e isso nos leva a segunda ética do cuidar as pessoas. Entretanto, há a compressão que não basta apenas cuidar, é necessário priorizarmos a inclusão de todos com paridade, o que nos levou a criar a terceira ética da permacultura. As palavras em destaque usadas para resumir as éticas foram propostas por Heather Jo Flores (3Ps: Planeta, Pessoas e Paridade).

Então explicamos que as éticas são sempre as mesmas três, mas que podem ser vistas, expressadas e compreendidas sob diferentes formas, segundo a releitura de diferentes autores, ou de forma que seja melhor compreendida por diferentes contextos.

Podendo ser:

  1. Cuidar da terra; ou
    Cuidar da Terra; ou
    Cuidar do Planeta; ou apenas
    Planeta.
  2. Cuidar das pessoas; ou apenas
    Pessoas.
  3. Limites ao crescimento populacional e ao Consumo; e/ou
    Compartilhar excedentes (inclusive conhecimentos); ou
    Partilha justa; ou
    Processo cuidadoso; ou
    Cuidar do futuro; ou
    Paridade.

Aqui encerra-se o conteúdo sobre as éticas, mostrando a diversidade e permitindo que os permaculturandos escolham a forma que melhor os representa de expressarem as mesmas três éticas. Então passamos para a abordagem sobre os princípios de planejamento.

Princípios de Planejamento

Inicia-se apresentando os princípios (em torno de 16) conforme foram abordados por Bill Mollison em seus primeiros livros. Em seguida, apresentamos uma comparação destes com os 12 princípios sistematizados por David Holmgrem, explicando ou solicitando que os estudantes comparem e façam as conexões de em quais princípios propostos por Bill que são representados por quais do David.

Finalizamos essa primeira parte mostrando a árvore da permacultura, proposta por Jo Flores, em que apresenta a permacultura como uma arvore, em que as éticas são as raízes, os troncos são os princípios, e os componentes do planejamento, que servem a atender nossas necessidades, são os ramos e folhas.

Trabalhando os Princípios

100 min

Inicia-se a aula solicitando que cada participante indique um princípio que aborde o tema sustentabilidade. Muitas indicações ambientais virão, e o instrutor deve estimular que venham as sociais e, por fim, as econômicas. Colocam-se as indicações no quadro posicionando-as de acordo com sua inserção, se o quesito é ambiental, social ou econômico.

Nesse ponto, é possível abordar as éticas, mostrando que “Cuidar da Terra” reflete de forma focada o quesito ambiental, “Cuidar das pessoas” reflete principalmente o social (mas também a saúde) e “Cuidar do futuro” reflete o quesito econômico (eco = casa e nomos = gestão) e inclui também questões sociais e organizativas, entre outras. Ao término dessa abordagem, sugere-se um breve intervalo.

Dica: A adoção da ética “Cuidar do futuro” como conteúdo é uma decisão do instrutor. Sua proposta é recente e ainda segue sendo avaliada quanto a sua adoção definitiva, porém, em muitos outros países, isso já está ocorrendo. Para essa ética, primeiramente Bill Mollison propôs “Limites ao crescimento” e “Redistribuição dos excedentes”, logo após, David Holmgren sintetizou esses dois em “Partilha justa”.

No retorno do intervalo, as atividades podem ser retomadas por meio da tarefa solicitada no primeiro encontro sobre os princípios de planejamento.

Solicite aos participantes, por ordem de princípio, que apresentem aquele que ficou a cargo do seu grupo na aula anterior, quando você entregou o material Princípios de Permacultura. Isso é feito em aproximadamente cinco minutos por princípio, podendo se alongar de acordo com o fluir do conteúdo e com a disposição do grupo em discutir a respeito de cada princípio. Após a apresentação, fixe a folha confeccionada para o princípio em um local de boa visibilidade na sala de aula. Faça o mesmo procedimento para os demais princípios, até fixar todos em uma parede ou painel visível. As folhas com cada princípio de planejamento ficarão nesse espaço até o término do curso e poderão/deverão ser consultadas sempre que oportuno, em cada tema que virá pela frente ao longo do curso.

Após esse momento, sugere-se a projeção do videoclipe da música The permaculture song, que resume os princípios.

Apresentação dos princípios pelos participantes. Foto: Marcelo Venturi.

Desenhos dos princípios feitos pelos participantes que ficam fixados até o final do curso. Foto: Marcelo Venturi.

Práticas

Revisando e sentindo os princípios

20 a 30 min

Logo após o videoclipe, é feita uma espécie de revisão/percepção sobre os princípios. Para tal, usa-se uma sequência de fotos com cenas que remetem aos princípios, sempre destacando um deles. Projetam-se as fotos e pergunta-se ao grande grupo sobre qual é o princípio que está em destaque na imagem. Ao final, os participantes compreendem que todas as cenas contêm todos os princípios, mas que há, também, a predominância de um deles.

Dica: Utilize imagens de livre acesso e uso, como as do Wikimedia Commons. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/Main_Page

Dinâmicas

Conectando princípios

30 min

Esta atividade pode ser apresentada previamente ao conteúdo dos princípios da permacultura ou a título de conhecimento histórico, logo a seguir da apresentação dos princípios. O objetivo da dinâmica é a comparação dos princípios de planejamento propostos por Bill Mollison em seus primeiros livros (em especial no Permaculture: A designer’s manual, 1988) com os 12 princípios de planejamento propostos por David Holmgren em seu livro Permaculture: Principles and Pathways Beyond Sustainability (2002).

Se lista em duas colunas distantes os princípios propostos por cada um dos autores. Então, com a participação da turma, se solicita para relacionar ou ligar, conectar os princípios que estão representados de uma coluna a algum equivalente na outra.

Assim se percebe que todos os princípios propostos por Bill Mollison estão bem representados nos princípios propostos por David Holmgren, e vice-versa. A partir destas listas pode-se também aprofundar alguns significados de cada um dos princípios, e explicar a sistematização didática feita por David Holmgren, que deu passos adiante em relação aos princípios propostos por Bill.

Coletivo unido

Ao final desse encontro, os participantes puderam trocar informações sobre si em pequenos grupos e também expor sua personalidade, como um “cartão de visitas” aos demais participantes. Entendemos que nesse momento é importante consolidar que seremos um grupo, “uma só família” até o final do CPP. Assim é proposta a dinâmica “Coletivo unido”.

10 min

Deixe preparadas etiquetas de quatro a cinco cores diferentes, de acordo com o número de participantes, incluindo você. Para cada cor haverá quatro, cinco ou mais etiquetas dependendo do número de participantes. A ideia é termos grupos de cores.

Solicite que todos permaneçam calados (“vaca amarela”) e fechem os olhos. Cole uma etiqueta na testa de cada participante e, por fim, solicite que um deles cole uma etiqueta em sua testa. Nesse ponto, todos conseguem ver as cores dos demais, mas não, a que está afixada em sua testa.

Solicite a todos que, calados, se unam por cores em grupos. É possível usar gestos e deslocar parceiros. Isso tudo deve ser feito no tempo máximo de 1 minuto. Ao longo do agrupamento, vá fazendo uma contagem regressiva, de 10 em 10 segundos.

Atividade no EaD

Solicite ao participante que relacione o princípio de planejamento adequado para cada frase a seguir:

  1. Muitas vezes, nossos olhos não enxergam a importância das margens. Esses ambientes são ricos em oportunidades. (Princípio 11: Use as bordas e valorize os elementos marginais.)

  2. Sincronizar o planejamento com o ritmo da natureza é uma das mais importantes escolhas para obter resultados eficazes e duradouros. (Princípio 9: Use soluções pequenas e lentas.)

  3. A integração de relacionamentos é chave para a obtenção da diversidade e do seu equilíbrio dinâmico. (Princípio 8: Integrar ao invés de segregar.)

  4. Recusar é a melhor forma de não gerar impactos negativos ao ambiente e também de alcançar a felicidade através da simplicidade, pois ela não pode ser comprada. (Princípio 6: Não produza desperdícios.)

  5. Não se pode compreender a importância de uma árvore sem antes entender o contexto da floresta. (Princípio 7: Design partindo de padrões para chegar nos detalhes.)

  6. A natureza está em constante mutação. Para acompanharmos sua dinâmica é necessário um bom grau de flexibilidade. (Princípio 12: Use a criatividade e responda às mudanças.)

  7. O equilíbrio dinâmico eficaz de um sistema planejado é mais facilmente obtido a partir da diversidade. (Princípio 10: Use e valorize a diversidade.)

  8. É necessário avaliar que fontes energéticas utilizamos e com qual finalidade. Na natureza todos os elementos possuem uma fonte energética embutida, com maior ou menor grau de concentração. A captação de energia deve vir acompanhada de um uso adequado e de uma armazenagem para que algum possível período de escassez energética seja superado com tranquilidade. (Princípio 2: Capte e armazene energia.)

  9. Utilizar materiais, fluxos de energia e valorizar os serviços ambientais de ciclo curto e local. (Princípio 5: Use e valorize os serviços e recursos renováveis.)

  10. Deve-se observar a disposição e a interação entre os elementos e os processos presentes em determinada área para então começar a interagir fazendo reflexões, planejamentos e ações sobre ela. (Princípio 1: Observe e interaja.)

  11. A natureza fornece respostas em relação às interações que mantemos com ela. Essas respostas podem contribuir para o crescimento da produção, seja ela de energia, alimentos ou outros itens, ou para a diminuição dela. Para buscar um equilíbrio no sistema é preciso estar atento a esses efeitos. (Princípio 4: Pratique a autorregulação e aceite feedback.)

  12. Para se construir um futuro mais seguro e saudável é necessário ter as necessidades atuais supridas. Portanto, deve-se pensar em resultados a curto, médio e longo prazo. (Princípio 3: Obtenha rendimento.)

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Acesse o conteúdo da aula Éticas e princípios de planejamento.

Referências sugeridas

DIXON, Milton. Future Care. Permaculture Productions LLC. Disponível em: https://permacultureproductions.com/2014/01/future-care/. Acesso em: 16 jan. 2022.

HARLAND, Maddy. Future Care – redefining the third permaculture ethic. Permaculture International, n. 95, Spring 2018. Disponível em: https://www.permaculture.co.uk/. Acesso em: 16 jan. 2022.

HOLMGREN, David. Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade. Tradução Luzia Araújo. Porto Alegre: Via Sapiens, 2013. 416 p.

PERMACULTURE Ethics and Principles. In: MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 16 jan. 2022.

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