Leitura da paisagem

Importância

As diferentes paisagens a serem planejadas precisam ser incorporadas na visão do permacultor, para serem melhor compreendidos os fluxos energéticos que serão utilizados no dia a dia do território planejado. Reconhecer a paisagem e definir seus potenciais e suas limitações é muito importante para otimizar tempo, dinheiro e trabalho.

Conforme David Holmgren, “a habilidade em ler a paisagem fornece ao planejador a oportunidade de trabalhar com os processos naturais ao invés de contra eles”.

Objetivo

Fazer com que o participante reconheça as diferenças entre cada porção da paisagem a ser planejada para melhor utilizar as energias presentes, tanto na forma potencial quanto nas fluentes.

Conteúdo mínimo

Leitura a partir de dados científicos, a observação de campo, o conhecimento contemplativo, uso de geo e bioindicadores, reconhecimento de setores na paisagem como: insolação, relevo, ventos, risco de incêndio, escoamento das águas, sombreamentos, umidade, ventos, curva-chave, dentre outros.

Metodologia

A aula é dividida em duas partes, sendo uma prática e outra dinâmica. A primeira é uma prática ao ar livre em que os participantes constroem em escala reduzida a paisagem ao seu redor. A segunda exercita os conhecimentos compartilhados na primeira parte através de imagens de paisagens que podem ser facilmente encontradas na internet.

Práticas

Incorporando a paisagem

90 min

Essa prática ao ar livre busca, de forma lúdica, materializar aos participantes os principais setores da paisagem e como a dinâmica dos fluxos energéticos condicionam as variáveis que precisam ser reconhecidas e interpretadas. Você precisará de:

  • um local onde seja possível avistar com clareza a morfologia do terreno, onde o sol incida mesmo que parcialmente (sombra de uma árvore) e o grupo possa permanecer por até duas horas interagindo;
  • um carrinho de mão cheio de areia; e
  • folhas, galhos do entorno.

Solicite que o grupo reconheça características da paisagem, como elevações, baixios, cursos d’água, entre outros. Após isso, transfira a areia do carrinho para o chão e solicite a uns três a quatro participantes que, com a areia, modelem a paisagem topográfica que os rodeia.

Note que a miniatura da paisagem precisa estar na mesma orientação que a paisagem ao entorno. Isso quase sempre ocorre automaticamente. Aos que concluírem a construção da miniatura solicite que usem segmentos de galhos para desenhar (materializar) trechos de cursos de água. Folhas podem ser usadas para estabelecer onde ocorrem as florestas e vegetação arbórea. Trace com a ponta do dedo as estradas e acessos, use pedrinhas para indicar construções, etc. Com todas as características materializadas será possível falar de dinâmicas de energias na paisagem.

Aula de Leitura da paisagem no campus da UFSC em Florianópolis. Foto: Marcelo Venturi.

Sugerimos começar pela presença do sol. Solicite uns dois voluntários que sinalizem onde nasce o sol e onde ele se põe. No que concluírem, pergunte sobre os diferentes movimentos feitos pelo sol em relação à superfície da miniatura. Estabeleça as relações de intensidade de insolação para verão e inverno (solstícios).

Após isso é possível corrigir conceitos. Assim, sugere-se fazer a trajetória do sol em relação a miniatura. Você pode usar o próprio punho (fechado) para simular a trajetória do sol. Para crianças é possível usar uma bola de brinquedo, tornando o processo mais lúdico.

Logo após, comente como são os ventos predominantes, em que época do ano ocorrem e com que intensidade e persistência. Não se esqueça de indicar ventos ocasionais, que costumam ter curta duração, porém, grande intensidade.

Depois disso, trabalhe as questões sobre presença de águas na paisagem. Onde há mais água? Nos topos das elevações as águas se concentram ou escoam? E nas depressões? São perguntas óbvias, mas que serão muito importantes para o próximo passo.

Com a relação de dispersão/concentração de águas, mostre onde estão as inflexões nas encostas da miniatura e, então, evidencie nessas pelo menos uns 6 pontos-chave. Quando os educandos entenderem sua presença, solicite que alguém faça a projeção lateral da curva-chave com a ponta dos dedos.

Insira na dinâmica de grupo a questão das vertentes (encostas), suas direções, se irão receber insolação no período da manhã ou tarde, durante todo o dia, ou se quase não receberão. Esse passo é importante para que os participantes entendam as diferenças entre os pontos cardeais e a importância de planejar em diferentes exposições solares.

Ao final, pergunte ao grupo: Qual seria o melhor lugar para estabelecer uma moradia nessa paisagem? Nesse momento, todos partem a fazer muitos “cálculos” a respeito de cada fenômeno natural e os respectivos fluxos energéticos abordados durante a prática. Uma vez indicado o melhor local (virão diferentes), ou seja, aquele que um número maior de participantes tenha apontado, inicie uma série de reflexões sobre o porquê da escolha. O resultado deve mostrar que as visões individuais passam a se aproximar, o que facilita a compreensão dos fenômenos naturais a que a paisagem está submetida, permitindo ao grupo opinar e decidir sobre qual a melhor opção no terreno para se estabelecer moradia e um planejamento permacultural.

Traçando valas de infiltração/escoamento, passeios e rampas

30 min

Esta é uma prática fundamental para estabelecer/calibrar a visão tridimensional do terreno e sensibilizar os participantes para a necessidade do uso de ferramentas. Nesse caso, será usado o pé-de-galinha, que possibilitará marcar em uma topografia ondulada, uma determinada curva com o mesmo nível ou com uma inclinação preestabelecida.

Escolha uma área ondulada, mas não muito íngreme, de preferência com pastagem ou com espaço aberto entre árvores, onde os participantes possam transitar.

Apresente o pé-de-galinha ao grupo e mostre como ele funciona, quais seus princípios, sua forma de confecção e suas funções em campo.

Após isso, inicie a prática de fato. Solicite aos participantes que, de mãos dadas, se alinhem ao nível do terreno, conforme julguem ser o nível (mesma altitude) a olho nu.

Agora inicie por uma das pontas desse alinhamento o nivelamento da curva proposta pelos participantes e lembre-os de que não podem sair do local que eles escolheram como o “nível certo”.

Prática com o pé-de-galinha na formação de professores no CPP para academia ocorrido em 2020.

 

Auxilie cada participante a operar o pé de galinha quando este estiver à frente de cada um e vá fincando pedaços de galhos/bambus no solo, de acordo com o nível certo, estabelecido pelo pé-de-galinha. Ao mesmo tempo, vá corrigindo a posição de cada participante.

Após estabelecer um plano com o pé-de-galinha, inicia a demonstração do traçado de uma rampa usando um dos níveis de bolha por padrão. Após compreendida a transposição para o terreno, solicite aos participantes que façam para outra inclinação.

Exposição

60 min

Selecione fotos de paisagens de diversos lugares que mostrem bem as questões abordadas na prática de incorporação da paisagem.

Curva-chave, estradas, casas e plantações são elementos da paisagem que devem estar presentes nessas imagens. Se houver um quadro branco que possa ser riscado, projete as imagens sobre ele e solicite que os educandos desenhem a curva-chave de cada paisagem mostrada.

Dica: Use o Google Earth e as fotos de paisagens locais. Se você dispuser de conexão com a internet, ficará mais lúdico viajar até o ponto onde está a paisagem a ser mostrada.

Bases para o projeto final

Por tradição, na disciplina da UFSC, é nessa aula que são fornecidas aos participantes as bases topográficas e de uso da terra que compreendem a área/território onde serão desenvolvidos os projetos finais de planejamento permacultural. Na apresentação dessas bases é comentado o conceito de curvas de nível, bem como de identificação de diferentes coberturas da terra na paisagem. Essas imagens poderão ser impressas em escala maior, no intuito de serem usadas para inserção das informações a cerca dos setores, zonas e elementos que farão parte do ambiente planejado.

Dica: Considerando a informação topográfica pode-ser propor a preparação de uma maquete que irá servir de base ao projeto final. A construção da maquete poderá ser feita com camadas de papelão, isopor ou outros materiais para sua posterior apresentação. Isso facilitará aos participantes a compreensão do conceito de morfologia do terreno, auxiliando na visualização em três dimensões.

A partir da entrega das bases, é importante frisar aos participantes que o projeto final tem seu início deflagrado. Assim, eles já podem ir pensando sobre os quesitos apresentados até então, possibilitando estabelecer como eles se manifestam na paisagem da área de planejamento.

Atividades no EaD

Leitura da paisagem com modelo virtual

30 min

Em ambiente remoto é possível fazer uma abordagem em sala virtual, usando o Google Earth e sua perspectiva em 3 dimensões. Para tal, escolha uma paisagem de sua familiaridade. Compartilhe sua tela com os participantes e vá revelando elementos na paisagem e indagando-os sobre o porquê se encontram nessas posições. Destaque elementos como rios, estradas, casas, vegetação, etc.

Abordagem no modo remoto usando-se do Google Earth para destacar elementos na paisagem. Estradas antigas planejadas na curva-chave e a expansão da alça de contorno da BR-101 na grande Florianópolis que segue o eixo do vale, onde estão presentes solos moles e o risco de inundação é maior. Pode-ser abordar também os impactos da obra para o ecossistema local.

Atividade avaliativa

Aliando os conhecimentos prévios de topografia aos materiais da aula de Leitura da Paisagem, solicite ao participante que, usando a sua área de planejamento reconhecida no Google Earth, faça um croqui (desenho) contendo:

  • Seu nome e nome da propriedade (se houver);
  • Curvas-chave;
  • Desenho do relevo através de curvas de nível ou sombreamento;
  • Identificação e posicionamento dos elementos já existentes na propriedade;
  • Cursos de água e nascentes;
  • Equador geográfico; e
  • Uma legenda contendo os símbolos que foram utilizados.
  • Indicação ou posicionamento dos setores: insolação, umidade, declividade, inundação, fogo, etc.

Pode-se desenhar digitalmente as marcações sobre o mapa, ou imprimi-lo, fazer as anotações necessárias à mão e depois escanear o material.

Dica: Para abordagens mais avançadas, como cursos de especialização, sugere-se abrir as bases em PDF em um aplicativo de desenho como o Inkscape. Uma vez dentro do aplicativo, será possível criar camadas para cada tema a ser mapeado. Assista a uma aula contendo formas de Mapeamento de setores.

Conteúdo complementar

Vídeos

Aula

Referências sugeridas

Doherty, D. J. & Jeeves, A (2015). Regrarians eHandbook – 2 Geography )1st ed). Bendigo – Australia. 87p.

MARS, Ross. O design básico em Permacultura / Ross Mars e Martin Ducker; tradução Potira Preiss. – Porto Alegre: Via Sapiens, 2008. 167 p.

MOLLISON, Bill; SLAY, Reny Mia. Introdução à permacultura. Tradução André Luis Jaeger Soares. Brasília: MA/SDR/PNFC, 1998. p. 48-84. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/199851. Acesso em: 28 jan 2022.

Permaculture design strategies and Techniques. In: MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 04 fev 2022.

Powers, M. (2018). The Permaculture Student 2: A collection of regenerative solutions—The Text Book (2o ed). PowersPermaculture123. 416p.

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Fundamentos de ecologia

Importância

Considerando os humanos como espécie pertencente à biodiversidade, podemos compreender a permacultura como ecologia humana aplicada, no sentido de planejar espaços sustentáveis e promover qualidade de vida para as populações atuais e futuras. O permacultor age numa interação harmoniosa com os ecossistemas, o que promove o aumento da diversidade e a produção de alimentos orgânicos, utilizando modelos naturais. O planeta é entendido como um organismo vivo, com estruturas, relações e funções interligadas e interdependentes.

Objetivos

Perceber que a permacultura, na sua abordagem sistêmica, baseia-se na ecologia como ciência-mãe. Reconhecer a importância do equilíbrio dinâmico da biosfera. Possibilitar a aplicação dos fundamentos de ecologia no planejamento e na criação de paisagens permaculturais e na sua integração com os demais princípios e conceitos da permacultura.

Conteúdo mínimo

  • Conceito de ecologia. Ecologia da biosfera e a visão planetária. A geomorfologia, o clima e os ecossistemas vinculados.
  • Gradientes ambientais e microclimas: fatores físicos, químicos e biológicos.
  • Ecologia florestal: fluxos de energia e matéria, sucessão natural e interações biológicas.
  • Ecologia aplicada à paisagem planejada, na construção e manutenção de agroecossistemas e na recuperação de áreas degradadas através de seu uso sustentável.
  • Reciclagem de matérias-primas e vermicompostagem.

Metodologia

Aula expositiva e dialogada, na qual são construídos os conceitos fundamentais de ecologia, utilizando ferramentas como projetor, quadro branco e vídeos. Prática e dinâmica para demonstrar conceitos discutidos anteriormente ou apresentar novos.

Exposição

60 min

O instrutor conduz uma exposição sobre os fundamentos e principais aspectos da ecologia, da visão planetária da biosfera aos biomas, ecossistemas naturais e agroecossistemas. Deve-se manter diálogo com a turma, apresentando questionamentos e incentivando a participação dos estudantes, pautando-se pelos seguintes temas: visão planetária, gradientes ambientais e microclimas, ecologia florestal, ecologia aplicada, reciclagem e vermicompostagem.

O que é ecologia?

No momento inicial pode-se construir com a turma o conceito de ecologia. É possível pautar a conversa na definição do próprio termo ecologia (do grego oikos = casa, logia = estudo), e a partir daí explorar os objetivos, objetos de estudos e aplicações da ecologia.

A visão planetária

Recomenda-se abordar a tectônica de placas como processo gerador do relevo e a resposta geomorfológica que auxilia na definição de diferentes climas. Como exemplo, pode-se apresentar o caso da cadeia de montanhas da Serra do Mar, que se estende do Sudeste ao Sul do Brasil, e que confere a essa grande região um clima e características similares. Destacar que a umidade que evapora do oceano viaja para o interior do continente até encontrar a serra. Aí o vapor d’água condensa-se e cai em forma de chuva, abastecendo com umidade a região litorânea e permitindo o desenvolvimento do bioma Floresta1 Atlântica. A partir disso, pode-se trabalhar o ciclo da água e seu papel essencial para a ecologia terrestre, traçando, por exemplo, o caminho dos rios desde a nascente até o mar e alguns fenômenos como o transporte de nutrientes, erosão, florestas ciliares etc.

Em quase todos os continentes ocorrem montanhas, e nelas acontece um fenômeno natural fundamental, que é a formação de nuvens. As nuvens são a água evaporada do oceano adjacente, que se condensa ao atingir altitudes mais elevadas. Com esse fenômeno em andamento, é comum a formação de chuvas. As águas então banham as florestas, escorrem com os rios e retornam para o mar. Essa configuração de processos atmosféricos é que influencia o clima da região litorânea de Santa Catarina até o Rio de Janeiro. Lembremos que na Ásia, o fenômeno das monções é semelhante, porém em escala bem maior. O Oceano Índico, em suas regiões tropicais, produz muitas nuvens que se movem sobre as áreas continentais. Naquela região, a cordilheira do Himalaia, com suas montanhas, permite a formação de geleiras em grandes altitudes. Isso adiciona o estado sólido do ciclo da água, que, ao passo que derrete e escorre continente abaixo, passa a alimentar inúmeras bacias hidrográficas, criando condições para a formação de importantes civilizações humanas, com mais de 2 bilhões de pessoas que dependem diretamente desse fenômeno para sua sobrevivência.

Abordar a ecologia sob uma perspectiva global e sistêmica, explicitando as dimensões espacial e temporal dos processos ecológicos. Recomendamos tecer relações entre o clima e a geomorfologia e explicar como estes influenciam a ecologia de um bioma ou ecossistema. O estudo da ecologia e o do clima andam juntos, e ambos têm uma história. O estabelecimento dos tipos climáticos das diferentes regiões da Terra depende de grandes ciclos climáticos. A temperatura controla todos os ciclos biológicos, dentro dos corpos dos seres vivos assim como em escala global formando as regiões climáticas. No caso recente dos últimos 20 mil anos, os ciclos mais importantes são as glaciações, que provocaram variações grandes de temperatura e dos níveis do mar. O bioma Floresta Atlântica, por exemplo, também sofreu com as glaciações, mas adaptou-se, dispersando-se até ocupar os territórios atuais.

Os gradientes ambientais e microclimas

É importante desenvolver entre os participantes o conceito de gradientes ambientais, buscando mostrar como as variações de fatores físicos e químicos, ainda que dentro de um mesmo ecossistema, podem gerar diferentes condições e microclimas que influenciam diretamente nos aspectos biológicos. Uma montanha, por exemplo, pode apresentar diferentes condições ambientais à medida que o relevo muda (fertilidade do solo, umidade, insolação); as condições também se alteram quanto mais nos distanciamos de um rio. A face sul de um morro (no hemisfério sul), por exemplo, geralmente apresenta um microclima mais frio e úmido que a face norte, devido à menor incidência de luz solar, e pode ser parcialmente adequada para o cultivo de certas espécies vegetais. A abertura de uma clareira na floresta cria novas condições ambientais. Essa compreensão é especialmente útil para o planejamento de paisagens e propriedades, possibilitando o aproveitamento e uso inteligente das potencialidades de um terreno.

Na natureza há muita variação das paisagens, das espécies, dos processos físico-químicos e dos fenômenos climáticos. É justamente essa variabilidade que muitas vezes torna a ecologia complexa e desinteressante, mas no caso da permacultura ela deve ser explorada ao máximo. O compromisso do instrutor é mostrar que as variações ambientais são respostas de um equilíbrio dinâmico da paisagem. As paisagens e seus relevos condicionam os seres vivos, suas reações e distribuições, que são controladas pela adaptação de cada espécie ao ecossistema.

Por isso é importante vincular aspectos geográficos na temática. Em primeiro lugar, deve ser feita uma análise sobre a variação latitudinal, ou seja, parte-se dos trópicos em direção aos polos. Na costa sudeste e sul do Brasil, há a influência de uma corrente marinha tropical que dá origem a alguns ecossistemas tropicais, como manguezais que aparecem até latitudes da ordem de 29°S. Já na costa do Oceano Pacífico, a América do Sul apresenta manguezais apenas até a latitude de 5°S, pois, naquela costa as correntes marinhas são frias. A água do mar contém e transporta calor que influencia as regiões litorâneas. É importante reconhecer que as questões oceânicas são decisivas para a ecologia e biodiversidade da Terra.

Outra variação importante é em relação à altitude. Subir uma montanha é perceber um gradiente ambiental comum da natureza, que compreende variações na temperatura e na umidade, que por sua vez, controlam as características dos solos e condicionam o tipo de comunidade biológica que se estabelece localmente. A temperatura é tão importante que, em caso de montanhas muito altas, a partir de certa altitude não há mais vegetação. Não havendo os produtores primários, não há fauna de herbívoros e assim por diante. Locais planos com rios ou nascentes apresentam grande variação ambiental no quesito teor de umidade no solo, que é uma variável que controla o desenvolvimento das plantas. Por essa razão, existem plantas aquáticas e outras terrestres e, para nossa sorte, algumas gostam de locais intermediários, ou seja, solos úmidos, evidenciando a contribuição do efeito de borda e fortalecendo o princípio de planejamento “Valorize as bordas e os elementos marginais”.

A quantidade de luz solar que atinge a superfície do planeta também varia e, locais florestais são reconhecidos como mais úmidos, pois seres vivos e matéria orgânica morta conseguem reter muita água. Animais de grande porte distribuem-se em áreas onde se observam variações de grande escala, em quilômetros. Invertebrados de solo sofrem mais influência de variações de umidade e incidência de luz solar, em escala de metros. Já microrganismos podem apresentar elevada densidade populacional em uma fruta em decomposição na serrapilheira.

Ecologia florestal

Na permacultura, é fundamental conhecer e compreender como os ecossistemas naturais funcionam, de modo que possamos “imitar” e replicar os processos naturais nas paisagens planejadas, otimizando-os se possível. As florestas, principalmente as tropicais, estão entre os ecossistemas mais complexos e diversos do planeta, constituindo-se assim como um dos modelos mais interessantes para o entendimento da ecologia. Recomendamos utilizar a floresta como tema gerador para desenvolver os seguintes conhecimentos: fluxos energéticos (fotossíntese, produção primária, teia alimentar e decomposição); ciclos de matéria (oxigênio, gás carbônico, carbono, nitrogênio, produção de biomassa e compostagem etc.); sucessão natural; interações biológicas.

As paisagens florestais se renovam pelo ciclo de vida dos organismos que compõem o ecossistema. Árvores velhas e grandes são organismos que representam uma etapa fundamental para a ecologia da floresta, pois, quando morrem, deitam-se sobre o solo para serem decompostas, permitindo que a luz solar penetre nas camadas mais baixas da floresta. A entrada adicional de luz afeta a luminosidade e a temperatura, o que poderá levar à germinação de plantas que, em outra condição, não poderiam germinar e crescer. Esse é um processo natural nas florestas tropicais e subtropicais denominado “dinâmica de clareiras”.

As atuais paisagens naturais florestais estão muito alteradas, devido ao impacto das ações humanas que levam à perda de áreas florestais. Muitas paisagens atuais apresentam pastos adjacentes aos fragmentos florestais. A regeneração de florestas ocorre por um processo natural, chamado sucessão ecológica. Nessa sucessão, solos expostos pela desflorestação (por causas naturais ou antrópicas) são colonizados de forma pioneira pelas plantas das proximidades cujas sementes podem ser levadas pelo vento, por animais ou estar presentes no banco de sementes do solo. Após estabelecimento da primeira geração de sementes, as espécies seguintes colonizam e ocupam mais espaço, de modo que aumenta a interação das plantas com o solo, com acúmulo de matéria orgânica. A presença física das plantas pioneiras também atrai animais. Com o passar do tempo e com o desenvolvimento das plantas e aumento da biodiversidade, a sequência do processo leva a comunidade biológica a atingir um estado de organização e funcionamento de equilíbrio dinâmico. Reconhecer a sucessão ecológica e seus diferentes estágios sucessionais é importante para conhecermos as plantas e a formação dos solos. O significado maior é que a maioria das comunidades biológicas atuais está em algum estágio diferente da sucessão ecológica. Isso porque os seres vivos, em seus ciclos de vida, nascem, crescem, reproduzem-se, envelhecem e morrem. A interação entre os seres vivos durante os seus ciclos vitais, nas suas comunidades biológicas, é a ecologia.

Gráfico que mostra a sucessão natural com exemplo na vegetação. A imagem descreve que a medida em que a sucessão ocorre, a biodiversidade aumenta, bem como a espessura dos solos.

Sucessão ecológica e o aumento de biodiversidade. Traduzido e adaptado de LucasMartinFrey.

Reciclagem e vermicompostagem

A vermicompostagem está junto da ecologia porque a reciclagem da matéria orgânica é um dos princípios mais importantes da ecologia da biosfera. Imagina-se que em um mundo de produção de matéria orgânica viva através da fotossíntese, que morre e se acumula, é razoável pensar que deveriam evoluir organismos devoradores de restos orgânicos. Os materiais vivos e mortos nos ecossistemas são orgânicos e para se tornarem novamente nutrientes minerais, devem ser remineralizados. Os fungos e bactérias de todas as cadeias alimentares são os responsáveis por essa remineralização. Na ecologia, os nutrientes minerais, como os nitratos e os fosfatos, entre outros, estão sempre na via líquida, ou seja, devem estar dissolvidos em água nos solos para serem absorvidos pelas raízes das plantas. Esse processo da reciclagem de nutrientes controla a saúde das florestas, ou seja, elas dependem dos nutrientes que são remineralizados dentro dos solos onde vivem.

O processo de reciclagem natural pode ser também aplicado às demandas urbanas, na questão da destinação dos resíduos sólidos orgânicos. Dentro da ecologia dos solos, as minhocas são importantes recicladoras de matéria orgânica. Na sua dieta de restos vegetais depositados nos solos das florestas, elas podem ingerir também fungos e bactérias que, reunidos e processados nos seus longos intestinos, produzem o húmus, que contém também nutrientes minerais disponíveis para as plantas. O húmus é como o esterco de outros animais. Centopeias e lesmas também defecam nos solos e contribuem com a reciclagem. Considerando a reciclagem e o papel das minhocas nos solos, temos a atividade da vermicompostagem. Assim, a vermicompostagem pode nos oferecer várias formas de reciclar os resíduos sólidos orgânicos produzidos nas cidades.

Dinâmica

Ciclo reprodutivo das árvores

30 min

Esta dinâmica tem como objetivo aplicar os conhecimentos de ecologia em um contexto florestal, especificamente no contexto de ciclo de vida das árvores. A turma é dividida em três equipes, de modo que cada uma seja responsável por uma das etapas do ciclo de vida das árvores: 1) árvore somente com folhas; 2) árvore durante a floração; e 3) árvore durante a frutificação. Os grupos deverão reunir-se e discutir sobre sua respectiva fase: o que ocorre naquela etapa do ciclo; quais interações biológicas acontecem (ex.: polinização, predação, dispersão, micorrizas); o que acontece no solo, qual a relação com as estações do ano e outros fatores físico-químicos etc. Após a conversa em grupos, as equipes deverão apresentar os resultados à turma.

Tamanho do bando

30 min

Uma das discussões mais recorrentes em nossos cursos versa sobre a capacidade de suporte de ecossistemas. Ela surge a partir da observação da problemática contemporânea em relação à expansão urbana e a formação de extensas aglomerações em todo o mundo, promovendo o afastamento de seus habitantes em relação à natureza e da produção de alimentos.

Em alguns aspectos, essas aglomerações são fruto de nossa visão e gestão centralizada mantida pela disputa de poderes, que muitas vezes acaba virando mais uma armadilha do que uma solução, consumindo recursos naturais cada vez mais longínquos, conferindo-lhes um alto grau de insustentabilidade.

Nessa problemática e, devido ao fato de a espécie humana se estruturar em bandos, como tantas outras espécies, essa dinâmica propõe refletir se haveria um tamanho de bando (aglomeração) ideal para se ter uma vida com qualidade.

Após essa introdução, pergunte aos participantes: “O que busca uma espécia ao conviver em bando?” As respostas mais imediatas geralmente incluem: proteção, segurança – seguida de reprodução – alimentação e socialização. Geralmente fica por aí. Dentro dessas respostas, faça uma nova pergunta aos participantes: “Para você, qual o tamanho ideal de um bando de humanos para atender esses quesitos?”.

Não deixe que respondam. Pegue pequenos pedaços de papel e solicite aos participantes que escrevam um número ideal de integrantes desse bando. Dê uns três minutos para que anotem e depois recolha os papéis.

Após, use uma planilha de cálculo ou vá somando os números de cada papel e, por fim, faça uma média aritmética para obter um valor. Uma vez obtida essa média, discuta com o grupo o resultado. A discussão é importante para mostrar que a quantificação matemática, mesmo que simplista, nos dá uma ideia sobre sustentabilidade de bando. No decorrer da discussão, trabalhe bem as ideias de reflexão sobre o tema, explorando pontos-chave que possibilitem a sensibilização do grupo para a compreensão de processos ecológicos, como a capacidade de suporte, para os nossos modelos de convívio, sejam eles aglomerados ou não.

Dica: Aplique essa dinâmica logo após a aula de Fundamentos de Ecologia, pois fará mais sentido para o grupo.

Prática

Vermicompostagem

45 min

Pode ser realizada em campo ou em sala de aula. Buscam-se, em um ambiente de compostagem, natural ou artificial, materiais e pequenos insetos decompositores. Em uma bandeja, colocam-se os materiais, os quais são mexidos para revelar os decompositores em meio aos materiais orgânicos em decomposição. Aqui é importante comentar sobre as funções que cada animal desempenha, bem como suas características, comportamento e forma de reprodução, e, também, falar sobre as necessidades de cada um, pois cada um é um elemento único no ambiente planejado. Assim, é necessário ofertar uma boa condição de vivência a cada espécie buscando o êxito no processo de compostagem.

Após essas explanações, é importante convidar os participantes a tocar os “bichinhos”, para também experimentar as sensações de sentir sua locomoção, temperatura etc. Essa prática tem conexão direta com a aula de Ecologia cultivada, onde, mais adiante, aborda-se a estruturação da serrapilheira.

Estudantes tocando os “bichinhos” para entendê-los. Foto: Arthur Nanni

Questões para continuar a interação com a turma
  • Quais são os tipos de lixo que nossa sociedade produz (líquidos, sólidos e gasosos)?
  • Quais são as tecnologias de reciclagem que vocês conhecem? Conhecem detalhes técnicos? Tempo? Volume?
  • Quais os tipos de produtos que podem ser utilizados após a reciclagem?

Atividade no EaD

Solicite ao participante que busque descobrir e reconhecer espécies vegetais silvestres de sua região de estudo. Para isso, solicite que ele relacione pelo menos duas espécies vegetais que ocorrem no estágio pioneiro, duas no intermediário e duas de clímax da sucessão ecológica, indicando o nome popular de cada espécie relacionada.

Incentive os alunos a produzirem um pequeno texto explicativo sobre o que é sucessão ecológica, considerando seu ecossistema local.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Acesse o conteúdo da aula Fundamentos de ecologia.

Referências sugeridas

GÖTSCH, E. O renascer da agricultura. Tradução Patrícia Vaz. 2. ed. Rio de Janeiro: AS-PTA, 1996. 24 p.

MARS, Ross; DUCKER, Martin. O design básico em Permacultura. Porto Alegre: Via Sapiens, 2008. 167 p.

ODUM, Eugene P. Ecologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1988.

RICKLEFS, R. E. A economia da natureza. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.

1 O termo “floresta” foi aqui adotado em virtude de a palavra tradicionalmente conhecida “mata” sugerir, na opinião dos autores, algo que diminui o real valor do bioma.

Padrões Naturais

 

Importância

Os padrões naturais refletem as estratégias evolutivas de adaptação a um meio promovidas por espécies e ambientes. Essas adaptações, sobretudo para seres vivos, são entendidas como cruciais para a permanência no espaço a longo prazo.

Uma boa compreensão dos padrões naturais permite uma melhor organização e eficiência energética do ambiente planejado, uma vez que otimizam os fluxos de energia e matéria, aumentam as interconexões no planejamento, tornando a vida mais fácil e o manejo mais eficiente.

Objetivo

Fazer com que o participante reconheça e compreenda como as coisas (elementos) se adaptam ao meio que as abriga e as mantém, a longo prazo, estáveis na paisagem. Estabelecer o elo sobre como utilizar os padrões naturais no espaço planejado para:

  • criar paisagens harmoniosas;
  • proporcionar fluxos de materiais e energia similares aos dos sistemas naturais;
  • conservar energia;
  • estabelecer a ciclagem de detritos; e
  • criar novos recursos (sinergia).

Conteúdo mínimo

Devem ser contemplados os padrões naturais biológicos, geológicos, minerais, de fluxo, sensoriais e temporais. É importante facilitar a compreensão da eficiência de cada padrão natural, bem como revelar suas relações/vocações no ambiente planejado.

Metodologia

Práticas

Observação na natureza

60 min

Levar os participantes a uma área verde e solicitar que, individualmente, observem e reconheçam padrões naturais ao seu redor. Após isso, reunir o grupo para ver o que cada um dos participantes encontrou e discutir sobre o padrão reconhecido, buscando facilitar o reconhecimento dos demais participantes, bem como explicar as estratégias evolutivas de otimização de energia explícitas no elemento/material em discussão.

Uma roda com os participantes junto a uma floresta onde são discutidos os padrões encontrados por cada um.

Participantes descobrindo padrões naturais junto ao CPP para a academia realizado em 2020 na UFV em Viçosa/MG. Foto: Jefferson Mota.

Em caso de chuva, vale ter uma coleção de materiais e artefatos com padrões claros naturais, como galhos, folhas, sementes etc. Em sala de aula coloque-os sobre uma mesa central e distribua-os entre os participantes. Solicite aos participantes que reconheçam padrões e, após isso, abra uma discussão sobre cada padrão, buscando dar nomes a eles. Uma variação dessa atividade pode ser solicitar que os participantes desenhem os padrões.

Dinâmicas

Trabalhando os sentidos

30 min

Esta prática é ideal para ser aplicada ao ar livre e em meio à natureza. Coloque os alunos em um círculo, sentados, voltados para fora, de costas para o centro. Solicite que fechem os olhos e passe objetos para que eles os toquem. Ofereça uma diversidade de formas, texturas e cheiros. Os objetos, antes escondidos em um sacolão são distribuídos pelo instrutor para cada participante, o qual, após senti-los, um a um, passa-os para o colega ao lado – sempre na mesma direção, de forma a sentir os padrões, sem se preocupar em identificá-los.

Ao final do reconhecimento de texturas e padrões dos objetos pelo tato, pedir para que se deitem no mesmo lugar, para que em silêncio ouçam e identifiquem padrões sonoros.

Padrões percebidos pelos sentidos além da visão. Foto: Marcelo Venturi.

Exposição

60 min

Em sala de aula, o instrutor deve expor, através de fotos, figuras e objetos, os diferentes tipos de padrões naturais. Nesse momento, busca-se o debate sobre que estratégias de permanência estão embutidas em cada padrão.

Padrão espiral em exemplar de Aloe polyphylla. Fonte: Just chaos – Aloe Plant, CC BY 2.0.

Padrões radial e concêntrico em uma teia. Fonte: CC BY-SA 3.0. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=103323. Acesso em: 31 maio 2019.

Dica: Use imagens de acesso livre para confeccionar seus materiais didáticos. Um bom banco pode ser encontrado em Wikimedia Commons.

Atividade no EaD

Solicite ao participante que dê um passeio na sua propriedade de estudo, que observe a paisagem e os elementos que a compõem, que identifique pelo menos três padrões naturais presentes, nomeie os padrões identificados e fotografe os elementos que os ilustram. É interessante solicitar que ele descreva o contexto em que o objeto se encontra na paisagem.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Referências sugeridas

MARS, Ross. O design básico em Permacultura / Ross Mars e Martin Ducker; tradução Potira Preiss. – Porto Alegre: Via Sapiens, 2008. 167 p.

MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. Natural Patterns. In: MCKENZIE, Lachlan; LEMOS. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: http://permacultureguidebook.org/. Acesso em: 20 jan 2022.

MOLLISON Bill; SLAY, Reny Mia. Compreendendo padrões. In: MOLLISON, Bill; SLAY, Reny Mia. Introdução à permacultura. Tradução André Luis Jaeger Soares. Brasília: MA/SDR/PNFC, 1998. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/199851. Acesso em: 20 jan 2022.

Entre em contato com os autores

Éticas e princípios de planejamento

Importância

Abordar as éticas e os princípios de planejamento logo no segundo encontro possibilita trabalhar com esses temas desde o início, permitindo que sejam resgatados ao longo do curso. As éticas e os princípios de planejamento são uma das bases que estabelecem a permacultura como uma ciência socioambiental e uma filosofia de vida, ou seja, muito mais que um balaio de técnicas.

Objetivo

Apresentar as éticas e os princípios de planejamento para que, além de serem incorporados, também possam ser consultados ao longo do curso.

Conteúdo mínimo

Éticas e princípios de planejamento propostos por David Holmgren. As Éticas propostas por vários autores são apresentadas e comparadas para que cada estudante opte pela forma que melhor se identificar. Os princípios propostos por Bill Mollison também são mencionados, mas de forma complementar, visto que muitos dos princípios sistematizados por Holmgren já contemplam aqueles a que Bill Mollison propôs.

Metodologia

Introdução às Éticas e História dos princípios

45 min

Se fazem duas perguntas de provocação à aula – como por exemplo: O que é ética? E o que nós humanos necessitamos para viver? – aguardando as respostas dos participantes que são escritas na lousa ou quadro de forma que todos vejam, tentando organizar as respostas, sem que os participantes percebam, segundo elas se encaixem nas necessidades propostas por Maslow em sua Pirâmide das Necessidades Humanas: sendo as necessidades das mais básicas até as mais complexas ou difíceis: Fisiológicas – de Segurança – Sociais – de Estima – de Autorrealização.

Então, apresenta-se a Pirâmide das Necessidades Humanas de Maslow, e se explica sua teoria: de que os humanos não conseguem focar no próximo degrau em busca de atender suas necessidades, enquanto não forem satisfeitas completamente as de níveis inferiores na hierarquia, e como isso explica  muitas atitudes humanas e formas de agir. Portanto quando buscamos uma sociedade/comunidade com adequadas condições de vida para todos, precisamos buscar esse crescimento de satisfações de forma que todos cresçamos em conjunto.

Isso nos leva à apresentação da Flor da Permacultura, proposta por David Holmgren, que mostra como a permacultura transpassa por todas essas necessidades humanas.

Éticas

A esta altura do encontro introduzimos a questão “O que é Ética?”

Assim, apresentamos as Éticas da permacultura por ordem, explicando a teoria proposta por Bill Mollison: de que se compreendêssemos a primeira ética que inclui o cuidado com o planeta, não precisaríamos de nenhuma das demais. Mas como ser humano não se vê como parte do planeta, precisamos ter algo mais explícito, e isso nos leva a segunda ética do cuidar as pessoas. Entretanto, há a compressão que não basta apenas cuidar, é necessário priorizarmos a inclusão de todos com paridade, o que nos levou a criar a terceira ética da permacultura. As palavras em destaque usadas para resumir as éticas foram propostas por Heather Jo Flores (3Ps: Planeta, Pessoas e Paridade).

Então explicamos que as éticas são sempre as mesmas três, mas que podem ser vistas, expressadas e compreendidas sob diferentes formas, segundo a releitura de diferentes autores, ou de forma que seja melhor compreendida por diferentes contextos.

Podendo ser:

  1. Cuidar da terra; ou
    Cuidar da Terra; ou
    Cuidar do Planeta; ou apenas
    Planeta.
  2. Cuidar das pessoas; ou apenas
    Pessoas.
  3. Limites ao crescimento populacional e ao Consumo; e/ou
    Compartilhar excedentes (inclusive conhecimentos); ou
    Partilha justa; ou
    Processo cuidadoso; ou
    Cuidar do futuro; ou
    Paridade.

Aqui encerra-se o conteúdo sobre as éticas, mostrando a diversidade e permitindo que os permaculturandos escolham a forma que melhor os representa de expressarem as mesmas três éticas. Então passamos para a abordagem sobre os princípios de planejamento.

Princípios de Planejamento

Inicia-se apresentando os princípios (em torno de 16) conforme foram abordados por Bill Mollison em seus primeiros livros. Em seguida, apresentamos uma comparação destes com os 12 princípios sistematizados por David Holmgrem, explicando ou solicitando que os estudantes comparem e façam as conexões de em quais princípios propostos por Bill que são representados por quais do David.

Finalizamos essa primeira parte mostrando a árvore da permacultura, proposta por Jo Flores, em que apresenta a permacultura como uma arvore, em que as éticas são as raízes, os troncos são os princípios, e os componentes do planejamento, que servem a atender nossas necessidades, são os ramos e folhas.

Trabalhando os Princípios

100 min

Inicia-se a aula solicitando que cada participante indique um princípio que aborde o tema sustentabilidade. Muitas indicações ambientais virão, e o instrutor deve estimular que venham as sociais e, por fim, as econômicas. Colocam-se as indicações no quadro posicionando-as de acordo com sua inserção, se o quesito é ambiental, social ou econômico.

Nesse ponto, é possível abordar as éticas, mostrando que “Cuidar da Terra” reflete de forma focada o quesito ambiental, “Cuidar das pessoas” reflete principalmente o social (mas também a saúde) e “Cuidar do futuro” reflete o quesito econômico (eco = casa e nomos = gestão) e inclui também questões sociais e organizativas, entre outras. Ao término dessa abordagem, sugere-se um breve intervalo.

Dica: A adoção da ética “Cuidar do futuro” como conteúdo é uma decisão do instrutor. Sua proposta é recente e ainda segue sendo avaliada quanto a sua adoção definitiva, porém, em muitos outros países, isso já está ocorrendo. Para essa ética, primeiramente Bill Mollison propôs “Limites ao crescimento” e “Redistribuição dos excedentes”, logo após, David Holmgren sintetizou esses dois em “Partilha justa”.

No retorno do intervalo, as atividades podem ser retomadas por meio da tarefa solicitada no primeiro encontro sobre os princípios de planejamento.

Solicite aos participantes, por ordem de princípio, que apresentem aquele que ficou a cargo do seu grupo na aula anterior, quando você entregou o material Princípios de Permacultura. Isso é feito em aproximadamente cinco minutos por princípio, podendo se alongar de acordo com o fluir do conteúdo e com a disposição do grupo em discutir a respeito de cada princípio. Após a apresentação, fixe a folha confeccionada para o princípio em um local de boa visibilidade na sala de aula. Faça o mesmo procedimento para os demais princípios, até fixar todos em uma parede ou painel visível. As folhas com cada princípio de planejamento ficarão nesse espaço até o término do curso e poderão/deverão ser consultadas sempre que oportuno, em cada tema que virá pela frente ao longo do curso.

Após esse momento, sugere-se a projeção do videoclipe da música The permaculture song, que resume os princípios.

Apresentação dos princípios pelos participantes. Foto: Marcelo Venturi.

Desenhos dos princípios feitos pelos participantes que ficam fixados até o final do curso. Foto: Marcelo Venturi.

Práticas

Revisando e sentindo os princípios

20 a 30 min

Logo após o videoclipe, é feita uma espécie de revisão/percepção sobre os princípios. Para tal, usa-se uma sequência de fotos com cenas que remetem aos princípios, sempre destacando um deles. Projetam-se as fotos e pergunta-se ao grande grupo sobre qual é o princípio que está em destaque na imagem. Ao final, os participantes compreendem que todas as cenas contêm todos os princípios, mas que há, também, a predominância de um deles.

Dica: Utilize imagens de livre acesso e uso, como as do Wikimedia Commons. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/Main_Page

Dinâmicas

Conectando princípios

30 min

Esta atividade pode ser apresentada previamente ao conteúdo dos princípios da permacultura ou a título de conhecimento histórico, logo a seguir da apresentação dos princípios. O objetivo da dinâmica é a comparação dos princípios de planejamento propostos por Bill Mollison em seus primeiros livros (em especial no Permaculture: A designer’s manual, 1988) com os 12 princípios de planejamento propostos por David Holmgren em seu livro Permaculture: Principles and Pathways Beyond Sustainability (2002).

Se lista em duas colunas distantes os princípios propostos por cada um dos autores. Então, com a participação da turma, se solicita para relacionar ou ligar, conectar os princípios que estão representados de uma coluna a algum equivalente na outra.

Assim se percebe que todos os princípios propostos por Bill Mollison estão bem representados nos princípios propostos por David Holmgren, e vice-versa. A partir destas listas pode-se também aprofundar alguns significados de cada um dos princípios, e explicar a sistematização didática feita por David Holmgren, que deu passos adiante em relação aos princípios propostos por Bill.

Coletivo unido

Ao final desse encontro, os participantes puderam trocar informações sobre si em pequenos grupos e também expor sua personalidade, como um “cartão de visitas” aos demais participantes. Entendemos que nesse momento é importante consolidar que seremos um grupo, “uma só família” até o final do CPP. Assim é proposta a dinâmica “Coletivo unido”.

10 min

Deixe preparadas etiquetas de quatro a cinco cores diferentes, de acordo com o número de participantes, incluindo você. Para cada cor haverá quatro, cinco ou mais etiquetas dependendo do número de participantes. A ideia é termos grupos de cores.

Solicite que todos permaneçam calados (“vaca amarela”) e fechem os olhos. Cole uma etiqueta na testa de cada participante e, por fim, solicite que um deles cole uma etiqueta em sua testa. Nesse ponto, todos conseguem ver as cores dos demais, mas não, a que está afixada em sua testa.

Solicite a todos que, calados, se unam por cores em grupos. É possível usar gestos e deslocar parceiros. Isso tudo deve ser feito no tempo máximo de 1 minuto. Ao longo do agrupamento, vá fazendo uma contagem regressiva, de 10 em 10 segundos.

Atividade no EaD

Solicite ao participante que relacione o princípio de planejamento adequado para cada frase a seguir:

  1. Muitas vezes, nossos olhos não enxergam a importância das margens. Esses ambientes são ricos em oportunidades. (Princípio 11: Use as bordas e valorize os elementos marginais.)

  2. Sincronizar o planejamento com o ritmo da natureza é uma das mais importantes escolhas para obter resultados eficazes e duradouros. (Princípio 9: Use soluções pequenas e lentas.)

  3. A integração de relacionamentos é chave para a obtenção da diversidade e do seu equilíbrio dinâmico. (Princípio 8: Integrar ao invés de segregar.)

  4. Recusar é a melhor forma de não gerar impactos negativos ao ambiente e também de alcançar a felicidade através da simplicidade, pois ela não pode ser comprada. (Princípio 6: Não produza desperdícios.)

  5. Não se pode compreender a importância de uma árvore sem antes entender o contexto da floresta. (Princípio 7: Design partindo de padrões para chegar nos detalhes.)

  6. A natureza está em constante mutação. Para acompanharmos sua dinâmica é necessário um bom grau de flexibilidade. (Princípio 12: Use a criatividade e responda às mudanças.)

  7. O equilíbrio dinâmico eficaz de um sistema planejado é mais facilmente obtido a partir da diversidade. (Princípio 10: Use e valorize a diversidade.)

  8. É necessário avaliar que fontes energéticas utilizamos e com qual finalidade. Na natureza todos os elementos possuem uma fonte energética embutida, com maior ou menor grau de concentração. A captação de energia deve vir acompanhada de um uso adequado e de uma armazenagem para que algum possível período de escassez energética seja superado com tranquilidade. (Princípio 2: Capte e armazene energia.)

  9. Utilizar materiais, fluxos de energia e valorizar os serviços ambientais de ciclo curto e local. (Princípio 5: Use e valorize os serviços e recursos renováveis.)

  10. Deve-se observar a disposição e a interação entre os elementos e os processos presentes em determinada área para então começar a interagir fazendo reflexões, planejamentos e ações sobre ela. (Princípio 1: Observe e interaja.)

  11. A natureza fornece respostas em relação às interações que mantemos com ela. Essas respostas podem contribuir para o crescimento da produção, seja ela de energia, alimentos ou outros itens, ou para a diminuição dela. Para buscar um equilíbrio no sistema é preciso estar atento a esses efeitos. (Princípio 4: Pratique a autorregulação e aceite feedback.)

  12. Para se construir um futuro mais seguro e saudável é necessário ter as necessidades atuais supridas. Portanto, deve-se pensar em resultados a curto, médio e longo prazo. (Princípio 3: Obtenha rendimento.)

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Acesse o conteúdo da aula Éticas e princípios de planejamento.

Referências sugeridas

DIXON, Milton. Future Care. Permaculture Productions LLC. Disponível em: https://permacultureproductions.com/2014/01/future-care/. Acesso em: 16 jan. 2022.

HARLAND, Maddy. Future Care – redefining the third permaculture ethic. Permaculture International, n. 95, Spring 2018. Disponível em: https://www.permaculture.co.uk/. Acesso em: 16 jan. 2022.

HOLMGREN, David. Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade. Tradução Luzia Araújo. Porto Alegre: Via Sapiens, 2013. 416 p.

PERMACULTURE Ethics and Principles. In: MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 16 jan. 2022.

Entre em contato com os autores

Histórias da permacultura: As permaculturas ao longo do tempo

Importância

Como e por que a permacultura surgiu e chegou a ser como ela é hoje? Como isso pode influenciar nos cenários futuros?

Objetivo

Apresentar as inspirações que levaram aos propositores da ideia de cultura permanente a chegarem neste conceito como o conhecemos hoje. Repassar pelos contextos históricos das épocas em que a permacultura foi criada justificando suas motivações. Discutir a história da permacultura no mundo e no Brasil, convergências, nomes e entidades da história brasileira, situações atuais e cenários futuros.

Conteúdo mínimo

Os conteúdos estão organizados em períodos que podem ser estudados nesta ordem linear (e comparados com uma linha do tempo) ou causais ou ainda de outras formas.

Inspirações – “pré-história da permacultura”:

  • Povos originários
  • Kropotkin: “Campos, Fábricas e Oficinas” (1868) e “Ajuda Mútua” (1902)
  • Russel Smith: “Three crops: a permanent agriculture” (1929)
  • Toyohiko Kagawa: florestas cultivadas (1930)
  • Yeomans: curvas chaves, leitura da paisagem (1954, 1958, 1971, 1973)
  • Masanobu Fukuoka: “A revolução de uma palha” (1975).

Da criação ao presente – Contextos: quem, onde e quando:

Mundo

  • Revolução industrial e revolução verde, visão social, ambiental e produtiva. entre anos 1930 a 1980. Crises ambientais atuais.
  • Bruce Charles Mollison e sua história pessoal.
  • David Holmgren e sua história pessoal, antes e após conhecer Bill.
  • Suas obras.
  • Convergências de permacultura: o que são, onde e quando ocorrem.

Brasil (ou adapte a história equivalente ao seu país)

  • Contexto social e ambiental entre 1972 e 1990.
  • visitas de Bill na década de 1980.
  • Eco-92 e o primeiro curso.
  • Institutos iniciais e organizações atuais, principais nomes envolvidos.
  • Publicações nacionais, iniciais e atuais: revistas, livros, vídeos e redes sociais.
  • Pluralidade – Movimentos sociais ou elite, rurais ou urbanos, e na academia: a permacultura hoje.

Cenários futuros

  • Teorias mais recentes propostas por David Holmgren e onde podemos nos encaixar.

Metodologia

Aula expositiva e provocativa através de lembranças dos contextos históricos de cada momento e local apresentado.

Exposição

Exposição oral com apoio de recurso audiovisual OU MATERIAIS

 

Entre 50 e 120 min

Pode-se apresentar uma linha do tempo (impressa ou através de um link) da permacultura de modo a orientar as referências apresentadas durante a aula, ou se criar uma linha do tempo junto aos estudantes (ver dinâmica a seguir).

É recomendada a busca prévia de uma série de imagens que contextualizem as referências e contextos apresentados no conteúdo, que ordenados por ordem de apresentação, podendo ser lineares ou baseados em contextos causais e suas consequências.

Uma tela da apresentação da aula sobre história da permacultura. A cen contém duas imagens pequenas com as capas dos livros Permacultura 1 e Permacultura 2, e outro imagem com o Bill Mollison junto com David Holmgren.

Tela da aula sobre a história da permacultura. O uso de linhas auxilia na interpretação temporal.

Dinâmica

LINHA DO TEMPO

Material necessário:

  • Linha – novelo de lã colorida ou uma linha grossa, ou corda, enrolada.
  • Figuras relacionadas ao contexto e à história a ser contada. Podem ser associadas ou substituídas por nomes, datas e palavras chaves escritas em cartões (também pode ser escrito durante a aula, desde que seja de forma clara, bem visível e legível).

Com a turma organizada em círculo vai se desenrolando a linha e espalhando-a formando um caminho pelo chão do espaço dentro do círculo de pessoas, a medida que se vai citando os fatos históricos. A cada citação de referência: local, data ou personagem – se coloca a figura ou cartão correspondente sobre (ou grudado com fita) na linha.

É interessante que essa linha tenha períodos anteriores a vida da pessoa mais antiga dentre os participantes e também dias atuais e futuros.

Após a exposição, pode-se pedir para que as pessoas revisem a linha inteira e coloquem um cartão com um evento marcante para si: pessoal, local ou global – que tenha mudado ou referenciado sua vida no ponto da “linha do tempo” correspondente ao seu acontecimento.

Conteúdo complementar

Vídeos

  • Assista a aula Histórias: as permaculturas ao longo do tempo, a sessão ao vivo Histórias: as permaculturas ao longo do tempo e outros vídeos da playlist PDC – introdução no canal da Rede NEPerma Brasil.

Leitura

Aula

Referências sugeridas

CAMPOS, P. (2018). A pré-história da permacultura no Brasil. PermaFórum. https://permaforum.wordpress.com/2018/12/04/a-pre-historia-da-permacultura-no-brasil/.
HOLMGREN, D. David Holmgren farewells Bill Mollison, the father of permaculture. Permacultureprinciples.com. https://permacultureprinciples.com/post/holmgren-farewells-bill-mollison/
HOLMGREN, David. (2013). Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade. Via Sapiens.
KROPOTKIN, Piotr. (2011). A conquista do pão. Tradução César Falcão. 2. ed. Rio de Janeiro: Achiamé, 2011. https://we.riseup.net/assets/160381/A%20conquista%20do%20p%C3%A3o%20Piotr%20Kropotkin.pdf.
KROPOTKIN, Piotr. (2009). Ajuda mútua: um fator de evolução. Tradução Waldyr Azevedo Jr. São Sebastião: A Senhora Editora, 2009. https://we.riseup.net/assets/160386/Kropotkin-Ajuda-Mutua.pdf.
KROPOTKIN, Piotr. (1898). Campos, fábricas e oficinas. 1898.
Mckenzie, L., & Lemos, E. (2017). The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste (International Edition, Vol. 1). http://permacultureguidebook.org/
Mollison, B., & Slay, R. M. (1998). Introdução à Permacultura. Tradução de André Soares. MA/SDR/PNFC. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/199851
Mollison, B. C., & Holmgren, D. (1987). Permaculture one: A perennial agriculture for human settlements. Tagari.
Mollison, B. (1979). Permaculture Two. Tagari Publications.
Mollison, B. (1999). Permaculture: A Designers’ Manual (8º ed). Tagari Publication.
MOLLISON, Bill.  Introdução à Permacultura – Panfletos da série Curso de Design em Permacultura: uma introdução à Permacultura. p. 1-10. Yankee Permaculture. https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/204099/Bill_Mollinson_Permacultura.pdf?sequence=1&isAllowed=y
Mother Earth News. (1987). Ecological Farming: A Conversation With Fukuoka, Jackson and Mollison. Mother Earth News. https://www.motherearthnews.com/homesteading-and-livestock/ecological-farming-zmaz87mazgoe
NANNI, Arthur Schmidt; Blankensteyn, Arno; SIGOLO, Renata Palandri; NÓR, Soraya; & VENTURI; Marcelo. (2018). Construindo a permacultura na academia brasileira. Revista Brasileira de Agroecologia, 13(1), maio 2018. ISSN 1980-9735. http://revistas.aba-agroecologia.org.br/index.php/rbagroecologia/article/view/22439 .
YEOMANS, P. A.. (1954). The Keyline Plan. 1954. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/206488.
YEOMANS, P. A.. (1958) The Challenge of Landscape: the development and practice of keyline. Keyline Pub. Pty., Sydney, 1958. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/206486.
YEOMANS, P. A.. (1971). The City Forest: The Keyline Plan for the Human Environment. Keyline Pub. Pty., Sydney, 1971. https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/206490.

O que é permacultura?

Importância

Introduzir o tema da permacultura é essencial para fazer com que o grupo que receberá os conhecimentos se ambiente com a problemática e estabeleça uma conexão entre o que ocorreu até aqui e o que virá ao longo do curso.

Objetivo

Familiarizar o participante com o tema, sensibilizá-lo e trazer um resumo do que será visto no desenvolvimento das atividades de aprendizado.

Conteúdo mínimo

A introdução deve versar sobre todos os temas propostos na estrutura do CPP e às razões que levaram à idealização do conceito de permacultura (cultura de permanência). Isso pode ser feito através de um histórico dos fatos ocorridos na Austrália e no mundo diante das crises ambientais que se instalaram pelo processo de mercantilização do planeta e das pessoas. É importante ressaltar nessa abordagem inicial a problemática do consumismo e dos limites do planeta, mencionando capacidade de carga e finitude de recursos não renováveis.

Uma breve abordagem sobre as éticas e os princípios de planejamento deve ser realizada, mas o detalhamento deve ficar para o segundo encontro. Depois disso, deve ser abordada de forma sucinta a metodologia de planejamento, mencionando setores, zonas energéticas e elementos.

Logo após, vem uma breve apresentação dos temas que o CPP irá abordar, tais como: Fundamentos de ecologia, Leitura da paisagem, Padrões naturais, Solos, Ecologia cultivada, Águas, Energias, Arquitetura e permacultura, Planejamento para eventos extremos e Estruturas invisíveis. Breves explanações recheadas de imagens auxiliam nessa etapa.

Por fim, faz-se um resumo integrador dos conteúdos mencionando a necessidade de incorporação dos conhecimentos de forma sistêmica, para desenvolver um bom projeto de planejamento do espaço.

Visão sistêmica da permacultura em uma imagem.

Como se pode perceber, esse primeiro contato com os participantes pode ser feito numa linha formal de apresentação, por telas e projeção. Porém, para “quebrar o gelo” dessa primeira manifestação “formal”, uma dinâmica é sugerida. Na UFSC, costumamos trabalhar a dinâmica “Unindo irmãos”.

Metodologia

Dinâmicas

Apresentação do curso e do grupo

60 min

Em círculo dão-se as boas-vindas, apresenta-se a equipe de instrutores e fala-se sobre as motivações de oferecer o CPP.

Após essa passagem, dê a palavra para que cada um dos participantes se apresente. Geralmente solicitamos que o participante se identifique e responda: “Quais as razões que o trouxeram aqui e por que permacultura?”.

Sobre as razões apresentadas, procure comentar sobre sua experiência como permacultor e também evidenciar as razões que lhe fizeram optar pela filosofia da permacultura. Muitas coisas em comum aparecerão em relação aos depoimentos dos participantes.

Unindo irmãos

10 min

Faz-se um círculo com todos os participantes. Entrelaçam-se os braços de modo que todos se encostem uns nos outros, facilitando a troca de calor humano.

Logo após, o instrutor indica alguém aleatoriamente e solicita que essa pessoa beije um das pessoas imediatamente ao seu lado. Essa pessoa propagará o beijo de forma que ele percorra todo o círculo e volte a quem começou. Essa dinâmica encurta caminhos entre as pessoas e permite fazer com que elas troquem, além de calor, conversas, gestos que virão a facilitar a relação grupal.

Dinâmica “Unindo irmãos”, em sua finalização, quando os participantes fecham o círculo. Foto Marcelo Venturi.

Exposição

90 min

Exposição de telas com a sequência de conteúdos mínimos que serão abordados ao longo do curso.

Tarefas

Ao final da exposição é solicitada uma tarefa para ser realizada para o próximo encontro. Essa tarefa deverá versar sobre os princípios de planejamento propostos por David Holmgren.

Divida os participantes em 12 grupos/princípios, passe o conteúdo Princípios de Permacultura, separado por cada um dos princípios e entregue a cada grupo. Solicite que cada grupo leia em conjunto o texto referente ao princípio e que, em uma folha A4, seja repetido o ícone do princípio, seguido de seu número e nome. Na mesma folha solicite ainda que o grupo cunhe um novo provérbio que sintetize o princípio, tal como faz David.

Atividade no EaD

Solicita-se ao participante que escreva, com base no material estudado neste primeiro tema e em sua percepção, o que ele entende por permacultura. Pede-se um texto breve, com no máximo duas páginas.

No caso da tarefa sobre princípios de planejamento para o segundo encontro, siga da mesma forma que no presencial, apenas solicite que os participantes fotografem a folha com o princípio a ser explicado e compartilhem a imagem no momento da apresentação.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Acesse o conteúdo da aula O que é Permacultura?.

Referências sugeridas

MOLLISON, B. Permaculture: Designers Manual. Tasmania, Australia: Tagari, 1999.

MOLLISON, Bill; SLAY, Reny Mia. Introdução à permacultura. Tradução André Luis Jaeger Soares. Brasília: MA/SDR/PNFC, 1998. p. 48-84. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/199851. Acesso em: 04 janeiro 2022.

MARS, R. O design básico em permacultura. Porto Alegre: Via Sapiens, 2008.

MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 04 fev 2022.

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