Energias

Importância

Em um CPP cuja estrutura é pautada pelos fluxos energéticos, a temática das energias é de extrema importância na formação básica em permacultura. A partir da sua abordagem, será possível compreender os diferentes fluxos na paisagem, o que permitirá fazer com que o ambiente planejado seja eficiente do ponto de vista do manejo, pois o tempo e a energia não gastos, poderão ser mais bem empregados em outras atividades cotidianas.

Objetivos

  • Introduzir o conceito de energias renováveis e não-renováveis.
  • Abordar o conceito de energia incorporada ou emergia e as perdas por conversões.
  • Identificar o sol como o nosso provedor de energias renováveis.
  • Visualizar as energias que moldam a paisagem e seus fluxos.
  • Perceber os ecossistemas como sistemas abertos.
  • Interpretar os diferentes aproveitamentos de fluxos energéticos paras serem usados a nosso serviço.

Conteúdo mínimo

Energias na paisagem, estocagem, emergia, aproveitamento e tecnologias apropriadas.

Metodologia

Promover o reconhecimento das diferentes energias disponíveis na paisagem através de dinâmica interativa com a participação de todo o grupo de permaculturandos.

Expor de forma sistematizada como a energia do sol se transforma em outras por intermédio de sua contínua conversão em diferentes fluxos. Nessa sistematização é necessário mostrar também onde é possível usar energias que são provenientes do calor interno do planeta, como, por exemplo, a geotermal.

Aula interativa

Energias na paisagem

90 min

Selecione um bom tanto de fotos de paisagens incluindo diferentes locais, morfologias de terreno e climas no mundo. Separe uma dúzia delas, deixando bem sortidas as cenas para fazer com que os participantes possam opinar sobre fluxos energéticos em diferentes paisagens.

Dica: Use imagens de acesso livre para confeccionar seus materiais didáticos. Um bom banco pode ser encontrado em Wikimedia Commons ou em Pexels. Você pode acessar aqui um conjunto de imagens obtido no Wikimedia Commons, que utilizamos nessa aula, mas vale pesquisa por outras na fonte indicada.

Projete uma primeira imagem (costumamos projetar uma que apresenta uma rede de alta-tensão) e pergunte ao grupo: “Onde está a energia?”. Várias respostas virão, como “nos cabos da rede” (o mais óbvio). Outros dirão “no vento”, pois parece ventar muito nessa paisagem. Renomeie os arquivos das imagens; deixe numa sequência previamente sabida por você e siga alguns passos:

  • Siga perguntando com base na mesma paisagem. “Onde mais tem energia”? Dê alguns estímulos, do tipo “Pega sol nesse lugar?”, “Vocês consideram ser frio ou quente aí?”.
  • Devem aparecer ao todo seis energias: sol, vento, água, minerais, biomassa e gravidade. Vê-se que desse grupo temos tanto as potenciais, como as cinéticas (em conversão). Geralmente “gravidade” aparece por último, pois a ignoramos sumariamente, por ser tão óbvia.
  • Com essas energias colocadas, crie uma tabela inserindo números nas colunas ou nome para cada uma das 12 ou mais paisagens, selecionadas previamente. Nas linhas, coloque às seis energias.

Paisagem natural em Uganda. Fonte: Dave Proffer (2007).

  • Tente estabelecer/interpretar com o grande grupo quais as energias presentes na paisagem e qual a intensidade de cada uma, procurando hierarquizá-las na tabela, por exemplo, na imagem acima, da savana em Uganda – solar > vento > mineral > biomassa > água > gravidade. Sugere-se colocar números de 1 a 6 na tabela para ranquear as diferentes energias e evidenciar para o participante as melhores a serem aproveitadas.
  • Faça o mesmo procedimento com as demais paisagens, como na imagem abaixo, do interior da Áustria – água > mineral > sol > biomassa > vento > gravidade. Veja que a interpretação é subjetiva. Por essa razão, a decisão precisa ser tomada em grupo, e o papel do instrutor é o de intermediar as opiniões, preencher a tabela e ir elucidando o porquê dessa hierarquização de intensidade de energias na paisagem.

Paisagem na Áustria. Fonte: Zeitblick (2015).

O resultado será uma matriz com esses escores definidos pelo grande grupo, possibilitando o reconhecimento e o estabelecimento de prioridades de aproveitamento das diferentes energias/fluxos em cada paisagem.

Dica: Procure inserir uma foto da paisagem onde está sendo ofertado o CPP para que os participantes locais possam reconhecer e “se reconhecer” na aula interativa. Caso você saiba a proveniência de cada participante, procure inserir fotos dos seus locais de origem, buscando o mesmo efeito. Não se esqueça de contemplar paisagens em outros climas, pois a formação em permacultura como ciência prevê sua aplicação em todo o planeta.

Comparativo de intensidades de fluxos em cada paisagem construída na dinâmica de grupo. Fonte: Videoaula do “CPP EaD Terra Permanente” – Rede NEPerma Brasil.

Exposição

60 min

No intuito de resumir a aula interativa anterior e esclarecer eventuais dúvidas quanto às energias que fluem no planeta, faz-se necessária uma breve exposição a respeito de como o Sol é o grande promotor de geração e transformação de energias em torno da superfície terrestre. Nessa exposição, costumamos trazer algumas imagens que mostram de forma sistêmica como esse processo de transformação da energia se dá na Terra, estabelecendo um momento de reflexão por parte do participante, que passa a vislumbrar outras possibilidades de aproveitamento/conservação de energia na paisagem que está planejando.

Resultados da dissipação/transformação da energia do Sol quando chega à superfície do planeta. Fonte: Cena da aula de “Energias” utilizada pelo NEPerma/UFSC.

Ainda nessa etapa conceitual, a abordagem do conceito de “emergia” deve ser introduzido. Sua abordagem deve ser o mais lúdica possível, na busca de traduzir o pensamento sistêmico aos permaculturandos e fortalece a análise ambiental crítica individual e coletiva. Em nossos cursos gostamo muito de usar o breve vídeo A extraordinária vida e tempos de um morango.

O conceito de emergia abordado de forma lúdica.

Na segunda parte dessa exposição é possível fazer a apresentação das tecnologias apropriadas para manejar os fluxos energéticos na paisagem. Isso possibilita mostrar como transformar estes em outros tipos de energia, como a elétrica, por exemplo, e também, mostrar como, no manejo, é possível estocar essas energias de forma dinâmica na paisagem, ou seja, mantendo os fluxos.

As tecnologias sugeridas para transformação/conversão local de energias. Fonte: Cena da aula de “Energias” utilizada pelo NEPerma/UFSC.

O fechamento dessa parte de ensino deve colocar uma sétima energia, a animal. Nessa, estamos inseridos como promotores de fluxos e força de trabalho, mas também como planejadores, que decidirão como e onde se dará a nossa participação e a de outras espécies animais no ambiente planejado.

Atividade no EaD

  • Conforme a área escolhida para o planejamento permacultural, solicite ao aluno que reconheça e liste as energias que fluem na paisagem, enumerando-as da mais para a menos intensa.
  • Com base nas energias identificadas, solicite que o participante apresente os melhores aproveitamentos e as tecnologias apropriadas para tal e argumente sobre sua decisão de escolha, lembrando-lhe que ele está buscando a sua autossuficiência energética.

Conteúdo complementar

Vídeos

  • Assista à playlistEnergias” no canal da Rede NEPerma Brasil.

Leitura

Aula

Referências sugeridas

MARS, R. O design básico em permacultura. Porto Alegre: Via Sapiens, 2008.

Chapter 7 – Houses, water and energy and Chapter 17 – Animals. In: MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 02 mar 2022.

ODUM, E. P.; BARRETT, G. W. Fundamentos de ecologia. Trad. Pégasus Sistemas e Soluções. São Paulo: Cengage Learning, 2008. 612 p.

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Águas

Importância

Assim como os demais elementos a serem inseridos na paisagem de planejamento, as águas também possuem características, necessidades e funções. Uma aula específica para abordar o tema no processo de formação em permacultura, se deve ao fato de das águas serem consideradas como um elemento naturalmente presente e, na maior parte das vezes, necessário em todas as zonas.

Objetivo

Fazer com que o participante compreenda as águas que fluem na paisagem de forma sistêmica, visando manejá-las como uma fonte de energia, um fluxo que pode e deve ser sistematizado no planejamento.

Conteúdo mínimo

É importante mostrar as águas como elemento fluido na paisagem de planejamento. Assim, esse entendimento necessita abordar:

DETALHAR CADA UM DOS ITENS A SEGUIR

  • O ciclos das águas em escala global, regional e local; MACRO
  • Os ciclos curtos; MESO
  • A percepção individual dos ciclos; MICRO
  • O reconhecimento das características, necessidades e funções das águas;
  • Os reservatórios de águas: atmosfera, hidrosfera, pedosfera, biosfera e litosfera;
  • Estratégias possíveis de manutenção das águas nas diferentes zonas de planejamento;
  • As tecnologias apropriadas ao seu uso e manejo, e;
    • VINÍCIUS
  • A água como um bem comum.

CICLO GLOBAL – ESQUEMA

Desenho esquemático mostrando a movimentação das águas no grande ciclo, que envolve a evaporação nos oceanos e a migração da umidade para os conteinentes. Nessa migração há a formação de pequenos ciclos.

O ciclo das águas em grande escala e os ciclos curtos com atuação em escalas menores. Fonte: Traduzida de Widows (2015).

 

A CASA AUTÔNOMA – ESQUEMA

Metodologia

Uso de exposição de conteúdos intercalada com dinâmicas de grupo, como “Você é um pingo” e a “Água como elemento no planejamento”. Comente sobre as legislações pertinentes às águas e suas implicações para os diferentes usos da água.

De forma complementar, faça uma prática de aplicação dos conhecimentos na área de planejamento que será foco do projeto final do curso. Caso haja um espaço com uma boa sistematização das águas, proporcione uma visita técnica, unindo o tema das práticas de campo da ecologia cultivada com o de manejo das águas.

Exposição

60 min

Estruture em uma apresentação as bases conceituais sobre água para dialogar de forma mais tranquila com os participantes. Essa apresentação deve iniciar pela escala macro, mencionando o ciclo em escala global – aplicação da dinâmica “Você é um pingo” – e seguindo até a escala de percepção humana – a paisagem local. Aqui entra a dinâmica “Água como elemento no planejamento”. Siga apresentando suas peculiaridades na paisagem de planejamento e aborde as estratégias de manejo em cada zona energética.

Na sequência do conteúdo, apresente uma simulação de captação de águas das chuvas para sua região e, somente então, parta para as tecnologias apropriadas – técnicas de manejo.

Dinâmicas

Você é um pingo

10 min

Essa dinâmica é proposta logo após a apresentação da imagem do ciclo das águas na exposição de slides. Serve para fugir da mesmice do ciclo tradicionalmente apresentado quando se estuda o assunto.

A ideia dessa dinâmica é que ela seja lúdica para um público infantil, pois é em nossa infância que, com a cabeça “aberta”, fica mais fácil assimilar os ensinamentos.

Para iniciar, avise que esta é a história de um pingo, que cada um passará a ser um pingo e que, para isso, deverá voltar a ser criança. A partir desse ponto, solicite que todos fechem seus olhos. Daqui em diante não valem mais risos e manifestações de descontração. É preciso concentração!

Comece a narrativa de um pingo e seus amigos pingos a partir do mar, a agitação deles com o nascer do dia e o calor do sol. Narre a evaporação das águas e a ascensão dos vapores para a atmosfera. Desloque “os pingos” em direção ao continente com os ventos. Após isso, gere chuvas e faça os pingos entrarem em impacto com as folhas das árvores. Escoe os pingos pelas folhas em direção aos galhos e, após isso, ao caule. Migre até a serrapilheira e infiltre-se nos solos. Migre por entre os grãos do meio subterrâneo até uma nascente. Depois disso, seja ingerido por um animal e, finalmente, retorne a um curso de água através de sua urina. Daí em diante é só migrar com todos os seus amigos que partilharam dessa aventura até o mar, passando por rios mais turbulentos e mais calmos. No final, você, “pingo”, reencontra uma galera amiga que ainda não conseguiu sair do mar.

Assista aqui a aplicação dessa dinâmica no modo presencial.

Água como elemento no planejamento

20 min

Essa dinâmica procura estabelecer as águas como um elemento na paisagem de planejamento. Para tal, sua análise em relação às suas necessidades, características e funções deve ser realizada.

É muito comum os participantes confundirem necessidades e características com funções. Isso se deve a uma criação falha devido a uma civilização que costuma enxergar apenas o lado utilitarista da natureza. Assim, vá corrigindo esses equívocos ao longo da interação. Uma forma de melhorar isso é projetar um slide com as palavras flutuantes “características”, “necessidades” e “funções” e solicitar ao grupo que mencione as características, depois as necessidades e, por último, as funções da água. Conduza o grupo e vá preenchendo cada um dos quesitos.

Só após esgotadas as possibilidades, projete aquelas respostas que você considerou, dentro do seu ponto de vista.

Projeção na tela com a análise do elemento água para permaculturandos pensarem no grande grupo. Fonte: Arthur Nanni

Na maioria das vezes o conjunto de respostas dadas pelo grande grupo é mais completo que o apresentado pelo instrutor ao final da interação. Isso pode ser abordado como um ponto positivo do pensar coletivo.

Proposta de exercício em grupos. Fonte: Arthur Nanni

Exercícios

Olhando para as águas das chuvas

60 min

Esse exercício busca promover a compreensão do regime de chuvas de uma determinada região e auxiliar na simulação de captação e dimensionamento do volume de armazenamento de águas das chuvas.

Separe os permaculturandos em grupos, que podem ser os mesmos definidos no exercício Planejamento produtivo para diferentes biomas, passe as normais climatológicas da região onde será realizado o projeto de planejamento final e as fórmulas e coeficientes.

Apresentamos uma simulação hipotética para o contexto bioclimático de Pirenópolis/GO. Para outros contextos bioclimáticos brasileiros deverão ser consultados dados de estações meteorológicas mais próximas, que podem ser obtidos em Normais Climatológicas do Brasil.

Práticas

Sistematize as águas

60 min

Reúna os participantes em grupos com a composição já definida para o planejamento final, distribua folhas para cartazes (papel kraft) e conjuntos de canetas e lápis. Projete a imagem da área de planejamento com as curvas de nível e os cursos de água. Consulte ou peça para a turma consultar as normais climatológicas de precipitação mensal e anual; o número provável de dias no ano e no mês com precipitação igual ou acima de 35mm e os valores da evapotranspiração potencial mensal e anual para a estação meteorológica mais próxima no sítio do Instituto Nacional de Meteorologia (endereço disponível nas referências).

Dê cerca de 30 minutos para que os grupos discutam sobre o manejo de águas na paisagem de planejamento. Reserve cerca de 20 minutos para que cada grupo apresente suas estratégias ao coletivo.

Atividades no EaD

Analise as águas como um elemento na paisagem

Analise as águas que fluem na paisagem como sendo um elemento no planejamento. Assim, enuncie:

  • As características intrínsecas da água.
  • As necessidades da água.
  • As funções da água.

Solicite que os mesmos enviem o resultado da análise no Ambiente Virtual de Aprendizado do curso.

Sistematização da água na propriedade

Descreva como é a dinâmica de águas na área escolhida para realizar o planejamento permacultural (quantos milímetros chove por mês, as variações sazonais, fontes, usos, tratamentos, escoamento, contaminantes, relações de vizinhança, secas e cheias). Aponte técnicas de uso das águas de consumo e de descarte que você considera que melhor se adaptariam a essa realidade e justifique cada uma delas.

Solicite a aplicação do exercício “Olhando para as águas das chuvas”, descrito anteriormente, para o contexto bioclimático onde o participante irá realizar o projeto de planejamento final.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aulas

  • Acesse o conteúdo das aulas sobre o tema Águas.

Referências sugeridas

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA (INMET). Normais climatológicas do Brasil, período 1981-2010. Disponível em https://portal.inmet.gov.br/normais. Acesso em 11 fev. 2022.

INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS (IPT). Manual para captação emergencial e uso doméstico de água de chuva. 2015. Disponível em: https://www.ipt.br/banco_arquivos/1200-Manual_para_captacao_emergencial_e_uso_domestico_de_AGUA_DA_CHUVA.pdf. Acesso em: 11 fev. 2022.

INSTITUTO DE PROJETOS E PESQUISAS SOCIOAMBIENTAIS (IPESA). Manejo apropriado da água. São Paulo: FEHIDRO, 2012. Disponível em: https://docplayer.com.br/4065410-Manejo-apropriado-da-agua-cartilha.html. Acesso em: 15 ago. 2019.

WIDOWS, R. Rehydrating the Earth: new paradigm for water. Holistic Science Journal ISSN 2044-4389, v. 2, n. 4, 2015. Disponível em: https://holisticsciencejournal.co.uk/ojs/index.php/hsj/article/view/118. Acesso em: 11 fev 2022.

WILKES, John. Flowforms, the Rhythmic Power of Water. Edinburgh: Floris Books, 2003.

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Plantas alimentícias não-convencionais

 

Importância

As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) podem trazer à tona diversos princípios da Permacultura e proporcionar discussões fortemente relevantes sobre o sistema alimentar em que estamos envolvidos diariamente. Desenvolver o conhecimento e uso das PANC contribui para a valorização da diversidade e dos elementos marginais, ambos fundamentos permaculturais de grande impacto socioambiental. A monotonia agroalimentar contemporânea tem sido apontada como um dos fatores principais no aumento dos agravos à saúde de produtores e consumidores, seja pelo uso de contaminantes nos solos e nas águas, seja pelo crescente consumo de alimentos de baixa qualidade nutricional, ocasionando carência de micronutrientes e doenças crônicas não transmissíveis em bilhões de pessoas pelo mundo.

Objetivo

Qualificar os participantes a refletir sobre as escolhas no sistema alimentar com base nos princípios da Permacultura, bem como a identificar e utilizar as PANC para produção e consumo próprio.

Conteúdo mínimo

Etapas do sistema alimentar: produção no campo, processamento, comercialização e consumo. Princípios da Permacultura aplicados à alimentação, de preferência discutidos para auxiliar escolhas permaculturais em cada etapa do sistema alimentar. Conceito, identificação e usos de PANC na alimentação, desde o cultivo até o preparo.

Metodologia

A aula inicia com uma apresentação dinâmica dos participantes, para que possam identificar pontos em comum entre si e com isso promover trocas de experiências e saberes ao longo do encontro. Em seguida, apresenta-se brevemente sobre o histórico e a organização atual do sistema alimentar, abordando a alimentação como um direito humano e um prazer, dentro de um modo de produção que pode ter diferentes objetivos e resultados dependendo do foco em que se tem.

Com base nos princípios da Permacultura, incentiva-se os participantes a sugerirem relações, escolhas e ações dentro do sistema alimentar que podem contribuir com os fundamentos éticos permaculturais. Apresenta-se as PANC como recurso para promover esses princípios e ética na alimentação, incluindo a exposição dos conceitos sobre PANC, além de modos de identificar, cultivar e preparar algumas PANC encontradas no local da aula. Sugere-se que a aula contenha uma parte prática de identificação e coleta de PANC, bem como de degustação de algumas receitas com PANC, a fim de encantar os participantes e ajudá-los a fixar os conhecimentos compartilhados.

Exposição e dinâmicas

3 horas

A abordagem a seguir visa despertar os estudantes a conhecer e utilizar as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC), tanto em seus projetos permaculturais quanto como exemplo de aplicação dos princípios da permacultura na alimentação.

Sugere-se, portanto, o roteiro abaixo, cujos pontos serão detalhados na sequência:

  1. Espera da chegada de todos (15 minutos).
  2. Dinâmica de identificação (15 minutos).
  3. Apresentação sobre alimentação (30 minutos).
  4. Dinâmica de aplicação dos princípios da permacultura (15 minutos).
  5. Apresentação sobre PANC (20 minutos).
  6. Passeio em horta agroecológica (45 minutos).
  7. Lanche comunitário com PANC e conversas relacionadas (20 minutos).

Espera da chegada de todos (15 minutos)

Quando a turma estiver quase completa, nos últimos minutos dessa espera – os instrutores se apresentam, comentam o “roteiro do encontro” e convidam os participantes para se deslocar a um espaço onde será realizada a dinâmica de apresentação (dê preferência a um local externo).

Dinâmica de identificação (15 minutos)

Colocar uma linha no chão e orientar as pessoas a ficarem em pé lado a lado, formando uma fileira de cada lado da linha, ficando umas de frente para as outras. Explicar que as pessoas darão um passo para a frente quando a resposta for sim e permanecerão no lugar quando a resposta for não.

Serão três séries de três perguntas cada, e, na medida em que responderem, as pessoas irão se aproximando da linha estendida no chão, enquanto se olham para identificar as pessoas com respostas em comum. Seguem abaixo alguns exemplos de perguntas:

  • Quem aqui nasceu em Florianópolis?
  • Quem aqui mexeu na terra essa semana?
  • Quem aqui consegue comprar orgânicos toda semana?
  • Quem aqui comeu em lanchonete de fastfood ou bolacha recheada essa semana?
  • Quem aqui comeu caruru, tanchagem, jerivá, beldroega na vida?
  • Quem aqui sabe definir o que é agroecologia?
  • Quem aqui gosta de cozinhar?
  • Quem aqui já leu o Guia alimentar para a população brasileira de 2014?
  • Quem aqui participa de algum grupo relacionado a sustentabilidade?

Após isso, as pessoas se apresentam dizendo: nome, área de atuação e cidade de origem.

Dinâmica da apresentação no Centro de Ciências Agrárias da UFSC em Florianópolis/SC. Foto: Jefferson Mota.

Apresentação sobre alimentação (30 minutos)

Pedir para que os participantes dediquem 20 minutos de atenção e procurem acompanhar o raciocínio e anotar dúvidas ou comentários, para serem compartilhados ao final da explicação do instrutor. O entendimento dessa parte pode ser mais claro se não houver muitas interrupções durante a fala. O objetivo da exposição a seguir é resgatar elementos para responder à questão: Como aplicar os princípios da permacultura na alimentação?

Antes de iniciar a explicação, fazer a seguinte introdução:

  • A seguir, faremos um breve panorama sobre alimentação e, juntos, vamos fazer escolhas dentro deste sistema alimentar que nos cerca, utilizando como base os princípios da permacultura. A metodologia de aplicação dos princípios pode ser adaptada por cada um à sua área de conhecimento.
  • Para falarmos de alimentação utilizando os princípios da permacultura, precisamos saber dizer em poucas palavras o que é permacultura, já que essa é, além de uma resposta frequentemente solicitada por amigos, parentes e curiosos, também um conceito que precisamos manter em vista na hora de fazer nossas escolhas no sistema alimentar.

Permacultura pode ser entendida como “Cultura Permanente Sustentável”, que compreende um sistema capaz de prover nossas necessidades, com respeito à natureza, às pessoas e ao futuro. Ela tem como diretrizes três éticas e para colocá-las em prática, os permacultores se utilizam de 12 princípios de planejamento, que podem ser aplicados na arquitetura, agricultura, educação e até na alimentação. Permacultura não é somente bioconstrução, ecologia, compostagem ou uma comunidade alternativa. Ela é esse conjunto de princípios para serem aplicados em qualquer área, com uso da ciência, tecnologia e conhecimento tradicional.

A explicação que segue será feita de maneira expositiva utilizando um quadro branco, lousa ou flipchart para ir escrevendo o esquema da figura a seguir, palavra por palavra, a cada etapa da explicação, para construir o raciocínio junto com os ouvintes. As palavras em negrito no texto a seguir são as que irão compor o esquema da figura a seguir.

Esquema sobre alimentação. Fonte: Yasmin Monteiro.

Agora iniciaremos a construção do esquema com o panorama sobre alimentação, no atual contexto brasileiro.

Alimentação como direito

Alimentar-se é, em primeiro lugar, um direito de todo ser humano. Tal direito foi conquistado na Constituição brasileira, em 2010, como direito humano à alimentação adequada, e definido no Guia alimentar para a população brasileira de 2014.1 Portanto, essa alimentação não é qualquer alimentação, ela deve ser adequada em quantidade – com equilíbrio para garantir os nutrientes – adequada em qualidade – com variedade de alimentos, segura do ponto de vista físico, químico e biológico, sem contaminantes, deve respeitar as necessidades de cada indivíduo e sua cultura – e deve ser adequada de maneira justa para a natureza, sendo sustentável, e para todas as pessoas, sendo acessível e garantindo a soberania alimentar.2

Alimentação como prazer

Alimentar-se também é um prazer. Quando nos deparamos com uma refeição caprichada, cheia de sabor, aroma e beleza, a alegria vem através dos sentidos. Comer satisfaz, sustenta e nos dá saúde, faz parte da vida de todos, todo dia. Além disso, há a arte de cozinhar, que encanta alguns, mas afasta outros, apesar de que se alguém ainda não encontrou prazer em cozinhar, pode ser porque talvez ainda não o tenha experimentado de um jeito com o qual se identifique. Por fim, a alimentação é um ato social, que contribui para a formação da identidade de indivíduos, culturas e economias.

Alimentação como sistema alimentar

A alimentação tem se organizado como um sistema alimentar, que envolve a produção no campo, processamento, comércio e consumo.

Em suma, no campo, a produção pode ser convencional – aquela praticada principalmente depois da Revolução Verde dos anos 1970, com o uso de agrotóxicos, transgênicos e monoculturas, comprovadamente promotora de riscos à saúde tanto do trabalhador quanto do consumidor, e ainda mais do solo e das águas, com processos de desertificação e de desflorestamento ocorrendo ao redor do mundo. A produção no campo pode ser orgânica – aquela que procura respeitar a natureza, portanto não usa agentes poluidores ou que diminuam a biodiversidade e a sustentabilidade. Ainda, a produção pode ser agroecológica – aquela que implica não somente a busca de uma maior racionalização econômico-produtiva, com base nas especificidades biofísicas de cada agroecossistema, mas também uma mudança nas atitudes e valores dos atores sociais em relação ao manejo e à conservação dos recursos naturais (CAPORAL, 2004).

Então, o alimento pode ir para o processamento, que pode ser simples – adicionado somente de sal e açúcar com moderação, passando por processos de cocção e/ou higienização – ou ele pode ser ultraprocessado – quando são adicionados normalmente muito sal, açúcar, aditivos químicos e gordura trans.3

Quanto à comercialização, podemos classificá-la para fins didáticos, com base no foco que ela tem. Se o foco está no lucro exorbitante de poucos, então se pode centralizar a produção e a distribuição. Para isso, constituem-se os latifúndios, que por sua vez distribuem para grandes indústrias e supermercados, acabando por gerar muito desperdício, como, por exemplo: o uso de pesticidas e adubos químicos que poderiam ser evitados se houvesse controle biológico, o transporte de alimentos que utiliza fontes de energia não renováveis e o não aproveitamento dos resíduos orgânicos de uma compostagem. Se o foco está nas pessoas, então é preciso descentralizar para que mais pessoas sejam beneficiadas. Portanto, é incentivada uma agricultura familiar independente de grandes intermediários e que faz sua distribuição em circuitos curtos de modo a evitar desperdícios, por respeitar a sazonalidade e a regionalidade dos alimentos.

Por fim, é no consumo que podemos influenciar parte do sistema alimentar pelas nossas escolhas. Porém, estas são direcionadas tanto pela maneira como a informação nos é passada – seja em divulgação ou em educação – quanto pela situação da economia nacional e internacional. Mais uma vez, se escolhermos a lógica do lucro exorbitante de poucos, muito será feito para que os produtos de determinada empresa tenham suas vendas aumentadas o máximo possível, o que, às vezes, implica a omissão ou o mascaramento de evidências sobre os efeitos de certos ingredientes. Além disso, para aumentar esse lucro exorbitante de poucos, é preciso que muitos trabalhem mais tempo por menos remuneração, o que tem feito a vida ser uma constante correria, não sobrando tempo, dinheiro ou disposição para investir em uma alimentação saudável e sustentável. Pensando nas pessoas, o foco estaria na verdadeira educação alimentar e nutricional, aquela que revela o funcionamento desse sistema alimentar, prepara as pessoas para requerer seu direito pela alimentação adequada e permite aos indivíduos escolher com autonomia de acordo com os benefícios e malefícios de certos alimentos estudados para a alimentação humana com ética na ciência, como colocado pelo próprio Guia alimentar para a população brasileira de 2014.

Associação com a permacultura

Com base nas éticas e nos princípios de planejamento da permacultura e, focando na parte mais concreta, a da alimentação como “Sistema Alimentar”, podemos desenvolver um planejamento permacultural que contemple de forma sistêmica a produção, o processamento, o comércio e o consumo. Assim, a melhor via seria a adoção de uma produção agroecológica, seguida do processamento simples, de um comércio baseado nas pessoas e no consumo consciente.

Pode-se perceber que uma alimentação adequada não depende apenas da vontade dos indivíduos, a dificuldade de garanti-la é um vício estrutural da sociedade. As ações necessárias para termos uma alimentação adequada são tanto individuais quanto coletivas. Por isso, devemos atentar para não culpabilizar apenas o indivíduo, e para não nos excluirmos da sociedade, já que, para cuidar da natureza e das pessoas, precisamos nos unir na construção de caminhos que atendam a todas as éticas.

Na prática, exemplos de ações individuais e coletivas que podemos desenvolver seriam:

  • Ações individuais – plantar e consumir de forma agroecológica; procurar saber a origem e a sazonalidade dos alimentos antes de comprar; conhecer produtores e suas propriedades.
  • Ações coletivas – participar de grupos de trabalho por políticas de incentivo à agricultura urbana e familiar (exemplo: Rede Semear de Agricultura Urbana de Florianópolis); incentivar a criação e a ampliação de feiras agroecológicas.

Dinâmica de aplicação dos princípios da permacultura (15 minutos)

Agora é a vez dos estudantes escolherem entre as éticas e/ou princípios de planejamento da permacultura, para dar exemplos de ações individuais e coletivas relacionadas ao sistema alimentar.

Sugere-se ter os princípios descritos à vista, para que os participantes possam observar e se lembrar mais facilmente de cada um no momento de relacioná-los com as possíveis ações propostas.

Apresentação sobre PANC (20 minutos)

Um recurso para possibilitar a aplicação dos princípios da permacultura são as PANC. Assim, sugerimos perguntar:

– Quem já ouviu falar de PANC? Quais consomem com certa frequência? Quem coleta alguma planta no ambiente em que vive? Sabe diferenciar e preparar?

Caracterizar as PANC brevemente como:

  • Tradicionais – São plantas consumidas historicamente no Brasil pelos indígenas, imigrantes africanos e europeus, agricultores e extrativistas, mas “sem valor” comercial, sendo parte da sua soberania e segurança alimentar em alguns casos. Algumas plantas estão em situação de extinção, colocando em risco a preservação de parte da cultura alimentar dos povos.
  • Danadinhas (“Daninhas”) – São consideradas plantas que devem ser eliminadas das plantações, com o uso de herbicidas, especialmente os que possuem a substância glifosato (de nome comercial Round Up Ready, usado nas lavouras de soja, milho, algodão e vendido nas cidades como “mata-mato”, aquele mesmo que nosso vizinho ou a prefeitura aplicam nas ruas indevidamente). Isso tem causado enormes custos à economia – porque algumas plantas ficam resistentes à herbicidas, o que ocasiona o aumento da dosagem – e principalmente à saúde humana, dos animais e do ambiente.
  • Indicadoras – Aparecem no ambiente dando um sinal de desequilíbrio – seja pela falta de verde (nas calçadas e ambientes muito concretados), seja para indicar excesso ou carência de nutrientes, solo compactado ou simplesmente para atrair insetos polinizadores e servir de alimento para outros herbívoros que vão deixar de comer as plantas que cultivamos. Elas também são as plantas pioneiras na ocupação de um local degradado que em seguida será colonizado por outras espécies, incluindo árvores.
  • Nutritivas – Por serem adaptadas e muitas vezes orgânicas, Kinupp e Barros (2008) apontam muitas PANC que apresentam quantidades de proteínas, vitaminas e diversos nutrientes em maiores quantidades do que as espécies convencionais.
  • Da diversidade – A alimentação humana e a produção agrícola convencional estão baseadas numa pequena diversidade de espécies vegetais, sendo 75% dos alimentos produzidos a partir de doze plantas e cinco animais (FAO, 2005), quando comparadas as 12,5 mil espécies potenciais levantadas pelo botânico alemão Günther Kunkel nos anos 1980, ou, mais recentemente, pelas quase 60 mil plantas comestíveis ao redor do mundo pelo botânico argentino Eduardo Rapoport (BRACK, 2016; RAPOPORT, GOWDA, 2007).

Prepare os participantes para o passeio por uma horta agroecológica ou mesmo pelo local da aula prática (sempre haverá PANC, seja na fresta da calçada, seja no meio de um jardim convencional-ortodoxo), de modo que possam identificar as PANC pelo caminho. Recomende aos participantes que façam algum registro das plantas, por foto ou no caderno, anotando alguma característica da planta que ajude a lembrá-la ou até desenhando-a, para facilitar sua apreensão, e explique a importância do nome científico conforme exemplo a seguir.

O nome científico das plantas

Saber o nome científico das plantas é essencial para evitar confusões na pesquisa e na indicação de uso, lembrando que, para muitos, este vai ser o primeiro contato com a identificação botânica. O nome científico ou nome oficial das plantas – válido em todo o mundo – vem sempre em latim, normalmente entre parênteses, em itálico ou sublinhado. O primeiro nome é o gênero e o segundo nome é o epíteto específico, que compõe a espécie, por exemplo:

  • Ora-pro-nóbis → Gênero: Pereskia → Epíteto específico: aculeata.
  • Nome científico: Pereskia aculeata.
  • Nomes populares (são como nossos apelidos durante a vida): ora-pro-nóbis, carne de pobre, lobrobró (MG), esporão de galo (Florianópolis), Barbados gooseberry (um dos nomes populares em inglês).
  • Família: CACTACEAE. É a família de vários outros cactos. Em geral, quando a família botânica já possui alguma espécie comum de consumo, já é um bom indicativo. Temos vários outros cactos comestíveis, como a ora-pro-nóbis da flor rosa (Pereskia grandifolia), a ora-pro-nóbis da Amazônia, de flor vermelha (Pereskia bleo), a tuna (Cereus hildmannianus), o mandacaru (Cereus jamacuru), o figo de tuna ou figo-da-Índia (Opuntia ficus-indica) e a pitaia (Hylocereus undatus). A família SOLANACEAE, por exemplo, abrange desde plantas comestíveis cultivadas até plantas tóxicas. É a família do tomate, do pimentão, da berinjela, da batata, do fisális, do fumo e da trombeta.

Por que é importante saber isso? Na cidade sabemos diferenciar modelos e marcas de carro, smartphones e um monte de outros bens de consumo. Saber a função e o uso de uma planta, fungo ou animal é tão importante quanto (nós diríamos que é mais!). Nossa memória sabe diferenciar e guardar muitas informações, o que acontece é que potencializamos demais algumas coisas em detrimento de outras.

Apresentando algumas PANC

Apresentar brevemente 15 PANC comuns na cidade, informando: o nome das plantas, a característica principal de identificação delas, quais partes podem ser ingeridas e como prepará-las. Não hesite em usar uma grande quantidade de fotos impressas e/ou da própria planta, para que depois os participantes possam identificá-las pelo passeio.

No caso de Florianópolis, as PANC a serem apresentadas podem ser: malvavisco, dente-de-leão, radite-do-mato, ora-pro-nóbis, serralha, azedinha, picão-branco, picão-preto, bertalha, capuchinha, urtiga, caruru, beldroega, taioba, tanchagem, almeirão-roxo, taboa, aroeira-rosa/pimenta-rosa, juçara, jerivá, araçá, bacopari, grumixama, pitanga, camarinha. O importante é valorizar as PANC locais e regionais.

O quadro a seguir é um resumo da apresentação das PANC supracitada, adaptado do livro de Kinupp e Lorenzi (2014):

Nome popular Nome científico Pág. Partes comestíveis Usos culinários

Almeirão-roxo

Latuca canadensis

196

Folhas

Salada, refogado

Azedinha

Rumex acetosa

614

Folhas e sementes

Farinha(semente), salada, refogado e suco (folhas)

Bardana

Arctium lappa

168

Raízes

Frita, salteada, doce

Beldroega

Portulaca oleracea

620

Folhas e ramos

Salada, bolinho, omelete, refogado

Bertalha indiana e Bertalha brasileira

Basella alba e Anredera cordifolia

226

Folhas e frutos (corantes) e Folhas e bulbilhos aéreos branqueados ou refogados.

Crua (Basella alba) e refogada (Anredera cordifolia)

Capuchinha

Tropaeolum majus

688

Folhas, flores e frutos

Conserva (frutos), salada e charutinho (folhas e flores)

Caruru

Amaranthus deflexus

50

Folhas e sementes

Bolinho, refogado e suflê

Malvavisco

Malvaviscus arboreus

484

Folhas e flores

Geleia e salada (flores), refogada (folhas)

Ora-pro-nóbis folha miúda e Ora-pro-nóbis folha grande

Pereskia aculeata e Pereskia gradifolia

272

Folhas, flores e frutos para a folha miúda e folhas branqueadas ou refogadas para espécie de folha grande

Salada, pão e geleia

Picão-branco

Galinsoga parviflora

186

Folhas, ramos e flores

Tempero, salada, farofa, refogado e pizza

Picão-preto

Bidens pilosa

174

Folhas, ramos e flores

Chá, risoto e refogado

Serralha

Sonchus oleraceus

208

Folhas e ramos

Salada, arroz e polenta

Taioba

Xanthosoma taioba

118

Folhas, talos e rizomas (todos cozidos, não crus)

Refogado, rizoma cozido, frito ou purê (essa é uma com que se deve ter cuidado por causa do excesso de ácido oxálico que pode causar reação alérgica)

Tansagem

Plantago australis/major

602

Folhas e sementes

Bolinho, pão e refogado (folhas) Psyllium (semente – tipo chia, gergelim)

Passeio em horta agroecológica (45 minutos)

Antes de sair para o passeio, perguntar para os participantes:
– Quem é do meio rural ou conviveu nele? Quais experiências teve lá ou do que sente falta?

O passeio visa apresentar um espaço de cultivo de alimentos agroecológicos que utilize os princípios da Permacultura, além de realizar a identificação de algumas PANC no local.

Como exemplo apresentaremos a seguir um dos espaços que utilizamos com frequência para o passeio na UFSC, chamado Horta Orgânica do Centro de Ciências Agrárias (HOCCA), vinculado a um projeto de agricultura urbana dentro do campus universitário. Nele, primeiramente, um antigo campo de futebol foi convertido em local de cultivos com algumas espécies de rápido crescimento e biomassa (banana, capins, feijão-guandu, batata-doce e capuchinha). Depois, essa área passou a receber canteiros para produzir hortaliças que vão direto para o restaurante universitário. A agricultura urbana dentro do CCA surgiu da demanda de produzir alimentos localmente, ocupar áreas ociosas e gerar um impacto local com a oferta de oficinas e cursos para a comunidade interna e externa à UFSC. Em 2019, o projeto conta com três áreas, uma definida como Zona 1, no entorno de um laboratório, onde foram construídos canteiros elevados (hugelkultur) no antigo gramado e plantadas hortaliças em caixas de feira forradas, transformando-as em grandes vasos. Outra área, definida como Zona 2, compreende uma horta-mandala com galinheiro móvel e na terceira, definida como Zona 4, há um Sistema Agroflorestal (SAF) com frutíferas de rápido crescimento, espécies adubadeiras e, mais recentemente, um SAF Sintrópico orientando pelo agricultor e permacultor Reinaldo de Souza.

Passeio em um espaço urbano de cultivo de alimentos com inúmeros exemplos da biodiversidade vegetal. Foto: Marcelo Venturi.

Iniciar a caminhada e, durante o passeio, estimular os participantes a observar as plantas e as construções das hortas, identificando elementos conhecidos ou que chamam a atenção, compartilhando dúvidas e impressões com os colegas e instrutores.

Salientar que em um pequeno espaço existem muitas plantas que podem ser comestíveis. Nesse caso, fazemos um breve exercício mostrando isso em um quadrado de 1m² de área. Para tal, defina uma área com estacas, trenas ou barbante. Junte todos os participantes ao redor dessa área e apresente as PANC que ali ocorrem e que normalmente passam desapercebidas pela maioria das pessoas.

Quadrado de 1m² de área com diversidade de PANC. Foto: Jefferson Mota.

Lanche comunitário (20 minutos)

Escolha receitas de sua preferência, novas ou conhecidas, sempre incluindo alguma PANC para despertar os sentidos e conversas relacionadas. Mais sugestões na seção “Conteúdo complementar” a seguir.

Atividade no EaD

Peça aos participantes que reconheçam e fotografem, em sua área de planejamento, três plantas alimentícias não convencionais e apresentem para cada uma delas suas propriedades nutritivas e/ou medicinais, modo de cultivo e ao menos uma opção de modo de consumo. Peça-lhes que enviem o texto e as fotografias e que referenciem possíveis fontes de pesquisa.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Referências usadas e sugeridas

BRACK, Paulo. Plantas alimentícias não convencionais. Agriculturas: experiências em agroecologia, v. 13, n. 2. Rio de Janeiro: AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia, 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação-Geral da Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio. Agroecologia: alguns conceitos e princípios. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 2004. 24 p.

CORADIN, L.; SIMINSKI, A.; REIS, A (orgs.). Espécies Nativas da Flora Brasileira de Valor Econômico Atual ou Potencial: Plantas para o Futuro – Região Sul. Brasília: MMA, 2011. Disponível em: <https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/biodiversidade/fauna-e-flora/Regiao_Sul.pdf>. Acesso em: 4 nov. 2021.

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION (FAO). Interação do gênero, da agrobiodiversidade e dos conhecimentos locais ao serviço da segurança alimentar. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, 2005. Manual de Formação.

KINUPP, V. F. Plantas alimentícias não-convencionais da região metropolitana de Porto Alegre, RS. Tese (Doutorado em Fitotecnia) – Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia Universidade Federal do rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/handle/10183/12870>. Acesso em: 5 jun. 2019.

KINUPP, V. F.; BARROS, I. B. I. de. Teores de proteína e minerais de espécies nativas, potenciais hortaliças e frutas. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 28, n. 4, p. 846-857, 2008.

KINUPP, V. F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil. São Paulo: IPEF, 2014.

RAPOPORT, Eduardo; GOWDA, J. H. Acerca del origen de las Malezas: ensayos en homenaje a Gonzalo Halffter. Zaragoza: Sociedad Entomológica Aragonesa, 2007. v. 7.

RIGO, Neide. Blog Come-se. Disponível em: https://come-se.blogspot.com.br/. Acesso em: 15 maio 2018.

RANIERI, Guilherme. Matos de comer: identificação de plantas comestíveis. 1 ed. São Paulo. Ed. do Autor, 2021.

1 Definição do direito humano a alimentação adequada no Guia alimentar para a população brasileira de 2014:

“Um direito humano básico que envolve a garantia ao acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, a uma prática alimentar adequada aos aspectos biológicos e sociais do indivíduo e que deve estar em acordo com as necessidades alimentares especiais; ser referenciada pela cultura alimentar e pelas dimensões de gênero, raça e etnia; acessível do ponto de vista físico e financeiro, harmônica em quantidade e qualidade, atendendo aos princípios da variedade, equilíbrio, moderação e prazer; e baseada em práticas produtivas adequadas e sustentáveis.”

2 Definição de Soberania Alimentar na Declaração final do Fórum Mundial de Soberania Alimentar, assinada pela Via Campesina, em 28 de fevereiro de 2007, Nyéléni, Selingue, Mali:

“[…] um direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente adequados, acessíveis, produzidos de forma sustentável e ecológica e o direito de decidir o seu próprio sistema alimentar e produtivo. Isto coloca aqueles que produzem, distribuem e consomem alimentos no coração dos sistemas e políticas alimentares, acima das exigências dos mercados e das empresas. Defende os interesses das gerações atuais e futuras. Oferece-nos uma estratégia para resistir e desmantelar o comércio livre e corporativo e o regime alimentar atual; orientar prioritariamente os sistemas alimentares, agrícolas, pastoris e de pesca para as economias locais e os mercados locais e nacionais; outorga o poder aos camponeses; à agricultura familiar, a pesca artesanal e o pastoreio tradicional; coloca a produção alimentar, a distribuição e o consumo como bases para a sustentabilidade do meio ambiente, social e econômica.”

3 Definição das categorias de alimentos conforme o Guia Alimentar para a População Brasileira de 2014:

  • Alimentos in natura ou minimamente processados: são os obtidos diretamente da natureza, provenientes de plantas ou animais, tais como grãos, tubérculos, frutas, hortaliças, carne, leite e ovos. Quando os alimentos in natura passam por alterações mínimas – limpeza, empacotamento, secagem, moagem, congelamento –, eles se tornam minimamente processados.
  • Alimentos processados: são produtos relativamente simples, fabricados com a adição de sal ou açúcar ou outra substância de uso culinário a um alimento in natura, como conservas e queijos, ou, ainda, como os pães, que são feitos com farinha de trigo, água, sal e fermento.
  • Alimentos ultraprocessados: são produtos fabricados com pouco ou nenhum alimento in natura, mas que levam muitos ingredientes de uso industrial (de nomes pouco familiares). Biscoitos recheados, salgadinhos de pacote, refrigerantes e macarrão instantâneo são exemplos desse tipo de alimento.

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Plantas medicinais, sua história e usos

Importância

Os primeiros usos de plantas medicinais pelos seres humanos foram detectados na época dos Neandertais: uma escavação no norte da Espanha revelou traços de Achillea millefollium que indicariam o possível uso medicinal dessa planta. Apesar do debate a respeito da descoberta, datada de aproximadamente 50.000 a.C., é forte a probabilidade que nossa relação com as plantas medicinais tenha uma longa história. Mas por que conhecer plantas medicinais é importante em um mundo repleto de medicamentos, frutos de alta tecnologia?

Em primeiro lugar, os medicamentos que hoje merecem estudos e desenvolvimento pela indústria farmacêutica vieram da observação e das experiências feitas pelo ser humano durante sua história de relacionamento com as plantas medicinais. O saber popular sobre elas ainda é fonte de pesquisas médicas em fitoterapia, embora a esse conhecimento nem sempre se dê o crédito devido.

Além disso, essa relação gerou um saber valioso que extrapola o conhecimento científico, na medida em que faz parte de diferentes conceitos de saúde, doença e cura construídos em diversos contextos históricos. Conhecer a pluralidade de possibilidades de conservar e recuperar a saúde através de plantas medicinais sinaliza para a capacidade de escolhas do sujeito a respeito dos cuidados que pode tomar para estar saudável e para o seu empoderamento em relação ao próprio corpo.

Por fim, conhecer os usos atuais e históricos das plantas medicinais possibilita debater os motivos de nosso distanciamento (ao menos ao nível da ciência) de modelos integrais de compreensão do corpo humano para dar lugar a uma concepção cartesiana, que trabalha com dicotomias que não são satisfatórias para perceber a relação entre o ser humano e o meio (interno e externo) ao qual ele pertence.

Objetivos

  • Reconhecer o uso atual e pretérito de diferentes plantas medicinais, debatendo a respeito das diversas concepções de saúde e doença que as utilizaram.
  • Abordar o processo de construção da racionalidade científica cartesiana, que influenciou a medicina a se afastar das concepções integrais de saúde e doença.
  • Conhecer e identificar os usos de algumas plantas medicinais.
  • Estimular o uso consciente de plantas medicinais, sempre questionando a respeito de por que adoecemos: as plantas medicinais devem fazer parte de nosso processo de autoconhecimento e da promoção da saúde.
  • Contribuir para o restabelecimento de nossa relação, enquanto seres humanos, com as plantas (cuidar e ser cuidado).

Conteúdo mínimo

  • Primeiros indícios de uso de plantas medicinais por seres humanos.
  • Plantas medicinais e concepções de saúde e doença: medicina egípcia, medicina aiurvédica, medicina chinesa, medicina hipocrática, concepções médicas na Europa medieval e moderna, medicina indígena brasileira, medicina afro-brasileira (candomblé).
  • A ruptura na relação microcosmos (ser humano) e macrocosmos (ambiente): concepções de saúde e doença no final do período moderno e contemporâneo.
  • Uso atual de plantas medicinais: troca de saberes.

Metodologia

A exposição do conteúdo pode se dar de diferentes maneiras: slides de datashow, pranchas com fotos ou jogos lúdicos como o jogo de memória. O fundamental é que o público possa reconhecer as plantas medicinais que estão ligadas a diferentes racionalidades e que sejam capazes de perceber que seu uso atual não segue, necessariamente, a mesma lógica da utilização pelas diversas medicinas do passado. Algumas dessas racionalidades perduram hoje, e percebê-las favorece a ampliação de possibilidades de escolha por parte dos sujeitos. É importante, igualmente, permitir a troca de saberes sobre as plantas medicinais mais conhecidas pelo público, facilitando seu reconhecimento e esclarecendo a respeito de seus usos: o trabalho interdisciplinar é primordial nessa etapa da aula.

Exposição

120 min

A apresentação do conteúdo deve ser feita de forma reflexiva e dialogada, estimulando o público a reconhecer diferentes exemplares, que relacionamos às diversas concepções de saúde e doença de recortes espaçotemporais. Iniciamos com a abordagem das plantas utilizadas no período que se convencionou chamar “pré-história”, relatando as descobertas a respeito do uso da Achillea millefolium. Este é um momento de reflexão inicial, em que o público é convidado a perceber quão antiga e múltipla é nossa relação com as plantas medicinais e quão diverso é o saber acumulado sobre elas ao longo do tempo. Se for possível, leva-se um exemplar dessa planta, conhecida como mil-folhas, para reconhecimento e troca de saberes nesse momento.

Diálogo reflexivo sobre as plantas medicinais em grupo no Horto Didático de Plantas Medicinais do Hospital Universitário da UFSC. Foto: Jefferson Mota.

Na sequência, sempre através de imagens e questionamentos sobre o conhecimento dos usos de plantas relacionadas a contextos espaçotemporais diversos, apresentamos as concepções de uso de plantas medicinais que relacionavam, de alguma maneira, o ser humano (microcosmos) ao ambiente (macrocosmos):

Medicina egípcia

O Egito antigo foi unificado como Estado cerca de 3000 a.C. Seu principal tratado médico, o Papiro de Ebers, data de aproximadamente 1500 a.C. Nessa obra, é possível perceber que receitas de medicamentos e de alimentos se mesclavam, apontando para a impossível separação entre nutrição e saúde. Outro elemento presente na medicina do antigo Egito é a relação entre o ser humano e seus deuses: dentre as diferentes origens das doenças figurava a ação dos deuses, em especial da deusa Sekhmet, que agia através do sopro de seus emissários. Fugindo de concepções que opõem “bem” e “mal”, a mitologia egípcia estabelecia que a mesma deusa que causava a doença era capaz de curá-la através da ação dos médicos, que eram também seus sacerdotes. As plantas tinham, portanto, uma ação que extrapolava o efeito físico de suas substâncias. Algumas plantas medicinais: coentro (Coriandrum sativum), cominho (Cuminum cyminum) e babosa (Aloe vera).

Ayurveda

O Ayurveda, sistema médico nascido na Índia antiga, é de difícil datação. Porém, seus primeiros textos estão localizados cerca de 1500 a.C, com o estabelecimento dos Vedas, embora sua prática possa ser muito mais antiga. Os tratados mais conhecidos, o Characa Samhita e o Sushrura Samhita datam de cerca dos séculos I e II d.C. Esse sistema relaciona de forma bastante marcante o micro e o macrocosmo: ambas as dimensões são compostas por cinco elementos: ar, água, terra, fogo e éter. Esses elementos se combinam, dando origem aos doshas, Vata, Pitta e Kapha, responsáveis por todas as funções mentais e físicas do ser humano. A doença advém do desequilíbrio dos elementos no corpo-mente, que pode ser causado por diversos fatores que colocam em relação os mundos interno e externo ao ser humano. A saúde advém do reequilíbrio, que pode ser alcançado através da alimentação, atividade física, “higiene mental” e uso de terapias que empregam plantas medicinais. Algumas plantas medicinais: noz-moscada (Myristica fragrans), quebra-pedras (Phyllanthus niruri), cúrcuma (Curcuma longa).

Medicina chinesa

É difícil resumir as diversas transformações pelas quais passou a medicina chinesa até os nossos dias. A principal obra, o Huang Di Nei Jing, apresenta o diálogo entre o (mítico) Imperador Amarelo e seu ministro, datado de cerca de 2900 a.C. Porém, não é uma obra estanque no tempo, pois recebeu influências de diversas escolas filosóficas, entre elas o Confucionismo e o Daoísmo, que contribuíram com as teorias yin/yang e a teoria dos cinco movimentos, desenvolvidas entre os séculos II a.C e II d.C. A teoria dos cinco movimentos estabelece a existência dos elementos que compõem tanto o micro quanto o macrocosmo: água, metal, terra, fogo e madeira. A teoria yin/yang estabelece que o universo é uma dualidade não absoluta, que está em contínua transformação. Os polos yin e yang precisam um do outro para estabelecer a unidade e estão presentes em todos os processos. O ser humano é aquele que está entre céu (yang) e terra (yin) e é o microcosmo onde os elementos e a dialética entre yin e yang estão presentes. Para haver saúde, é preciso que esses elementos estejam em harmonia, que é constante movimento. Várias são as formas de conservar e estabelecer a saúde, como no Ayurveda: os medicamentos, que podem misturar plantas, animais e minerais, são só uma via. Algumas plantas medicinais: ginseng (Panax ginseng), gengibre (Zingiber officinale) e jujuba (Ziziphus jujuba).

Medicina hipocrática

Entre os séculos V e VI a.C, uma concepção de saúde e doença emergiu na Grécia antiga: a medicina hipocrática. Os escritos atribuídos a Hipócrates não podem ser relacionados a uma única pessoa, e seria mais correto falarmos em escola hipocrática, embora a existência desse personagem seja admitida por historiadores. O que fica evidente é que o pensamento emerge da filosofia grega de teor racionalista, que buscava a origem dos fenômenos em causas naturais e não exclusivamente na ação dos deuses. A medicina hipocrática estava baseada na teoria humoral: quatro humores ou líquidos eram predominantes no organismo humano e estavam relacionados a quatro elementos. A fleuma estava relacionada à água; o sangue, ao fogo; a bílis amarela, ao ar e a bílis negra à terra. Para haver saúde, os humores deveriam estar em seus lugares e em equilíbrio no organismo. Como os elementos também formavam o macrocosmo, vários aspectos eram observados ao se diagnosticar o desequilíbrio humoral: características físicas, psicológicas, atividades, estações do ano, alimentação… e a terapêutica, quando o desequilíbrio era constatado, poderia empregar plantas medicinais cujas características fossem antagônicas ao humor, a fim de restabelecer o equilíbrio. Algumas plantas medicinais: funcho (Foeniculum vulgare), sálvia (Salvia officinalis L.), papoula (Papaver somniferum).

Medicina medieval

O período entre o século V e XV na Europa é conhecido como Idade Média. Em relação à saúde e, em especial, às profissões a ela relacionadas, temos o início da diferenciação entre médicos (físicos), barbeiros, cirurgiões e farmacêuticos (boticários). Estes últimos foram muito influenciados pela medicina árabe e por sua acuidade matemática. Em relação às plantas medicinais, é importante ressaltar que seu conhecimento e seu uso não se restringiam aos profissionais de saúde, e isso cabe também aos demais contextos históricos explicados anteriormente. A base teórica para o emprego de ervas e outros medicamentos era a teoria humoral grega, que classificava as plantas em quentes, frias, secas e úmidas, relacionando-as ao micro e macrocosmo. Também o mundo natural era visto como espaço de ação de forças sobrenaturais que influenciavam, entre outros elementos, a saúde e as doenças. Essas ideias mágicas tinham base tanto no catolicismo quanto em concepções “pagãs”, criando sistemas bastante peculiares de interpretação da ação das plantas medicinais, como podemos observar nos escritos da monja Hildegard von Bingen (século XI). Algumas plantas medicinais: calêndula (Calendula officinalis), mandrágora (Mandragora officinarum) e tanchagem (Plantago major).

Medicina moderna

A partir do século XV e até o final do XVIII, a Europa viveu a época moderna, embora haja inúmeras discussões referentes a essa periodização. É um equívoco tratar todo esse espaço temporal como se fosse homogêneo: seu início é marcado por concepções de saúde e de doença que ainda relacionavam macro e microcosmo. Um exemplo disso são as obras de Paracelso (século XVI) e Nicholas Culpeper (século XVI), que ligavam o ser humano ao mundo natural, principalmente aos astros. A astrologia estava presente, para Culpeper e outros médicos, do diagnóstico à terapêutica, sendo atribuídos à regência de diferentes planetas as plantas medicinais e os órgãos humanos. Esse também é o contexto do aumento de fluxo de conhecimento entre Europa e outras regiões do mundo, como as Américas, da formação de jardins botânicos e, no final do período, da classificação botânica de Carl von Linné, signo do racionalismo advindo do método científico. Algumas plantas medicinais: tomilho (Thymus vulgaris), hortelã-pimenta (Mentha piperita), dente-de-leão (Taraxacum officinale).

Medicinas indígenas

Segundo o censo demográfico do IBGE de 2010, existem 305 etnias indígenas no Brasil: o dado mostra quão complexo é tentar unificar os diferentes sistemas médicos indígenas existentes no país e nas Américas de modo geral. Também é preciso lembrar que as fontes sobre os conhecimentos indígenas foram produzidas, em sua maioria, pelo colonizador, pelos padres jesuítas e por viajantes de origem europeia. Em linhas gerais, a cosmologia indígena não dissocia o mundo natural do sobrenatural ou invisível, percebendo uma unidade entre essa dimensão (natural/sobrenatural) e o social. O mundo é habitado por uma diversidade de seres, todos portadores de consciência, revelando uma aparência externa que esconde uma forma humana interna, visível apenas para os xamãs. A doença acontece quando há uma ruptura entre a unidade alma-corpo: ela antecipa a separação final, que ocorre com a morte. A cura se estabelece com a restauração dessa unidade e, a fim de promover esse restabelecimento, que é tanto individual quanto social, vários rituais são realizados sob a coordenação do xamã, promotor da mediação entre natural/sobrenatural e social. O conhecimento de plantas medicinais não se concentra na figura do xamã, mas é disseminado em toda a sociedade indígena. Algumas plantas medicinais: fáfia (Pfaffia paniculata), quina (Cinchona calisaya), ginseng americano (Panax quinquefolius).

Plantas medicinais utilizadas no candomblé: assim como a medicina indígena, as práticas de cura de nossos afrodescendentes foram e ainda são objeto de preconceito e estigmatização. O Brasil foi a maior nação escravista do “Novo Mundo”, recebendo um terço dos escravos trazidos para as Américas. Manifestações religiosas formadas a partir de matrizes africanas são símbolo de sua resistência cultural: no caso do candomblé, aqui tratado, a influência mais forte foi da cultura iorubá. Na África, as raízes do candomblé estavam no culto aos ancestrais e à terra. Uma vez que, no Brasil, houve a perda de laços com família, grupo étnico e território, o culto aos antepassados foi substituído pela relação das divindades (orixás) ligadas às forças da natureza ou a relações sociais. O candomblé estabelece uma concepção de cosmos que é quádrupla, colocando em relação orixás, seres humanos, natureza e mortos: a cada domínio corresponde um sacerdote. Em relação às plantas, sempre presente nos rituais, o babalossaim é o responsável, uma vez que é ele que exercia o culto a Ossaim, orixá das plantas. De modo geral, o elemento vegetal se relaciona com diferentes orixás e carrega o axé, a força invisível que mantém todas as coisas no universo. Como o candomblé concebe a unidade entre corpo e espírito, as plantas medicinais são usadas para problemas ligados a diferentes esferas da vida humana. Algumas plantas medicinais: boldo alumã (Vernonia condensata), arruda (Ruta graveolens), manjericão (Ocimum basilicum).

Para estimular a reflexão e o debate sobre o estado da biomedicina hoje, abordamos as transformações das concepções sobre saúde e doença após o século XVII, na Europa, com o desenvolvimento do método científico por Descartes (França, século XVII), que separa o objeto de estudo do observador; o Iluminismo (França, século XVIII), que estabelece um conhecimento “verdadeiro” possibilitado pela razão e a expansão da indústria farmacêutica. Nesse processo, as plantas medicinais passam a ser estudadas com o fim de extrair-lhes os princípios medicinais (século XIX), e a medicina se afasta das concepções holísticas de saúde e doença, direcionando-se ao estudo das partes e especializações e à busca da doença reificada no corpo do “paciente”. A reação ocorre após os anos 1960, com o questionamento das iatrogenias e da deterioração entre as relações médico-paciente, entre outros elementos que fazem parte da crise da biomedicina.

O debate final, antes do reconhecimento de algumas plantas medicinais, é direcionado para o questionamento da importância da autonomia e da autoconsciência do indivíduo, que deve buscar o médico/agente de saúde, quando necessário, não como um detentor soberano de conhecimento, mas como um parceiro que, de forma cooperativa, pode auxiliar na preservação/recuperação da saúde. O indivíduo que sofre deve perceber seu sofrimento como um processo global, que envolve também o meio: a busca pela saúde individual deve sempre considerar a saúde do planeta, restabelecendo, assim, a relação entre micro e macrocosmo.

Prática

60 min

É importante efetuar o reconhecimento das plantas medicinais em um espaço onde certa variedade de exemplares esteja presente. Realizamos essa tarefa, nas aulas de permacultura da UFSC, no Horto Didático de Plantas Medicinais do Hospital Universitário.

Apresentação das plantas medicinais em grupo no Horto Didático de Plantas Medicinais do Hospital Universitário da UFSC. Foto: Marcelo Venturi.

Conteúdo Complementar

Vídeos

Leitura

  • Consulte mais sobre plantas do Brasil no site Flora do Brasil, administrado pelo Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Aula

Referências sugeridas

CAMARGO, Maria Thereza Lemos de Arruda. As plantas medicinais e o sagrado: a etnofarmacobotânica em uma revisão historiográfica da medicina popular no Brasil. São Paulo: Ícone, 2014.

CHEVALLIER, Andrew. The Encyclopedia of Medicinal Plants. New York: DK, 1996.

FRANCIA, Susan; STOBART, Anne. Critical Approaches to the History of Western Herbal Medicine. London: Bloomsbury, 2014.

GARRETA, Raphaële. Des simples à l’essentiel. Toulouse: Presses Universitaires du Mirail, 2007.

LORENZI, Harri; MATOS, F. J. Abreu. Plantas medicinais no Brasil: nativas e exóticas. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2008.

OLIVEIRA, Marília Flores Seixas de; OLIVEIRA, Orlando J. R. de. Na trilha do caboclo: cultura, saúde e natureza. Vitória da Conquista: UESB, 2007.

PORTER, Roy (org.). Medicina: a história da cura. Lisboa: Centralivros, 2002.

SIGOLO, Renata Palandri (org.). Plantas medicinais e os cuidados com a saúde: contando várias histórias. Florianópolis: NUPPe, 2015.

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Ecologia cultivada – por Jefferson Mota

Importância

Compreender os diferentes modos de produção de alimentos no planejamento permacultural é essencial,  afinal, temos envolvidos dois princípios de planejamento básicos: “Capte e armazene energia” e “Obtenha rendimento”. O primeiro passo que um/a permacultor/a pode dar dentro do seu espaço, seja ele urbano ou rural, é tentar produzir parte do alimento que consome, mesmo que seja apenas uma erva medicinal, aromática ou até uma pequena árvore frutífera.

Objetivo

Apresentar ao leitor diferentes métodos de agricultura focados em sistemas agroflorestais e agricultura sintrópica, os quais se apresentam como eficientes e inteligentes para o contexto permacultural e regeneração de áreas degradas. Além disso, fornecem uma grande diversidade de alimentos, ervas medicinais, madeiras e possíveis consórcios com animais, gerando maior abundância dentro do agroecossistema.

Conteúdo mínimo

Ciclagem de nutrientes, produção de alimentos e uso eficiente da fotossíntese.

Metodologia

Exposição dos temas propostos na aula, através da projeção de imagens e vídeos para melhor compreensão e introdução ao tema central da produção de alimentos através dos sistemas agroflorestais e da Agricultura Sintrópica.

Exposição de conteúdos

45 min

Inicia-se a exposição com um vídeo curto “A idade do agricultor” para sensibilizar os participantes. Na sequência, são apresentadas sucintamente duas formas de tratamento dos resíduos orgânicos gerados em casa, uma através do Método UFSC de Compostagem e outro, por meio do Minhocário campeiro da Embrapa. Ambas, consideradas referências para quem quiser se aprofundar no assunto.

Daí o tema para o cultivo de alimentos pode ser iniciado. Sugere-se apresentar rapidamente alguns dos diferentes modos de fazer agricultura e suas características, focando em sistemas de abundância para produção de alimentos para os grandes mamíferos (Rebello, 2018). Ao longo dessa etapa é importante retomar em grupo a pergunta: A permacultura ainda pode ser considerada apenas um modo de produção agrícola?

Partindo o sistema de colonização, passando para o sistema de acumulação para atingir o sistema de abundância e produzir alimentos para os grandes mamíferos. Fonte: REBELLO (2018).

Dinâmicas

O mais importante no desenvolvimento de dinâmicas de aprendizado é apresentar as diferentes dimensões das agriculturas ecológicas. Na Agricultura Sintrópica são trabalhadas  4 dimensões: a largura, o comprimento, a altura e o tempo de cada planta no sistema.

Duas dinâmicas podem ser aplicadas para instigar a criatividade do grupo de participantes. A primeira é mais complexa, pois envolve um processo de produção das peças usando-se massa de biscuit. Já a segunda, pode ser realizada com diferentes ramos de árvores e arbustos (representando as árvores dos estratos médio, alto e emergente) e folhas de diferentes formatos para representar os estratos baixo e rasteiro, utilizando uma caixa com areia ou um canteiro arenoso para montagem da maquete.

Agro.florestinha com modelos em biscuit

30 min

A Agro.florestinha compreende uma  ferramenta lúdica usada para o ensino da estratificação e permanência de cada espécie no sistema ao longo do tempo. Essa dinâmica deve ser realizada antes da parte prática – se possível – para um maior entendimento e fixação do conteúdo da aula expositiva. A Agro.florestinha foi desenvolvida a partir da observação da dificuldade do público em compreender essas “4 dimensões”.

O instrutor mostrando a disposição dos vegetais feitos com massa de biscuit dentro do sistema agloflorestal.

Sistema Agro.florestinha visto de cima. Imagem: Jefferson Mota.

Agroflorestinha em Caixa de areia com folhas e galhos

30 min

Essa metodologia é sugerida pelo agrônomo agrofloresteiro Fernando Rebello, do Centro de Estudos e Pesquisa em Agricultura Sintrópica (CEPEAS). Essa atividade auxilia no aprendizado da dinâmica sucessional e de estratificação na agricultura sintrópica. Um vídeo com maiores detalhes mostra sobre Como podar, ralear e estratificar, plantando em alta densidade  mostra de forma prática o arranjo plantio adensado para a cultura do café em uma caixa de areia.

A foto mostra Fernando Rebello apresentando o sistema de consórcio das árvores através de folhas e galhos em uma caixa de areia.

Maquete dinâmica montada em caixa de areia e galhos. Fonte: CEPEAS (2020).

Práticas

Implantação de uma agrofloresta

90 min

Encontre algum espaço para um possível espaço agroflorestal na própria instituição de ensino ou agricultor local. Caso você não encontre, sugira o plantio de uma pequena área, pode ser entre 10m² e 50m², onde se possa plantar espécies adubadeiras, bananeiras, frutíferas, raízes, grãos e hortaliças. Cada ano uma turma poderá realizar uma intervenção de plantio, colheita, poda, identificação dos estratos, diversidade de insetos, fungos, diferentes microclimas.

Conteúdo complementar

Vídeos

  • Assista os vídeos “Da horta à floresta”, “O que é uma floresta de alimentos?” e a “A inteligência da floresta” na playlist Ecologia cultivada no canal da Rede NEPerma Brasil.

Dica: Alguns vídeos que tem áudio em inglês, possuem legendas em português. Para ativá-las,  clique na engrenagem que fica no canto inferior direito da tela do vídeo e selecione o português como idioma.

Leitura

AULA

Referências sugeridas

MESSERSCHMIDT, N.M; CORRÊA NETO, N.E,; STEENBOCK, W; MONNERAT, P.F. Agroflorestando o Mundo de Facão a Trator. Barra do Turvo, 2016.

REBELLO, J.F.S; SAKAMOTO, D.G. Agricultura Sintrópica segundo Ernst Gotsch. São Paulo: Ed. Reviver, 2021.

STEENBOCK, W; VEZZANI, F. Agrofloresta: Aprendendo a Produzir com a Natureza. 1 ed. Curitiba, ed. Fabiane Machado Vezzani, 2013.

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Ecologia cultivada


Importância

Desde o terceiro princípio de planejamento “Obtenha rendimento”, que nos ensina que “saco vazio não para em pé”, passando pelos demais princípios até os cultivos rentáveis ou não, tão pretensiosos como os da Zona 4, precisamos comer para viver, plantar e criar para comer, construir, nos aquecer, nos tratar e nos vestir.

Objetivo

Conhecer uma grande quantidade de técnicas de produção primária de alimentos, remédios, fibras e estruturas derivadas de plantas, fungos e animais, feitas e usadas de forma ecológica pelos povos tradicionais e por permacultores. Associar essas técnicas aos diferentes contextos em relação à cultura, paisagem, clima e relevo.

Conteúdo mínimo

Técnicas sustentáveis de produção de alimentos que se conformarão como elementos na paisagem, como, por exemplo:

  • Zona 1 – Horta (mandala, espiral e em nível), compostagem, minhocário, palhada e serrapilheira (mulch), treliças e trepadeiras, pequenos animais (coelhos, chinchilas, codornas), fungos alimentares e cogumelos em cultivo indoor, plantas alimentícias não convencionais (PANC), plantas medicinais e da biodiversidade, espécies frutíferas de uso corriqueiro, círculos de bananeiras, telhados verdes.
  • Zona 2 – Pomar familiar; aves (patos, gansos e galinhas), meliponicultura (abelhas nativas sem ferrão) e cultivos aquáticos (aquaponia e microtanques).
  • Zona 3 – Sistemas agrossilvipastoris (SAF) intensivos, manejo de plantas e criação de animais silvestres, pastoreio racional Voisin (PRV) ou rotativo, apicultura racional, cogumelos em toras e em serrapilheira, pomares em grande escala, cultivos anuais e lavouras (em plantio direto). Cultivos aquáticos (chinampas, rizipiscicultura).
  • Zona 4 – SAF com policultivos multiestratos (árvores, palmeiras, arbustos, ervas etc.) para serrapilheira, lenha, resinas, frutos, fibras, brotos e palmitos etc. Apicultura. Cultivos aquáticos: lagoas, rios, estuários, fazendas marinhas.
  • Zona 5 – Extrativismo eventual de matrizes (sementes, mudas e serrapilheira), inspiração em florestas permanentes, recuperação de áreas degradadas e o conceito de “Não sabe o que fazer: não faça nada”. Proteção de nascentes.

Quais desses elementos podem servir para fazer conexões entre diferentes zonas?

Relação entre esses conteúdos aos diferentes contextos e realidades, como, por exemplo, às condições – climáticas e de paisagem típicas – de cada bioma brasileiro (Amazônia, Cerrado, Caatinga, Pantanal, Floresta Atlântica quente e fria, Pampa) e global (desertos, regiões polares, tundra, montanhas etc.), e em relação à leitura da paisagem, aos diferentes climas e relevos.

Metodologia

O conteúdo de “Ecologia cultivada” pode ser trabalhado exaustivamente ao longo do CPP, conectando a temática a outras e fortalecendo o pensamento sistêmico. No CPP da UFSC, trabalhamos a temática em pelo menos dois e em até seis períodos de quatro horas/aula cada, envolvendo até seis instrutores, ocorrendo, em geral, nesta ordem:

  1. Uma visita à Fazenda Experimental da UFSC, onde os estudantes têm uma introdução e veem aplicadas algumas técnicas como sistemas agroflorestais (SAF), sistema de pastoreio racional Voisin (PRV) aplicado a ovinos e bovinos, criação de aves em sistemas semi-intensivos com piquetes, trator de galinha e horta mandala com túnel para floresta, bambus e seus manejos, além de conhecer lavouras convencionais para comparações.
  2. Aula teórica na qual são apresentadas e expostas todas as demais técnicas listadas nos conteúdos. Em seguida, os alunos são separados em grupos com o objetivo de que cada grupo desenvolva e apresente um trabalho sobre um planejamento de cultivos e criações considerando os contextos em cada bioma brasileiro (essa tarefa é solicitada na aula anterior).
  3. Aula sobre consciência alimentar e plantas da biodiversidade ou plantas alimentícias não convencionais (PANC). Nessa aula é possível desenvolver algumas práticas, desde o reconhecimento de plantas até a construção de canteiros.
  4. Aula sobre a história das plantas bioativas ou medicinais e seus usos em diferentes povos e culturas, com uma visita ao Horto Didático de Plantas Medicinais do Hospital Universitário, onde é possível desenvolver alguma prática.
  5. Uma visita técnica com duração de um dia ou dois períodos a uma família de permacultores, que vive de sua produção orgânica. Na UFSC geralmente visitamos a Estação de Permacultura Moinhos de Luz em Rio Furtuna/SC e o Sítio da Família Silva, no município de Anitápolis/SC, onde são apresentados os zoneamentos energéticos das propriedades e todas as técnicas de cultivo e de criação dentro de seu contexto. Nessas visitas sempre são desenvolvidas atividades práticas de aprendizado e socialização da turma.
  6. Uma visita a uma família ou ecovila com perfil neorrural. No entorno de Florianópolis existem muitas experiências como essas. Essa visita é extremamente importante para públicos urbanos, pois permite mostrar pessoas que migraram da cidade para o campo motivadas pela permacultura.

Exposição

2 horas

No caso da visita à fazenda da UFSC, na chegada, os estudantes são organizados em grupos, que podem ser os mesmos dos projetos finais ou outros menores, de forma que cada grupo receba um contexto completamente distinto para realizar um planejamento de produção de alimentos (ver tarefa a seguir).

Após a visita à fazenda ou a algum outro local onde várias técnicas foram apresentadas, são expostos de forma simples e teórica os demais conteúdos que não foram vistos em campo. Isso é necessário para que os participantes possam buscar mais informações e detalhes a respeito dessas outras técnicas.

Cada grupo recebe uma lista de todas as técnicas sustentáveis de produção de alimentos, conforme aquelas apresentadas anteriormente para cada zona energética.

A ideia de receberem essa lista previamente, com um trabalho para desenvolverem para a aula seguinte, é fazê-los conhecer previamente as técnicas por conta própria, pois terão que buscá-las para utilizarem em seus projetos, como será detalhado a seguir (na tarefa).

Então, para finalizar, cada grupo recebe uma folha com uma descrição de uma propriedade típica de um bioma diferente. Essa propriedade deve ser planejada como tarefa para a aula seguinte, ao final da exposição das diferentes técnicas de produção de alimentos.

Diferentes técnicas de produção de alimentos

3 horas

Uma aula expositiva, após a visita, inicia com uma provocação breve e segue com exposição de slides. No momento de provocação inicial, solicita-se um exercício em duplas (10 minutos) em que cada grupo deve:

  1. listar os produtos que consome (alimentos, vestuário, moradia, mobiliário, utilitário, decoração) que sejam provenientes de cultivos e criações;
  2. pensar em funções, necessidades e características de cada produto (não precisam escrever para não tomar muito tempo);
  3. classificar em zonas energéticas e fazer as conexões entre elas.

Em seguida são brevemente apresentados alguns conceitos de ancoragem à ecologia cultivada que já foram vistos nos conteúdos anteriores, a saber (15 min):

  • Ecossistema;
  • Agroecossistema;
  • Sucessão ecológica;
  • Ciclos dos nutrientes: ex.: fixação de nitrogênio e leguminosas, ciclo do carbono e decomposição etc.;
  • Ciclo da água;
  • Ciclo lunar;
  • Formação dos solos;
  • Relação entre espécies, relações ecológicas, alelopatia;
  • Desconstrução de conceitos, ex.: pragas e doenças;
  • Trofobiose;
  • Alopatia e homeopatia; e
  • Antibiótico e probiótico.

Em seguida inicia-se a apresentação (aproximadamente 60 minutos) das técnicas através de slides e/ou fotos com os nomes das técnicas e descrições com palavras-chaves que podem ser apresentadas de acordo com as zonas onde possivelmente seriam inseridas.

Após a apresentação teórica das técnicas, os estudantes realizam a apresentação dos trabalhos em grupos de planejamento produtivo para diferentes biomas. É possível dar mais 15 minutos para cada grupo atualizar seu trabalho com alguma das técnicas que foram apresentadas em aula e que eles não haviam colocado em seu projeto.

Trabalho em grupos: Planejamento produtivo para diferentes biomas

2 h 15 min

A atividade compreende um planejamento prévio (fora de sala, em casa, em tempo à parte) que leva aproximadamente 120 minutos por grupo e uma apresentação dos resultados que leva de 10 a 15 minutos para cada grupo.

Dica: Deixe grupo escolher a melhor forma de apresentar seu planejamento produtivo, seja por slides, fotos, cartazes, desenhos, etc.

A tarefa proposta compreende desenvolver o planejamento em relação à proposição de técnicas vistas em aula para uma propriedade a seguir, considerando:

  • Setores conforme a realidade do local;
  • Técnicas de produção de alimentos para cada zona, com elementos (características, necessidades, funções) e conexões entre elementos e zonas.

Assim, cada grupo deverá fazer um planejamento produtivo para o primeiro ano (tempo zero), 2 anos, 5 anos, 10 anos e 20 anos.

Então, são passados para os grupos os exemplos de propriedades a serem estudadas. Para isso é preciso buscar unidades de tamanhos típicos dos módulos fiscais unifamiliares de cada região em condições que sejam realistas e apresentem algumas dificuldades para cada grupo. Para cada propriedade é apresentada a lista de informações e uma foto aérea com a demarcação do terreno, além de outras fotos de detalhes da paisagem.

Dica: Utilize imagens de programas de navegação como o Google Earth ou o Bing. Obtenha uma cena da tela usando a tecla “printscreen” e insira no texto com a atividade a ser desenvolvida.

Na UFSC propomos 4 contextos, sendo um no bioma Amazônico, outro na Caatinga, Cerrado e Floresta Atlântica. As informações para o desenvolvimento da atividade podem ser obtidas aqui. Além desses biomas brasileiros, poderiam ser apresentadas propriedades em climas mais extremos como polares e desérticos, entre outros.

Ao final da apresentação desse trabalho, explica-se que o mesmo tipo de abordagem sobre os sistemas produtivos deverá ser realizado no projeto final do curso.

Dinâmicas

Monocultivo não para em pé

10 min

Essa dinâmica é “bem dinâmica” e envolve o toque, a acolhida e, fundamentalmente, a união.

Prepare cartões em número maior que o de participantes no momento (uns quatro a mais). Nesses cartões, insira o nome de duas árvores, sendo um nome para uma espécie silvestre e outro para uma espécie exótica e plantada em regime de monocultivo em sua região. Para grupos de 20 pessoas, escolha umas cinco espécies de árvores silvestres e uma de exótica. Preencha os cartões com esses dois nomes e sequencie-os de modo a fazer com que cartões que contenham as mesmas árvores fiquem intercalados por quatro outros cartões.

Cartões com as espécies de árvores em sequência de aplicação. Fonte: Arthur Nanni.

Faça uma roda bem fechada e solicite que os participantes entrelacem seus braços. Posicione-se no centro da roda e informe como funcionará a brincadeira, com as falas:

  • Distribuirei cartões que contêm o nome de duas árvores. Ao receber o seu cartão, olhe e memorize os nomes dessas duas árvores e não deixe seu vizinho ver esses nomes, tampouco conte para outros. Guarde o cartão em seu bolso.
  • Agora que todos possuem seus cartões, lembre-se de que cada um de vocês passou a ser duas árvores.

Pegue um cartão para você, memorize suas espécies e entre na roda com os outros. Mais regras do jogo serão cantadas:

  • Grupo, agora a coisa funciona da seguinte forma: direi o nome de uma árvore, e aqueles que a tiverem deverão tirar os dois pés do chão.
  • Os parceiros que estão ao lado de quem tirar os pés do chão deverão fazer força para segurar e o restante do conjunto também. Não pode deixar ninguém cair!

Terminada essa parte sobre como funciona a brincadeira, chame uma espécie silvestre atrás da outra e acompanhe as reações para ver se o grupo está conseguindo manter os que tiram os dois pés do chão. Após esgotar as espécies silvestres, chame a exótica. Nesse ponto, como todos os cartões terão essa espécie exótica, todos tentarão tirar os pés do chão e o círculo irá colapsar, mostrando que monocultivo não se mantém sozinho ou “não para em pé”.

Dinâmica “Monocultivo não para em pé”, no projeto PermaChico em Almirante Tamandaré/PR, 2016 Foto: Marcelo Venturi.

Práticas

Muitas práticas são possíveis sob este conteúdo, algumas já foram ou serão apresentadas em outros conteúdos, pela possibilidade de serem aplicadas em mais de um assunto.

Listamos aqui alguns exemplos de práticas possíveis e descrevemos um número menor a seguir, principalmente as que acreditamos necessitarem de melhor descrição:

  • Traçando uma curva de nível em campo com pé-de-galinha;
  • Traçando uma vala de infiltração/escoamento com o pé-de-galinha;
  • Construção de canteiro de palha instantâneo;
  • Construção de espiral de ervas;
  • Construção e manutenção de composteira;
  • Construção e manutenção de minhocário;
  • Construção e manutenção de trator de galinha (pode ser feito como tarefa em grupo também);
  • Implantação e manutenção de SAF; e
  • Instalações, manejos e manutenções de sistemas de criação e cultivos diversos.

Construção de canteiro instantâneo com palha

30 min

Para esta prática será necessário reunir previamente todos os materiais:

  • Montes de palha seca, suficiente para cobrir todos os canteiros com camadas bem espessas, em torno de 30 cm;
  • Quantidade de composto orgânico ou solo fértil ou a mistura de ambos;
  • Galhos, troncos e/ou tábuas para as bordas;
  • Mudas de hortaliças diversas, estacas e sementes das que não necessitam de preparo prévio; e
  • Água para irrigação, regadores, mangueiras etc.

Considerando que estamos no Brasil, em clima tropical e subtropical (situação da UFSC), em que a natureza muito raramente congela os solos, não se justifica o seu revolvimento. Uma forma rápida de cultivo e adequada ao nosso clima é realizá-lo diretamente junto com a palhada. Isso imita o que ocorre na natureza, controlando brotações espontâneas, além de ajudar a manter a umidade adequada do solo ou a aeração e descompactação em locais muito úmidos.

Para conseguir grande quantidade de palha ou serrapilheira, pode-se recolhê-las em restos de lavouras ou sob árvores, ou em áreas urbanas solicitando doações em mercados e nas Centrais de Abastecimento (CEASA), onde chegam grandes quantidades de palha diariamente para proteger certos produtos agrícolas.

Previamente pode-se roçar e limpar o local. Primeiramente, com alguns galhos ou troncos, delimitam-se os desenhos dos canteiros. Em seguida limpam-se os caminhos retirando a camada de solo mais fértil e jogando-as no canteiro. Os caminhos podem ser preenchidos com palha ou cepilho, que após se decomporem podem ser jogados como adubo novamente sobre os canteiros e repostos nos caminhos.

Em seguida coloca-se nos canteiros a palha/serrapilheira formando uma volumosa camada, algo em torno de 30 cm de espessura. Nos locais onde se deseja fazer os plantios, abre-se a palha com as mãos formando espaços cônicos, abertos em cima, que se preenchem com o composto orgânico. O plantio se realiza diretamente no composto. Em seguida resta somente irrigar todas as mudas, ação que deve ser repetida diariamente.

Se for uma unidade familiar é importante considerar o espaço de 1m2 de horta/pessoa/semana, para garantir a média de subsistência de vegetais olerícolas. Seria interessante um novo pedaço de canteiro ser plantado semanalmente para garantir as colheitas também semanais num futuro breve. Considerando o tempo de certas culturas, pode-se ter espaço para produzir para dois a cinco meses. Como exemplo de exercício, podemos fazer apenas um pequeno trecho para fixar a técnica e a função de cada elemento neste sistema.

Canteiro elevado de palha na estação permacultural Yvyporã, 2013. Foto: Marcelo Venturi.

Atividade no EaD

Sobre SAF

A partir dos materiais disponibilizados, solicite ao aluno a elaboração de um texto que explique o que é um Sistema Agroflorestal (SAF), apresentando suas principais características.

Seguem abaixo sugestões de itens a serem considerados na resposta:

  1. O que é preciso para um sistema ser considerado um SAF.
  2. Métodos de cultivo.
  3. Tempo de plantio.
  4. Importância ecológica.
  5. Espécies possíveis de serem cultivadas em sua região.

Sobre técnicas e culturas para diferentes contextos

Após apresentadas todas as técnicas produtivas listadas no conteúdo, solicite aos alunos que organizem quais técnicas seriam adequadas para cada um dos exemplos dos biomas sugeridos no “Trabalho em grupos: Planejamento produtivo para diferentes biomas” e que justifiquem por que usar ou não usar cada uma. Lembrar que várias técnicas seriam adequadas em diferentes contextos.

Assim, espera-se que os estudantes façam uma tabela com cada um dos exemplos de propriedade e que, ao lado, listem as técnicas e justificativas para utilizá-las ou não naquele contexto.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

  • O Renascer da Agricultura, por Ernest Götsch.

  • Introdução à Permacultura – Panfletos da série Curso de Design em Permacultura:
    • Permacultura em paisagens úmidas. p. 11-34
    • Permacultura em paisagens áridas. p. 35-43
    • Permacultura em ilhas baixas. p. 44-48
    • Permacultura em ilhas altas. p. 49-50
    • Permacultura em paisagens graníticas. p. 50-51
    • Técnicas de Permacultura. p. 83-106
    • Florestas em Permacultura. p. 107-122.

Aula

Referências sugeridas

INSTITUTO SOUZA CRUZ, Programa Hortas Escolares; LABENSRU / CCA / UFSC. Hortas Escolares: o ambiente horta escolar como espaço de aprendizagem no contexto do Ensino Fundamental. 2004. Disponível em: http://fazenda.ufsc.br/files/2011/11/Hortas-Escolares.rar. Acesso em: 14 ago. 2019.

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Solos

Importância

Os solos são a base da vida e compreendê-los é de fundamental importância para desenvolver bons cultivos e criações na ecologia cultivada, estabelecer uma boa leitura da paisagem, fazer uso em estruturas, utensílios e construções.

Objetivo

Compreender como podem ser encontrados, identificados e reconhecidos os diferentes tipos de solos. Reconhecer características de interesse e as potenciais formas de aplicação no ambiente planejado.

Conteúdo mínimo

Identificação das características de diferentes categorias de solos em relação à matéria orgânica, umidade, textura (granulometria: arenoso, siltoso, argiloso), pH (acidez), ocorrência na paisagem incluindo a posição onde podem ser encontrados no relevo e em diferentes climas, compreensão sobre o porque de diferentes espessuras, texturas e horizontes, para permitir a interpretação, compreensão e aplicação de cada uma dessas características.

Exemplos breves de aplicações desses conhecimentos em relação à ecologia cultivada e às bioconstruções:

  • Testes simples com solos como: textura com frasco transparente com água e solo; contração com caixa-régua de madeira para compactação/expansão; matéria orgânica com água oxigenada etc.
  • Manejo e conservação de solos: curvas de nível, uso de equipamentos: pé-de-galinha e mangueira de nível, construção de degraus, terraços e patamares, criação de solos através de adição/acúmulo de matéria orgânica, acreção de palhada ou serrapilheira, plantio direto.
  • Apresentação dos diferentes tipos de construção com solo – adobe, cob, superadobe, pau a pique, taipa de pilão, rebocos, tijolo e telha cozidos, outros – e exemplos da característica e mistura ideal para construções com barro.

Metodologia

Exposição

3 horas

A aula expositiva pode ser feita de formas distintas, por exemplo:

  • Apresentação dos conteúdos teóricos em sala através de slides.
  • Apresentação prática em campo, através de caminhada observando a paisagem com paradas em alguns cortes (barrancos) onde existam diferentes horizontes de solo (o maior número possível).
  • Aula mista com visualização em campo do que existir e complementação em sala com transparências de imagens do que não foi visto em campo.

A aula teórica utilizada no CPP da UFSC é mista e inicia com uma volta pelo bosque, onde se visualiza um corte de solo e se discute a formação dos solos.

Dica: Nos cortes, busque analisar todas as características de forma visual e tátil, assim como testes, e também com bioconstruções com solo e com diferentes manejos agrícolas visíveis.

Em seguida, em local coberto se realiza a prática de identificação dos solos e de suas características (ver prática a seguir) com amostras de diferentes tipos de solo, a qual é seguida da explicação de cada um dos conceitos e características estudadas na comparação dos solos enquanto se faz uma revisão e, ao mesmo tempo, um gabarito com a turma.

Em seguida são apresentados os testes de identificação de textura e dos tipos de argila, assim como do teor de matéria orgânica dos solos (apresentados detalhadamente nas práticas a seguir).

Em uma terceira etapa desta aula, são apresentadas teorias sobre os assuntos ainda não trabalhados, como identificação dos tipos de solo em relação à paisagem e ao relevo e outros conceitos.

Por último, mostram-se aplicações práticas dos conteúdos de solos: usos de manejo e conservação dos solos para cultivos, a prática de leitura da curva de nível (ver em prática relacionada: Traçando uma vala de infiltração/escoamento) e as formas de construção com barro.

Identificação dos solos e de suas características

90 min

Para aula em sala ou em campo, sugere-se que sejam previamente recolhidas amostras de diferentes solos, incluindo horizontes A, B e C; arenosos, argilosos, mistos, orgânicos etc., registrando-se de onde na paisagem e em que tipo de clima e formaram. Identifica-se cada amostra com uma letra ou número, após, separe em partes para possibilitar que uma mesma amostra possa ser distribuída para cada grupo de quatro a seis pessoas. No CPP da UFSC, usamos um conjunto de amostras com quatro a cinco diferentes solos da região da grande Florianópolis.

Dica: É mais didático coletar solos da paisagem onde está se desenvolvendo o CPP, aplicar as práticas aqui propostas e depois fazer uma caminhada com a turma e mostrar in loco onde ocorre cada tipo descrito pelos participantes.

Em grupo, as amostras deverão ser analisadas utilizando-se apenas dos sentidos para preencher um quadro com características de cada uma das amostras de solo, promovendo uma comparação entre elas, por exemplo:

  1. Qual a textura predominante: argiloso (fino) ou arenoso (grosso)?
  2. Qual o teor de matéria orgânica? Há raízes e restos de folhas?
  3. Qual o teor de umidade, porcentagem de água presente em cada? Originalmente, no momento que foi coletado o solo, como seria?
  4. leitura da paisagem: onde, no relevo, podemos encontrar cada amostra/tipo de solo? Topo, meia encostas, plano alto ou baixo, várzeas etc.? Qual pode ser o clima em que cada amostra se formou?
  5. Em qual horizonte este tipo de solo é facilmente encontrado: superficial (A), intermediário (B) ou mais profundo, quase na rocha (C)?
  6. Quais as aplicações possíveis para cada tipo de solo?
Características SOLO 1 SOLO 2 SOLO 3 SOLO 4
1. TEXTURA
2. MATÉRIA ORGÂNICA
3. UMIDADE
4. RELEVO E CLIMA
5. HORIZONTE
6. USOS

Prática de identificação dos solos e suas características. Foto: Marcelo Venturi.

Depois, é realizada uma revisão em conjunto (grande grupo), em que cada grupo coloca suas opiniões no quadro, enquanto comparamos os resultados e corrigimos à medida que explicamos cada uma das características, aplicando e relacionando os conhecimentos. Dessa forma conseguimos trabalhar quase todos os conteúdos de caracterização e identificação de solos.

Identificando a textura de um solo

10 min

Existem duas formas simples de identificar a quantidade de areia, silte e argila presentes em um solo, ou seja, caracterizar sua textura. A primeira, normalmente utilizada em campo, é bastante simples e, também, menos precisa. Com um pouco de água se faz uma massinha com o solo em suas mãos. Se for possível construir um rolinho, o solo não é arenoso. Se o rolo for comprido, mas não for possível formar uma rosquinha com ele, é um solo siltoso. Se for possível fechar um círculo com o rolinho, de forma que se pareça com uma rosca, este solo deve ser argiloso. Então, faz-se uma prática mais precisa com outra forma.

Com as amostras de solo utilizadas na prática anterior, ou com alguma composta especificamente para esta prática, pode-se fazer este teste simples. O teste pode ser feito de forma passiva, de modo que o instrutor apenas mostre aos estudantes como fazer e depois apresente o resultado e a forma de interpretá-lo, ou pode-se utilizar os mesmos grupos da prática anterior com uma amostra diferente para cada grupo, comparando as características prévias com os resultados ao final. Cada qual recebe o material necessário para cada amostra de solo:

  • Frascos de vidro transparente com tampa (o número de amostras usado na atividade anterior);
  • Amostras de solo;
  • Água; e
  • Uma régua.

Preenche-se cerca de 10 cm de cada frasco de vidro com o solo que se quer testar. Após, completa-se com água deixando um espaço de ar para sacudir e misturar bem. Então, espera-se a mistura decantar por completo. Isso pode demorar de poucos minutos a várias horas, dependendo da quantidade de argila, que irá decantar por último.

Se a turma tiver um local para deixar seus vidros, pode-se preparar o experimento, marcar e verificar o resultado no dia seguinte. Caso contrário, é recomendado que o instrutor faça a experiência apenas de forma didática e leve os vidros com os testes previamente preparados, para mostrar o resultado.

Em seguida se comparam as camadas de material mais grosso ao fundo (arenoso), mediano (siltoso) e mais fino acima (argiloso). Utilizando a régua milimétrica e uma regra de três é possível estabelecer a porcentagem de cada material. Então, com os dados de porcentagem aproximada, podemos classificar o tipo de solo usando um gráfico ternário.

Gráfico ternário para classificação de textura de solos. Fonte: Adaptado de Embrapa (1979).

Dica: Baixe o arquivo PDF da imagem do gráfico ternário para plotar os resultados dos testes feitos. Solicite que cada grupo plote uma amostra pelo menos.

Comparação do teor de argila em duas amostras de solos. Foto: Arthur Nanni.

Teste de expansão/contração

20 min

Com uma ou mais caixas-régua feitas em madeira crua e macia, sem pintura, com as dimensões de (geralmente) 4 cm x 4 cm x 40 cm, de forma a manter um vão a ser preenchido pela mistura de solos a serem testados, é possível estabelecer se um solo é expansível ou não.

Essa caixa-régua é completamente preenchida com uma mistura uniforme do solo ou mistura a ser testada, com água, até atingir uma consistência de massa de pão mole, e nivelada em sua superfície, que deverá estar plana e lisa.

Essa amostra deverá ficar à sombra, em local ventilado, até secar por completo, o que ocorre entre uma e três semanas.

Nesse período, observe:

  • se ocorre uma expansão do solo/argila nos primeiros dias, o que caracteriza presença de muita argila expansiva no solo/mistura, que irá comprometer a obra;
  • após a secagem, se o volume de redução da amostra é igual ou superior a 10%, se sim, é muito grande e deve-se agregar mais areia (componente agregado); o ideal é uma redução inferior a 5%;
  • se há muito esfarelamento e baixa resistência do material.

Solo expandido indica argila expansiva, ruim para ser utilizada em construções por sofrer muita expansão e retração, causando rachaduras com maior facilidade. Um solo adequado possui até 10% de retração.

Dessa forma, teste as novas formulações de composição da mistura de solos com argilas e areias até encontrar o ponto ideal de resistência, redução do volume e expansão das argilas.

Matéria orgânica presente no solo

20 min

Com cada uma das amostras de solo utilizadas em aula também é possível fazer uma comparação da quantidade de matéria orgânica viva ou existente na amostra. Para isso será preciso:

  • Frascos transparentes, por exemplo copos;
  • Amostras de solos frescas, coletadas recentemente; e
  • Água oxigenada 10 volumes (líquida).

Coloque em cada copo a mesma quantidade de solo a ser comparado, em torno de 2 cm de solo. Depois, preencha com água oxigenada, com a mesma quantidade para cada copo, o suficiente para cobrir esse volume de solo, em torno de 20 ml de água oxigenada. Então observe a criação de espuma, que é proporcional à quantidade de vida ativa em cada amostra.

Atividades no EaD

  • Solicite ao participante que desenvolva um pequeno texto dissertando sobre como se formam os solos.
  • Solicite ao participante que colete e identifique, na paisagem de sua área de projeto de planejamento, diferentes tipos de solos. Oriente o participante para que as amostras sejam coletadas em distintas partes do relevo e profundidades, como topos e bases de morros e elevações, encostas, baixadas secas e úmidas, bordas de rios etc. A partir delas, solicite que seja feita a identificação das características do solo (conforme descrito acima nas práticas) e que sejam enviadas fotos desses solos na paisagem.
  • Por fim, solicite que seja feito um quadro comparativo com as respectivas respostas sobre as características de cada solo avaliado.

Conteúdo complementar

Vídeos

  • Assista à playlist “Solos” no canal da Rede NEPerma Brasil.

Leitura

Aula

  • Acesse o conteúdo da aula Solos.

Referências sugeridas

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Manejo e conservação do solo e da água no contexto das mudanças ambientais. Organização Rachel Bardy Prado, Ana Paula Dias Turetta e Aluísio Granato de Andrade. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2010. 486 p. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/34008/1/livro-manejo.pdf. Acesso em: 5 fev 2022.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos. Reunião Técnica de Levantamento de Solos, 10., Súmula… Rio de Janeiro, 1979. 83 p. (Miscelânea, 1)

LEMOS, R. C.; SANTOS, R. D. dos. Manual de descrição e coleta de solo no campo. 2. ed. Campinas: SBCS/SNLCS, 1984. 45 p.

LENGEN, Johan van. Manual do arquiteto descalço. Rio de Janeiro: Casa do Sonho, 2002. 724 p.

MINKE, Gernot. Manual de construção com terra: uma arquitetura sustentável. Tradução Jorge Simões. São Paulo: B4, 2015.

PRIMAVESI, Ana. Pergunte ao solo e às raízes: uma análise do solo tropical e mais de 70 casos resolvidos pela agroecologia. São Paulo: Nobel, 2014. 288 p.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR). Departamento de Solo e Engenharia Agrícola. Conhecendo os solos: abordagem para educadores do ensino fundamental na modalidade à distância. Universidade Federal do Paraná. Departamento de Solos e Engenharia Agrícola. Organização Marcelo Ricardo de Lima. Curitiba: Departamento de Solos e Engenharia Agrícola, 2014. 167 p.

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Método de planejamento do espaço

Importância

A metodologia de planejamento do espaço, proposta pela permacultura, é o passo-chave no processo de planejar um sistema, pois considera os fluxos energéticos presentes na paisagem, bem como aqueles demandados pelo permacultor, para manejar um espaço geográfico. Com sua aplicação, é possível reduzir os tempos e esforços para resolver as rotinas de manejo de um determinado assentamento humano, envolvendo a produção de alimentos e a manutenção dos elementos que irão compor o ambiente planejado.

Objetivo

Mostrar aos participantes a parte mais “sistemática” da permacultura, que congrega essencialmente os conhecimentos de ecologia, clima, padrões e leitura da paisagem.

Conteúdo mínimo

Setores climáticos, zonas energéticas e análise dos elementos, considerando suas características, necessidades e funções. Estabelecimento de conexões entre elementos e zonas.

Metodologia

  • Aula expositiva e dialogada com construção coletiva de conceitos, onde os participantes vão incorporando as relações de ambiente e espacialização de elementos.
  • Prática em grupos para análise de elementos.

Exposição

60 min

Introduza o cenário de contexto, conceito e técnicas, onde o contexto de planejamento está vinculado à paisagem que será planejada, ao número de habitantes, suas necessidades, características e funções. O conceito de planejamento é a própria aplicação da filosofia da permacultura incluindo as éticas e princípios de planejamento e, por fim, as técnicas de manejo adequadas para cada elemento entram para auxiliar no planejamento sistêmico.

As escalas e o método de planejamento em permacultura. Figura: Arthur Nanni.

A partir daqui à exposição torna-se participativa. Não há projeção de imagens, o conteúdo será construído a caneta/giz e em tempo real com a opinião dos participantes.

Sugerimos que comece pela escala dos elementos. Escolha um bem fácil de analisar, como, por exemplo, a galinha ou a minhoca. Desenhe o elemento no quadro, separe três balões, sendo um para necessidades, outro para características e mais um para funções. Dos três quesitos, sugere-se não começar pelas funções, pois elas devem aparecer naturalmente, uma vez que a maior parte das pessoas tem uma visão utilitarista da natureza. Pergunte, então, quais são as necessidades do elemento e peça que descrevam suas características intrínsecas. Paralelamente, vá inserindo funções que acabam sendo “cantadas” pelo grupo.

A galinha como exemplo de elemento móvel, suas características, necessidades e funções. Foto: Arthur Nanni.

A essa altura, proponha uma dinâmica hipotética, em que o grupo irá pensar em uma propriedade rural para atender às necessidades de uma família. Solicite que o grande grupo indique o que é preciso para viver no campo. Em um canto do quadro, vá anotando essas coisas (elementos) e deixe o restante do quadro (maior parte) em branco.

Após esgotar os elementos que o grupo deseja colocar no espaço hipotético, migre para o espaço em branco reservado. Coloque um Norte e tome a decisão de descrever setores do local onde está sendo desenvolvido o PDC. Desenhe as direções dos ventos principais, indique se são quentes ou frios, secos ou úmidos. Trace a trajetória do sol de verão e de inverno. Enfim, ponha no quadro os diferentes setores reconhecidos pelo grupo.

Após isso, coloque a casa no meio desse espaço em branco e siga para a distribuição de cada elemento listado pelo grupo. Posicione-os considerando a necessidade de tempo/energia a ser gasto para seu manejo. Mais do que isso, agregue informações das características de cada elemento e suas necessidades de manutenção e, não se esqueça de posicioná-los de forma a servir outros elementos além de você. A distribuição desses elementos tende a seguir a lógica energética, ficando os que necessitam de maior tempo de cuidado próximos da casa e vice-versa. Vá marcando/riscando na lista, aqueles elementos que já foram posicionados, para que os participantes possam ver o que ainda falta para ser alocado na paisagem.

Ao terminar de posicionar todos os elementos, desenhe as envoltórias das zonas energéticas e, ao terminar, faça uma espécie de curva de gasto de tempo e energia em relação a essas zonas, como se fosse um gráfico.

O Gasto energético de manejo na paisagem planejada, os elementos e as zonas. Foto: Arthur Nanni

Práticas

Análise de elementos

45 min

A ideia dessa prática é fazer com que os participantes, separados preferencialmente pela composição de seus grupos de planejamento final, possam iniciar o processo de análise de elementos, que será necessário ao projeto de conclusão do curso.

Materiais necessários:

  • folha parda ou cartolina com espaço para escrita e desenhos; e
  • canetas coloridas e lápis de cor.

Solicite aos participantes que escolham três elementos hipotéticos, sendo um animal, outro vegetal e, por fim, um estrutural. Solicite que os grupos façam a análise de cada elemento e definam as inter-relações entre eles. Essa análise de inter-relação é fundamental, porque o elemento cumpre a sua função direta e, somado a esses dois adicionais, poderá cumprir mais duas necessárias para ser inserido na paisagem de planejamento.

Prática de análise de elementos com a tutoria dos instrutores. Foto: Marcelo Venturi.

Reconhecendo zonas

60 a 180 min

Para essa prática deve-se ter um ambiente de campo planejado segundo a lógica energética da permacultura e, claro, um bom conhecimento sobre ele. O ideal é contar com o apoio de quem o planejou. No caso da disciplina da UFSC, são utilizadas geralmente propriedades permaculturais da Grande Florianópolis.

Prepare antecipadamente imagens aéreas desse ambiente planejado e imprima-as em folhas A4 em quantidade equivalente aos grupos que farão o projeto final, ou separe em três ou quatro grupos, caso os projetos finais sejam individuais. Distribua um conjunto contendo uma prancheta, a impressão e canetas em cores para cada grupo.

Dica: Use imagens do Google Earth capturadas via printscreen e imprima-as em uma folha. Insira elementos que possam dar ideia de dimensões (escala) e, claro, sinalize o Equador.

Mostre a imagem a todos os grupos e, uma vez separados, busque explicar-lhes como navegar olhando a imagem. Mostre onde estão no espaço e comente sobre a trajetória do passeio que farão nessa prática.

Alerte todos os grupos de que, ao longo da caminhada pela propriedade, serão apontados apenas elementos no sistema planejado. A tarefa de cada grupo é reconhecer a que zona pertencem determinados elementos. Após isso, dá-se início à dinâmica percorrendo um caminho que cruze todas as zonas e possibilite a visualização de suas trocas. A cada passagem podem ser feitos avisos a respeito da mudança de zonas, principalmente quando a mudança não for muito clara. Nessa caminhada, os grupos deverão desenhar a envoltória de cada uma das zonas energéticas na imagem.

Ao final da caminhada, cada grupo apresenta sua interpretação de zonas, e o instrutor faz uma breve discussão sobre as diferenças de cada interpretação, buscando clarear a distribuição das zonas energéticas. Nesse momento, vários conceitos-chave poderão/deverão ser trabalhados. O uso de um gabarito ajudará no processo didático. Caso algum grupo tenha acertado a distribuição das zonas, utilize essa interpretação como gabarito.

Atividade no EaD

Fixando os conceitos de zonas

Sugira uma zona energética correspondente para cada questão colocada conforme as características apresentadas:

  • Área onde há floresta preservada ou em estágio de regeneração. Serve como barreira física perante outras propriedades. Local de inspiração, descanso e lazer. (Zona 5)
  • Compreende a casa ou edificação principal. (Zona 0)
  • Espaço intensamente manejado, com árvores que necessitam de podas, frutíferas de pequeno porte, açudes e criação de aves. (Zona 2)
  • Espaço com a menor interferência humana possível. (Zona 5)
  • Aqui devem estar elementos que necessitam pouco manejo, como cultivos perenes, anuais ou bianuais. (Zona 3)
  • Utilizada para extração de madeira, serapilheira, alguns frutos e sementes. (Zona 4)
  • Podem ser criados aqui animais que se sustentam sozinhos, aqueles que necessitam o mínimo de atenção humana. (Zona 4)
  • Local onde há maior interação e convívio entre as pessoas. (Zona 0)
  • Onde se encontram a horta, composteira, plantas medicinais e ervas de uso rotineiro. (Zona 1)
  • Espaço ao redor da casa ou edificação principal. (Zona 1)

Metodologia do planejamento

Para esta atividade, solicite ao aluno que trabalhe no croqui feito anteriormente na atividade de leitura da paisagem.

  • Setores: com base na interpretação da paisagem da propriedade realizada na aula sobre Leitura da Paisagem, defina e desenhe os setores no croqui da propriedade:
    • insolação no inverno e verão;
    • ventos e suas épocas predominantes;
    • risco de incêndios;
    • áreas úmidas; e
    • fonte de ruídos e outras interferências externas.
  • Zonas energéticas: com base na rotina e no propósito da propriedade, estabeleça a melhor distribuição para zonas energéticas. Desenhe-as sobre o croqui. (O desenho pode ser feito no software de sua preferência ou a mão e, após, escaneado ou fotografado para envio a um tutor).
  • Análise de elementos: a partir dos elementos mapeados no módulo anterior para a propriedade que você escolheu:
    • Realize a análise de elementos, estabelecendo as características intrínsecas, as necessidades e as funções para cada elemento. Sistematize-os em forma de tabela.
    • Uma vez determinadas essas variáveis, reposicione os elementos nas zonas energéticas.

Conteúdo complementar

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Leitura

Aula

Referências sugeridas

MARS, R. O design básico em permacultura. Porto Alegre: Via Sapiens, 2008.

Permaculture design strategies and Techniques. In: MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 04 fev 2022.

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