Importância
Os solos são a base da vida e compreendê-los é de fundamental importância para desenvolver bons cultivos e criações na ecologia cultivada, estabelecer uma boa leitura da paisagem, fazer uso em estruturas, utensílios e construções.
Objetivo
Compreender como podem ser encontrados, identificados e reconhecidos os diferentes tipos de solos. Reconhecer características de interesse e as potenciais formas de aplicação no ambiente planejado.
Conteúdo mínimo
Identificação das características de diferentes categorias de solos em relação à matéria orgânica, umidade, textura (granulometria: arenoso, siltoso, argiloso), pH (acidez), ocorrência na paisagem incluindo a posição onde podem ser encontrados no relevo e em diferentes climas, compreensão sobre o porque de diferentes espessuras, texturas e horizontes, para permitir a interpretação, compreensão e aplicação de cada uma dessas características.
Exemplos breves de aplicações desses conhecimentos em relação à ecologia cultivada e às bioconstruções:
- Testes simples com solos como: textura com frasco transparente com água e solo; contração com caixa-régua de madeira para compactação/expansão; matéria orgânica com água oxigenada etc.
- Manejo e conservação de solos: curvas de nível, uso de equipamentos: pé-de-galinha e mangueira de nível, construção de degraus, terraços e patamares, criação de solos através de adição/acúmulo de matéria orgânica, acreção de palhada ou serrapilheira, plantio direto.
- Apresentação dos diferentes tipos de construção com solo – adobe, cob, superadobe, pau a pique, taipa de pilão, rebocos, tijolo e telha cozidos, outros – e exemplos da característica e mistura ideal para construções com barro.
Metodologia
Exposição
3 horas
A aula expositiva pode ser feita de formas distintas, por exemplo:
- Apresentação dos conteúdos teóricos em sala através de slides.
- Apresentação prática em campo, através de caminhada observando a paisagem com paradas em alguns cortes (barrancos) onde existam diferentes horizontes de solo (o maior número possível).
- Aula mista com visualização em campo do que existir e complementação em sala com transparências de imagens do que não foi visto em campo.
A aula teórica utilizada no CPP da UFSC é mista e inicia com uma volta pelo bosque, onde se visualiza um corte de solo e se discute a formação dos solos.
Dica: Nos cortes, busque analisar todas as características de forma visual e tátil, assim como testes, e também com bioconstruções com solo e com diferentes manejos agrícolas visíveis.
Em seguida, em local coberto se realiza a prática de identificação dos solos e de suas características (ver prática a seguir) com amostras de diferentes tipos de solo, a qual é seguida da explicação de cada um dos conceitos e características estudadas na comparação dos solos enquanto se faz uma revisão e, ao mesmo tempo, um gabarito com a turma.
Em seguida são apresentados os testes de identificação de textura e dos tipos de argila, assim como do teor de matéria orgânica dos solos (apresentados detalhadamente nas práticas a seguir).
Em uma terceira etapa desta aula, são apresentadas teorias sobre os assuntos ainda não trabalhados, como identificação dos tipos de solo em relação à paisagem e ao relevo e outros conceitos.
Por último, mostram-se aplicações práticas dos conteúdos de solos: usos de manejo e conservação dos solos para cultivos, a prática de leitura da curva de nível (ver em prática relacionada: Traçando uma vala de infiltração/escoamento) e as formas de construção com barro.
Identificação dos solos e de suas características
90 min
Para aula em sala ou em campo, sugere-se que sejam previamente recolhidas amostras de diferentes solos, incluindo horizontes A, B e C; arenosos, argilosos, mistos, orgânicos etc., registrando-se de onde na paisagem e em que tipo de clima e formaram. Identifica-se cada amostra com uma letra ou número, após, separe em partes para possibilitar que uma mesma amostra possa ser distribuída para cada grupo de quatro a seis pessoas. No CPP da UFSC, usamos um conjunto de amostras com quatro a cinco diferentes solos da região da grande Florianópolis.
Dica: É mais didático coletar solos da paisagem onde está se desenvolvendo o CPP, aplicar as práticas aqui propostas e depois fazer uma caminhada com a turma e mostrar in loco onde ocorre cada tipo descrito pelos participantes.
Em grupo, as amostras deverão ser analisadas utilizando-se apenas dos sentidos para preencher um quadro com características de cada uma das amostras de solo, promovendo uma comparação entre elas, por exemplo:
- Qual a textura predominante: argiloso (fino) ou arenoso (grosso)?
- Qual o teor de matéria orgânica? Há raízes e restos de folhas?
- Qual o teor de umidade, porcentagem de água presente em cada? Originalmente, no momento que foi coletado o solo, como seria?
- leitura da paisagem: onde, no relevo, podemos encontrar cada amostra/tipo de solo? Topo, meia encostas, plano alto ou baixo, várzeas etc.? Qual pode ser o clima em que cada amostra se formou?
- Em qual horizonte este tipo de solo é facilmente encontrado: superficial (A), intermediário (B) ou mais profundo, quase na rocha (C)?
- Quais as aplicações possíveis para cada tipo de solo?
Características | SOLO 1 | SOLO 2 | SOLO 3 | SOLO 4 |
---|---|---|---|---|
1. TEXTURA | ||||
2. MATÉRIA ORGÂNICA | ||||
3. UMIDADE | ||||
4. RELEVO E CLIMA | ||||
5. HORIZONTE | ||||
6. USOS |
Depois, é realizada uma revisão em conjunto (grande grupo), em que cada grupo coloca suas opiniões no quadro, enquanto comparamos os resultados e corrigimos à medida que explicamos cada uma das características, aplicando e relacionando os conhecimentos. Dessa forma conseguimos trabalhar quase todos os conteúdos de caracterização e identificação de solos.
Identificando a textura de um solo
10 min
Existem duas formas simples de identificar a quantidade de areia, silte e argila presentes em um solo, ou seja, caracterizar sua textura. A primeira, normalmente utilizada em campo, é bastante simples e, também, menos precisa. Com um pouco de água se faz uma massinha com o solo em suas mãos. Se for possível construir um rolinho, o solo não é arenoso. Se o rolo for comprido, mas não for possível formar uma rosquinha com ele, é um solo siltoso. Se for possível fechar um círculo com o rolinho, de forma que se pareça com uma rosca, este solo deve ser argiloso. Então, faz-se uma prática mais precisa com outra forma.
Com as amostras de solo utilizadas na prática anterior, ou com alguma composta especificamente para esta prática, pode-se fazer este teste simples. O teste pode ser feito de forma passiva, de modo que o instrutor apenas mostre aos estudantes como fazer e depois apresente o resultado e a forma de interpretá-lo, ou pode-se utilizar os mesmos grupos da prática anterior com uma amostra diferente para cada grupo, comparando as características prévias com os resultados ao final. Cada qual recebe o material necessário para cada amostra de solo:
- Frascos de vidro transparente com tampa (o número de amostras usado na atividade anterior);
- Amostras de solo;
- Água; e
- Uma régua.
Preenche-se cerca de 10 cm de cada frasco de vidro com o solo que se quer testar. Após, completa-se com água deixando um espaço de ar para sacudir e misturar bem. Então, espera-se a mistura decantar por completo. Isso pode demorar de poucos minutos a várias horas, dependendo da quantidade de argila, que irá decantar por último.
Se a turma tiver um local para deixar seus vidros, pode-se preparar o experimento, marcar e verificar o resultado no dia seguinte. Caso contrário, é recomendado que o instrutor faça a experiência apenas de forma didática e leve os vidros com os testes previamente preparados, para mostrar o resultado.
Em seguida se comparam as camadas de material mais grosso ao fundo (arenoso), mediano (siltoso) e mais fino acima (argiloso). Utilizando a régua milimétrica e uma regra de três é possível estabelecer a porcentagem de cada material. Então, com os dados de porcentagem aproximada, podemos classificar o tipo de solo usando um gráfico ternário.
Dica: Baixe o arquivo PDF da imagem do gráfico ternário para plotar os resultados dos testes feitos. Solicite que cada grupo plote uma amostra pelo menos.
Teste de expansão/contração
20 min
Com uma ou mais caixas-régua feitas em madeira crua e macia, sem pintura, com as dimensões de (geralmente) 4 cm x 4 cm x 40 cm, de forma a manter um vão a ser preenchido pela mistura de solos a serem testados, é possível estabelecer se um solo é expansível ou não.
Essa caixa-régua é completamente preenchida com uma mistura uniforme do solo ou mistura a ser testada, com água, até atingir uma consistência de massa de pão mole, e nivelada em sua superfície, que deverá estar plana e lisa.
Essa amostra deverá ficar à sombra, em local ventilado, até secar por completo, o que ocorre entre uma e três semanas.
Nesse período, observe:
- se ocorre uma expansão do solo/argila nos primeiros dias, o que caracteriza presença de muita argila expansiva no solo/mistura, que irá comprometer a obra;
- após a secagem, se o volume de redução da amostra é igual ou superior a 10%, se sim, é muito grande e deve-se agregar mais areia (componente agregado); o ideal é uma redução inferior a 5%;
- se há muito esfarelamento e baixa resistência do material.
Solo expandido indica argila expansiva, ruim para ser utilizada em construções por sofrer muita expansão e retração, causando rachaduras com maior facilidade. Um solo adequado possui até 10% de retração.
Dessa forma, teste as novas formulações de composição da mistura de solos com argilas e areias até encontrar o ponto ideal de resistência, redução do volume e expansão das argilas.
Matéria orgânica presente no solo
20 min
Com cada uma das amostras de solo utilizadas em aula também é possível fazer uma comparação da quantidade de matéria orgânica viva ou existente na amostra. Para isso será preciso:
- Frascos transparentes, por exemplo copos;
- Amostras de solos frescas, coletadas recentemente; e
- Água oxigenada 10 volumes (líquida).
Coloque em cada copo a mesma quantidade de solo a ser comparado, em torno de 2 cm de solo. Depois, preencha com água oxigenada, com a mesma quantidade para cada copo, o suficiente para cobrir esse volume de solo, em torno de 20 ml de água oxigenada. Então observe a criação de espuma, que é proporcional à quantidade de vida ativa em cada amostra.
Atividades no EaD
- Solicite ao participante que desenvolva um pequeno texto dissertando sobre como se formam os solos.
- Solicite ao participante que colete e identifique, na paisagem de sua área de projeto de planejamento, diferentes tipos de solos. Oriente o participante para que as amostras sejam coletadas em distintas partes do relevo e profundidades, como topos e bases de morros e elevações, encostas, baixadas secas e úmidas, bordas de rios etc. A partir delas, solicite que seja feita a identificação das características do solo (conforme descrito acima nas práticas) e que sejam enviadas fotos desses solos na paisagem.
- Por fim, solicite que seja feito um quadro comparativo com as respectivas respostas sobre as características de cada solo avaliado.
Conteúdo complementar
Vídeos
-
Assista à playlist “Solos” no canal da Rede NEPerma Brasil.
Leitura
- Formação do solo.
- O perfil do solo.
- Conhecendo os solos: abordagem para educadores do ensino fundamental na modalidade à distância.
Aula
- Acesse o conteúdo da aula Solos.
Referências sugeridas
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Manejo e conservação do solo e da água no contexto das mudanças ambientais. Organização Rachel Bardy Prado, Ana Paula Dias Turetta e Aluísio Granato de Andrade. Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2010. 486 p. Disponível em: http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/bitstream/item/34008/1/livro-manejo.pdf. Acesso em: 5 fev 2022.
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos. Reunião Técnica de Levantamento de Solos, 10., Súmula… Rio de Janeiro, 1979. 83 p. (Miscelânea, 1)
LEMOS, R. C.; SANTOS, R. D. dos. Manual de descrição e coleta de solo no campo. 2. ed. Campinas: SBCS/SNLCS, 1984. 45 p.
LENGEN, Johan van. Manual do arquiteto descalço. Rio de Janeiro: Casa do Sonho, 2002. 724 p.
MINKE, Gernot. Manual de construção com terra: uma arquitetura sustentável. Tradução Jorge Simões. São Paulo: B4, 2015.
PRIMAVESI, Ana. Pergunte ao solo e às raízes: uma análise do solo tropical e mais de 70 casos resolvidos pela agroecologia. São Paulo: Nobel, 2014. 288 p.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ (UFPR). Departamento de Solo e Engenharia Agrícola. Conhecendo os solos: abordagem para educadores do ensino fundamental na modalidade à distância. Universidade Federal do Paraná. Departamento de Solos e Engenharia Agrícola. Organização Marcelo Ricardo de Lima. Curitiba: Departamento de Solos e Engenharia Agrícola, 2014. 167 p.