Leitura da paisagem

Importância

As diferentes paisagens a serem planejadas precisam ser incorporadas na visão do permacultor, para serem melhor compreendidos os fluxos energéticos que serão utilizados no dia a dia do território planejado. Reconhecer a paisagem e definir seus potenciais e suas limitações é muito importante para otimizar tempo, dinheiro e trabalho.

Conforme David Holmgren, “a habilidade em ler a paisagem fornece ao planejador a oportunidade de trabalhar com os processos naturais ao invés de contra eles”.

Objetivo

Fazer com que o participante reconheça as diferenças entre cada porção da paisagem a ser planejada para melhor utilizar as energias presentes, tanto na forma potencial quanto nas fluentes.

Conteúdo mínimo

Leitura a partir de dados científicos, a observação de campo, o conhecimento contemplativo, uso de geo e bioindicadores, reconhecimento de setores na paisagem como: insolação, relevo, ventos, risco de incêndio, escoamento das águas, sombreamentos, umidade, ventos, curva-chave, dentre outros.

Metodologia

A aula é dividida em duas partes, sendo uma prática e outra dinâmica. A primeira é uma prática ao ar livre em que os participantes constroem em escala reduzida a paisagem ao seu redor. A segunda exercita os conhecimentos compartilhados na primeira parte através de imagens de paisagens que podem ser facilmente encontradas na internet.

Práticas

Incorporando a paisagem

90 min

Essa prática ao ar livre busca, de forma lúdica, materializar aos participantes os principais setores da paisagem e como a dinâmica dos fluxos energéticos condicionam as variáveis que precisam ser reconhecidas e interpretadas. Você precisará de:

  • um local onde seja possível avistar com clareza a morfologia do terreno, onde o sol incida mesmo que parcialmente (sombra de uma árvore) e o grupo possa permanecer por até duas horas interagindo;
  • um carrinho de mão cheio de areia; e
  • folhas, galhos do entorno.

Solicite que o grupo reconheça características da paisagem, como elevações, baixios, cursos d’água, entre outros. Após isso, transfira a areia do carrinho para o chão e solicite a uns três a quatro participantes que, com a areia, modelem a paisagem topográfica que os rodeia.

Note que a miniatura da paisagem precisa estar na mesma orientação que a paisagem ao entorno. Isso quase sempre ocorre automaticamente. Aos que concluírem a construção da miniatura solicite que usem segmentos de galhos para desenhar (materializar) trechos de cursos de água. Folhas podem ser usadas para estabelecer onde ocorrem as florestas e vegetação arbórea. Trace com a ponta do dedo as estradas e acessos, use pedrinhas para indicar construções, etc. Com todas as características materializadas será possível falar de dinâmicas de energias na paisagem.

Aula de Leitura da paisagem no campus da UFSC em Florianópolis. Foto: Marcelo Venturi.

Sugerimos começar pela presença do sol. Solicite uns dois voluntários que sinalizem onde nasce o sol e onde ele se põe. No que concluírem, pergunte sobre os diferentes movimentos feitos pelo sol em relação à superfície da miniatura. Estabeleça as relações de intensidade de insolação para verão e inverno (solstícios).

Após isso é possível corrigir conceitos. Assim, sugere-se fazer a trajetória do sol em relação a miniatura. Você pode usar o próprio punho (fechado) para simular a trajetória do sol. Para crianças é possível usar uma bola de brinquedo, tornando o processo mais lúdico.

Logo após, comente como são os ventos predominantes, em que época do ano ocorrem e com que intensidade e persistência. Não se esqueça de indicar ventos ocasionais, que costumam ter curta duração, porém, grande intensidade.

Depois disso, trabalhe as questões sobre presença de águas na paisagem. Onde há mais água? Nos topos das elevações as águas se concentram ou escoam? E nas depressões? São perguntas óbvias, mas que serão muito importantes para o próximo passo.

Com a relação de dispersão/concentração de águas, mostre onde estão as inflexões nas encostas da miniatura e, então, evidencie nessas pelo menos uns 6 pontos-chave. Quando os educandos entenderem sua presença, solicite que alguém faça a projeção lateral da curva-chave com a ponta dos dedos.

Insira na dinâmica de grupo a questão das vertentes (encostas), suas direções, se irão receber insolação no período da manhã ou tarde, durante todo o dia, ou se quase não receberão. Esse passo é importante para que os participantes entendam as diferenças entre os pontos cardeais e a importância de planejar em diferentes exposições solares.

Ao final, pergunte ao grupo: Qual seria o melhor lugar para estabelecer uma moradia nessa paisagem? Nesse momento, todos partem a fazer muitos “cálculos” a respeito de cada fenômeno natural e os respectivos fluxos energéticos abordados durante a prática. Uma vez indicado o melhor local (virão diferentes), ou seja, aquele que um número maior de participantes tenha apontado, inicie uma série de reflexões sobre o porquê da escolha. O resultado deve mostrar que as visões individuais passam a se aproximar, o que facilita a compreensão dos fenômenos naturais a que a paisagem está submetida, permitindo ao grupo opinar e decidir sobre qual a melhor opção no terreno para se estabelecer moradia e um planejamento permacultural.

Traçando valas de infiltração/escoamento, passeios e rampas

30 min

Esta é uma prática fundamental para estabelecer/calibrar a visão tridimensional do terreno e sensibilizar os participantes para a necessidade do uso de ferramentas. Nesse caso, será usado o pé-de-galinha, que possibilitará marcar em uma topografia ondulada, uma determinada curva com o mesmo nível ou com uma inclinação preestabelecida.

Escolha uma área ondulada, mas não muito íngreme, de preferência com pastagem ou com espaço aberto entre árvores, onde os participantes possam transitar.

Apresente o pé-de-galinha ao grupo e mostre como ele funciona, quais seus princípios, sua forma de confecção e suas funções em campo.

Após isso, inicie a prática de fato. Solicite aos participantes que, de mãos dadas, se alinhem ao nível do terreno, conforme julguem ser o nível (mesma altitude) a olho nu.

Agora inicie por uma das pontas desse alinhamento o nivelamento da curva proposta pelos participantes e lembre-os de que não podem sair do local que eles escolheram como o “nível certo”.

Prática com o pé-de-galinha na formação de professores no CPP para academia ocorrido em 2020.

 

Auxilie cada participante a operar o pé de galinha quando este estiver à frente de cada um e vá fincando pedaços de galhos/bambus no solo, de acordo com o nível certo, estabelecido pelo pé-de-galinha. Ao mesmo tempo, vá corrigindo a posição de cada participante.

Após estabelecer um plano com o pé-de-galinha, inicia a demonstração do traçado de uma rampa usando um dos níveis de bolha por padrão. Após compreendida a transposição para o terreno, solicite aos participantes que façam para outra inclinação.

Exposição

60 min

Selecione fotos de paisagens de diversos lugares que mostrem bem as questões abordadas na prática de incorporação da paisagem.

Curva-chave, estradas, casas e plantações são elementos da paisagem que devem estar presentes nessas imagens. Se houver um quadro branco que possa ser riscado, projete as imagens sobre ele e solicite que os educandos desenhem a curva-chave de cada paisagem mostrada.

Dica: Use o Google Earth e as fotos de paisagens locais. Se você dispuser de conexão com a internet, ficará mais lúdico viajar até o ponto onde está a paisagem a ser mostrada.

Bases para o projeto final

Por tradição, na disciplina da UFSC, é nessa aula que são fornecidas aos participantes as bases topográficas e de uso da terra que compreendem a área/território onde serão desenvolvidos os projetos finais de planejamento permacultural. Na apresentação dessas bases é comentado o conceito de curvas de nível, bem como de identificação de diferentes coberturas da terra na paisagem. Essas imagens poderão ser impressas em escala maior, no intuito de serem usadas para inserção das informações a cerca dos setores, zonas e elementos que farão parte do ambiente planejado.

Dica: Considerando a informação topográfica pode-ser propor a preparação de uma maquete que irá servir de base ao projeto final. A construção da maquete poderá ser feita com camadas de papelão, isopor ou outros materiais para sua posterior apresentação. Isso facilitará aos participantes a compreensão do conceito de morfologia do terreno, auxiliando na visualização em três dimensões.

A partir da entrega das bases, é importante frisar aos participantes que o projeto final tem seu início deflagrado. Assim, eles já podem ir pensando sobre os quesitos apresentados até então, possibilitando estabelecer como eles se manifestam na paisagem da área de planejamento.

Atividades no EaD

Leitura da paisagem com modelo virtual

30 min

Em ambiente remoto é possível fazer uma abordagem em sala virtual, usando o Google Earth e sua perspectiva em 3 dimensões. Para tal, escolha uma paisagem de sua familiaridade. Compartilhe sua tela com os participantes e vá revelando elementos na paisagem e indagando-os sobre o porquê se encontram nessas posições. Destaque elementos como rios, estradas, casas, vegetação, etc.

Abordagem no modo remoto usando-se do Google Earth para destacar elementos na paisagem. Estradas antigas planejadas na curva-chave e a expansão da alça de contorno da BR-101 na grande Florianópolis que segue o eixo do vale, onde estão presentes solos moles e o risco de inundação é maior. Pode-ser abordar também os impactos da obra para o ecossistema local.

Atividade avaliativa

Aliando os conhecimentos prévios de topografia aos materiais da aula de Leitura da Paisagem, solicite ao participante que, usando a sua área de planejamento reconhecida no Google Earth, faça um croqui (desenho) contendo:

  • Seu nome e nome da propriedade (se houver);
  • Curvas-chave;
  • Desenho do relevo através de curvas de nível ou sombreamento;
  • Identificação e posicionamento dos elementos já existentes na propriedade;
  • Cursos de água e nascentes;
  • Equador geográfico; e
  • Uma legenda contendo os símbolos que foram utilizados.
  • Indicação ou posicionamento dos setores: insolação, umidade, declividade, inundação, fogo, etc.

Pode-se desenhar digitalmente as marcações sobre o mapa, ou imprimi-lo, fazer as anotações necessárias à mão e depois escanear o material.

Dica: Para abordagens mais avançadas, como cursos de especialização, sugere-se abrir as bases em PDF em um aplicativo de desenho como o Inkscape. Uma vez dentro do aplicativo, será possível criar camadas para cada tema a ser mapeado. Assista a uma aula contendo formas de Mapeamento de setores.

Conteúdo complementar

Vídeos

Aula

Referências sugeridas

Doherty, D. J. & Jeeves, A (2015). Regrarians eHandbook – 2 Geography )1st ed). Bendigo – Australia. 87p.

MARS, Ross. O design básico em Permacultura / Ross Mars e Martin Ducker; tradução Potira Preiss. – Porto Alegre: Via Sapiens, 2008. 167 p.

MOLLISON, Bill; SLAY, Reny Mia. Introdução à permacultura. Tradução André Luis Jaeger Soares. Brasília: MA/SDR/PNFC, 1998. p. 48-84. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/199851. Acesso em: 28 jan 2022.

Permaculture design strategies and Techniques. In: MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 04 fev 2022.

Powers, M. (2018). The Permaculture Student 2: A collection of regenerative solutions—The Text Book (2o ed). PowersPermaculture123. 416p.

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