Plantas alimentícias não-convencionais

 

Importância

As Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC) podem trazer à tona diversos princípios da Permacultura e proporcionar discussões fortemente relevantes sobre o sistema alimentar em que estamos envolvidos diariamente. Desenvolver o conhecimento e uso das PANC contribui para a valorização da diversidade e dos elementos marginais, ambos fundamentos permaculturais de grande impacto socioambiental. A monotonia agroalimentar contemporânea tem sido apontada como um dos fatores principais no aumento dos agravos à saúde de produtores e consumidores, seja pelo uso de contaminantes nos solos e nas águas, seja pelo crescente consumo de alimentos de baixa qualidade nutricional, ocasionando carência de micronutrientes e doenças crônicas não transmissíveis em bilhões de pessoas pelo mundo.

Objetivo

Qualificar os participantes a refletir sobre as escolhas no sistema alimentar com base nos princípios da Permacultura, bem como a identificar e utilizar as PANC para produção e consumo próprio.

Conteúdo mínimo

Etapas do sistema alimentar: produção no campo, processamento, comercialização e consumo. Princípios da Permacultura aplicados à alimentação, de preferência discutidos para auxiliar escolhas permaculturais em cada etapa do sistema alimentar. Conceito, identificação e usos de PANC na alimentação, desde o cultivo até o preparo.

Metodologia

A aula inicia com uma apresentação dinâmica dos participantes, para que possam identificar pontos em comum entre si e com isso promover trocas de experiências e saberes ao longo do encontro. Em seguida, apresenta-se brevemente sobre o histórico e a organização atual do sistema alimentar, abordando a alimentação como um direito humano e um prazer, dentro de um modo de produção que pode ter diferentes objetivos e resultados dependendo do foco em que se tem.

Com base nos princípios da Permacultura, incentiva-se os participantes a sugerirem relações, escolhas e ações dentro do sistema alimentar que podem contribuir com os fundamentos éticos permaculturais. Apresenta-se as PANC como recurso para promover esses princípios e ética na alimentação, incluindo a exposição dos conceitos sobre PANC, além de modos de identificar, cultivar e preparar algumas PANC encontradas no local da aula. Sugere-se que a aula contenha uma parte prática de identificação e coleta de PANC, bem como de degustação de algumas receitas com PANC, a fim de encantar os participantes e ajudá-los a fixar os conhecimentos compartilhados.

Exposição e dinâmicas

3 horas

A abordagem a seguir visa despertar os estudantes a conhecer e utilizar as Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC), tanto em seus projetos permaculturais quanto como exemplo de aplicação dos princípios da permacultura na alimentação.

Sugere-se, portanto, o roteiro abaixo, cujos pontos serão detalhados na sequência:

  1. Espera da chegada de todos (15 minutos).
  2. Dinâmica de identificação (15 minutos).
  3. Apresentação sobre alimentação (30 minutos).
  4. Dinâmica de aplicação dos princípios da permacultura (15 minutos).
  5. Apresentação sobre PANC (20 minutos).
  6. Passeio em horta agroecológica (45 minutos).
  7. Lanche comunitário com PANC e conversas relacionadas (20 minutos).

Espera da chegada de todos (15 minutos)

Quando a turma estiver quase completa, nos últimos minutos dessa espera – os instrutores se apresentam, comentam o “roteiro do encontro” e convidam os participantes para se deslocar a um espaço onde será realizada a dinâmica de apresentação (dê preferência a um local externo).

Dinâmica de identificação (15 minutos)

Colocar uma linha no chão e orientar as pessoas a ficarem em pé lado a lado, formando uma fileira de cada lado da linha, ficando umas de frente para as outras. Explicar que as pessoas darão um passo para a frente quando a resposta for sim e permanecerão no lugar quando a resposta for não.

Serão três séries de três perguntas cada, e, na medida em que responderem, as pessoas irão se aproximando da linha estendida no chão, enquanto se olham para identificar as pessoas com respostas em comum. Seguem abaixo alguns exemplos de perguntas:

  • Quem aqui nasceu em Florianópolis?
  • Quem aqui mexeu na terra essa semana?
  • Quem aqui consegue comprar orgânicos toda semana?
  • Quem aqui comeu em lanchonete de fastfood ou bolacha recheada essa semana?
  • Quem aqui comeu caruru, tanchagem, jerivá, beldroega na vida?
  • Quem aqui sabe definir o que é agroecologia?
  • Quem aqui gosta de cozinhar?
  • Quem aqui já leu o Guia alimentar para a população brasileira de 2014?
  • Quem aqui participa de algum grupo relacionado a sustentabilidade?

Após isso, as pessoas se apresentam dizendo: nome, área de atuação e cidade de origem.

Dinâmica da apresentação no Centro de Ciências Agrárias da UFSC em Florianópolis/SC. Foto: Jefferson Mota.

Apresentação sobre alimentação (30 minutos)

Pedir para que os participantes dediquem 20 minutos de atenção e procurem acompanhar o raciocínio e anotar dúvidas ou comentários, para serem compartilhados ao final da explicação do instrutor. O entendimento dessa parte pode ser mais claro se não houver muitas interrupções durante a fala. O objetivo da exposição a seguir é resgatar elementos para responder à questão: Como aplicar os princípios da permacultura na alimentação?

Antes de iniciar a explicação, fazer a seguinte introdução:

  • A seguir, faremos um breve panorama sobre alimentação e, juntos, vamos fazer escolhas dentro deste sistema alimentar que nos cerca, utilizando como base os princípios da permacultura. A metodologia de aplicação dos princípios pode ser adaptada por cada um à sua área de conhecimento.
  • Para falarmos de alimentação utilizando os princípios da permacultura, precisamos saber dizer em poucas palavras o que é permacultura, já que essa é, além de uma resposta frequentemente solicitada por amigos, parentes e curiosos, também um conceito que precisamos manter em vista na hora de fazer nossas escolhas no sistema alimentar.

Permacultura pode ser entendida como “Cultura Permanente Sustentável”, que compreende um sistema capaz de prover nossas necessidades, com respeito à natureza, às pessoas e ao futuro. Ela tem como diretrizes três éticas e para colocá-las em prática, os permacultores se utilizam de 12 princípios de planejamento, que podem ser aplicados na arquitetura, agricultura, educação e até na alimentação. Permacultura não é somente bioconstrução, ecologia, compostagem ou uma comunidade alternativa. Ela é esse conjunto de princípios para serem aplicados em qualquer área, com uso da ciência, tecnologia e conhecimento tradicional.

A explicação que segue será feita de maneira expositiva utilizando um quadro branco, lousa ou flipchart para ir escrevendo o esquema da figura a seguir, palavra por palavra, a cada etapa da explicação, para construir o raciocínio junto com os ouvintes. As palavras em negrito no texto a seguir são as que irão compor o esquema da figura a seguir.

Esquema sobre alimentação. Fonte: Yasmin Monteiro.

Agora iniciaremos a construção do esquema com o panorama sobre alimentação, no atual contexto brasileiro.

Alimentação como direito

Alimentar-se é, em primeiro lugar, um direito de todo ser humano. Tal direito foi conquistado na Constituição brasileira, em 2010, como direito humano à alimentação adequada, e definido no Guia alimentar para a população brasileira de 2014.1 Portanto, essa alimentação não é qualquer alimentação, ela deve ser adequada em quantidade – com equilíbrio para garantir os nutrientes – adequada em qualidade – com variedade de alimentos, segura do ponto de vista físico, químico e biológico, sem contaminantes, deve respeitar as necessidades de cada indivíduo e sua cultura – e deve ser adequada de maneira justa para a natureza, sendo sustentável, e para todas as pessoas, sendo acessível e garantindo a soberania alimentar.2

Alimentação como prazer

Alimentar-se também é um prazer. Quando nos deparamos com uma refeição caprichada, cheia de sabor, aroma e beleza, a alegria vem através dos sentidos. Comer satisfaz, sustenta e nos dá saúde, faz parte da vida de todos, todo dia. Além disso, há a arte de cozinhar, que encanta alguns, mas afasta outros, apesar de que se alguém ainda não encontrou prazer em cozinhar, pode ser porque talvez ainda não o tenha experimentado de um jeito com o qual se identifique. Por fim, a alimentação é um ato social, que contribui para a formação da identidade de indivíduos, culturas e economias.

Alimentação como sistema alimentar

A alimentação tem se organizado como um sistema alimentar, que envolve a produção no campo, processamento, comércio e consumo.

Em suma, no campo, a produção pode ser convencional – aquela praticada principalmente depois da Revolução Verde dos anos 1970, com o uso de agrotóxicos, transgênicos e monoculturas, comprovadamente promotora de riscos à saúde tanto do trabalhador quanto do consumidor, e ainda mais do solo e das águas, com processos de desertificação e de desflorestamento ocorrendo ao redor do mundo. A produção no campo pode ser orgânica – aquela que procura respeitar a natureza, portanto não usa agentes poluidores ou que diminuam a biodiversidade e a sustentabilidade. Ainda, a produção pode ser agroecológica – aquela que implica não somente a busca de uma maior racionalização econômico-produtiva, com base nas especificidades biofísicas de cada agroecossistema, mas também uma mudança nas atitudes e valores dos atores sociais em relação ao manejo e à conservação dos recursos naturais (CAPORAL, 2004).

Então, o alimento pode ir para o processamento, que pode ser simples – adicionado somente de sal e açúcar com moderação, passando por processos de cocção e/ou higienização – ou ele pode ser ultraprocessado – quando são adicionados normalmente muito sal, açúcar, aditivos químicos e gordura trans.3

Quanto à comercialização, podemos classificá-la para fins didáticos, com base no foco que ela tem. Se o foco está no lucro exorbitante de poucos, então se pode centralizar a produção e a distribuição. Para isso, constituem-se os latifúndios, que por sua vez distribuem para grandes indústrias e supermercados, acabando por gerar muito desperdício, como, por exemplo: o uso de pesticidas e adubos químicos que poderiam ser evitados se houvesse controle biológico, o transporte de alimentos que utiliza fontes de energia não renováveis e o não aproveitamento dos resíduos orgânicos de uma compostagem. Se o foco está nas pessoas, então é preciso descentralizar para que mais pessoas sejam beneficiadas. Portanto, é incentivada uma agricultura familiar independente de grandes intermediários e que faz sua distribuição em circuitos curtos de modo a evitar desperdícios, por respeitar a sazonalidade e a regionalidade dos alimentos.

Por fim, é no consumo que podemos influenciar parte do sistema alimentar pelas nossas escolhas. Porém, estas são direcionadas tanto pela maneira como a informação nos é passada – seja em divulgação ou em educação – quanto pela situação da economia nacional e internacional. Mais uma vez, se escolhermos a lógica do lucro exorbitante de poucos, muito será feito para que os produtos de determinada empresa tenham suas vendas aumentadas o máximo possível, o que, às vezes, implica a omissão ou o mascaramento de evidências sobre os efeitos de certos ingredientes. Além disso, para aumentar esse lucro exorbitante de poucos, é preciso que muitos trabalhem mais tempo por menos remuneração, o que tem feito a vida ser uma constante correria, não sobrando tempo, dinheiro ou disposição para investir em uma alimentação saudável e sustentável. Pensando nas pessoas, o foco estaria na verdadeira educação alimentar e nutricional, aquela que revela o funcionamento desse sistema alimentar, prepara as pessoas para requerer seu direito pela alimentação adequada e permite aos indivíduos escolher com autonomia de acordo com os benefícios e malefícios de certos alimentos estudados para a alimentação humana com ética na ciência, como colocado pelo próprio Guia alimentar para a população brasileira de 2014.

Associação com a permacultura

Com base nas éticas e nos princípios de planejamento da permacultura e, focando na parte mais concreta, a da alimentação como “Sistema Alimentar”, podemos desenvolver um planejamento permacultural que contemple de forma sistêmica a produção, o processamento, o comércio e o consumo. Assim, a melhor via seria a adoção de uma produção agroecológica, seguida do processamento simples, de um comércio baseado nas pessoas e no consumo consciente.

Pode-se perceber que uma alimentação adequada não depende apenas da vontade dos indivíduos, a dificuldade de garanti-la é um vício estrutural da sociedade. As ações necessárias para termos uma alimentação adequada são tanto individuais quanto coletivas. Por isso, devemos atentar para não culpabilizar apenas o indivíduo, e para não nos excluirmos da sociedade, já que, para cuidar da natureza e das pessoas, precisamos nos unir na construção de caminhos que atendam a todas as éticas.

Na prática, exemplos de ações individuais e coletivas que podemos desenvolver seriam:

  • Ações individuais – plantar e consumir de forma agroecológica; procurar saber a origem e a sazonalidade dos alimentos antes de comprar; conhecer produtores e suas propriedades.
  • Ações coletivas – participar de grupos de trabalho por políticas de incentivo à agricultura urbana e familiar (exemplo: Rede Semear de Agricultura Urbana de Florianópolis); incentivar a criação e a ampliação de feiras agroecológicas.

Dinâmica de aplicação dos princípios da permacultura (15 minutos)

Agora é a vez dos estudantes escolherem entre as éticas e/ou princípios de planejamento da permacultura, para dar exemplos de ações individuais e coletivas relacionadas ao sistema alimentar.

Sugere-se ter os princípios descritos à vista, para que os participantes possam observar e se lembrar mais facilmente de cada um no momento de relacioná-los com as possíveis ações propostas.

Apresentação sobre PANC (20 minutos)

Um recurso para possibilitar a aplicação dos princípios da permacultura são as PANC. Assim, sugerimos perguntar:

– Quem já ouviu falar de PANC? Quais consomem com certa frequência? Quem coleta alguma planta no ambiente em que vive? Sabe diferenciar e preparar?

Caracterizar as PANC brevemente como:

  • Tradicionais – São plantas consumidas historicamente no Brasil pelos indígenas, imigrantes africanos e europeus, agricultores e extrativistas, mas “sem valor” comercial, sendo parte da sua soberania e segurança alimentar em alguns casos. Algumas plantas estão em situação de extinção, colocando em risco a preservação de parte da cultura alimentar dos povos.
  • Danadinhas (“Daninhas”) – São consideradas plantas que devem ser eliminadas das plantações, com o uso de herbicidas, especialmente os que possuem a substância glifosato (de nome comercial Round Up Ready, usado nas lavouras de soja, milho, algodão e vendido nas cidades como “mata-mato”, aquele mesmo que nosso vizinho ou a prefeitura aplicam nas ruas indevidamente). Isso tem causado enormes custos à economia – porque algumas plantas ficam resistentes à herbicidas, o que ocasiona o aumento da dosagem – e principalmente à saúde humana, dos animais e do ambiente.
  • Indicadoras – Aparecem no ambiente dando um sinal de desequilíbrio – seja pela falta de verde (nas calçadas e ambientes muito concretados), seja para indicar excesso ou carência de nutrientes, solo compactado ou simplesmente para atrair insetos polinizadores e servir de alimento para outros herbívoros que vão deixar de comer as plantas que cultivamos. Elas também são as plantas pioneiras na ocupação de um local degradado que em seguida será colonizado por outras espécies, incluindo árvores.
  • Nutritivas – Por serem adaptadas e muitas vezes orgânicas, Kinupp e Barros (2008) apontam muitas PANC que apresentam quantidades de proteínas, vitaminas e diversos nutrientes em maiores quantidades do que as espécies convencionais.
  • Da diversidade – A alimentação humana e a produção agrícola convencional estão baseadas numa pequena diversidade de espécies vegetais, sendo 75% dos alimentos produzidos a partir de doze plantas e cinco animais (FAO, 2005), quando comparadas as 12,5 mil espécies potenciais levantadas pelo botânico alemão Günther Kunkel nos anos 1980, ou, mais recentemente, pelas quase 60 mil plantas comestíveis ao redor do mundo pelo botânico argentino Eduardo Rapoport (BRACK, 2016; RAPOPORT, GOWDA, 2007).

Prepare os participantes para o passeio por uma horta agroecológica ou mesmo pelo local da aula prática (sempre haverá PANC, seja na fresta da calçada, seja no meio de um jardim convencional-ortodoxo), de modo que possam identificar as PANC pelo caminho. Recomende aos participantes que façam algum registro das plantas, por foto ou no caderno, anotando alguma característica da planta que ajude a lembrá-la ou até desenhando-a, para facilitar sua apreensão, e explique a importância do nome científico conforme exemplo a seguir.

O nome científico das plantas

Saber o nome científico das plantas é essencial para evitar confusões na pesquisa e na indicação de uso, lembrando que, para muitos, este vai ser o primeiro contato com a identificação botânica. O nome científico ou nome oficial das plantas – válido em todo o mundo – vem sempre em latim, normalmente entre parênteses, em itálico ou sublinhado. O primeiro nome é o gênero e o segundo nome é o epíteto específico, que compõe a espécie, por exemplo:

  • Ora-pro-nóbis → Gênero: Pereskia → Epíteto específico: aculeata.
  • Nome científico: Pereskia aculeata.
  • Nomes populares (são como nossos apelidos durante a vida): ora-pro-nóbis, carne de pobre, lobrobró (MG), esporão de galo (Florianópolis), Barbados gooseberry (um dos nomes populares em inglês).
  • Família: CACTACEAE. É a família de vários outros cactos. Em geral, quando a família botânica já possui alguma espécie comum de consumo, já é um bom indicativo. Temos vários outros cactos comestíveis, como a ora-pro-nóbis da flor rosa (Pereskia grandifolia), a ora-pro-nóbis da Amazônia, de flor vermelha (Pereskia bleo), a tuna (Cereus hildmannianus), o mandacaru (Cereus jamacuru), o figo de tuna ou figo-da-Índia (Opuntia ficus-indica) e a pitaia (Hylocereus undatus). A família SOLANACEAE, por exemplo, abrange desde plantas comestíveis cultivadas até plantas tóxicas. É a família do tomate, do pimentão, da berinjela, da batata, do fisális, do fumo e da trombeta.

Por que é importante saber isso? Na cidade sabemos diferenciar modelos e marcas de carro, smartphones e um monte de outros bens de consumo. Saber a função e o uso de uma planta, fungo ou animal é tão importante quanto (nós diríamos que é mais!). Nossa memória sabe diferenciar e guardar muitas informações, o que acontece é que potencializamos demais algumas coisas em detrimento de outras.

Apresentando algumas PANC

Apresentar brevemente 15 PANC comuns na cidade, informando: o nome das plantas, a característica principal de identificação delas, quais partes podem ser ingeridas e como prepará-las. Não hesite em usar uma grande quantidade de fotos impressas e/ou da própria planta, para que depois os participantes possam identificá-las pelo passeio.

No caso de Florianópolis, as PANC a serem apresentadas podem ser: malvavisco, dente-de-leão, radite-do-mato, ora-pro-nóbis, serralha, azedinha, picão-branco, picão-preto, bertalha, capuchinha, urtiga, caruru, beldroega, taioba, tanchagem, almeirão-roxo, taboa, aroeira-rosa/pimenta-rosa, juçara, jerivá, araçá, bacopari, grumixama, pitanga, camarinha. O importante é valorizar as PANC locais e regionais.

O quadro a seguir é um resumo da apresentação das PANC supracitada, adaptado do livro de Kinupp e Lorenzi (2014):

Nome popular Nome científico Pág. Partes comestíveis Usos culinários

Almeirão-roxo

Latuca canadensis

196

Folhas

Salada, refogado

Azedinha

Rumex acetosa

614

Folhas e sementes

Farinha(semente), salada, refogado e suco (folhas)

Bardana

Arctium lappa

168

Raízes

Frita, salteada, doce

Beldroega

Portulaca oleracea

620

Folhas e ramos

Salada, bolinho, omelete, refogado

Bertalha indiana e Bertalha brasileira

Basella alba e Anredera cordifolia

226

Folhas e frutos (corantes) e Folhas e bulbilhos aéreos branqueados ou refogados.

Crua (Basella alba) e refogada (Anredera cordifolia)

Capuchinha

Tropaeolum majus

688

Folhas, flores e frutos

Conserva (frutos), salada e charutinho (folhas e flores)

Caruru

Amaranthus deflexus

50

Folhas e sementes

Bolinho, refogado e suflê

Malvavisco

Malvaviscus arboreus

484

Folhas e flores

Geleia e salada (flores), refogada (folhas)

Ora-pro-nóbis folha miúda e Ora-pro-nóbis folha grande

Pereskia aculeata e Pereskia gradifolia

272

Folhas, flores e frutos para a folha miúda e folhas branqueadas ou refogadas para espécie de folha grande

Salada, pão e geleia

Picão-branco

Galinsoga parviflora

186

Folhas, ramos e flores

Tempero, salada, farofa, refogado e pizza

Picão-preto

Bidens pilosa

174

Folhas, ramos e flores

Chá, risoto e refogado

Serralha

Sonchus oleraceus

208

Folhas e ramos

Salada, arroz e polenta

Taioba

Xanthosoma taioba

118

Folhas, talos e rizomas (todos cozidos, não crus)

Refogado, rizoma cozido, frito ou purê (essa é uma com que se deve ter cuidado por causa do excesso de ácido oxálico que pode causar reação alérgica)

Tansagem

Plantago australis/major

602

Folhas e sementes

Bolinho, pão e refogado (folhas) Psyllium (semente – tipo chia, gergelim)

Passeio em horta agroecológica (45 minutos)

Antes de sair para o passeio, perguntar para os participantes:
– Quem é do meio rural ou conviveu nele? Quais experiências teve lá ou do que sente falta?

O passeio visa apresentar um espaço de cultivo de alimentos agroecológicos que utilize os princípios da Permacultura, além de realizar a identificação de algumas PANC no local.

Como exemplo apresentaremos a seguir um dos espaços que utilizamos com frequência para o passeio na UFSC, chamado Horta Orgânica do Centro de Ciências Agrárias (HOCCA), vinculado a um projeto de agricultura urbana dentro do campus universitário. Nele, primeiramente, um antigo campo de futebol foi convertido em local de cultivos com algumas espécies de rápido crescimento e biomassa (banana, capins, feijão-guandu, batata-doce e capuchinha). Depois, essa área passou a receber canteiros para produzir hortaliças que vão direto para o restaurante universitário. A agricultura urbana dentro do CCA surgiu da demanda de produzir alimentos localmente, ocupar áreas ociosas e gerar um impacto local com a oferta de oficinas e cursos para a comunidade interna e externa à UFSC. Em 2019, o projeto conta com três áreas, uma definida como Zona 1, no entorno de um laboratório, onde foram construídos canteiros elevados (hugelkultur) no antigo gramado e plantadas hortaliças em caixas de feira forradas, transformando-as em grandes vasos. Outra área, definida como Zona 2, compreende uma horta-mandala com galinheiro móvel e na terceira, definida como Zona 4, há um Sistema Agroflorestal (SAF) com frutíferas de rápido crescimento, espécies adubadeiras e, mais recentemente, um SAF Sintrópico orientando pelo agricultor e permacultor Reinaldo de Souza.

Passeio em um espaço urbano de cultivo de alimentos com inúmeros exemplos da biodiversidade vegetal. Foto: Marcelo Venturi.

Iniciar a caminhada e, durante o passeio, estimular os participantes a observar as plantas e as construções das hortas, identificando elementos conhecidos ou que chamam a atenção, compartilhando dúvidas e impressões com os colegas e instrutores.

Salientar que em um pequeno espaço existem muitas plantas que podem ser comestíveis. Nesse caso, fazemos um breve exercício mostrando isso em um quadrado de 1m² de área. Para tal, defina uma área com estacas, trenas ou barbante. Junte todos os participantes ao redor dessa área e apresente as PANC que ali ocorrem e que normalmente passam desapercebidas pela maioria das pessoas.

Quadrado de 1m² de área com diversidade de PANC. Foto: Jefferson Mota.

Lanche comunitário (20 minutos)

Escolha receitas de sua preferência, novas ou conhecidas, sempre incluindo alguma PANC para despertar os sentidos e conversas relacionadas. Mais sugestões na seção “Conteúdo complementar” a seguir.

Atividade no EaD

Peça aos participantes que reconheçam e fotografem, em sua área de planejamento, três plantas alimentícias não convencionais e apresentem para cada uma delas suas propriedades nutritivas e/ou medicinais, modo de cultivo e ao menos uma opção de modo de consumo. Peça-lhes que enviem o texto e as fotografias e que referenciem possíveis fontes de pesquisa.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Referências usadas e sugeridas

BRACK, Paulo. Plantas alimentícias não convencionais. Agriculturas: experiências em agroecologia, v. 13, n. 2. Rio de Janeiro: AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia, 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação-Geral da Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Guia alimentar para a população brasileira: promovendo a alimentação saudável. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.

CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio. Agroecologia: alguns conceitos e princípios. Brasília: MDA/SAF/DATER-IICA, 2004. 24 p.

CORADIN, L.; SIMINSKI, A.; REIS, A (orgs.). Espécies Nativas da Flora Brasileira de Valor Econômico Atual ou Potencial: Plantas para o Futuro – Região Sul. Brasília: MMA, 2011. Disponível em: <https://www.gov.br/mma/pt-br/assuntos/biodiversidade/fauna-e-flora/Regiao_Sul.pdf>. Acesso em: 4 nov. 2021.

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION (FAO). Interação do gênero, da agrobiodiversidade e dos conhecimentos locais ao serviço da segurança alimentar. Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, 2005. Manual de Formação.

KINUPP, V. F. Plantas alimentícias não-convencionais da região metropolitana de Porto Alegre, RS. Tese (Doutorado em Fitotecnia) – Programa de Pós-Graduação em Fitotecnia Universidade Federal do rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2007. Disponível em: <https://lume.ufrgs.br/handle/10183/12870>. Acesso em: 5 jun. 2019.

KINUPP, V. F.; BARROS, I. B. I. de. Teores de proteína e minerais de espécies nativas, potenciais hortaliças e frutas. Ciência e Tecnologia de Alimentos, v. 28, n. 4, p. 846-857, 2008.

KINUPP, V. F.; LORENZI, H. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil. São Paulo: IPEF, 2014.

RAPOPORT, Eduardo; GOWDA, J. H. Acerca del origen de las Malezas: ensayos en homenaje a Gonzalo Halffter. Zaragoza: Sociedad Entomológica Aragonesa, 2007. v. 7.

RIGO, Neide. Blog Come-se. Disponível em: https://come-se.blogspot.com.br/. Acesso em: 15 maio 2018.

RANIERI, Guilherme. Matos de comer: identificação de plantas comestíveis. 1 ed. São Paulo. Ed. do Autor, 2021.

1 Definição do direito humano a alimentação adequada no Guia alimentar para a população brasileira de 2014:

“Um direito humano básico que envolve a garantia ao acesso permanente e regular, de forma socialmente justa, a uma prática alimentar adequada aos aspectos biológicos e sociais do indivíduo e que deve estar em acordo com as necessidades alimentares especiais; ser referenciada pela cultura alimentar e pelas dimensões de gênero, raça e etnia; acessível do ponto de vista físico e financeiro, harmônica em quantidade e qualidade, atendendo aos princípios da variedade, equilíbrio, moderação e prazer; e baseada em práticas produtivas adequadas e sustentáveis.”

2 Definição de Soberania Alimentar na Declaração final do Fórum Mundial de Soberania Alimentar, assinada pela Via Campesina, em 28 de fevereiro de 2007, Nyéléni, Selingue, Mali:

“[…] um direito dos povos a alimentos nutritivos e culturalmente adequados, acessíveis, produzidos de forma sustentável e ecológica e o direito de decidir o seu próprio sistema alimentar e produtivo. Isto coloca aqueles que produzem, distribuem e consomem alimentos no coração dos sistemas e políticas alimentares, acima das exigências dos mercados e das empresas. Defende os interesses das gerações atuais e futuras. Oferece-nos uma estratégia para resistir e desmantelar o comércio livre e corporativo e o regime alimentar atual; orientar prioritariamente os sistemas alimentares, agrícolas, pastoris e de pesca para as economias locais e os mercados locais e nacionais; outorga o poder aos camponeses; à agricultura familiar, a pesca artesanal e o pastoreio tradicional; coloca a produção alimentar, a distribuição e o consumo como bases para a sustentabilidade do meio ambiente, social e econômica.”

3 Definição das categorias de alimentos conforme o Guia Alimentar para a População Brasileira de 2014:

  • Alimentos in natura ou minimamente processados: são os obtidos diretamente da natureza, provenientes de plantas ou animais, tais como grãos, tubérculos, frutas, hortaliças, carne, leite e ovos. Quando os alimentos in natura passam por alterações mínimas – limpeza, empacotamento, secagem, moagem, congelamento –, eles se tornam minimamente processados.
  • Alimentos processados: são produtos relativamente simples, fabricados com a adição de sal ou açúcar ou outra substância de uso culinário a um alimento in natura, como conservas e queijos, ou, ainda, como os pães, que são feitos com farinha de trigo, água, sal e fermento.
  • Alimentos ultraprocessados: são produtos fabricados com pouco ou nenhum alimento in natura, mas que levam muitos ingredientes de uso industrial (de nomes pouco familiares). Biscoitos recheados, salgadinhos de pacote, refrigerantes e macarrão instantâneo são exemplos desse tipo de alimento.

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