Planejamento para eventos extremos

Importância

Em um mundo que passa por fortes mudanças ambientais, os eventos extremos de dissipação de energia na natureza estão cada vez mais frequentes. Nesse cenário, passar informações aos participantes se torna cada vez mais importante, visto que muitos deles procurarão terras não ocupadas e muitas vezes degradadas para se estabelecer e viver.

Objetivos

Apresentar os eventos extremos e suas formas de manifestação, intensidades, locais mais comuns de ocorrência e propor estratégias e ações de planejamento que possam prevenir incidentes e aumentar a resiliência humana frente a catástrofes.

Conteúdo mínimo

É preciso classificar os eventos extremos, desde os menos nocivos até os mais desastrosos para o conhecimento do máximo de possibilidades e a nossa permanência em um determinado assentamento humano.

Consideram-se os eventos menos nocivos aqueles que podem ser contornados com estratégias de resiliência e mais nocivos ou desastrosos os que demandam reparações no ambiente planejado.

Dica: É importante lembrar que como espécie migratória, a humanidade viveria em plena harmonia com eventos extremos, pois jamais precisaria estar presa a uma única paisagem, podendo assim, migrar atrás de recursos necessários à sua sobrevivência. Porém, esse cenário migratório é impossível dentro da realidade de capacidade de suporte planetária ultrapassada e na vigência do direito de propriedade impetrado pela nossa civilização “moderna”.

Metodologia

Uso de aula interativa, expositiva e participativa para aflorar as opiniões do grande grupo acerca dos eventos extremos.

A aula interativa compreende dois momentos separados por uma breve exposição conceitual. A primeira interação é dedicada ao reconhecimento dos eventos extremos, para saber como lidar com eles. Nela o instrutor deve mediar as opiniões e também conduzir o grupo ao objetivo principal. Logo após, há um tempo para que o instrutor possa repassar alguns conceitos-chave sobre eventos extremos. Após isso, é sugerida uma segunda interação em que os alunos são separados em grupos para discussão dos fenômenos associados a cada elemento natural.

Primeira interação

2 horas

Separe os participantes em grupos que representam os elementos naturais – água, fogo, ar e terra. É aconselhável usar os mesmos grupos preestabelecidos que irão seguir unidos até o projeto final de planejamento.

Após isso, solicite que cada grupo liste os eventos extremos vinculados ao seu elemento natural. Assim, o grupo “água” listará os eventos que julguem vinculados à água e assim por diante. Para isso serão necessários cerca de 15 minutos de discussão em grupo.

Após esse momento, o instrutor cria um gráfico com dois eixos ortogonais e nomeia os eixos de acordo com cada elemento natural, opondo ar à terra e fogo à água. Se desejar, o instrutor pode ainda inserir uma escala de 1 a 5 ou de 1 a 10 para cada um dos lados dos eixos, buscando dar visibilidade às diferentes intensidades dos eventos extremos que virão no próximo passo.

Momento da primeira interação mediada pelo instrutor. Foto: Marcelo Venturi.

A seguir, o instrutor irá preencher o gráfico com os eventos extremos listados por cada grupo, inserindo-os de acordo com a intensidade de cada evento, ao longo do eixo correspondente ao elemento natural (essa inserção também pode ser feita por algum participante de cada grupo). Segue-se o processo com os demais grupos, buscando mostrar haver eventos promovidos por mais de um elemento natural (por exemplo, a erupção vulcânica) que podem ficar localizados entre os respectivos eixos (entre terra e fogo neste caso).

Construa o gráfico respeitando a disposição dos elementos naturais antagônicos. Assim, posicione o ar em oposição à terra e a água em oposição ao fogo.  Por questões didáticas é interessante posicionar no eixo vertical os elementos conforme vemos na natureza. Dessa forma, temos duas opções de posicionamento: o fogo, que tende a subir, em cima e a água, que tende a descer, embaixo ou o ar em cima e à terra embaixo.

A disposição didática mais adequada, conforme a figura a seguir, coloca no eixo vertical à terra embaixo, o ar em cima e, no eixo horizontal, a água e o fogo. Isso se deve em virtude do que compreendemos em termos de visão, pois vemos sempre à terra como base para tudo, o ar sempre acima e as manifestações vinculadas à água e ao fogo sempre ocorrendo junto à superfície da terra.

Elementos naturais e eventos extremos associados distribuídos pelo grupo de participantes no gráfico.

Após todos os elementos inseridos no gráfico, consulte todos os participantes a respeito dos eventos extremos que são passíveis de serem prevenidos através do planejamento. Com a opinião geral, trace uma linha que envolva esses eventos. Como resultado, teremos uma linha que irá separar os eventos preveníveis dos mitigáveis.

Delimitação, baseada no entendimento dos participantes, a respeito dos eventos extremos preveníveis e mitigáveis.

O gráfico parece completo, mas não está. É necessário inserir o fator antrópico, ou seja, da espécie humana desconectada da natureza. Em conjunto com todos os participantes, solicite que indiquem alguns eventos extremos causados pela ação humana e elenque-os de acordo com a intensidade, assim como foi feito com aqueles vinculados aos demais elementos naturais.

A sugestão de representação no gráfico é inserir um imaginário eixo “z”, que representa esse fator antrópico, e tentar identificar como esses eventos extremos de cunho antrópico influenciam nos demais. A resultante será uma espiral que permeia todos os elementos e tem a potencialidade de incrementar ou reduzir seus efeitos. Siga na discussão sobre como serão essas mudanças.

Elenco de eventos extremos vinculados ao fator antrópico e sua inserção no gráfico. Foto: Arthur Nanni.

Exposição

30 min

Uma vez incorporados os eventos extremos, sua vinculação com cada elemento natural, ranqueadas as suas intensidades e separados os eventos preveníveis dos remediáveis, é importante explicar os conceitos de desastre, vulnerabilidade, risco, adaptabilidade e resiliência:

  • Desastre – evento de causa natural, comportamental, antrópica e/ou tecnológica que afeta a normalidade do funcionamento dos ecossistemas e das sociedades que dele dependem.
  • Vulnerabilidade – é a situação que indica um estado de fraqueza, insegurança ou instabilidade que pode se referir tanto ao comportamento das pessoas, a objetos, condições, ideias e outros.
  • Risco – é quando, uma vez vulnerável a uma determinada situação, há a possibilidade de haver danos e prejuízos à sociedade, afetando a economia e os ecossistemas.
  • Resiliência – É a capacidade de algo retornar ao seu equilíbrio dinâmico e se manter íntegro para perfazer suas funções.
  • Adaptabilidade – É a capacidade que algo ou alguém possui em relação a sua adaptação a condições impostas.

Segunda interação

60 min

Após compartilhado esse conhecimento, chegou a hora de aplicá-lo ao planejamento. Assim, solicite que os grupos se separem novamente e estabeleça as seguintes atividades:

  • Pensar/discutir a respeito de métodos/formas de prevenir e remediar os eventos extremos vinculados ao seu elemento natural (20 min).
  • Elencar cada evento e as técnicas encontradas em uma breve apresentação (10 min).
  • Apresentar ao grande grupo os resultados (30 min).
Um dia ensolarado com grupos de pessoas sentados na grama discutindo sobre eventos extremos.

Grupos separados pelos elementos naturais discutindo sobre técnicas de planejamento para eventos extremos. Foto: Marcelo Venturi.

Dica: A apresentação irá suscitar discussões que estimularão os feedbacks coletivos. Aproveite a discussão para aprofundar o conhecimento.

Atividade no EaD

Conteúdo Complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Referências sugeridas

Morrow, R. (2014). Earth User’s Guide to Teaching Permaculture. Permanent Publications.

Vũ, H. L. (2018). Permaculture solutions for climate change, case study in da Bac district, Hoa Binh province.  https://www.academia.edu/37563430/PERMACULTURE_SOLUTIONS_FOR_CLIMATE_CHANGE_CASE_STUDY_IN_DA_BAC_DISTRICT_HOA_BINH_PROVINCE

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Estruturas invisíveis

Importância

Traz a reflexão a respeito de todas as estruturas (sociais, culturais, políticas, econômicas e biológicas) que influenciam na vida humana e seus impactos para a aplicação do planejamento permacultural.

Objetivos

Fomentar entre os participantes uma reflexão pessoal sobre perceber o impacto da permacultura para além da organização e produção da terra. Facilitar a percepção de estruturas invisíveis que moldam suas ações e são fundamentais para contemplar as éticas da permacultura. Assimilar uma nova perspectiva de vida apresentada através dos demais conteúdos para:

  • Aprender a aplicar os princípios da permacultura em qualquer ambiente social;
  • Ser capaz de fazer uma autoanálise;
  • Ampliar o planejamento permacultural para questões subjetivas;
  • Utilizar os conhecimentos adquiridos durante o curso logo após sua finalização, tendo ou não espaço físico destinado a isso;
  • Disseminar uma nova perspectiva de vida em sociedade; e
  • Identificar a presença de estruturas invisíveis nos mais variados campos possíveis.

Conteúdo mínimo

Estruturas sociais, ambientais, culturais, econômicas e políticas. Sua identificação, aplicações e implicações. A permacultura e o cuidado com os animais (sem especismo), a utilização dos princípios para pensar e organizar a vida.

Metodologia

Práticas

Olhando para a Zona 1

30 min

Para fazer uma reflexão sobre o que são e como impactam as estruturas invisíveis, essa prática propõe um exercício autorreflexivo, aplicando os princípios da permacultura para um planejamento pessoal. Consiste em pedir para que os aprendizes respondam, em uma folha, as seguintes questões: “Quem sou? Por que sou? Por que e para o que eu vivo? Quais são meus objetivos? Conheço minhas qualidades e defeitos? Sou capaz de descrevê-los? Quanto aos defeitos, posso mudar? Devo mudar? Isso impacta a minha vida e/ou a vida das pessoas próximas?” As questões são pessoais, devem ser respondidas individualmente, sem necessidade de serem concluídas. O objetivo é fomentar um processo de reflexão que deve ser contínuo.

Planejamento pessoal: implementando a permacultura imediatamente

60 min

Inicia-se a prática perguntando quantos dos aprendizes possuem um espaço de terra para a aplicação do planejamento permacultural aprendido até então. Ao verificar que nem todos têm essa possibilidade, argumenta-se que existem outras possibilidades de utilizar a permacultura desde já. Caso nem todos possam aplicar a permacultura em um espaço de terra rural, ainda assim é necessário lembrá-los dos três princípios éticos, entre eles, o cuidado dos animais (no qual incluímos o homem, sem especismo). A prática consiste em iniciar um projeto pessoal de planejamento permacultural. Para tanto, é sugerido que os doze princípios de planejamento estejam bem visíveis para a turma. Pensando na questão: “Como os princípios se aplicam de agora em diante na minha vida?”, o facilitador deve exemplificar que, por exemplo, ao pensarmos no princípio “capte e armazene energia” é preciso pensar em como vivenciamos isso diariamente, questionando a dinâmica diária da nossa vida. Moradia versus distância do trabalho; alimentação versus qualidade nutricional e preço; e outras possibilidades de análises, onde o estudante é levado a refletir sobre suas escolhas, se é, por exemplo, possível ou não atribuir três qualidades para o local onde mora e assim por diante. Ao final do exercício, em roda, cada um dos aprendizes compartilha uma das conclusões à qual chegou e debate com os outros sobre ela.

Dinâmicas

Memento Morin

60 min

Para a realização desta dinâmica, é necessário que os aprendizes sejam avisados que devem levar um objeto pessoal de grande estima para a aula. Em roda, todos devem comentar brevemente o motivo da escolha e a importância do objeto. Após todos terem falado do seu objeto, o facilitador diz que eles devem doar esse objeto para a pessoa que está ao lado, dando a entender ser o momento de se desfazer dele. Após isso, é necessário explicar o significado da expressão latina “memento mori”, que remete à necessidade de lembrar que somos todos mortais. Depois disso, inicia-se um debate sobre apego, materialismo, consumismo, estruturas sociais, necessidades, compartilhamento e outras questões que os permaculturandos levantarão.

Dinâmica dos grupos

15 min

Com espaço para circulação de um lado para outro, para iniciar essa dinâmica é necessário dividir os aprendizes em dois grupos iniciais: de um lado, aqueles que nasceram com pênis (esquerda, por exemplo) e do outro, aqueles que nasceram com vagina (ficariam à direita). Após os aprendizes se posicionarem, o facilitador explica que essa é a primeira divisão realizada desde que nascemos e que é uma classificação biológica que não está relacionada exatamente com as nossas afinidades. Apesar disso, essa classificação, que pertence a uma estrutura sociocultural invisível, determinará vários aspectos da nossa vida na atual sociedade. Após isso, o facilitador faz uma série de questões que farão com que essa configuração inicial se modifique. As perguntas sugeridas são: “Quem já sofreu preconceito? (Pede-se para que se posicione à direta, por exemplo. Aqueles que acreditam não ter sofrido, ficam à esquerda.) Quem está apaixonado? Quem pratica algum esporte? Quem toca algum instrumento? Quem sente saudades dos pais? Quem gosta de frio? Quem gosta de café? Quem segue alguma religião? Quem já sofreu por amor? Quem já se sentiu sozinho? Quem está passando por alguma dificuldade na vida? E a última: Quem acredita no amor?”. Após, o grupo deve ser levado a uma reflexão sobre as estruturas invisíveis que nos classificam e a variação nos grupos, que nem percebemos, mas existem. Além disso, se todo o grupo demonstrar que acredita no amor, é possível debater sobre as coisas boas que unem a humanidade.

Exposição

30 min

O tema para exposição é: ciclos e imperfeição. Podem ser utilizadas imagens de plantas, de pessoas jovens e velhas, saudáveis e doentes, imagens que descrevem o ciclo menstrual, entre outras. O objetivo é questionar a ideia de busca de uma perfeição inexistente, aceitar os ciclos naturais, a saúde e a doença e tantas outras questões que são negligenciadas na sociedade atual. A ideia é levar os permaculturandos a refletirem sobre a existência de um equilíbrio constante na vida, e aceitar as adversidades, apesar da sociedade buscar um ideal de vida que as negue. Lembre os princípios da permacultura que abordam a temática, por exemplo: use a criatividade e responda às mudanças, observe e interaja, use e valorize a diversidade, etc.

As duas obras de Vitória Olivier, “Pachamama” (2017) (a esquerda) e “Ciclos e transformações” (2017) (a direita) representam os ciclos de vida sobre uma nova ótica, evidenciando transformações e continuidade, além da conexão e possibilidades de leituras, indo desde o ciclo feminino (menstrual), até o ciclo de transformação da água, que evapora, congela, também é chuva, mar e rio.

Tarefas

Pedir para que após a aula os aprendizes pesquisem em casa os seguintes temas: banco de tempo, economia solidária, cooperativismo, Dragon Dreaming, métodos de decisão para diferentes grupos (consenso, representação direta, etc.). Essa tarefa é importante por possibilitar que os permaculturandos conheçam diferentes possibilidades para questões socioeconômicas.

Atividade no EaD

Com base nos vídeos Conheça Marinaleda, a cidade que virou um oásis em meio à crise europeia e Marinaleda: A Terra de Todos!, solicite ao participante que [re]pense como o [des]envolvimento social pode ser potencializado no contexto de sua comunidade ou da que abriga a sua área de planejamento permacultural. A ideia é estimular os permaculturandos a desenvolverem uma visão crítica sobre quais as melhores formas de tornar visíveis e efetivas as estruturas invisíveis.

Conteúdo complementar

Vídeos

Aula

Referências sugeridas

ARENDT, Hannah. Trabalho, obra, ação. Tradução Adriano Correia. Cadernos de Ética e Filosofia Política, n. 7 , v. 2, p. 175-201, 2005. Disponível em: https://filosoficabiblioteca.files.wordpress.com/2013/10/arendt-trabalho-obra-acao.pdf. Acesso em: 12 mar 2022.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Tradução Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

DE WAAL, Frans. A era da empatia: lições da natureza para uma sociedade mais gentil. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

FOUCAULT, Michel. História da sexualidade I: a vontade de saber. 19. ed. Rio de Janeiro: Graal, 2009.

MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Tradução Eliane Lisboa. Porto Alegre: Sulina, 2005. 120 p.

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Arquitetura e Permacultura

Importância

A arquitetura se caracteriza por planejar abrigos, integrando ao lugar ambientes que respondam às necessidades básicas das pessoas: de espaço e necessidades fisiológicas e emocionais. Estes abrigos atendem demandas variadas, podem ser local de moradia, trabalho, serviços e devem proporcionar condições de desenvolver as atividades humanas com conforto, segurança e salubridade, além de responder, também, a criação de identidades culturais. Compreendidos na Permacultura como Zona Zero, os abrigos concentram atividades e fluxos intensos, seu posicionamento nos sítios define boa parte do arranjo das outras atividades desenvolvidas no lugar, as Zonas 1 e subsequentes,  a partir da eficiência energética de sua implantação e de suas aberturas. Em sua materialidade embarca grande quantidade de energia, em insumos e processos, que impactam fortemente o ambiente natural e as pessoas, em todo o ciclo de vida da construção, local e globalmente, sendo, portanto, sua concepção, um elemento-chave na Permacultura.

Objetivo

O objetivo desta aula é construir um universo de conhecimento relevante sobre a moradia, na perspectiva da Permacultura. A partir de um nivelamento inicial instigador, elaborar, conjuntamente com o grupo participante, um painel com toda a complexidade das características, necessidades e funções dos abrigos humanos. Tecer em conjunto  requisitos de espacialidade, ambiência, estabilidade, estanqueidade e identidade cultural, em observação e adequação ao contexto local. Estimular os participantes a tomar decisões a partir da leitura do lugar, da reflexão inspirada na visão sistêmica, na busca da eficiência energética, especialmente pela atualização dos modos tradicionais e experimentais de produção da arquitetura, compreendidos como mais resilientes e apropriados.

Conteúdo mínimo

Arquitetura e sua interface com o lugar e a permacultura. Necessidades humanas e as funções de seus habitats. Características dos habitats humanos, de modo a responder pelas necessidades dos indivíduos e da regeneração ambiental. Atualização técnica da arquitetura tradicional e experimental.

Metodologia

Na temática da Arquitetura e Permacultura procura-se proporcionar um nivelamento sobre o tema construção de abrigos resilientes e estimular a inteligência coletiva dos participantes, no sentido de construir um conteúdo potencializado, a partir da bagagem de conhecimento do grupo, em sinergia.

Em um primeiro momento do nivelamento propõe-se uma exposição de base teórica instigadora, com a abrangência necessária para a compreensão da natureza e do campo da Arquitetura. Esta exposição se desenvolve observando especialmente os modos tradicionais, experimentais e de busca de resiliência e impacto positivo ao lugar, em suas relações ecossistêmicas.

Num segundo momento, segue-se com intermédio da dinâmica World Café (Café do Mundo) com grupos ancorando trocas intuitivas e racionalizadas sobre temas relevantes. Estas trocas buscam a construção de um aprendizado referente às características, funções e necessidades da moradia, como espacialidade, ambiência passiva, estabilidade e materialidade racionalizada, interfaces ecossistêmicas e identidade cultural. Esta atividade, portanto,  visa a criatividade coletiva na busca de insights a partir das trocas sistematizadas entre os participantes, dinamizando um conteúdo mais rico e complexo, elaborado sinergeticamente.

Por último, é desenvolvida uma atividade prática conforme o perfil do grupo e disponibilidade de acesso às obras de interesse (arquitetura tradicional/ bioconstrução), por meio de visita técnico-pedagógica ou de execução ilustrativa de técnicas, oportunizando a experimentação prática com materiais naturais  como a terra crua ou o bambu.

Exposição

60 min

Exposição oral com apoio de recurso audiovisual

Arquitetura como processo decisório de materialização dos abrigos humanos , em  resposta às suas necessidades espaciais, de conforto e proteção.

A partir de bibliografia clássica sobre o tema, explora-se o arquétipo do abrigo, a casa,  como a arquitetura essencial do ser humano, assim como as características históricas relativas à sua metamorfose, de elemento integrado à natureza, passando por desconexão com o entorno até um recente redirecionamento para uma abordagem ecológica. Por esta via, busca-se reforçar a ideia da concepção arquitetônica pelo  dialogo da intuição com a tecnologia, de modo circular, lapidando intuições num movimento dialético junto a filtros tecnológicos no caminho da verificação e validação das hipóteses (croquis).

Posicionada como Zona 0 em relação aos fluxos de circulação de pessoas, seu planejamento deve observar os 12 princípios de planejamento da permacultura, como apresentado no tema Arquitetura e permacultura pelas colega Soraya, Júlia e Carolina. Além disto, perseguir o viés do bioregionalismo e das soluções baseadas na natureza apreendidas no estudo dos padrões naturais e do fazer histórico, que, por milhares de anos, empiricamente aprimora modos de produção local, com destaque ao uso da terra crua, de estrutura de madeira e de bambu.

O conteúdo deve, ainda,  proporcionar reflexão sobre usos essências do espaço, como a ancestralidade da centralidade do elemento fogo nos assentamentos humanos ou sobre como milenarmente evoluímos em responder a percepção de nossas carências de suporte para um grau mínimo de infraestrutura de conforto físico e emocional, até respondermos as mesmas questões hoje, com toda perspectiva tecnológica da formação da civilização ocidental.

Primordialmente adotávamos materiais disponíveis no entorno imediato ao local do assentamento humano. Após a revolução industrial passamos a adotar materiais preprocessados e direcionados às nossas demandas urbanas, de adensamento e concentração de estruturas físicas e pela perda e alienação em relação ao saber fazer construtivo tradicional. Isso limitou a produção do habitat a disponibilidades de recursos imediatos, passando nossas escolhas a serem mediadas pelo que Milton Santos chama de meio técnico-científico informacional, ou seja,  os elementos industrializados componíveis, como blocos de concreto, telhas de fibrocimento e janelas metálicas, que por sua acessibilidade no mercado, torna-se a resposta instintiva contemporânea.

Por outro lado, integramos, como seres pensantes, outros sistemas vivos ou em comunidades de organismos, e estas também podem ser representadas por um sistema social como família, escola, cidade – ecossistemas, ou melhor, sistemas cujas estruturas específicas resultam das interações e interdependências de suas partes (Ferry, 1994). Ou seja, ao buscarmos a arquitetura alinhada à visão da Permacultura, temos que compreender que a sociedade deve refletir sobre os impactos de sua ocupação na Terra. Nossa civilização se acostumou a desfrutar e exaurir o que o ambiente generosamente proporciona: o ar, a água, a terra, a diversidade de espécies, o clima e tudo o que daí provém, gerando pressão desproporcional à sua capacidade de resiliência e regeneração. Daí a importância em termos a “percepção do lugar” como um conjunto de padrões e sistemas interdependentes, “conhecer” o lugar numa estrutura íntima e profunda com base nos padrões, forças e energias existentes. Os padrões e sistemas desenvolvem um retrato específico do lugar A dinâmica do local revela dados tangíveis que são informação generativa da arquitetura” (WAHL, 2016). O design regenerativo procura construir, em vez de reduzir, o capital social e natural no lugar.

Outro conceito importante relacionado à Arquitetura em interface à Permacultura é Emergia, que a vem a ser “toda energia necessária para um ecossistema produzir um recurso”  (Odum, 1986). Compreende a energia abarcada em todo processo da execução e uso das construções. O padrão de consumo dos moradores, a ciclagem de água e de resíduos e a geração de energia das residências também participam fortemente de sua “pegada ecológica”, durante o ciclo de vida das residências.

Dinâmicas

World café

180 min

Educandos em uma sala de aula separados em grupos realizando a atividade World café.

Educandos realizando a atividade World café em grupos.

Um cartaz mostrando as conclusões de um dos grupos da atividade World café.

Cartaz mostrando as conclusões de um dos grupos da atividade World café.

Após a exposição com o propósito de instigar a reflexão, inicia-se o World Café, uma dinâmica que busca fomentar, a partir da criatividade coletiva, a inteligência em diálogos em rede colaborativa e desenvolver debates sobre questões relevantes ancoradas por subgrupos em circuito de trocas e construída pela costura de aportes e sínteses afloradas no processo.

O desafio ao grupo deve ser: a partir da palavra-chave “moradia”, quais os temas que estruturam os principais aspectos necessários para uma compreensão mais ampla, a ser tecida conjuntamente. Estes tópicos irão compor o foco de cada mesa temática, que serão suporte à construção do universo da moradia resiliente e regenerativa. Conforme o número de participantes haverá um número de grupos proporcional, buscando uma média de 6 participantes por grupo, resultando 4 ou 5 mesas.

Os temas, por mesas, podem ser a Zona -1 (o ser humano) como um primeiro tópico e uma divisão em outros 3 ou 4 temas principais relativos a moradia como Zona 0. Notoriamente, temas arquitetônicos da moradia são os que tangem a espacialidade: os cômodos e suas relações, a ambiência: as condições ambientais desejáveis para os ambientes, os fluxos previstos, como os de pessoas, água, energia, alimentos e outros, assim como a materialidade da casa: as adequações de materiais e sistemas construtivos.

Cada grupo ancora um dos temas. Os anfitriões do debate sobre cada um dos temas terão um período inicial, que pode ser entre 20 ou 30 minutos, para organizar as idéias iniciais, a partir de uma questão geradora em uma folha de papel tamanho A0, sobre uma mesa com lápis e canetas coloridas. A partir desta primeira troca, em períodos de 20 ou 30 minutos, parte do grupo irá se revezando entre as outras mesas temáticas de maneira que sempre haja um pequeno grupo inicial, 2 ou 3 pessoas, que irão fomentar as trocas com os colegas. Simultaneamente os colegas irão colaborar com o tema da mesa, e organizar a relatoria destas articulações, e assim segue, em rodízio, proporcionando uma participação de todos em todos os temas.

As questões tratadas devem ser organizadas a partir da reflexão sobre a Zona -1 (o ser humano) e pela busca da compreensão das necessidades, funções e características do abrigo humano, a Zona 0, em todas as suas interfaces.

Práticas

  4h

Instalação pedagógica 1: Visita técnica a um patrimônio arquitetônico, colonial ou eclético.

Turma do segundo Curso de Planejamento em Permacultura para a academia visitando uma construção colonial no Instituto Sociambiental em Viçosa/MG.

Grupo de participantes visitando uma construção colonial.

De acordo com a disponibilidade da Instituição organizadora, é proposto uma atividade de visita técnica em uma obra original da arquitetura tradicional brasileira. Nesta visita deverá ser observado a data da construção, as características da obra, os materiais de sua fundação, estrutura, alvenarias e revestimentos. A distribuição dos cômodos e suas relações, os modos de captar a luz solar e os ventos dominantes, a posição das aberturas, o pé direito, o tipo de cobertura, o estado de conservação geral e tudo mais que for possível observar. Se houver algum morador, ou conhecedor da história da construção, é de extrema relevância a conversa sobre as condições da execução e de preservação deste patrimônio.

INSTALAÇÃO PEDAGÓGICA 2: OFICINA DE INTRODUÇÃO À BIOCONSTRUÇÃO (TERRA CRUA OU BAMBU)

Uma instalação pedagógica compreendendo alguma técnica de bioconstrução pode ser realizada, de acordo com o contexto de organização da aula. Uma experiência de execução prática de técnicas construtivas tradicionais é bastante produtiva como aproximação com a realidade física do material tradicional e seus modos de processamento. No caso, da terra crua, base construtiva da arquitetura brasileira, a preparação anterior a dinâmica vai exigir tarefas específicas, ou seja,  caso se proponha a experimentar a produção de adobes, haverá a demanda de formas para os tijolos ou, se a opção for a taipa de sopapo (pau-a-pique), demandará uma estrutura prévia de bambu ou madeira para possibilitar a atividade de barreamento. Ou ainda um taipal, formas de madeira para a confecção de paredes de terra compactada, a partir da técnica da taipa.

Outra possibilidade é a apresentar para o universo da técnica do bambu. A partir de um nivelamento sintético sobre a história da planta e seus usos, seu manejo, colheita e tratamentos, passando pela manipulação do material. Este contato prático pode se dar por meio de tratamento, cortes, furações e execução de algum elemento de bambu e pode ser o treino sobre algum sistema de encaixe, ou a execução de uma peça simples. Ou ainda, conforme  a disponibilidade da preparação anterior, a montagem de um domo geodésico de bambu, com sistema de conectores previamente produzidos, de PVC ou outro material.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Referências sugeridas

A casa ecológica. Ideias práticas para um lar ecológico e saudável. Barcelona: Gustavo Gili 2011.

ADDIS, Bill. Reúso de materiais e elementos de construção. São Paulo: Oficina de textos, 2010

ALLEN, Eduard. La casa outra. La autoconstruccion segund el MIT. Barcelona: Gustavo Gili 1978

BARDOU, Patrick. Sol y arquitectura. Barcelona:Gustavo Gilli, 1980

Cobijo. Madrid: H. Blume Ediciones, 1979

Des architectures de terre. Paris: Centre Georges Pompidou, 1982 (Catalogo).

FERRY, Luc. A nova ordem ecológica: A árvore o animal e o homem  São Paulo: Ed. Ensaio,  2009

MINGUET, Josep Maria. Low Tech Archicteture. Barcelona: Instituto Monza Ediciones, 2010

NOVAES, Sylvia. et alii. Habitações indígenas. São Paulo: Nobel/Editora USP, 1983

Odum,H.T., 1996. Environmental accounting: Emergy and Environmental Decision Making, Ed John Wiley & Sons Ltd, USA.

RAPOPORT, Amos. Vivienda y Cultura. Barcelona:  Gustavo Gili, 1972.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo: razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1999

VASCONCELOS, Sylvio de. Arquitetura no Brasil: Sistemas construtivos. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 1970.

WAHL, Daniel Christian. Design de culturas regenerativas. Rio de Janeiro: Bambual editora, 2020

WEIMER, Günter. Arquitetura popular brasileira. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

HAYES, Samantha; et alli. Enabling Biomimetic Place-Based Design at Scale.

VAHAN, Agopyan, O desafio da sustentabilidade na construção civil.- São Paulo: Blucher, 2011.

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Arquitetura e permacultura

Importância

A arquitetura comparece no ambiente planejado da permacultura como um conhecimento importante, pois via de regra as edificações estão presentes em zonas energéticas de uso mais intenso. Assim, um entendimento de seus conceitos se torna pertinente no processo de planejamento do espaço, pois será a partir do ambiente construído de forma adequada, como um abrigo, que as pessoas poderão morar, trabalhar e pensar sobre as demais ideias de planejamento e manejo do espaço, de forma holística e sustentável.

Objetivo

Auxiliar as pessoas que têm vontade de construir a própria casa, ou alguma outra edificação, a partir do olhar da permacultura.

Dica: É importante embrar que é necessária formação técnica para construir com segurança, especialmente edificações grandes e complexas, pois é preciso conhecer a resistência dos materiais, ter noção de estrutura e respeitar as normas técnicas, por isso é fundamental o conhecimento, o estudo e a experiência no ofício de construir.

O processo de construir, seja um abrigo, casa, oficina, galpão, deve haver intensa participação dos que pretendem desfrutar desses espaços. Um primeiro requisito, recomendável, seria o envolvimento afetivo, considerar a obra como uma extensão das pessoas, expressando seus gostos e valores. O segundo aspecto importante é aprender com a experiência de construir, pois “a mesma casa que edificamos é a casa que nos edifica” (ditado grego). E, finalmente, é importante entender que a edificação “vive”, interage com as pessoas e com seu entorno, respira pelas paredes, precisa de cuidados e envelhece com o tempo, como se possuísse uma espécie de metabolismo que envolve ar, água, energia e resíduos.

Conteúdo mínimo

  • Pensar as edificações como elementos integrados ao local e à paisagem planejada.
  • Entender como as energias da natureza fluem em relação às edificações e como podem contribuir para minimizar gastos energéticos e impactos ambientais.
  • Compreender que, por estarem geralmente em zonas energéticas de uso intenso, há necessidade de abrigarem as pessoas com conforto e segurança, bem como, terem supridas suas necessidas e cumrpirem suas funções.

Metodologia

A forma de ensinar arquitetura e permacultura no CPP da UFSC leva em consideração duas etapas. Na primeira, são introduzidos alguns conceitos básicos de arquitetura associados aos 12 princípios da permacultura, por meio de uma exposição permeada por diálogo com os estudantes. Na segunda, convida-se a turma para aplicar os conceitos apresentados em uma atividade prática, realizada em grupos.

Utiliza-se a casa, uma residência unifamiliar, como exemplo de edificação, por ser a mais próxima da experiência de vida dos permaculturandos, procurando facilitar o entendimento dos conceitos em relação aos atributos e características dos ambientes (como quartos, cozinha, sala etc.).

Exposição

90 min

A exposição prevista na primeira parte busca apresentar conceitos da arquitetura associados aos 12 princípios de planejamento em permacultura. Assim, inicia-se propondo que os estudantes pensem nas necessidades, características e funções de uma casa. Pode-se listá-las no quadro. Qual seria sua Zona 0? Após uma breve conversa sobre essas ideias, passa-se a refletir sobre cada princípio.

O princípio 1 – observe e interaja – aborda questões relativas à concepção do projeto, que deve partir de uma análise do terreno disponível, considerando a topografia, a resistência do solo para as fundações, o entorno imediato, como vizinhança e vistas privilegiadas. Aborda também as características do clima local, a orientação solar, a direção dos ventos predominantes, a incidência de chuvas e as temperaturas e suas variações nas estações do ano. Inclui ainda as demandas dos usuários, o tamanho da família, suas preferências e necessidades.

Sobre o princípio 2 – capte e armazene energia – são lembradas as necessidades de uso de energia na edificação, a depender do clima local. Para aquecimento do ambiente ou da água, pode-se utilizar energia solar, eólica, queima de madeira de poda, escolher materiais com boa inércia térmica para as paredes, assim como empregar a ventilação cruzada para refrigeração dos ambientes, sendo também importante conhecer as maneiras de melhor aproveitar a iluminação natural e o uso de sistemas de baixo impacto ambiental.

Já o princípio 3 – obtenha rendimento – inclui o aproveitamento de espaços para plantio de alimentos de ciclo curto junto à casa, bem como noções de ergonomia no mobiliário e na organização do espaço interno.

O princípio 4 – pratique autorregulação e aceite conselhos (feedback) – trata da importância de usar o recurso do projeto arquitetônico, visto como uma atitude sustentável, uma vez que as concepções e mudanças são desenhadas previamente no papel, não acarretando custos adicionais de uma demolição, por exemplo, para corrigir algum erro de construção no futuro. São também abordadas noções de escala e de modelo reduzido como auxiliares para o ato de projetar.

No princípio 5 – use e valorize os recursos naturais renováveis – a partir de uma análise do clima local, observa-se o posicionamento das edificações, relacionado à sua eficiência energética e ao seu conforto térmico. Versa-se sobre o uso das cartas solares, a relação entre sol, ventilação e salubridade dos ambientes internos de maior permanência, o uso da vegetação adequada no entorno e os efeitos de radiação, condução e convecção das formas arquitetônicas e dos materiais utilizados.

Quanto ao princípio 6 – não produza desperdícios – procura-se abordar o tratamento dos efluentes produzidos em unidades habitacionais, como banheiro seco, círculo de bananeiras, bacia de evapotranspiração, bem como ressaltar a importância do aproveitamento de materiais na construção via reuso, reaproveitamento e reciclagem.

O princípio 7 – design partindo de padrões para chegar aos detalhes – traz noções de proporção e harmonia para a concepção da edificação e de seus ambientes, por meio da percepção do retângulo áureo e da sequência de Fibonacci presentes na natureza e na obra humana.

Em relação ao princípio 8 – integrar ao invés de segregar – apresentam-se os espaços comuns de convívio de pessoas, as funções compartilhadas, as diferenças entre ambientes que demandam maior ou menor privacidade, alerta-se para a acessibilidade universal, bem como para a importância dos mutirões para a construção solidária e pedagógica.

No princípio 9 – use soluções pequenas e lentas – chama-se a atenção para a qualidade dos materiais, especialmente da rede elétrica e hidráulica, em relação a sua segurança e durabilidade (sustentabilidade), abordando também a necessidade de cuidados durante a execução da obra, evitando improvisos que podem colocar as pessoas em risco, e a necessidade de uso dos EPIs (equipamentos de proteção individual), como luvas, óculos e capacetes em algumas atividades.

O princípio 10 – use e valorize a diversidade – aborda os múltiplos métodos de bioconstrução, a partir dos materiais disponíveis no local e adequados ao clima, como o uso de pedra, madeira, palha, bambu, a construção com terra, como adobe, superadobe, hiperadobe, cob, taipa de pilão, pau a pique, cordwood, solo-cimento, solo-cal etc. Introduzem-se as diversas técnicas, testes e aplicações, de modo a facilitar o reconhecimento dos materiais que apresentam maior potencial de uso no ambiente que se deseja planejar de forma sustentável.

Com o princípio 11 – use as bordas e valorize os elementos marginais – questiona-se qual seria a borda da casa: suas paredes, fachadas, jardins… O tópico versa sobre as relações interior/exterior.

Por fim, o princípio 12 – use a criatividade e responda às mudanças – remete a pensar sobre as dinâmicas do tempo, os ciclos do dia, da semana, das estações do ano, levando também em consideração as diferentes etapas da vida das pessoas, as gerações que habitam a casa ao longo do tempo, com diferentes necessidades de espaços e com diferentes formas de utilização.

Práticas

Pensando o abrigo

90 min

Sugere-se que esta prática seja realizada em grupos, preferencialmente com a mesma configuração dos grupos que serão constituídos para o projeto final do CPP. Essa sugestão de composição das equipes tem por objetivo que os integrantes possam retomar as discussões em vários momentos do processo de aprendizado, com maior fundamentação para a tomada de decisões.

A proposta é que cada grupo projete uma residência unifamiliar, considerando que os permaculturandos possuem um conhecimento comum compartilhado sobre a vivência em uma casa.

Escolhe-se, coletivamente, um local para a construção que seja do conhecimento de todos e estipulam-se as mesmas características para os moradores, como o número de filhos, as idades etc., ou seja, todos os grupos terão a mesma demanda.

Assim, propõe-se que os participantes construam uma maquete de argila, contemplando os diferentes ambientes da residência, aplicando os conceitos e os princípios apresentados e discutidos na etapa anterior.

Para a atividade prática serão necessários os seguintes materiais:

  • papel para rascunho e eventuais desenhos;
  • uma base de madeira com cerca de 40×50 cm, por grupo;
  • recipientes com água; e
  • argila para modelar, cerca de 1 kg por grupo.

Na base de madeira é fundamental que seja previamente fixada uma seta indicando o posicionamento do Norte ou Equador, para que sejam observados na decisão de distribuição das ambientes da casa, a insolação, os ventos, as vistas etc.

Permaculturandos moldando em argila a residência planejada. Foto: Arthur Nanni.

Os grupos devem trabalhar por cerca de 60 minutos, sendo a última meia hora reservada para que cada grupo apresente a maquete da casa aos demais.

Essa apresentação deve ser desenvolvida num ambiente interativo, que possibilite a troca de informações e o enriquecimento da experiência para maior apreensão dos conceitos, para que também possa ocorrer a percepção sobre a diversidade de ideias e de soluções possíveis aplicadas à prática da arquitetura.

Atividade no EaD

Utilizando o mapa da área de estudos escolhida pelo participante e com base no diagnóstico dos setores e nas características climáticas da área, solicite:

  • Análise do clima local (características climáticas, trajetória solar).
  • Determine o melhor local para inserir edificações (Zonas 0 e 1).
  • Analise os elementos, utilizando a metodologia de planejamento permacultural para a(s) estrutura(s) a ser(em) construída(s), prevendo suas características, funções e necessidades.
  • Defina e justifique quais seriam as melhores técnicas de bioconstrução para o local, considerando o clima e a disponibilidade de materiais naturais.
  • Desenhe, manualmente ou em um software de sua preferência, um projeto básico para essas estruturas. É importante sempre indicar a orientação (o Norte ou Equador). No caso de escolher desenhar em papel, digitalize ou envie uma fotografia com boa qualidade à tutoria.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leituras

Aula

Referências sugeridas

BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Extrativismo e Desenvolvimento RuralvSustentável. Departamento de Desenvolvimento Rural Sustentável. Curso de Bioconstrução. Texto elaborado por: Cecília Prompt – Brasília: MMA, 2008. 64 p.

DOCZI, Gyorgy. O poder dos limites. São Paulo. Mercuryo. 1990.

FATHY, H. Construindo Com o Povo – Arquitetura para os Pobres. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.

FRANCO, José Tomás. Como integrar os 12 princípios da permacultura para um projeto realmente sustentável. Archdaily. Tradução de Eduardo Souza. 2016. Disponível em: https://www.archdaily.com.br/br/793829/como-integrar-os-12-principios-da-permacultura-para-um-projeto-realmente-sustentavel. Acesso em 8 mar 2022.

GIVONI, B. Comfort, climate analysis and building design guidelines. Energy and Buildings, 1992.

HINZ, E. GONZALEZ, E. Proyecto, clima y arquitectura. V. 3. G. Gili. México. 1986, 215p.

GONZÁLEZ, J. N. Arquitectura Bioclimática en un Entorno Sostenible. Madrid: Arquitectura y Tecnología, 2004.

GOUVÊA, Luiz. Cidadevida: curso de desenho ambiental urbano. São Paulo: Nobel, 2008. 235 p.

HERZOG, J.; DE MEURON, P. Ricola Kräuterzentrum. Iluminação natural. Ambiente construído: Porto Alegre, 2005.

HOLMGREN, David. Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade. Porto Alegre: Via Sapiens, 2013. 416p.

LABEEE. Analysis Bio, versão 2.1.5Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal de Santa Catarina, , 2009.

LAMBERTS, R. et al. Casa eficiente: Bioclimatologia e desempenho térmico. Florianópolis: UFSC/LabEEE, 2010.

LAMBERTS, R.; DUTRA, L.; PEREIRA, F. O. R. Eficiência Energética na Arquitetura. [s.l.] ELETROBRAS/PROCEL, 2014.

HIDALGO-LÓPEZ, Oscar. Bamboo – The Gift of the Gods. Ed. D’Vinni Ltda, Bogotá,
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MASCARÓ, Juan L. Loteamentos Urbanos. Porto Alegre, 2003.

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Olgyay, V. Arquitectura y clima : Manual de diseño bioclimático para arquitectos y urbanistas. 2a. ed. – Barcelona Gustavo Gili 2002 – 203 p.

PROJETEEE, P. E. E. E. Projeteee – Projetando Edificações Energeticamente Eficientes. Disponível em: http://projeteee.mma.gov.br/. Acesso em 8 mar 2022.

PULS, Mauricio. Arquitetura e filosofia. São Paulo: Annablume, 2006.

ROMERO, Marta AB; FREDERICO, Caio; TEIXEIRA, Silva Ederson Oliveira. Reabilitação ambiental sustentável arquitetônica e urbanística.

SATTLER, Miguel A. Habitações de baixo custo mais sustentáveis. Porto Alegre, 2007.

SPIRN, Anne W. O jardim de granito: a natureza no desenho da cidade. São Paulo: Edusp, 1995. 345p.

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VAN LENGEN, Johan. Manual do arquiteto descalço. Rio de Janeiro: Livraria do Arquiteto, 2004.

Entre em contato com as autoras

Permacultura urbana

Importância

Grande parte da população mundial se concentra no ambiente urbano. Compreender a permacultura dentro das cidades, seu potencial em escala doméstica ou comunitária, pode contribuir para um avanço pontual em melhorias para o todo.

Objetivo

Proporcionar aos residentes urbanos uma percepção de reconexão com a natureza, mesmo que paliativa, auxiliando na melhoria de espaços naturalmente descaracterizados em direção a estruturas e condições de vida e relações menos competitivas.

Sensibilizar pessoas urbanas a valorizarem ambientes de vida periurbanos e rurais, a partir da compreensão das suas limitações dentro do perímetro urbano, estimular sua migração para contextos de maior liberdade junto à natureza.

Conteúdo mínimo

Princípios da permacultura, zoneamento e setorização em pequenos espaços. Leitura da paisagem urbanizada.

Metodologia

Realização de uma exposição com cenas de possibilidades de desenvolver a permacultura em pequenos ambientes e, uma visita técnica a uma experiência no contexto urbano.

A foto mostra pessoas em um pequeno quintal que agrega a produção de alimentos na cidade.

Permacultura em pequenos espaços.

Exposição

30 min.

Exposição teórica que estimule o debate sobre a temática da permacultura em ambiente urbano. É interessante fomentar conversas com os participantes sobre iniciativas pessoais e comunitárias no seu bairro e/ou cidade.

Um ponto bastante importante é mostrar, através de visita técnica, algum local com agentes transformadores para inspirar os participantes e chamar a atenção para os pontos observados e princípios da permacultura aplicados. Ao final da visita, que fecha a aula, sugere-se uma roda de conversa com todos presentes para analisarem pontos positivos, dificuldades e oportunidades daquela iniciativa para uma cidade menos embrutecedora.

O desenho apresenta um retângulo que corresponde ao lote urbano. Nesse está inserida uma casa e uma série de atividades de plantio de plantas, criação de galinhas, captação de águas, etc.

Arranjo de diferentes atividades em um lote urbano de 450m2.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Acesse o conteúdo da aula Permacultura urbana.

Referências sugeridas

AMATO-LOURENÇO L. F. Agricultura urbana: guia de boas práticas- São Paulo, Instituto de Estudos Avançados. 2018. 32 p. il. NÓR, S., KLEBA, A. J., CURTA, C. C., SANTA’ANA, T. Planejamento Urbano Permacultural: um estudo sobre o pensamento sistêmico e harmônico da permacultura aplicado à cidade de Florianópolis. Florianópolis, PET/ARQ/UFSC, 2019. 86p. Disponível em: https://issuu.com/albacamila/docs/caderno_final_16_abril. Acesso em: 28/07/2021.

SÃO PAULO (Cidade). Guia de Permacultura para Administradores de Parques. Versão Digital. Prefeitura de São Paulo. 2012. Disponível em: https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/meio_ambiente/publicacoes_svma/index.php?p=41791. Acesso em: 28/07/2021.

Entre em contato com o autor.

O formato do CPP

As formas de ensinar

O ensino de permacultura no formato do Curso de Planejamento em Permacultura (CPP), que possui o mesmo conteúdo do Permaculture Design Certificate Course (PDC), é organizado de forma a ser o mais interdisciplinar possível, visando falar com todos os públicos desde o ensino médio ao superior.

O ensino da permacultura, de modo geral, dialoga com distintas metodologias, de acordo com quem ensina. No entanto, há uma característica importante no instrutor que ensina permacultura, ele não é um teórico do assunto. Ele é antes um cientista prático, que não baseia sua opinião apenas em livros, mas que está o tempo todo estudando e aprendendo na prática, com vivências concretas em permacultura.

O currículo de um CPP deve seguir minimamente a proposta de Bill Mollison, publicada em 1985 no Syllabus, as éticas e os princípios de planejamento propostos por ele e por David Holmgren, lembrando que os princípios estão em constante revisão.

Nas vivências dos instrutores de permacultura, discute-se que a ordem de compartilhamento dos conteúdos é irrelevante, podendo iniciar por qualquer ponta, mas, no fim, todo o conteúdo proposto terá de ser abrangido. Neste livro buscamos transmitir a forma de ensinar o CPP que tem sido desenvolvida pelo NEPerma/UFSC, através da experiência de ensino da disciplina “Introdução à permacultura”, lecionada desde 2012 na UFSC e, mais tarde, com agregações de outras experiências de colegas da Rede NEPerma Brasil. O currículo dessa disciplina é baseado em fluxos energéticos.

Outras entidades parceiras trabalham com diferentes abordagens. A linha de desenvolvimento do Instituto Çarakura é estruturada por zonas energéticas, já a da estação de permacultura Yvy Porã segue por pedagogia de projetos. Para todos os CPP mencionados, compreendemos que podemos começar por onde bem quisermos, desde que mantida a lógica de transmissão sistêmica dos conteúdos.

Ensinando por zonas

No Instituto Çarakura o CPP é desenvolvido de forma coletiva com a participação de um time de instrutores. O ensino começa pela Zona 0 (zero), a casa, e em alguns casos pela “-1”, que se refere à consciência das pessoas. Nessa abordagem iniciada pela Zona -1, o primeiro dia de CPP é marcado pela sensibilização dos participantes com relação às questões ambientais e sociais. Após essa sensibilização, os dias posteriores seguem abordando as demais zonas 0, 1, 2, 3, 4 e 5, e culmina com o desenvolvimento do projeto final.

A ideia de ensinar por zonas prevê estimular o participante de dentro para fora e, à medida que ele se afasta para zonas mais periféricas, vão se agregando os novas técnicas e elementos. Em cada zona estudada, são repassados todos os conteúdos que podem ser trabalhados para esses espaços, por exemplo, Zona 1: manejo de águas, energias, ecologia cultivada (cultivos e criações), planejamento para eventos extremos, construções etc. Zona 2: idem para as técnicas e elementos que serão implantados nela, e assim sucessivamente para as demais zonas energéticas de planejamento. Alguns temas podem ser passados de forma única ou transversal, pois independem de zonas, como a leitura da paisagem, a metodologia de planejamento (elementos/características, necessidades e funções/zonas e setores), as estruturas invisíveis, os conceitos básicos de ecologia, os solos etc.

Ensinando por pedagogia de projetos

Na estação de permacultura de Yvy Porã, os permacultores Jorge Timmermann e Suzana Maringoni propõem que o ensino de permacultura dialogue com a pedagogia de projetos, partindo das vivências dos participantes. Ou seja, que o grupo repense as reais necessidades das pessoas e a sua relação com o meio ambiente.

O curso inicia com as demandas do grupo a partir da pergunta: “O que o ser humano precisa para viver e ser feliz?”. As demandas do grupo geralmente apontam para pontos concretos como abrigo, água, alimentação, saneamento, entre outros. Elas também olham para pontos que levam à ética, ao respeito, companhia, amor, saúde etc. Assim, via de regra, parte-se da moradia e segue-se permeando as demais zonas energéticas dialogando com as éticas e princípios de planejamento durante todo o curso.

No sentido de vivenciar as aulas teóricas, aparecem as práticas que servem de ilustração para o que foi desenvolvido em sala ou que venham a servir de problematização para a aula teórica que virá depois.

A elaboração do planejamento permacultural no final do curso busca fazer a síntese de tudo o que foi estudado e discutido. O fato de um aprendiz de permacultura fazer o exercício do planejamento em grupo, num ambiente com amparo dos seus instrutores, é de suma importância para que haja a possibilidade de todos se debruçarem sobre o estudado e de aplicarem, numa área determinada, os conceitos e os conteúdos trabalhados nas aulas.

Ensinando por princípios

Em todos os CPP, as éticas e princípios de planejamento devem paulatinamente estar presentes, pois sua incorporação é fundamental para a formação do permacultor. Pensar um curso em que cada princípio de planejamento (segundo David Holmgren) possa ser abordado em meio turno (manhãs e tardes) no decorrer do período pode ser uma via para obter essa incorporação. O quadro a seguir dá uma sugestão de conexão entre cada princípio de planejamento e o tema a ser abordado no CPP.

Princípio de planejamentoTema a ser abordado
Observe e interajaLeitura da paisagem
Capte e armazene energiaEnergias
Obtenha rendimentoEcologia cultivada
Pratique a autorregulação e aceite conselhos (retornos)Planejamento para eventos extremos
Use e valorize os recursos naturais renováveisSolos
Não produza desperdíciosMetodologia de planejamento
Planejamento partindo dos padrões para chegar aos detalhesPadrões naturais
Integrar ao invés de segregarEstruturas invisíveis
Pense soluções pequenas e lentasIntrodução e sensibilização
Use e valorize a diversidadeFundamentos de ecologia
Use as bordas e valorize os elementos marginaisÁguas
Use a criatividade e responda às mudançasArquitetura e permacultura

Assim, temos o currículo todo com foco na intensidade de cada princípio, e o participante pode realizar conexões (pensamento sistêmico) entre os temas, construindo, dessa forma, o seu conhecimento. A proposta norteadora é manter os princípios de planejamento presentes ao longo de todo o curso.

Caso não seja adotada como estrutura de ensino, pode-se usar essa abordagem como uma dinâmica ao final de cada aula/tema, em que os participantes devem opinar sobre qual princípio é o mais intenso para o tema que foi abordado no dia/período. Pode-se ir fixando, dia a dia, cada princípio aos temas abordados em um cartaz fixado na parede da sala de aula.

Ensinando por fluxos energéticos

O currículo do CPP/disciplina “Introdução à permacultura” é baseado em fluxos energéticos. Nele, para cada um dos temas propostos por Bill Mollison, há sempre uma abordagem focando a conservação da energia no ambiente planejado, seja ela estocada em elementos “estáticos” ou “dinâmicos”. O currículo está baseado em três estágios que buscam introduzir a temática, sentir os fluxos e estabelecer formas de convívio harmonioso com o ambiente hospedeiro.

A introdução versa sobre a permacultura em sua essência como ciência holística de cunho socioambiental e filosofia de vida. Logo após são ensinadas as éticas e os princípios de planejamento, seguidos dos fundamentos de ecologia, versando sobre conceitos básicos com ênfase na sucessão ecológica de espécies em ecossistemas naturais.

A percepção dos fluxos energéticos aparece nitidamente na abordagem dos padrões naturais, pois esses fluxos são baseados na eficiência de cada padrão em conservar energia por meio do seu uso otimizado em processos de sobrevivência, pois as espécies evoluíram desenvolvendo padrões eficientes e capazes de se adaptar em diferentes contextos da natureza. Em leitura da paisagem os fluxos energéticos aparecem como moldadores da natureza e o entendimento de sua presença sempre tem uma razão de ser/estar, que deve ser observada, reconhecida e aproveitada.

Após essa passagem de reconhecer e entender o porque dos fluxos energéticos, é ensinada a metodologia de planejamento, que mapeia a paisagem colocando setores, zonas energéticas e elementos no ambiente a ser planejado. Esse é o conteúdo “cerne” de todo o aprendizado, no que tange à formação básica em permacultura.

Logo após temos uma imersão em solos, que versa esse meio como um reservatório de energia acumulada, através da matéria orgânica depositada e contida nas porções minerais. Os solos são tratados, na permacultura, como um grande banco de energias, incluindo a importância como meio estruturante para nossas moradas, como reservatório do ciclo de água e de calor oriundo da decomposição de matéria orgânica. Além disso, serve de substrato fértil ao crescimento das culturas, sendo a base da vida. Essas culturas são abordadas na lógica da ecologia cultivada, por meio da qual é incentivada a inserção de espécies bem adaptadas a cada condição climática e a cada paisagem bem como o uso de técnicas de obtenção de alimentos com baixo consumo de energia. Sobretudo aquelas energias gastas pelo permacultor, pois este se valerá das conexões entre elementos e zonas energéticas para realizar o manejo do sistema planejado.

Para finalizar a parte de entendimento do contexto ambiental do espaço, são trabalhadas as principais energias nos temas águas e energias no sistema planejado. Nesses dois temas, são mostrados todos os fluxos e estratégias de conservação e de conversão das águas e das energias, por meio de dispositivos naturais de manejo ou por tecnologias apropriadas.

A compreensão sobre como podemos ter uma relação harmoniosa entre a espécie humana e os ecossistemas abarca a temática da permacultura urbana, seguida da arquitetura e permacultura que foca na construção o abrigo, seja ele unifamiliar ou coletivo. Segue-se pelo planejamento para eventos extremos, no intuito de nos prepararmos para as mudanças ambientais em escala global, mas de reflexo local e, por último, versa-se sobre a organização social por meio da revelação das estruturas invisíveis, que nos cercam no atual modelo organizado de forma hierárquica e centralizada.

A estrutura do CPP por energias

Esta seção tem sua estrutura baseada no currículo de ensino por fluxos energéticos, que compartilha os conhecimentos da permacultura considerando três estágios de aprendizado, que incluem bases fundamentais de conhecimento para a [re]conexão à natureza, o manejar do espaço planejado e a inserção do humano na paisagem.

O primeiro estágio fala dos conhecimentos fundamentais para a formação de um permacultor, passando pela sensibilização para os problemas ambientais e o nosso distanciamento da natureza. Logo após, vem a apresentação das éticas e princípios de planejamento, fundamentos de ecologia e clima, reconhecimento de padrões naturais e como fazer uma boa leitura da paisagem.

O segundo estágio compreende o manejo da paisagem considerando a metodologia de planejamento da permacultura, conhecimentos sobre solos e o cultivo de alimentos, bem como o entendimento sobre como as energias fluem na paisagem.

O terceiro estágio insere o humano atual dentro de toda sua cultura de infraestrutura desenvolvida no contexto da paisagem, seja ela rural ou urbana, considerando o abrigo, o reconhecimento de riscos e a construção de relacionamentos sociais.

O quadro a seguir apresenta a carga horária e os temas e subtemas relacionados a cada estágio.

TemasSubtemas abordadosCarga
horária
PRIMEIRO ESTÁGIO – [RE]CONEXÃO COM A NATUREZA
O que é permacultura e qual é a sua história?Por que Permacultura?
Resumo do PDC
Programação do curso
Forma de funcionamento
4
Éticas e princípios de planejamentoAs três éticas da permacultura
Os princípios de planejamento
4
Fundamentos de ecologiaVisão global: geomorfologia, climas e biomas associados
Relações ecológicas
Ecologia florestal e sucessão ecológica
Reciclagem e compostagem
4
Padrões naturaisTipos
Funções
Percepção
Interpretação
Aplicação
4
Leitura da paisagemInsolação
Ventos
Curva-chave
Estratégias em diferentes climas
4
SEGUNDO ESTÁGIO – MANEJO DA NATUREZA
Método de planejamento do espaçoSetores
Zonas
Análise de elementos
Localização relativa
4
SolosCaracterísticas
Importância
Identificação
Manejo ecológico
4
Ecologia cultivadaTipos de agroecossistemas
Estratégias de cultivos
Animais como elementos
Plantas alimentícias não convencionais ou plantas da biodiversidade
Plantas medicinais e seus usos
8
ÁguaO ciclo e distribuição da água
Água como elemento na paisagem
Águas no espaço de planejamento e estratégias de uso
Manutenção da qualidade
Tecnologias apropriadas ao uso
4
EnergiaPercepção na paisagem e no sistema planejado
Potenciais de aproveitamento
Tecnologias apropriadas ao aproveitamento
4
TERCEIRO ESTÁGIO – O HUMANO NA PAISAGEM
Permacultura urbanaPlanejamento em pequenos espaços
Zonas energéticas urbanas
Organização comunitária
4
Arquitetura e permaculturaConceitos fundamentais
Cultura e paisagem
Conforto ambiental e estratégias bioclimáticas
Projeto e sistemas construtivos
Técnicas de bioconstrução
4
Planejamento para eventos extremosO que são eventos extremos?
Níveis de risco
Planejamento de prevenção
Planejamento de remediação
4
Estruturas invisíveisCompreensão das estruturas biológicas, culturais, econômicas e sociais e seus impactos
Autorregulação contínua
Planejamento permacultural pessoal
Ampliação para uma perspectiva não especista de animais
4
Projeto finalDiretrizes
Concepção
Desenvolvimento
Apresentação
12

Entre em contato com o autor

O Projeto Final

O projeto final de um curso de planejamento permacultural precisa apresentar um plano para autossuficiência, contemplando a segurança alimentar, hídrica, energética e financeira em curto, médio e longo prazos. O detalhamento das áreas e elementos planejados também é fundamental. Para tal, é importante estabelecer tamanho de áreas, quantificar o que se espera produzir e o gasto envolvido nesta produção. Quanto mais detalhado o projeto, melhor a compreensão da proposta para os futuros leitores. 

Importante estimular os participantes a imprimirem as suas identidades no projeto. Neste momento é crucial a não interferência do instrutor, a fim de propiciar uma maior diversidade de visões e opiniões, visando a autenticidade dos projetos. Porém instruções básicas podem ajudar.

O que cada participante ou grupo deve apresentar?

O projeto deve ser apresentado tanto graficamente quanto textualmente, ou seja, além de ser apresentado na forma de maquete virtual ou analógica, planta ou mapa, deverá também possuir um relatório que defina o plano de manejo da área planejada ao longo do tempo. Esses produtos devem apresentar:

Plano de desenvolvimento (relatório);

  1. Contexto do lugar
    • História do lugar;
    • Localização (mapa);
    • Bioma;
    • Clima.
  2. Leitura da paisagem (acesse a aula)
    • Regime de chuvas; 
    • Temperatura;
    • Solos;
    • Mapa-base contendo: topografia, escala, pontos cardeais, título;
    • Setores energéticos (mapa).
      • Ventos;
      • Insolação;
      • Sons;
      • Outros.
  3. Planejamento do espaço (acesse a aula)
    • Zoneamento (mapa); 
    • Análise de elementos; 
    • Elementos em conexão (nas zonas e entre zonas); 
    • Cronograma de implantação e operação.
  4. Arquitetura Apropriada
    • Estratégias bioclimáticas para a eficiência energética das edificações;
    • Estratégias construtivas para lidar com os eventos extremos da região;
    • Técnicas construtivas adequadas ao contexto.
  5. Ecologia cultivada
    • Áreas de cultivo;
    • Sistemas de produção
    • Tipos de cultura.
  6. Águas e Energias (acesse as aulas: águas e energias)
    • Detalhamento do manejo de água no espaço (mapa);
    • Potenciais energéticos do espaço.
  7. Planejamento para eventos extremos (acesse a aula)
    • Prevenção;
    • Mitigação;
    • Rotas de fuga;
    • Contaminações;
    • Espacialização dos eventos extremos (mapa).
  8. Estruturas invisíveis (acesse a aula)
    • Organização social (individual, familar ou coletiva?);
    • Estruturas sociais; ambientais, culturais, econômicas e políticas.

Sobre os mapas:

Mapas que se sobreponham, seja por transparências ou por aplicativos de geoprocessamento, são muito úteis para melhor compreender a espacialização do planejamento. É necessário desenvolver pelo menos seis mapas temáticos para um melhor entendimento do planejamento:

  • Mapa-base – deve conter informações como limite da área e estruturas permanentes como acessos, casas e cursos de água. É importante também situar os pontos cardeais e, se possível, ter curvas de nível e escala.
  • Mapa de águas – deve indicar por onde passam os fluxos e onde podem ser estocados volumes de água para sua utilização. É importante incluir as trajetórias e reservatórios, tanto os naturais quanto aqueles que modificarão esse cenário após implementado o planejamento. 
  • Mapa de setores – deve incluir os setores com suas manifestações energéticas: águas (áreas drenadas e sujeitas a cheias), ventos predominantes e suas direções, insolação (inverno e verão), microclimas e outros. 
  • Mapa de zoneamento – deve incluir a distribuição das zonas energéticas de manejo da área planejada.
  • Mapa de eventos extremos – deve indicar rotas de fuga, áreas de risco de incêndios, alagamentos, deslizamentos etc.
  • Mapa-mestre – é um mapa que resume o planejamento e que orienta o manejo do espaço. 

Via de regra, o mapa-mestre de planejamento tem mais de uma versão. Isso é normal e deve ser incentivado. Na prática, o dinamismo do manejo fará com que novas versões dessa distribuição de elementos no terreno ocorram em escala real, espacial e ao longo do tempo.

Dica: um bom mapa mestre é limpo e completo, ou seja, deve conter todas as informações para que um observador compreenda a distribuição dos elementos propostos no planejamento. Atente-se para não incluir no mestre informações excessivas. Você pode usar programas como Google Earth, que possibilita trabalhar com camadas e, também, visualizar o sombreamento no terreno.

Mapa de setores. Fonte: Grupo Sol, no segundo semestre de 2015 da disciplina “Introdução à Permacultura”.

 

Mapas de insolação para o inverno e para o verão em uma das áreas planejadas na disciplina “Introdução à Permacultura” da UFSC. Fonte: Arthur Nanni.

 

Mapa de zonas energéticas. Fonte: Grupo “Sol”, no segundo semestre de 2015 da disciplina “Introdução à permacultura”.

 

Maquete-mestre do projeto final de planejamento, na qual foram utilizadas folhas de papelão para a construção da morfologia do terreno e linhas de barbante para a separação de zonas energéticas e cursos d’água. Foto: Arthur Nanni.

 

Um desenho em papel kraft onde os permaculturandos definem as estratégias de planejamento de uma unidade familiar rural.

Mapa mestre do projeto final em uma Unidade Familiar Rural no assentamento Vitória da Conquista em Fraiburgo/SC. O mapa contém setores e elementos. Após os participantes traçaram as zonas energéticas com base na posição relativa dos elementos.

 

Apresentação

A apresentação dos projetos finais é um momento chave no curso, pois possibilita uma intensa interação entre os participantes e uma fabulosa troca de saberes. É nesse momento que cada um dos participantes tem a oportunidade de reconhecer novas possibilidades de planejamento, bem como agregar outras linhas de manejo ao seu projeto.

Na UFSC, temos por cultura desenvolver de três a quatro projetos em diferentes grupos para a mesma área. Sempre sugerimos aos grupos que maximizem as discussões intragrupo e evitem saber sobre os projetos dos demais grupos. Isso gera projetos diferentes e enriquece o processo da sala toda. No dia final do curso, as apresentações mostram isso, na prática.

Discussão coletiva após a apresentação dos projetos finais de planejamento.

Atividade no EaD

É preciso lembrar que o projeto final dos alunos na modalidade de ensino à distância, será realizado na área de trabalho previamente escolhida pelo participante quando da sua inscrição no curso e a qual o aluno tem focado, durante as atividades de avaliação do curso até aqui.  Para auxiliar no projeto final, será preciso apresentar o planejamento tal como é aplicado no curso presencial.

Síntese

O projeto final trará muitas formas de apresentação e interpretação. Erros de representação em escala, tanto para a base cartográfica quanto para os elementos, são comuns. O que importará de fato como avaliação é o planejamento conter a lógica sistêmica de pensar da permacultura.

Na mesma linha, o relatório final poderá apresentar algumas confusões de interpretação e de disposição dos ítens a serem versados. É comum constatarmos confusões na análise de elementos. Frequentemente, os participantes conseguem definir muito bem as funções dos elementos, mas ficam devendo uma melhor compreensão das suas características e necessidades.  Acreditamos que isso se deva à visão utilitarista da natureza que nos é inculcada desde a infância. Assim, sugere-se que se aborde essa temática sempre que possível ao longo do curso, buscando desconstruí-la para, então, construir uma lógica de pertencimento humano à natureza.

É importante lembrar que o perfil do participante de permacultura é bastante eclético. Assim, fica difícil fazer com que todos tenham uma boa compreensão de elementos do terreno, como topografia, declividade, etc. Alguns manifestarão mais afinidade pelas espécies vegetais e animais. Ainda haverá aquele grupo que mostrará afinidade com questões de planejamento social. Enfim, alunos de ciências naturais terão aptidões diferentes daqueles que provêm da área da saúde, das ciências sociais, das engenharias, etc. Explore esta diversidade e desfrute a riqueza dos resultados finais!

Ao longo do curso, caberá ao grupo de instrutores perceber essas nuances de aptidão e, a partir delas, melhor guiar o grupo para um aprendizado mais fluido. Esse é um dos principais papéis do instrutor-âncora, que deverá estar em todos os encontros, promovendo as conexões necessárias entre as diferentes temáticas. 

Referências sugeridas

AVIS, R.; AVIS, M.; COEN, T. Building Your Permaculture Property. New Society Publishers, 2021.

MARS, R. O design básico em permacultura. Porto Alegre: Via Sapiens, 2008.

MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 04 fev 2022.

TENTH ACRE FARM. 6 Maps for the Permaculture Farm Design. Disponível em: https://www.tenthacrefarm.com/6-maps-permaculture-farm-design/. Acesso em: 14/5/2022.

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