Importância
O projeto Escola Permacultural consiste em uma metodologia pedagógica que promove a educação ambiental em escolas públicas por meio da implementação das disciplinas de Permacultura e Agroecologia no currículo escolar. Dentro do projeto, as bases para o desenvolvimento das disciplinas são, além dos referenciais da agroecologia, da permacultura e da educação ambiental crítica, a educação popular de Paulo Freire.
A permacultura é utilizada como estratégia pedagógica no desenvolvimento do projeto, pois é um campo que possui um caráter interdisciplinar e dialoga diretamente com a perspectiva crítica da educação ambiental (Martins et al. 2020). A partir das práticas que a permacultura propõe, é possível trabalhar uma perspectiva sistêmica da realidade. Portanto, a Permacultura auxilia a contextualização do conhecimento e é uma importante ferramenta para o desenvolvimento de soluções sustentáveis para as questões que são abordadas no âmbito do projeto.
A disciplina de Permacultura tem a duração de um ano letivo, onde encontros com duração de 2h são realizados semanalmente. Ao longo da disciplina, são trabalhadas estratégias para a inserção da temática da permacultura na educação básica de maneira contextualizada com a realidade dos estudantes. Neste capítulo, apresentaremos o primeiro módulo da disciplina: Introdução a Permacultura, pois a partir das dinâmicas iniciais deste módulo são pautadas as ações e práticas que serão desenvolvidas ao longo do ano letivo.
Objetivo
- Introduzir a temática da permacultura na educação básica de maneira contextualizada com a realidade dos estudantes;
- Discutir como a permacultura pode auxiliar na resolução de problemas socioambientais;
- Auxiliar no desenvolvimento do pensamento sistêmico dos estudantes.
Conteúdo mínimo
Conceitos de sustentabilidade. Contextualização histórica da permacultura. Exposição dos princípios éticos e técnicos da permacultura e sua conexão com a flor da permacultura.
Metodologia
A disciplina de permacultura tem sua base nas práticas e teorias da educação popular, dessa forma, um espaço de aprendizagem horizontal é criado durante as aulas, onde professores e alunos conversam acerca das temáticas que são abordadas em sala.
Os estudantes, muitas vezes, não estão familiarizados com esse tipo de metodologia. Portanto, na primeira aula do módulo, é necessário contextualizar o que será a disciplina e como será a metodologia ao longo do ano letivo.
Na Aula 1, o Instituto Permacultura Lab é apresentado. Nesse momento, expõe o trabalho realizado pelo instituto e quais são os sonhos que estão por trás disso. Após a apresentação do instituto, apresenta-se o conceito de educação ambiental e suas práticas, por meio de uma conversa informal com os estudantes, onde é possível saber se eles já tiveram contato com o tema e qual é o seu entendimento sobre.
Posteriormente, é apresentado o projeto Escola Permacultural. A apresentação é feita por meio do uso do documentário “Permacultura na escola: construindo sonhos coletivos” , que retrata as práticas desenvolvidas nos anos anteriores e traz depoimentos de estudantes acerca do projeto. A aula é finalizada com uma dinâmica de apresentação, onde a turma é dividida em duplas e cada um apresenta o companheiro.
Na Aula 2, além dos módulos temáticas da disciplina serem apresentados, são construídos os acordos coletivos, regras que são fundamentais para o desenvolvimento das aulas, melhor aproveitamento e convivência em sala de aula e aspectos que consideramos serem fundamentais para a formação dos estudantes. Posteriormente, é realizada a dinâmica do círculo da insustentabilidade e a aula é concluída.
Na Aula 3, inicia-se a introdução a permacultura, onde são abordados os princípios éticos e técnicos e sua relação com a flor da permacultura. Posteriormente soluções coletivas para os problemas levantados no círculo da insustentabilidade são pensadas a partir da prática com a flor da permacultura. O encerramento da aula é realizado com a exibição do videoclipe The turning point.
Exposição
90 min
EXPOSIÇÃO ORAL COM APOIO DE RECURSO AUDIOVISUAL
Aula 1 – O Instituto Permacultura Lab apresenta, com o apoio de fotos e vídeos, que tipos de projetos são realizados pelo instituto e a motivação que existe para a realização do trabalho. Ao compartilhar as motivações e sonhos, trazemos os alunos para o lugar do encantamento, já que por meio da disciplina, pretende-se que eles se tornem multiplicadores das práticas desenvolvidas e consequentemente, dos sonhos que foram idealizados previamente. A temática da educação ambiental é debatida com estudantes a partir da percepção dos mesmos sobre o tema, por meio de uma roda de conversa. A Educação Ambiental (EA) enquanto dimensão pedagógica, diz respeito a uma dimensão essencial da educação, que trata de dinâmicas sociais que promovem uma abordagem crítica e colaborativa das realidades socioambientais, enquanto promove a autonomia para compreender e solucionar os problemas que se apresentam à sociedade (Sauvé, 2005). A EA crítica aborda e desenvolve essas dimensões, é voltada para uma ação reflexiva e coletiva, contextualizada a realidade socioambiental que vai além das fronteiras da escola, sendo uma educação política, que contribui para a transformação da realidade individual e social de cada um através da luta individual e coletiva (Guimarães, 2007). A EA crítica possui como origem a pedagogia crítica, que se baseia nos pensamentos emancipatórios e democráticos do pensamento crítico aplicados à educação (Carvalho, 2004).
Aula 2 – A proposta de cronograma é apresentada integralmente, para que os estudantes estejam familiarizados com as dinâmicas, práticas e objetivos de cada aula previamente. Os temas da permacultura são trabalhados a partir da divisão da disciplina por módulos com base nos princípios éticos da permacultura. Desta forma, os módulos são: Introdução, onde é trabalhada a apresentação do grupo e dos estudantes, a ideia do projeto é explicada e faz-se uma introdução ao que é a permacultura e suas potencialidades; Cuidado com a terra, onde é trabalhada a questão da produção de distribuição de alimentos; Cuidado com as pessoas, módulo no qual se trabalha a saúde integral e o cuidado com as relações interpessoais; e o módulo Partilha dos excedentes, onde é trabalhada a partilha de conhecimentos, bem como a colheita e compartilhamento dos alimentos produzidos ao longo do ano, a partir de feiras e encontros de troca e celebração.
A dialogicidade se dá através da troca genuína entre educadores e educandos, através da horizontalidade, onde o saber de todos os envolvidos é valorizado, educadores e educandos ensinam uns aos outros e conhecimentos construídos coletivamente emergem em um processo de ensino-aprendizagem-ensino. Segundo Freire (2013), o diálogo se inicia com o conteúdo programático. Essa não deve ser uma imposição do professor, o conteúdo programático deve se comunicar com a realidade dos educandos. Orientados por este princípio, os educadores do projeto Escola Permacultural ao apresentarem a proposta de cronograma com os módulos, deixam explícito que a proposta pode ser alterada de acordo com as necessidades da turma, além disso, fazem parte do cronograma as aulas coringa. As aulas coringa são aulas no cronograma reservadas para que estudantes e os professores da escola proponham atividades ou temas para serem trabalhados.
Os acordos coletivos têm o objetivo de criar um ambiente de convivência horizontal, onde seja cultivada uma relação de abertura e confiança entre educadores e educandos. Hooks (2017) chama estes espaços de comunidades de aprendizado, onde a partir desta relação de confiança e acolhimento cada estudante consegue se perceber enquanto parte de um processo educativo e reconhecer sua importância na construção de tal processo, tomando assim, uma consciência de comunidade. Ao criar os acordos coletivamente com os estudantes, a hierarquia entre professores e alunos é quebrada, já que os estudantes são retirados do local passivo de apenas receber conteúdo e ordens, e são convidados a assumir uma postura ativa dentro da comunidade de aprendizado. Dessa forma, a relação entre professores e estudantes passa a ser construída de maneira horizontal e dialógica, onde juntos somos capazes de aprender com as experiências e vivências uns dos outros.
Aula 3 – Os princípios éticos e técnicos e a flor da permacultura são trabalhados. A permacultura é apresentada para os estudantes como uma ciência e também uma filosofia que busca a construção de sociedades sustentáveis a partir da transformação da relação do ser humano com a natureza e das relações sociais. Os princípios são expostos de acordo com a abordagem proposta por Holmgren (2013), onde primeiro são discutidos os princípios éticos, que englobam o Cuidado com a terra; Cuidado com as pessoas e Partilha dos excedentes. Posteriormente, são apresentados os princípios técnicos que estão diretamente ligados às práticas e discussões que serão realizadas no curso. A flor da permacultura é apresentada como contendo os pontos chave da sociedade que precisam ser trabalhados através de um olhar permacultural para que se possa ter o desenvolvimento de uma cultura permanente.
Dinâmicas
Apresentação em pares
40 min
Nesta dinâmica, estudantes e professores formam duplas e passam cerca de 10 minutos conversando, compartilhando gostos, passatempos e se apresentando um para o outro. Em seguida, cada dupla tem que se apresentar para a turma. No entanto, cada pessoa deve se apresentar como se fosse a pessoa com quem conversou, “assumindo sua identidade” na hora da apresentação e contando seus gostos e particularidades que foram compartilhados. Os participantes só ficam sabendo desta troca na hora de se apresentarem. Esta dinâmica é uma boa opção para se quebrar o gelo em um primeiro momento de maneira descontraída e também para se trabalhar a importância de se praticar uma escuta ativa, pois muitos participantes, na hora da apresentação não conseguem se lembrar do que foi dito pelo colega.
Círculo da Insustentabilidade
60 minutos
Para que o conteúdo abordado tenha sentido para os estudantes, deve partir de temas relacionados com suas realidades. Os temas geradores são o ponto de partida para a investigação do universo temático dos educandos (Freire, 2013). Ao se tomar os temas socioambientais presentes na realidade do estudantes como temas geradores (Tozoni-Reis, 2006) , isso permite que os mesmos façam uma leitura contextualizada de sua realidade, entendendo os pontos de conflito e possibilitando que se possa vislumbrar ações provocadoras de mudança. Dentro disso, para iniciar uma abordagem dentro do tema da permacultura, que na maioria das vezes é um tema que os estudantes nunca tiveram contato, de maneira que seja produzido sentido para os mesmos, os educadores utilizam a dinâmica Círculo da Insustentabilidade.
Nesta dinâmica, desenha-se um Círculo da Insustentabilidade em um cartaz e uma pergunta geradora é feita para os estudantes: “O que é insustentável para você?”. Os estudantes escrevem as respostas em cartões e colam dentro do círculo. Logo, a quantidade de cartões extrapola a capacidade do círculo. Em seguida, é feita uma leitura coletiva do que os estudantes colocaram como resposta e eles têm a oportunidade de argumentar e debater sobre o que escreveram. A partir da dinâmica, fica a constatação de que nossa sociedade tem pontos estruturais que são insustentáveis e que precisamos pensar em soluções para superar estes problemas. Além disso, com esta dinâmica é possível fazer um mapeamento dos problemas e conflitos que atravessam a realidade dos estudantes.
Práticas
Flor da permacultura
60min
Após a introdução ao que é a permacultura, seus princípios e a flor, os problemas levantados na dinâmica do círculo da insustentabilidade são resgatados. Em seguida, pede-se que os estudantes formem grupos e pensem em soluções para estes problemas, anotem em cartões e colem em um cartaz com o desenho da flor da permacultura, encaixando cada solução na pétala da flor que eles acreditam ter a temática correspondente. Dessa forma, os estudantes revisam o conteúdo acerca dos princípios e da flor da permacultura, enquanto percebem que a permacultura pode auxiliá-los no desenvolvimento de soluções para os problemas socioambientais. A partir de então, as pétalas da flor da permacultura e suas propostas de mudança vão sendo trabalhadas ao longo do ano letivo.
Conteúdo complementar
Vídeos
- Assista à playlist Permacultura na escola no canal da Rede NEPerma Brasil.
Leitura
Referências sugeridas
CARVALHO, Isabel. Educação ambiental crítica: nomes e endereçamentos da educação. In: LAYRAGUES, P. P. Identidades da Educação Ambiental Brasileira. Brasília: MMA, 2004.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 54a Edição, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.
GUIMARÃES, Mauro. Educação ambiental: participação para além dos muros da escola. In: MELLO, S.; TRAJBER, R. (orgs.). Vamos cuidar do Brasil: conceitos e práticas em educação ambiental. Brasília: MEC/UNESCO, 2007
HOLMGREN, David. Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade. / David Holmgren; tradução Luzia Araújo. – Porto Alegre: Via Sapiens, 2013.
HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática de liberdade. 2 ed. São Paulo : Editora WMF Martins Fontes, 2017.
MARTINS, Paolo et al. Escola e a construção de outros futuros possíveis: Permacultura e Agroecologia como bases dinamizadoras. In: Convergências Socioambientais: Pesquisas em Permacultura, Agroecologia e Educação Ambiental / organizadores: Diogo Maneschy…[et al.] – Macaé: Editora NUPEM, 2020.
SAUVÉ, Lucie. Educação Ambiental: possibilidades e limitações. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 31, n. 2, maio/ago. 2005
TOZONONI-REIS, Marília. Temas ambientais como “temas geradores”: contribuições para uma metodologia educativa ambiental crítica, transformadora e emancipatória. Educar, Curitiba, n. 27, 2006.