O Projeto Final

O projeto final de um curso de planejamento permacultural precisa apresentar um plano para autossuficiência, contemplando a segurança alimentar, hídrica, energética e financeira em curto, médio e longo prazos. O detalhamento das áreas e elementos planejados também é fundamental. Para tal, é importante estabelecer tamanho de áreas, quantificar o que se espera produzir e o gasto envolvido nesta produção. Quanto mais detalhado o projeto, melhor a compreensão da proposta para os futuros leitores. 

Importante estimular os participantes a imprimirem as suas identidades no projeto. Neste momento é crucial a não interferência do instrutor, a fim de propiciar uma maior diversidade de visões e opiniões, visando a autenticidade dos projetos. Porém instruções básicas podem ajudar.

O que cada participante ou grupo deve apresentar?

O projeto deve ser apresentado tanto graficamente quanto textualmente, ou seja, além de ser apresentado na forma de maquete virtual ou analógica, planta ou mapa, deverá também possuir um relatório que defina o plano de manejo da área planejada ao longo do tempo. Esses produtos devem apresentar:

Plano de desenvolvimento (relatório);

  1. Contexto do lugar
    • História do lugar;
    • Localização (mapa);
    • Bioma;
    • Clima.
  2. Leitura da paisagem (acesse a aula)
    • Regime de chuvas; 
    • Temperatura;
    • Solos;
    • Mapa-base contendo: topografia, escala, pontos cardeais, título;
    • Setores energéticos (mapa).
      • Ventos;
      • Insolação;
      • Sons;
      • Outros.
  3. Planejamento do espaço (acesse a aula)
    • Zoneamento (mapa); 
    • Análise de elementos; 
    • Elementos em conexão (nas zonas e entre zonas); 
    • Cronograma de implantação e operação.
  4. Arquitetura Apropriada
    • Estratégias bioclimáticas para a eficiência energética das edificações;
    • Estratégias construtivas para lidar com os eventos extremos da região;
    • Técnicas construtivas adequadas ao contexto.
  5. Ecologia cultivada
    • Áreas de cultivo;
    • Sistemas de produção
    • Tipos de cultura.
  6. Águas e Energias (acesse as aulas: águas e energias)
    • Detalhamento do manejo de água no espaço (mapa);
    • Potenciais energéticos do espaço.
  7. Planejamento para eventos extremos (acesse a aula)
    • Prevenção;
    • Mitigação;
    • Rotas de fuga;
    • Contaminações;
    • Espacialização dos eventos extremos (mapa).
  8. Estruturas invisíveis (acesse a aula)
    • Organização social (individual, familar ou coletiva?);
    • Estruturas sociais; ambientais, culturais, econômicas e políticas.

Sobre os mapas:

Mapas que se sobreponham, seja por transparências ou por aplicativos de geoprocessamento, são muito úteis para melhor compreender a espacialização do planejamento. É necessário desenvolver pelo menos seis mapas temáticos para um melhor entendimento do planejamento:

  • Mapa-base – deve conter informações como limite da área e estruturas permanentes como acessos, casas e cursos de água. É importante também situar os pontos cardeais e, se possível, ter curvas de nível e escala.
  • Mapa de águas – deve indicar por onde passam os fluxos e onde podem ser estocados volumes de água para sua utilização. É importante incluir as trajetórias e reservatórios, tanto os naturais quanto aqueles que modificarão esse cenário após implementado o planejamento. 
  • Mapa de setores – deve incluir os setores com suas manifestações energéticas: águas (áreas drenadas e sujeitas a cheias), ventos predominantes e suas direções, insolação (inverno e verão), microclimas e outros. 
  • Mapa de zoneamento – deve incluir a distribuição das zonas energéticas de manejo da área planejada.
  • Mapa de eventos extremos – deve indicar rotas de fuga, áreas de risco de incêndios, alagamentos, deslizamentos etc.
  • Mapa-mestre – é um mapa que resume o planejamento e que orienta o manejo do espaço. 

Via de regra, o mapa-mestre de planejamento tem mais de uma versão. Isso é normal e deve ser incentivado. Na prática, o dinamismo do manejo fará com que novas versões dessa distribuição de elementos no terreno ocorram em escala real, espacial e ao longo do tempo.

Dica: um bom mapa mestre é limpo e completo, ou seja, deve conter todas as informações para que um observador compreenda a distribuição dos elementos propostos no planejamento. Atente-se para não incluir no mestre informações excessivas. Você pode usar programas como Google Earth, que possibilita trabalhar com camadas e, também, visualizar o sombreamento no terreno.

Mapa de setores. Fonte: Grupo Sol, no segundo semestre de 2015 da disciplina “Introdução à Permacultura”.

 

Mapas de insolação para o inverno e para o verão em uma das áreas planejadas na disciplina “Introdução à Permacultura” da UFSC. Fonte: Arthur Nanni.

 

Mapa de zonas energéticas. Fonte: Grupo “Sol”, no segundo semestre de 2015 da disciplina “Introdução à permacultura”.

 

Maquete-mestre do projeto final de planejamento, na qual foram utilizadas folhas de papelão para a construção da morfologia do terreno e linhas de barbante para a separação de zonas energéticas e cursos d’água. Foto: Arthur Nanni.

 

Um desenho em papel kraft onde os permaculturandos definem as estratégias de planejamento de uma unidade familiar rural.

Mapa mestre do projeto final em uma Unidade Familiar Rural no assentamento Vitória da Conquista em Fraiburgo/SC. O mapa contém setores e elementos. Após os participantes traçaram as zonas energéticas com base na posição relativa dos elementos.

 

Apresentação

A apresentação dos projetos finais é um momento chave no curso, pois possibilita uma intensa interação entre os participantes e uma fabulosa troca de saberes. É nesse momento que cada um dos participantes tem a oportunidade de reconhecer novas possibilidades de planejamento, bem como agregar outras linhas de manejo ao seu projeto.

Na UFSC, temos por cultura desenvolver de três a quatro projetos em diferentes grupos para a mesma área. Sempre sugerimos aos grupos que maximizem as discussões intragrupo e evitem saber sobre os projetos dos demais grupos. Isso gera projetos diferentes e enriquece o processo da sala toda. No dia final do curso, as apresentações mostram isso, na prática.

Discussão coletiva após a apresentação dos projetos finais de planejamento.

Atividade no EaD

É preciso lembrar que o projeto final dos alunos na modalidade de ensino à distância, será realizado na área de trabalho previamente escolhida pelo participante quando da sua inscrição no curso e a qual o aluno tem focado, durante as atividades de avaliação do curso até aqui.  Para auxiliar no projeto final, será preciso apresentar o planejamento tal como é aplicado no curso presencial.

Síntese

O projeto final trará muitas formas de apresentação e interpretação. Erros de representação em escala, tanto para a base cartográfica quanto para os elementos, são comuns. O que importará de fato como avaliação é o planejamento conter a lógica sistêmica de pensar da permacultura.

Na mesma linha, o relatório final poderá apresentar algumas confusões de interpretação e de disposição dos ítens a serem versados. É comum constatarmos confusões na análise de elementos. Frequentemente, os participantes conseguem definir muito bem as funções dos elementos, mas ficam devendo uma melhor compreensão das suas características e necessidades.  Acreditamos que isso se deva à visão utilitarista da natureza que nos é inculcada desde a infância. Assim, sugere-se que se aborde essa temática sempre que possível ao longo do curso, buscando desconstruí-la para, então, construir uma lógica de pertencimento humano à natureza.

É importante lembrar que o perfil do participante de permacultura é bastante eclético. Assim, fica difícil fazer com que todos tenham uma boa compreensão de elementos do terreno, como topografia, declividade, etc. Alguns manifestarão mais afinidade pelas espécies vegetais e animais. Ainda haverá aquele grupo que mostrará afinidade com questões de planejamento social. Enfim, alunos de ciências naturais terão aptidões diferentes daqueles que provêm da área da saúde, das ciências sociais, das engenharias, etc. Explore esta diversidade e desfrute a riqueza dos resultados finais!

Ao longo do curso, caberá ao grupo de instrutores perceber essas nuances de aptidão e, a partir delas, melhor guiar o grupo para um aprendizado mais fluido. Esse é um dos principais papéis do instrutor-âncora, que deverá estar em todos os encontros, promovendo as conexões necessárias entre as diferentes temáticas. 

Referências sugeridas

AVIS, R.; AVIS, M.; COEN, T. Building Your Permaculture Property. New Society Publishers, 2021.

MARS, R. O design básico em permacultura. Porto Alegre: Via Sapiens, 2008.

MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 04 fev 2022.

TENTH ACRE FARM. 6 Maps for the Permaculture Farm Design. Disponível em: https://www.tenthacrefarm.com/6-maps-permaculture-farm-design/. Acesso em: 14/5/2022.

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