Águas na paisagem

As chuvas são nossa fonte primária de água, visto que alimentam os cursos d’água diretamente ou abastecem os aquíferos, que mantêm nascentes, poços, lagos naturais ou artificiais, córregos e rios nos períodos de estiagem.

Ao longo da história o homem tem usado sua inteligência para tentar garantir um suprimento de água permanente, do qual depende sua vida e economia. Isto implica em um aspecto relevante: o que fazer para que a água permaneça disponível o maior tempo possível?

Com exceção de alguns desertos, a natureza sempre traz a água por meio das chuvas e a distribui com relativa uniformidade por toda a superfície. Porém, esta água não permanece imóvel, logo se desloca sob a atração da força gravitacional. Em pouco tempo a água não estará mais disponível em todos os lugares que desejamos que esteja.

Ciclo das águas conceitual. Fonte: USDA.

Ciclos curtos das águas. Fonte: Traduzida de Widows (2015).

Águas na paisagem a partir da escala de percepção humana.

Reservatórios na paisagem

Reconhecer na paisagem de planejamento os diferentes tipos de águas, suas qualidades e as potencialidades de uso:

  • Hidrosfera (visível)
    • Cursos d’água perenes ou intermitentes
    • Lagos/açudes e seus volumes armazenados
    • Nascentes protegidas, desprotegidas e suas vazões
  • Atmosfera
    • Águas de chuvas e os regimes pluviométricos – atmosfera
  • Pedosfera
    • Espessura de solos e sua capacidade de armazenar e transmitir águas
  • Litosfera
    • Aquíferos rasos e profundos
  • Biosfera
    • Animais, plantas e sua biomassa

Na paisagem os solos (pedosfera) representam a síntese de todas as esferas que constituem à Terra, por essa razão é preciso pensar os solos como resultado de um grande efeito de borda da interação das demais esferas e, também, um dos reservatórios de água mais importantes na paisagem.

As esferas vistas como reservatórios de água na paisagem. Figura: Jojndon (2010) em Wikimedia Commons.

Pensando as águas como um elemento

As águas podem e devem ser consideradas como um elemento na paisagem planejada, pois possuem características intrínsecas, têm necessidades e cumprem funções. Por não se enquadrarem como sendo um elemento estrutural, animal ou vegetal, há a necessidade de considerá-las na análise de elementos como algo que permeia toda a paisagem, influenciando todo o planejamento.

A seguir elencamos algumas necessidades, características e funções desse elemento em uma paisagem. É importante compreender que os quesitos colocados a seguir não compreendem toda a análise, pois a percepção individual ou mesmo, o contexto de paisagem onde está sendo realizada a análise, podem influenciar na definição desses.

Características

  • Está submetida a um padrão cíclico;
  • Fluída;
  • Controlável (domável);
  • Contém sais, matéria orgânica e argilas;
  • Estados físicos;
  • Solvente universal;
  • Tensão superficial (capilaridade);
  • Alta inércia térmica;
  • Outras…

Necessidades

  • Floresta para manter qualidade e quantidade;
  • Manter-se em movimento;
  • Sair da propriedade com qualidade idêntica, ou melhor daquela que entrou;
  • Ter seu ciclo preservado;
  • Outras…

Funções

  • Abastecimento residencial;
  • Consumo humano;
  • Higiene;
  • Irrigação;
  • Controle da temperatura;
  • Fertilização;
  • Dessedentação de animais;
  • Peixes;
  • Geração de energia;
  • Lazer;
  • Outras…

Tipos de águas no ambiente planejado

Águas que entram

Inclui as águas de abastecimento, que são captadas, conduzidas e armazenadas com intuito de uso em elementos na paisagem planejada.

A captação de águas deve considerar o gasto energético envolvido no processo de obtê-la. Assim, as águas das chuvas podem ser captadas com maior facilidade do que outras, colocando-as como fonte prioritária. No outro extremo, estão as águas das concessionárias, as quais não sabemos sobre o gasto energético embutido (emergia) até chegar em nossa casa.

Uma vez captadas, as águas  precisarão ser armazenadas. Mais uma vez a questão energética precisa ser considerada. Nesse caso, solos se conformam como os melhores reservatórios, pois possuem boa capacidade de estoque (poros) e capacidade de transmitir lenta (permeabilidade), o que permite que as águas armazenadas fiquem disponíveis para uso por mais tempo. E, novamente, para as águas da concessionária, o gasto energético é com certeza, bem maior.

Emergia envolvida para captação e armazenamento de águas. Ilustração de Arthur Nanni.

Águas que saem

Compreende aquelas águas que já cumpriram funções e, agora, estão na paisagem planejada na forma de efluentes. A junção de todas as águas provenientes da residência, constituirá o esgoto, cujo “tratamento” é difícil e oneroso. Assim, o melhor que o permacultor deve fazer é separar ambos na sua geração, gerando assim, efluentes, que podem ser entendidos não como problemas, mas sim, como recursos. Dessa forma, temos de pensar em reúsos para essas águas.

A partir da perspectiva da Zona 0 (a casa), essas águas podem ser classificadas em:

  • Com fezes – efluentes oriundos do vaso sanitário com carga contaminante de patógenos;
  • Cinzas – efluentes de todos os demais usos como pias, chuveiros, tanques, máquinas de lavar roupas, etc, que não contêm patógenos fecais.

Os efluentes com fezes exigirão maior atenção e dispositivos de tratamento mais robustos. Já para às águas cinzas, os sistemas de tratamento são menos complexos.