Formas de organização

A organização social na permacultura prevê que cada cidadão saiba e entenda como se dá a estrutura do tecido social do qual faz parte. Assim, a gestão precisa ser sempre entendida a partir da percepção individual ou coletiva, em escala comunitária, prevendo a possibilidade de visibilidade e de protagonismo de cada indivíduo.

Ocupando linhões

O ambiente urbano é recheado de dispositivos que promovem o individualismo, desde um apartamento – apartar – até o ritual das tele-entregas, cidadãos das grandes cidades dificilmente se unem para resolver questões coletivas, atribuindo a resolução dessas demandas ao serviço público e aos “mimos” que o sistema privado proporciona.

Para cidadãos de baixa renda essa não é uma realidade. Então, usar a criatividade e reagir às mudanças, é um ato necessário para se manter em ambientes extremamente mercantilizados, como os das nossas verticalizadas capitais.

É nesse contexto que entram áreas ociosas sob linhas de alta tensão. Nestas, por motivos de segurança, não é possível a inserção de edificações e, mesmo que roçadas constantemente, acabam por se tornar espaços onde ocorrem delitos e o descarte de lixo.

Características

Espaços urbanos de terras não edificáveis em virtude de linhas de alta tensão, rodeadas por comunidades, carentes ou não, que necessitam ou almejam produzir alimentos, gerar renda, solidariedade e estimular as relações comunitárias.

Necessidades

Organização coletiva, protagonismo comunitário, insumos e irrigação. Autorização de uso perante a concessionária responsável e a prefeitura municipal.

Funções

Um espaço coletivo com essas características proporciona uma série de benefícios, mas podemos destacar:

  • Produção de comidas saudáveis;
  • Geração de renda;
  • Intercâmbio de alimentos;
  • Empoderamento comunitário;
  • Estímulo ao senso de coletividade;
  • Aproveitamento de áreas ociosas;
  • Redução da criminalidade;
  • Economia para as concessionárias com não-necessidade de roçadas contínuas.

A técnica em detalhe

A ocupação de espaços ociosos em meio urbano não é uma novidade. Hortas em linhas de alta tensão ocorrem em outras grandes e médias cidades brasileiras, como é o caso de Curitiba, São Bernardo do Campo, Maringá, Sete Lagoas, entre outras.

A Horta do Parque Continental, situada entre os municípios de São Paulo e Osasco, é um projeto social auto-organizado pela comunidade onde os participantes adotam um espaço para cultivarem seus alimentos.

A Nossa Horta do Parque Continental conta com uma liderança, Maria Dilva Duarte, que auxilia cerca de 47 famílias, constituídas praticamente por pessoas migrantes de outras regiões do Brasil, que manejam espaços para cultivo do próprio alimento e interagem trocando alimentos e somando produção para comercialização local.

Sem acesso a rede de água e com longos períodos de estiagem, com o passar do tempo houve a necessidade da implantação de um sistema de irrigação. Com isso, a comunidade que mantém o espaço colocou em prática o princípio “Use a criatividade e reaja às mudanças” e acertou com prédios lindeiros, a captação de águas das chuvas, provenientes dos telhados de garagens.

Uma vez concedida a captação, a comunidade adquiriu e instalou na porção mais elevada do terreno, um reservatório de grande capacidade para irrigação dos espaços de cultivo.

Iniciativas como a do Parque Continental revelam outro princípio da permacultura que entende que “a problema é também a solução”, desde que o foco seja na segunda.

Horta sob linha de alta tensão no Parque Continental com detalhe na captação de águas das chuvas a partir de um telhado de garagem de um prédio lindeiro. Imagem de Vinícius Pereira.

Vendo a oportunidade de manter “vigiadas” áreas sob linhas de alta tensão e, ao mesmo tempo, economizar com roçadas contínuas, a Companhia de energia do Paraná “COPEL”, busca desde 2013, por meio do programa Cultivar Energia,  atender demandas comunitárias com viabilização de hortas em vazios urbanos, como uma estratégia para auxiliar na prevenção de ocupações irregulares e de risco para a população.

Imagem aérea de uma área sob linha de alta tensão. Fonte: COPEL (2025).

Verificação de aplicação

Essa técnica foi verificada em agosto de 2024 junto ao Parque Continental, uma área entre o município de São Paulo , com o apoio de Vinícius Pereira dos Permacultores Urbanos.

As informações do Programa Cultivar energia foram extraídas diretamente do sítio da COPEL.

Referências de suporte

Companhia Paranaense de Energia – COPEL (2025). Programa Cultivar Energia. https://copelsustentabilidade.com/programas/cultivar-energia/ 

Hannes, Evy & Suassuna, Sarah. (2016). Corredor Parque da Água Branca – Cantareira: o potencial das infraestruturas lineares na criação de um sistema de áreas verdes. Revista labverde.O Eco (2024). Multifacetadas, hortas urbanas de São Paulo contribuem para a saúde ambiental da cidade. https://oeco.org.br/videos/multifacetadas-hortas-urbanas-de-sao-paulo-contribuem-para-a-saude-ambiental-da-cidade/.