Eventos extremos

Atualizado em

Arthur Nanni e Marcelo Venturi

O planejamento para eventos extremos é uma ferramenta cada vez mais importante em um mundo com dinâmicas mudanças ambientais.

De um vento lento, mas persistente a um tufão ou uma erosão a um deslizamento de monta e, ainda, de uma cheia ocasional a uma enchente prolongada, temos várias forma de manifestação energética na paisagem que irão afetar nosso cotidiano e definir a forma e a adoção de estratégias para permanecemos em um ecossistema.

Comumente, os olhares para eventos extremos ocorrem apenas quando o desastre ou catástrofe já ocorreu. O planejamento para eventos extremos na permacultura busca ir além da simples recuperação após um desastre, focando em estratégias para evitar ou minimizar danos, aumentando a resiliência e a capacidade de adaptação.

Eventos extremos no Brasil

Os eventos extremos mais frequentes em nosso país incluem chuvas intensas com inundações, períodos prolongados de secas e estiagens e incêndios florestais. A intensidade e a frequência desses eventos vêm aumentando nas últimas décadas, acompanhando a tendência global de adaptação do planeta ao novo regime climático imposto pelas transformações do agente geológico humano nas paisagens.

Historicamente, temos no Brasil registros de fenômenos climáticos bem conhecidos, que exigem a adaptação das nossas rotinas para seguirmos permanecendo e prosperando em um determinado local. Esses fenômenos podem passar despercebidos se estiverem dentro da sua normalidade, mas em uma época de constantes mudanças climáticas precisamos ser mais resilientes a extremos inesperados.

Do constante déficit hídrico em contextos fitoecológicos como a Savana estépica ou Caatinga, onde ventos persistentes seguem paulatinamente desidratando as suas paisagens. Ao longo de relevos acidentados da nossa costa, onde predomina a Floresta ombrófila Densa, em todos os verões escutamos sobre deslizamentos e soterramentos promovidos por volumosas chuvas. Ou ainda, as flutuações com amplitudes cada vez maiores entre cheias e secas nos contextos da Floresta Tropical Pluvial e na Floresta Ombrófila Aberta da bacia hidrográfica do Rio Amazonas. Sem esquecer dos crescentes incêndios nas Savanas do Cerrado, as atividades humanas operadas dentro de uma lógica exploratória, vêm desidratando gradualmente as paisagens e acelerando o fluxo das águas para os oceanos.

Assim, para estabelecermos um bom ambiente de vida, precisamos planejar com sapiência nossas paisagens para evitarmos danos e prejuízos materiais e humanos. Nesse ínterim, consultar informações sobre normais e “anormais” climáticas, geológicas, hidrológicas e meteorológicas em órgãos públicos destinados a alertar sobre riscos, é um primeiro passo. Para tal, sugerimos uma buscas em:

  • Instituto Nacional de Meteorologia – INMET.
  • Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais – Cemaden/MCTI.
  • Serviço Geológico do Brasil – SGB.
  • Monitor de secas – ANA.

Com base nessas informações você terá uma primeira aproximação sobre quais eventos são mais frequentes na região onde você irá fazer o planejamento, mas não é o suficiente, pois há detalhes locais que podem ser mais importantes que a informação em grande escala fornecida por esses órgãos.

Assim, uma conversa com pessoas locais mais antigas pode revelar detalhes relevantes para tomada de decisão sobre quais técnicas e tecnologias sociais adotar, bem como, a definição da  posição relativa de elementos na paisagem planejada.

Definições importantes

Vulnerabilidade – É a situação que indica um estado de fraqueza, insegurança ou instabilidade que pode se referir tanto ao comportamento das pessoas, quanto a objetos, condições, ideias e outros.

Risco – É quando, uma vez vulnerável a uma determinada situação, há a possibilidade de haver danos e prejuízos pessoais e materiais à sociedade, afetando a economia e os ecossistemas.

Resiliência – É a capacidade de algo retornar ao seu equilíbrio dinâmico e se manter íntegro para perfazer suas funções.

Adaptabilidade – É a capacidade que algo ou alguém possui em relação a sua adaptação a condições impostas.

Reconhecimento e organização

Na permacultura temos a paisagem como um ambiente de fluxos energéticos vinculados aos quatro elementos naturais: Terra, Água, Fogo e Ar e, onde é desejável que a homeostase seja constante, o que na prática, é impossível. Por vezes essa homeostase “se rompe” e uma equalização das energias precisa proceder. É nesse contexto que ocorrem os eventos extremos.

Os 4 elementos. Fonte: Four elements – wikimedia commons.

Desta forma, na permacultura reconhecemos, compreendemos e organizamos os eventos extremos associados a estes 4 elementos, acrescido dos seres vivos, em especial a espécie humana como um 5º elemento, que se constituem nos agentes geológicos que moldam as paisagens do planeta.

Assim, a intensidade de ocorrência de um evento dependerá da amplitude da troca energética envolvida e o tornará mais ou menos nocivo. Em resumo podemos organizar os eventos extremos para cada um dos 5 elementos:

  • Terra: Manifestações geológicas como sismos, tremores, deslizamentos, erosão, terremotos e fluxo de massa.
  • Água: Fenômenos da hidrosfera como chuvas, inundações, geada, neve, tsunamis, ressacas  maremotos, etc. 
  • Fogo: Eventos de combustão e calor, incluindo incêndios, queimadas, raios, secas, radiação solar e erupções vulcânicas, etc.
  • Ar: Fluxos atmosféricos como ventos persistentes, ciclones, vendavais, furacões e tornados, etc.
  • Humano: Explosão demográfica, pandemias, poluição, guerras, aceleração da erosão, extinção de espécies, entre outros…

Muitos eventos são resultado da interação entre mais de um elemento, como uma avalanche (Terra e Água) ou um fluxo piroclástico (Fogo e Ar). O fator Antropogênico, ou seja, as ações humanas influenciam, amplificam e intensificam as manifestações dos demais elementos.

Estratégias de planejamento

O primeiro passo no planejamento é o reconhecimento dos potenciais eventos extremos e sua intensidade de ocorrência para o local onde será feito planejada a paisagem. Isso envolve uma análise detalhada para entender o quão vulnerável é um determinado local e as características dos eventos que podem ocorrer, entendo-os segundo alguns quesitos:

  • Causa: É de origem natural ou antrópica (causada por humanos)?
  • Frequência: Ocorre com que regularidade?
  • Duração: É um evento curto e intenso (como uma tromba d’água) ou de longa duração (como uma seca)?
  • Período de Alerta: Existe um aviso prévio ou o início é súbito?
  • Alcance: O impacto é concentrado em uma pequena área ou é abrangente?
  • Potencial Destrutivo: Qual a capacidade de causar danos?
  • Previsibilidade: O evento segue algum padrão sazonal ou cíclico?

Essa análise inicial permite classificar os eventos e direcionar os esforços de forma mais eficaz, otimizando recursos financeiros para atender aqueles eventos mais danosos.

Ações de prevenção e mitigação

Com base na intensidade e previsibilidade, os eventos podem ser classificados como preveníveis ou mitigáveis.

Sabidamente, a permacultura é uma das mais importantes ferramentas nos esforços de mitigação de desastres, porque aumenta a consciência e resiliência da comunidade sobre a importância da sustentabilidade em seu ambiente natural. Ela faz com que a homeostase dos ecossistemas seja atingida, o que leva a uma suavização das amplitudes energéticas e, consequente diminuição da intensidade dos eventos extremos.

A prevenção deve estar focada em eventos de menor a média intensidade. O objetivo é aumentar a resiliência e evitar danos, compreendendo as vulnerabilidades e adaptando o ambiente para minimizar riscos, que trarão danos e prejuízos. E, claro, definir um plano de restabelecimento da rotina e reconstrução do ambiente planejado em caso de danos.

A mitigação será aplicada após a ocorrência de eventos de grande intensidade, cujos danos não podem ser totalmente evitados. A estratégia se concentra em minimizar as consequências e restabelecer as condições básicas de sobrevivência o mais rápido possível. Isso exige planos de fuga, estratégias de emergência e ações de reconstrução e adaptabilidade ao novo cenário pós-evento.

Em resumo, a estratégia geral de prevenção e mitigação deve seguir lógica temporal e atitudinal, partindo do Planejamento geral, seguido da adição de dispositivos de Prevenção, depois o desenho de rotas de Fuga e, por fim, definição e ação de processos de Mitigação.

Estratégias específicas por elemento

O planejamento detalhado envolve a aplicação de técnicas específicas para cada tipo de evento. É crucial sempre prever rotas de fuga, independentemente do evento.

Água

Eventos como chuvas fortes e tromba d’água é prudente a antecipação de picos de vazões para evacuação e ainda, dispositivos de rebaixamento de níveis em açudes, visando evitar a ruptura de taipas/diques. A relocação de animais deve ser inclusa na evacuação.

Para geadas e chuva de granizo, pode-se usar telhados resistentes e telas anti-granizo e geada, usar de microaspersão ativa em cultivos, atear fogo com lenha em pontos baixos, manter a circulação de água para evitar rompimento de tubulações, principalmente nos planaltos da região sul. É importante lembrar que corpos d’água e florestas possuem maior inércia térmica. Assim, pequenos açudes e consórcio com árvores auxiliam a suavizar a amplitude térmica local. 

Eventos como cabeça d’água exigem um planejamento com atenção na localização relativa, evitando-se a realização de atividades e implantação de elementos fixos em planícies de inundação, como a moradia, por exemplo. Buscando suavizar os picos de cheia, é ideal conservar florestas em regiões de cabeceira da bacia hidrográfica buscando estimular a infiltração das águas. E, não menos importante, possuir áreas de amortecimento (açudes, pastagens) antes de instalações mais onerosas, buscando gerar dano mínimo.

Casa construída em uma parte elevada do terreno fora do nível de alagamento no vale, no sítio João de Barro em Ibirama/SC. Foto de Arthur Nanni.

No caso de inundações, enxurradas e alagamentos, deve-se manter reserva de água potável e comida em local seguro e, criar rotas alternativas de acesso, evitando-se ficar ilhado. Em ambientes urbanos, a implantação de jardins de chuva para manter a permeabilidade do solo e reter lixos e sedimentos.

Não comum no Brasil e, sempre de pouco volume, a ocorrência de neve exige telhados bem inclinados para evitar acúmulo e sobrecarga. Além desse detalhe, aqueles mencionados para geada.

Em zonas costeiras vulneráveis a ressacas, é importante monitorar fluxos marítimos e antecipar a retirada de pessoas e animais. Obviamente, não [re]construir nos locais onde sabidamente atingidas por ressacas.

No caso de chuvas ácidas associadas a erupções vulcânicas é importante ter em mente que será necessário conviver com elas, então, é sugerido o cultivo de espécies tolerantes. Caso a origem da acidez nas águas seja a poluição industrial, obviamente, buscar amparo em órgãos ambientais, que por sua vez irão cobrar providências.

Para tsunamis e maremotos é importante o monitoramento da formação e propagação, ter atenção aos avisos naturais, como o recuo repentino da maré ou tremores de terra, o que permitirá evacuar o local rapidamente e desligar energia. Além disso, ter um kit de primeiros socorros, lanterna de cabeça para manter as mãos livres e comunicação via rádio localmente, acertando canais e frequências com vizinhos, ajudará muito você e a comunidade.

Ar

Eventos como seca e excesso de radiação UV exigirão cobertura mortas e vivas de solo, bem como o consórcios de plantas, pois a diversidade proporcionará maior estabilidade e resiliência dos cultivares. Obviamente, é preciso implantar reservas de água em cisternas, açudes, barraginhas, caixas secas e cheias.

Vale ficar atento às previsões climáticas para o ano, se teremos El niño ou La niña, pois isso pode significar maiores volumes de chuvas ou períodos com temperaturas mais baixas. Lembrando que esses fenômenos acarretarão em condições diferenciadas dependendo de onde você estiver no Brasil.

É importante priorizar o cultivo de espécies alimentícias rústicas, sobretudo tubérculos como mandioca e inhame, pois serão mais resistentes ao déficit hídrico e à exposição solar.

No caso de ventos persistentes e vendavais, é preciso implantar quebra-ventos com espécies flexíveis, como o bambu e palmeiras, que devem ser plantados de forma não-adensada, evitando a criação de turbulência na porção que se quer proteger dos ventos.

Ciclones estão no limite do prevenível. Buscando evitar danos às edificações, sugere-se adotar telhados com 4 águas para que haja “quinas” para desviar fluxos e, claro, amarrar telhas dos beirais e vãos abertos como varandas, garagens e galpões sem paredes.

Telhado com 4 águas para “quebrar” ventos fortes no Sítio Raízes em São José do Cerrito/SC. Foto de Arthur Nanni.

Tufões exigirão estruturas robustas, seja uma peça da casa ou uma edificação próxima, capaz de não ruir com ventos fortíssimos. A arquitetura dos ecodomos é resistente a estas condições. Obras convencionais em alvenaria com laje de teto também oferecem proteção.

No caso de furacões e tornados, é sugerido em abrigo subterrâneo com mantimentos.

Fogo

Alguns fatores de risco devem ser considerados no planejamento. Elementos combustíveis, que queimam facilmente, devem ser posicionados na paisagem longe de estruturas fixas, como casas, abrigos, galpões e estufas.

Os ventos aumentam o risco de incêndio, então é importante reconhecer os quadrantes de onde sopram e em que intensidade e época do ano ocorrem. Unido a isso, a topografia também influenciará na dispersão das chamas, visto que moverão mais fácil morro acima.

Assim, é importante possuir uma área aberta que impeça a propagação do fogo, para fins de fuga e estar em um local seguro. No entorno dessa área insira elementos que auxiliem no barramento do fogo tais como aceiros, açudes, estradas, vegetações de difícil queima, outros.

Aceiro mantido na RPPN da Fazenda Nhumirim, na Nhecolândia, Corumbá, MS, em 2008. Imagem de Tomas et al (2009).

Incêndios e queimadas exigem a presença de extintores de incêndio, a presença de aceiros e a priorização de materiais não inflamáveis. A criação de barreiras ortogonais à direção dos ventos predominantes é uma boa estratégia para barrar a propagação de chamas. Estas barreiras podem ser constituídas por aceiros de plantas não inflamáveis como suculentas, que permaneçam verdes e que produzam poucas folhas/palha seca e pouca resina.

Os piquetes de animais herbívoros podem ser dispostos em faixas para manter faixas de vegetação baixa e limpa, circundando as zonas energéticas mais próximas da casa, onde geralmente estão instaladas as edificações.

Para eventos de seca prolongada são sugeridos materiais de cobertura do solo, sombreamento e a instalação de reservatórios.

Buscando evitar danos causados por raios, não hesite em instalar um para-raios, ter um bom aterramento dos circuítos elétricos e, claro, evitar a instalação de edificações em pontos altos e sob árvores no terreno.

Terra

Para minerais tóxicos presentes nos solos são indicadas plantas remediadoras (fitorremediação) ou a remoção mecânica com a reutilização, caso sejam tornados em algum produto inerte, como tijolos, por exemplo.

No caso de sismos e tremores, priorizar a adoção de estruturas que aceitam leves deformações, como casas de madeira. Já a ocorrência de tempestade de areia exigirá a presença de quebra-ventos operando como uma barreira amortizadora.

Processos de erosão e assoreamento podem ser combatidos com solo permanentemente cobertos, valas de infiltração em curva de nível, terraceamento, presença de árvores nas elevações, recomposição da vegetação com aporte de material orgânico (serapilheira).


Terraceamento com pedras de montante para jusante na escosta visando a diminuição da velocidade das águas. Imagem de USAID Africa.

A implantação de barreiras de pedras ou terraceamento para redução de velocidade de água de escoamento são bem efetivas. Essa redução pode ser alcançada também com a presença de estradas em nível ou com inclinações suaves, onde caixas-secas podem servir como depósitos temporários de materiais granulares carreados pelas águas das chuvas.

Os deslizamentos e desabamentos exigem uma boa observação da movimentação das águas no terreno, bem como, a percepção de geoindicadores como trincas no terreno, rachaduras diagonais em edificações e, também, a presença de bioindicadores, como árvores com troncos curvos marcando movimentações pretéritas em encostas.

Com uma boa leitura da paisagem será possível decidir por uma localização relativa segura, fora de áreas de risco. Para minimizar ainda mais estes, sugere-se a implantação de canaletas para desviar águas para fora de onde se encontram as edificações, a plantação de espécies arbustivas e arbóreas nas encostas, bem como, evitar cortes verticais de taludes.

Fluxo de detritos, que são fenômenos comuns em áreas declivosas e altos índices de pluviosidade, exigem como estratégias a locação de edificações fora da “linha de fogo”, a implantação de barreira-pente para gerar obstáculo aos detritos. Ainda será necessário ter um bom plano de fuga e, estabelecer um novo planejamento de reconstrução.


Barreira-pente de contenção de detritos no canal. Imagem: Jeff Vanuga.

Humanos

O quinto elemento exige muita atenção, pois todos os eventos extremos proporcionados por ele podem ser preveníveis, exigindo uma boa organização social das estruturas invisíveis. Para tal, precisamos respeitar escalas de atuação direta ou indireta.

A atuação direta é aquela onde somos protagonistas, ou seja, onde podemos ter ação efetiva. Isso ocorre nas zonas energéticas sociais. Na Zona “0” conseguimos praticar o planejamento doméstico, na Zona 1, os acordos coletivos por rua/acesso e, na Zona 2, os acordos coletivos por bairro/distrito.

Assim, nossa energia individual deve ser diretamente usada apenas onde podemos “ser vistos, ouvidos e lembrados”, pois do contrário, não seremos efetivos em processos de prevenção ou mitigação à eventos extremos.

Já a atuação indireta deve ser apenas exercida sob demanda, pois não poderemos nos representar de forma efetiva. Assim, zonas energéticas sociais serão constituídas por representantes, como na Zona 3, a Defesa civil municipal/estadual, na Zona 4 grupos de Força-tarefa nacional e na Zona 5 – intangível, a força-tarefa global.

Síntese do planejamento para eventos extremos

Tomar nota das observações e sistematizar a ocorrência e intensidade dos eventos ao longo das estações climáticas, auxilia a entender e se programar para evitar contratempos e prejuízos. Como exemplo dessa etapa, usamos o exemplo do Sítio Igatu, unidade experimental do NEPerma/UFSC em Santa Catarina.

Na organização da unidade, dois quadros síntese, um para eventos preveníveis e outro para os mitigáveis, foram construídos e, com base nos eventos reconhecidos e suas classificações, infraestruturas e ações de segurança foram adotadas.

Existem eventos em que a prevenção pode auxiliar a atenuar os danos e prejuízos caso venham a ocorrer. É o caso dos deslizamentos e ciclones. Ambos são classificados como mitigáveis por ocorrerem naturalmente na paisagem. Assim, o planejamento permacultural pode e deve fornecer estruturas, e elementos capazes apenas de atenuar os danos.

Eventos preveníveis

O quadro a seguir apresenta uma síntese de eventos preveníveis e um calendário de probabilidade de ocorrência, considerando as condições climáticas ao longo do ciclo anual.

As estratégias para os eventos preveníveis envolvem:

  • Chuvas torrenciais – Canaletas e baixios desocupados e passeios para quebrar velocidades de fluxo. d’água.
  • Geada – inércia térmica do açude e plantios protegidos (consórcio)
  • Deslizamentos (atenuação dos efeitos) – enleiramento (microbarreiras) e cobertura permanente dos solos.
  • Ciclones (atenuação dos efeitos) – amarração das telhas do beiral e afastamento da casa às grandes árvores.
  • Frio intenso – compostagem in situ, localização relativa, lenha para aquecimento.
  • Seca ou falta d’água – açude como reserva e área de captação do telhado ampliada.

Eventos mitigáveis

O quadro a seguir apresenta uma síntese de eventos mitigáveis e um calendário de probabilidade de ocorrência, considerando as condições climáticas ao longo do ciclo anual.

As estratégias para os eventos mitigáveis envolvem:

  • Fluxo de detritos – posicionamento de árvores à montante da casa para evitar choque de pedras e troncos e migração interna na casa para cômodos protegidos.
  • Deslizamentos – desvio das águas de crista, recomposição com mudas locais de cima para baixo, terraceamento
  • Ciclones – telhas em reserva (óbvio), motosserra para remoção de árvores tombadas.
  • Interrupção das comunicações e energia – lenha para aquecimento das águas e cozimento de alimentos, comunicação local por rádio comunicador e estoque de combustível para locomoção de emergência.

Preparação prática em escala comunitária

Além das estratégias preventivas à eventos extremos, intrínsecas ao planejamento permacultural, a preparação para a mitigação envolve ações práticas, tanto individuais quanto coletivas.

Assim, sugere-se ter um kit de emergência individual contendo rádios para comunicação, lanternas de cabeça e ferramentas (motosserra, pá, facões) para restabelecer o acessos. 

Ações coletivas em nível comunitário exigirão que estes kits individuais se complementem. Desta forma, os radiocomunicadores devem permanecer sempre carregados e com frequência de operação combinada com vizinhos. Além disso, deverão ser previamente estabelecidas rotas de fuga e pontos de encontro seguros definidos em comunidade. Por fim, no caso de demora no restabelecimento das condições de retorno, devem ser pensados abrigos com grande capacidade, como salões e galpões.

Abrigos com grande capacidade. Imagem de Desastre em Teresóplis/RJ.

Em suma, o planejamento para eventos extremos, sob a ótica da permacultura, aumenta a consciência e a resiliência das comunidades, reforçando a importância da sustentabilidade para a segurança e permanência no ambiente natural.

Referências

Costa, J. de A. (2012). O FENÔMENO EL NIÑO E AS SECAS NO NORDESTE DO BRASIL. EDUCTE: Revista Científica do Instituto Federal de Alagoas, 3(1). https://periodicos.ifal.edu.br/educte/article/view/13 

Eventos extremos | Observatório de Clima e Saúde. (s. d.). Recuperado 2 de outubro de 2025, de https://climaesaude.icict.fiocruz.br/eventos-extremos-0 

Morrow, R. (2014). Earth User’s Guide to Teaching Permaculture. Permanent Publications.

O que são eventos climáticos extremos e por que eles são tão perigosos? (2024, maio 10). National Geographic. https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2024/05/o-que-sao-eventos-climaticos-extremos-e-por-que-eles-sao-tao-perigosos 

Tomas, W. M., Mourao, G. de M., Campos, Z. M. da S., Salis, S. M. de, & Santos, S. A. (2009). Intervenções humanas na paisagem e nos habitats do Pantanal. Corumbá: Embrapa Pantanal, 2009. http://www.alice.cnptia.embrapa.br/handle/doc/797657