O planejamento permacultural

Na permacultura o método de planejamento do espaço ou da paisagem considera em seu roteiro diferentes escalas. De forma simples, avalia-se primeiramente o Contexto socioambiental em que está inserida a paisagem para definirmos os Setores de fluxos energéticos. Uma vez compreendida a dinâmica dos fluxos, parte para o Conceito de planejamento, que no caso da permacultura, focaliza na conservação de energia por meio da definição de Zonas energéticas. Por fim, faz-se uma Análise de elementos e escolha das melhores Técnicas de manejo, para definir o que será implantado ou não no espaço.

As escalas e o método de planejamento em permacultura. Figura: Arthur Nanni.

Um bom planejamento permacultural precisa contar com um bom diagnóstico do Contexto local por meio da leitura da paisagem, que nos mostrará como e onde se dão os fluxos energéticos. Assim, poderemos definir setores de ocorrência preferencial de uma ou outra manifestação energética na paisagem.

O planejamento permacultural tem por Conceito básico a conservação de energia, que visa o menor esforço possível de quem maneja a paisagem planejada. Assim, após definirmos os Setores, passamos a pensar no humano como um elemento na paisagem, que possui características como ser vivo, tem suas necessidades e irá modificar a paisagem cumprindo funções. Essas funções são os afazeres cotidianos que precisam ser realizados para seguirmos vivendo em um ambiente saudável, que permita nossa vivência, ou melhor, permanência.

Setores a partir dos fluxos energéticos na paisagem.

Para tal, organizamos aqueles elementos – coisas que necessitamos no cotidiano – de modo a posicioná-los relativos à frequência de manejo e a interrelação com outros elementos. Dessa forma, uma horta ficará mais perto da casa, pois exigirá mais cuidado do que um talhão de árvores para lenha, que precisará de menos atenção nossa ao longo do tempo. Por sua vez, um galinheiro será posicionado próximo à horta para que o estero das galinhas seja usado nela, sem que o manejador tenha de transladar o esterco por uma distância muito grande, lhe poupando esforço físico. Esse posicionamento relativo irá agrupar os elementos afins em espaços demarcados, que facilitarão nosso acesso dentro da frequência necessária para manejar o que for preciso. Esses espaços demarcados são conhecidos na permacultura como zonas energéticas, ou simplesmente Zonas.

Zonas energéticas e frequências de manejo. Fonte: Traduzido de Wikimedia Commons.

Para definir que elementos iremos inserir na paisagem, fazemos uma análise de cada “coisa”, ou como mencionamos na permacultura, uma Análise de elementos. Dessa forma, avaliamos todas nossas necessidades de “coisas”, considerando suas características intrínsecas, necessidades e funções na paisagem planejada. É importante ter em mente que um elemento é algo que exigirá nossa atenção e, para atendê-lo, teremos de fazer usos de Técnicas. É importante destacar, que na natureza, cada “coisa” cumpre muitas funções e, como na permacultura, fazemos uma mímica da natureza, cada elemento também deverá cumprir muitas funções. Quanto mais funções um elemento cumprir, menos energia teremos de dispender no manejo próximo, pois as necessidades desse elemento já terão sido atendidas pela função do anterior. De brinde, ganhamos tempo e, consequentemente, qualidade de vida.

Tempo e Energia gastos em relação ao abrigo, onde passamos a maior parte do tempo.

Ainda no método de planejamento, partindo-se de um espaço sem elementos pré-existentes, deve-se seguir a implantação das zonas conforme a sua necessidade de permanência, ou simplesmente, partir do abrigo (casa) para a periferia, depositando suas energias na conformação dos elementos mais necessários ao longo da sua permanência no tempo e na paisagem.

Empilhamento de zonas energéticas

O modelo clássico de zoneamento proposto por Bill e David na Austrália, considera um estabelecimento horizontal das zonas no terreno, pois foi pensado para contextos de climas subtropicais a temperados, onde as atividades se dão geralmente de forma radial, partindo-se de um centro, que geralmente é o abrigo.

Para contextos climas tropicais, como é o caso brasileiro, podemos fazer um empilhamento de zonas por meio de sistemas agroflorestais ou mesmo pela aplicação de princípios de estratificação propostos pela agricultura sintrópica. A horta (zona 1) está junto da roça (zona 2), que por consórcio está dentro do pomar (zona 3), que está junto das espécies lenhosas de longo e curto prazo (zona 4), mantendo os estratos. As zonas 0 e 5 permanecem separadas.

Fonte: Agrofloresta em quadrinhos ( 2019).

O planejamento em regiões semiáridas

A importância do contexto nos coloca ainda a necessidade de estabelecer condições mínimas de estar e permanecer em uma paisagem. No caso de regiões semiáridas, a falta de água pode ser crucial para permanecer em um espaço, pois mesmo com a implantação do abrigo (Zona 0) e a implantação lenta das demais zonas em direção à periferia do espaço, se não houver garantia de água, ninguém permanecerá para seguir vivendo ali.

Então, para contextos de climas semiáridos e, partindo-se de um espaço sem elementos pré-existentes, sugere-se iniciar com a implantação de dispositivos de retenção de águas na paisagem, como valas de infiltração, terraços, caixas-secas e outros adaptados ao contexto local, nas porções periféricas do espeço que serão conformadas como Zona 5 no futuro. Após a implantação desses dipositivos, será necessário um pousio pousio para agregar águas e biomassa (energias) nas curtas temporadas das chuvas. Após agregadas essas energias, transforma essa porção em Zona 5 (sem manejo). Daí olha-se para a conformação da Zona 4 com a introdução de plantas fotossintéticas de ano todo e, finalmente, caminha para uma Zona 3… Dessa zona 3, a próxima pode ser a Zona 0 (casa), então, o manejador provavelmente terá condições de estabelecer moradia e, uma vez fixo no local, poderá implantar as zonas 1 e 2 com seu manejo mais intenso.

O vídeo a seguir traz uma ideia de plantas fotossintéticas de ano todo para o semiárido brasileiro.

Análise de elementos