Criação de animais

Atualizado em

Arthur Nanni


Na natureza a intensa relação entre fauna, flora e fungi busca sempre a estabilidade ecológica e a prosperidade mútua dos seres vivos. Inspirada nessa natureza, a permacultura prioriza a presença abundante de animais e vegetais integrados em ambientes planejados.

Galinhas soltas são mais funcionais

Em espaços rurais familiares comumente vemos a criação de galinhas em pequenas áreas/piquetes cercados com o galinheiro dentro. Isso visa evitar que as galinhas saiam e causem prejuízos à produção de plantas de ciclo curto, como hortaliças. Já o galinheiro, é pensado para dar abrigo/proteção contra predadores.

Ao cercar as galinhas protegemos a horta, mas angariamos mais trabalho ao ter de alimentá-las, bem como, limitamos a sua alimentação aos restos que fornecemos para alimentá-las. Além disso, deixamos de aproveitar algumas funções desse elemento, como controle de insetos indesejáveis, o revolver da serapilheira e a adubação difusa, entre outras.

E se soltássemos as galinhas e cercássemos a horta? Criar animais soltos é potencializar o número de funções que esse elemento pode exercer na paisagem planejada, melhorando a eficiência energética do espaço de vida e produção. Para tal, precisamos inverter esse pensamento de enclausurar pequenos animais em áreas limitadas e, cercar de forma permanente com telas ou tramas a horta e roças, visando evitar prejuízos às culturas, tanto pelos animais domésticos, quanto os silvestres.

Características

Um espaço de vida familiar e produção de alimentos com criação de animais, hortaliças, bananas e roças de cana e milho. Galinhas e os porcos são elementos animais móveis, a horta, o bananal e as roças são elementos vegetais, portanto, imóveis.

Necessidades

Integrar animais como galinhas e porcos com culturas vegetais, no intuito de alimentá-los e, ao mesmo tempo, adubar as plantas a partir do esterco e dejetos dos animais. Unido a isso, ajustar o uso de áreas de produção vegetal como piquetes delimitados por cercamento, buscando potencializar as funções dos elementos animais e reduzir a mão-de-obra de manejo do agricultor.

Funções

Integrar elementos na paisagem buscando otimizar o tempo necessário para alimentar outros animais. Além disso, promover a geração de adubo para ser usado nos elementos imóveis, adubar diretamente os bananais e, claro, manejar os animais com menos trabalho e, onde for possível, usar o cercamento de telas e tramas como escora para plantas trepadeiras como maracujá e chuchu.

A técnica em detalhe

No planejamento permacultural a adoção de elementos no espaço planejado é sempre assistida de uma análise destes, de acordo com sua tipologia. Assim, os elementos podem ser definidos em três grupos: animal, vegetal e estrutural.  Entenda mais sobre a análise de elementos em Planejamento permacultural.

Animais, como galinhas e porcos, possuem como característica a sua mobilidade. Já as plantas da horta e das roças, como vegetais, são imóveis e o galinheiro, estrutural, pode ser imóvel ou móvel. Esse quesito de ser móvel ou não, irá influenciar na tomada de decisão sobre quais elementos devem ficar cercados ou não, visando aproveitar um maior número de funções de cada um.

Na busca pela harmonização destes elementos na paisagem produtiva, uma família de Congonhas do Norte/MG, resolveu criar galinhas soltas em meio ao bananal (Zona 2) e às roças (Zonas 3), utilizando essas áreas como piquetes, quando as plantas atingem um porte que as galinhas não geram prejuízos. A horta (Zona 1) é mantida cercada por telas, para evitar perdas com a entrada das galinhas.

Zonas energéticas no espaço com destaque para a Zona 1 cercada com tela. Foto de Arthur Nanni.
Detalhe do cercamento com tela com a Zona 1 envolta pelas Zonas 2 e 3, que operam como piquetes para as galinhas. Foto de Arthur Nanni.
Zona 1 cercada com tela para proteção da produção de hortaliças. Foto de Theo Nanni.

Ao invés de ter a horta muito próxima a casa, na Zona 1, a família optou por ter um bananal onde ficam o galinheiro e o chiqueiro, possibilitando a soltura local dos animais para que possam se alimentar e fertilizar diretamente os solos com seus excrementos. O uso de bananeiras na dieta das galinhas pode promover o controle de endoparasitas, melhorando a sua qualidade de vida.

Quando as  plantas de cana e milho estão maiores nas diferentes roças que constituem as Zonas 3, essas áreas passam a ser operadas como piquetes para as galinhas se alimentarem, promovendo o revolvimento superficial da serapilheira e a adubação dos plantios.

Adicionalmente, a família cria porcos em um piquete pequeno com chiqueiro que fica na porção montante do bananal. Essa posição permite a “lavagem” e o escorrimento da carga orgânica bananal abaixo, complementando a adução feita pelas galinhas. Como resultado, em plena estação das secas na região, o bananal segue verdejante e produtivo.

No intuito de aproveitar recursos locais, ao invés de usar telas industriais, pode-se optar pelas cercas vivas com fibras tramadas, como fazem agricultores da região Norte ou, ainda, cercamentos feitos de tocos de madeiras tramadas com arames, como no Nordeste. Já o uso de bambus autotramados ou guiados por arame, são mais utilizados em espaços de permacultura presentes no contexto fitoecológico da Floresta Atlântica. Assim, seguindo adaptações necessárias a cada contexto local, a técnica pode ser adotada em qualquer parte do país.

Verificação de aplicação

A técnica foi verificada em julho de 2024 no espaço de vida de Eustáquio e Helena em Congonhas do Norte/MG. Somos gratos a parceria do Espaço Educacional Contraponto que nos indicou e guiou até o local para registro dessa técnica de manejo.

Lena, Eustáquio e filhos. Locais de permacultura e agroecologia são sempre cheios de graça. Foto de Alessandra Calvão.

Referências de suporte

Correia, Y. de M., Rocha, F. R. T., Silva, J. M. V. da, Martins, A. V., Pires, L. C., Santos, H. S. V. dos, & Rocha, C. H. R. (2017). Uso da bananeira na alimentação animal para o controle de endoparasitas. Anais da Semana do Curso de Zootecnia – SEZUS, 11(1). //www.anais.ueg.br/index.php/sezus/article/view/9363

Lima, L. B., & Souza, E. de. (2021). Nota técnica III – Galinha caipira e a valorização da biodiversidade. FASE Amazônia. https://www.fundoamazonia.gov.br/export/sites/default/pt/.galleries/documentos/acervo-projetos-cartilhas-outros/Fase-Amazonia-Agroecologica-Nota_Tecnica-III.pdf