Um número delas
Seja bem-vindo ao segundo número da Revista Perma, que se destaca a expressiva contribuição de permacultoras brasileiras, que trazem uma perspectiva única e valiosa para a construção de sistemas sustentáveis atuando como educadoras, pesquisadoras, mães, agricultoras e ativistas, inspirando e transformando comunidades. Esta edição apresenta, na forma de artigo científico, relatos de experiência e traduções e resenhas, projetos de permacultura liderados por mulheres que promovem a autonomia alimentar e ajudam a construir comunidades mais resilientes. São experiências de luta pela defesa da permanência por meio da agroecologia e da justiça social, construindo com seu protagonismo, políticas públicas de “baixo para cima”, alimentando a transição para um modelo autogestionado de envolvimento comunitário.
Existe um movimento mundial buscando valorizar a presença das mulheres na Permacultura. Iniciativas como Permaculture Women Magazine procuram elevar as vozes das mulheres na permacultura hospedando a própria revista online para dar espaço à “Guilda” das mulheres na permacultura. Di Biasio11, em seu artigo “Women in Permaculture: Why an all-women-led PDC?” argumenta a favor de PDC (Permaculture Design Certificate – do inglês) pensados e voltados especificamente para mulheres; comenta que as mulheres iniciaram, criaram e administraram negócios éticos, propriedades rurais, centros comunitários, PDC e outros empreendimentos semelhantes quase desde que a permacultura viu a luz, no início dos anos 80. No entanto, foram muitas vezes excluídas, ignoradas, silenciadas ou tiveram suas vozes minimizadas por atitudes e atos de homens e até mesmo de outras mulheres.
Para Djalma Nery2,
“o que parece estar se anunciando nas discussões cada vez mais presentes no interior da ‘comunidade permacultural’ brasileira e mundial, é a proposta de um novo salto, onde, reconhecidos os limites da atuação local e individualizada, parte-se agora para uma articulação regional e global, na busca da ação e da prática comum balizada pelos princípios éticos da permacultura, pois o coletivo é sempre mais forte que o indivíduo”.
No Brasil, a luta pela preservação da agrobiodiversidade conta com muitas mulheres na linha de frente. As indígenas, quilombolas, ribeirinhas, caiçaras e agricultoras familiares, dentre outras, têm uma contribuição histórica na agricultura e na defesa do meio ambiente. Torres e Camargo (2024)3 destacam a centralidade da ação de mulheres como Maíra Silva, especialista em Agroecologia e Educação do Campo, e quilombola da comunidade Ivaporunduva, no Vale do Ribeira (SP), que ressalta a importância de falar de feminismos que reconheçam e valorizem as experiências de mulheres indígenas, negras e de comunidades tradicionais: “Todos esses povos ajudaram na manutenção da biodiversidade, produzindo junto com a floresta. É fundamental reconceituar a tecnologia e compreendê-la como uma construção, uma concepção e uma execução do fazer”.
Compreende-se que a permacultura é muito mais do que ação, visto que há necessidade de observação e escuta (da paisagem, do ecossistema, da comunidade) antes que os projetos sejam implementados. Mulheres tendem a ter uma melhor compreensão do aspecto holístico, algo que pode beneficiar as iniciativas permaculturais como um todo.
Tenha uma boa leitura!
- DI BIASIO, S. Women in Permaculture: Why an all-women-led PDC? PermacultureWomen, 2018. ↩︎
- Por uma Permacultura morena e ecossocialista. OutrasPalavras, 2016. ↩︎
- TORRES, L. e CAMARGO, L. Quem são as mulheres que pesquisam e constroem a agroecologia no Brasil. Brasil de fato, 2024. https://www.brasildefato.com.br/2024/08/19/quem-sao-as-mulheres-que-pesquisam-e-constroem-a-agroecologia-no-brasil ↩︎