Planejamento para eventos extremos

Importância

Em um mundo que passa por fortes mudanças ambientais, os eventos extremos de dissipação de energia na natureza estão cada vez mais frequentes. Nesse cenário, passar informações aos participantes se torna cada vez mais importante, visto que muitos deles procurarão terras não ocupadas e muitas vezes degradadas para se estabelecer e viver.

Objetivos

Apresentar os eventos extremos e suas formas de manifestação, intensidades, locais mais comuns de ocorrência e propor estratégias e ações de planejamento que possam prevenir incidentes e aumentar a resiliência humana frente a catástrofes.

Conteúdo mínimo

É preciso classificar os eventos extremos, desde os menos nocivos até os mais desastrosos para o conhecimento do máximo de possibilidades e a nossa permanência em um determinado assentamento humano.

Consideram-se os eventos menos nocivos aqueles que podem ser contornados com estratégias de resiliência e mais nocivos ou desastrosos os que demandam reparações no ambiente planejado.

Dica: É importante lembrar que como espécie migratória, a humanidade viveria em plena harmonia com eventos extremos, pois jamais precisaria estar presa a uma única paisagem, podendo assim, migrar atrás de recursos necessários à sua sobrevivência. Porém, esse cenário migratório é impossível dentro da realidade de capacidade de suporte planetária ultrapassada e na vigência do direito de propriedade impetrado pela nossa civilização “moderna”.

Metodologia

Uso de aula interativa, expositiva e participativa para aflorar as opiniões do grande grupo acerca dos eventos extremos.

A aula interativa compreende dois momentos separados por uma breve exposição conceitual. A primeira interação é dedicada ao reconhecimento dos eventos extremos, para saber como lidar com eles. Nela o instrutor deve mediar as opiniões e também conduzir o grupo ao objetivo principal. Logo após, há um tempo para que o instrutor possa repassar alguns conceitos-chave sobre eventos extremos. Após isso, é sugerida uma segunda interação em que os alunos são separados em grupos para discussão dos fenômenos associados a cada elemento natural.

Primeira interação

2 horas

Separe os participantes em grupos que representam os elementos naturais – água, fogo, ar e terra. É aconselhável usar os mesmos grupos preestabelecidos que irão seguir unidos até o projeto final de planejamento.

Após isso, solicite que cada grupo liste os eventos extremos vinculados ao seu elemento natural. Assim, o grupo “água” listará os eventos que julguem vinculados à água e assim por diante. Para isso serão necessários cerca de 15 minutos de discussão em grupo.

Após esse momento, o instrutor cria um gráfico com dois eixos ortogonais e nomeia os eixos de acordo com cada elemento natural, opondo ar à terra e fogo à água. Se desejar, o instrutor pode ainda inserir uma escala de 1 a 5 ou de 1 a 10 para cada um dos lados dos eixos, buscando dar visibilidade às diferentes intensidades dos eventos extremos que virão no próximo passo.

Momento da primeira interação mediada pelo instrutor. Foto: Marcelo Venturi.

A seguir, o instrutor irá preencher o gráfico com os eventos extremos listados por cada grupo, inserindo-os de acordo com a intensidade de cada evento, ao longo do eixo correspondente ao elemento natural (essa inserção também pode ser feita por algum participante de cada grupo). Segue-se o processo com os demais grupos, buscando mostrar haver eventos promovidos por mais de um elemento natural (por exemplo, a erupção vulcânica) que podem ficar localizados entre os respectivos eixos (entre terra e fogo neste caso).

Construa o gráfico respeitando a disposição dos elementos naturais antagônicos. Assim, posicione o ar em oposição à terra e a água em oposição ao fogo.  Por questões didáticas é interessante posicionar no eixo vertical os elementos conforme vemos na natureza. Dessa forma, temos duas opções de posicionamento: o fogo, que tende a subir, em cima e a água, que tende a descer, embaixo ou o ar em cima e à terra embaixo.

A disposição didática mais adequada, conforme a figura a seguir, coloca no eixo vertical à terra embaixo, o ar em cima e, no eixo horizontal, a água e o fogo. Isso se deve em virtude do que compreendemos em termos de visão, pois vemos sempre à terra como base para tudo, o ar sempre acima e as manifestações vinculadas à água e ao fogo sempre ocorrendo junto à superfície da terra.

Elementos naturais e eventos extremos associados distribuídos pelo grupo de participantes no gráfico.

Após todos os elementos inseridos no gráfico, consulte todos os participantes a respeito dos eventos extremos que são passíveis de serem prevenidos através do planejamento. Com a opinião geral, trace uma linha que envolva esses eventos. Como resultado, teremos uma linha que irá separar os eventos preveníveis dos mitigáveis.

Delimitação, baseada no entendimento dos participantes, a respeito dos eventos extremos preveníveis e mitigáveis.

O gráfico parece completo, mas não está. É necessário inserir o fator antrópico, ou seja, da espécie humana desconectada da natureza. Em conjunto com todos os participantes, solicite que indiquem alguns eventos extremos causados pela ação humana e elenque-os de acordo com a intensidade, assim como foi feito com aqueles vinculados aos demais elementos naturais.

A sugestão de representação no gráfico é inserir um imaginário eixo “z”, que representa esse fator antrópico, e tentar identificar como esses eventos extremos de cunho antrópico influenciam nos demais. A resultante será uma espiral que permeia todos os elementos e tem a potencialidade de incrementar ou reduzir seus efeitos. Siga na discussão sobre como serão essas mudanças.

Elenco de eventos extremos vinculados ao fator antrópico e sua inserção no gráfico. Foto: Arthur Nanni.

Exposição

30 min

Uma vez incorporados os eventos extremos, sua vinculação com cada elemento natural, ranqueadas as suas intensidades e separados os eventos preveníveis dos remediáveis, é importante explicar os conceitos de desastre, vulnerabilidade, risco, adaptabilidade e resiliência:

  • Desastre – evento de causa natural, comportamental, antrópica e/ou tecnológica que afeta a normalidade do funcionamento dos ecossistemas e das sociedades que dele dependem.
  • Vulnerabilidade – é a situação que indica um estado de fraqueza, insegurança ou instabilidade que pode se referir tanto ao comportamento das pessoas, a objetos, condições, ideias e outros.
  • Risco – é quando, uma vez vulnerável a uma determinada situação, há a possibilidade de haver danos e prejuízos à sociedade, afetando a economia e os ecossistemas.
  • Resiliência – É a capacidade de algo retornar ao seu equilíbrio dinâmico e se manter íntegro para perfazer suas funções.
  • Adaptabilidade – É a capacidade que algo ou alguém possui em relação a sua adaptação a condições impostas.

Segunda interação

60 min

Após compartilhado esse conhecimento, chegou a hora de aplicá-lo ao planejamento. Assim, solicite que os grupos se separem novamente e estabeleça as seguintes atividades:

  • Pensar/discutir a respeito de métodos/formas de prevenir e remediar os eventos extremos vinculados ao seu elemento natural (20 min).
  • Elencar cada evento e as técnicas encontradas em uma breve apresentação (10 min).
  • Apresentar ao grande grupo os resultados (30 min).
Um dia ensolarado com grupos de pessoas sentados na grama discutindo sobre eventos extremos.

Grupos separados pelos elementos naturais discutindo sobre técnicas de planejamento para eventos extremos. Foto: Marcelo Venturi.

Dica: A apresentação irá suscitar discussões que estimularão os feedbacks coletivos. Aproveite a discussão para aprofundar o conhecimento.

Atividade no EaD

Conteúdo Complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Referências sugeridas

Morrow, R. (2014). Earth User’s Guide to Teaching Permaculture. Permanent Publications.

Vũ, H. L. (2018). Permaculture solutions for climate change, case study in da Bac district, Hoa Binh province.  https://www.academia.edu/37563430/PERMACULTURE_SOLUTIONS_FOR_CLIMATE_CHANGE_CASE_STUDY_IN_DA_BAC_DISTRICT_HOA_BINH_PROVINCE

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Energias

Importância

Em um CPP cuja estrutura é pautada pelos fluxos energéticos, a temática das energias é de extrema importância na formação básica em permacultura. A partir da sua abordagem, será possível compreender os diferentes fluxos na paisagem, o que permitirá fazer com que o ambiente planejado seja eficiente do ponto de vista do manejo, pois o tempo e a energia não gastos, poderão ser mais bem empregados em outras atividades cotidianas.

Objetivos

  • Introduzir o conceito de energias renováveis e não-renováveis.
  • Abordar o conceito de energia incorporada ou emergia e as perdas por conversões.
  • Identificar o sol como o nosso provedor de energias renováveis.
  • Visualizar as energias que moldam a paisagem e seus fluxos.
  • Perceber os ecossistemas como sistemas abertos.
  • Interpretar os diferentes aproveitamentos de fluxos energéticos paras serem usados a nosso serviço.

Conteúdo mínimo

Energias na paisagem, estocagem, emergia, aproveitamento e tecnologias apropriadas.

Metodologia

Promover o reconhecimento das diferentes energias disponíveis na paisagem através de dinâmica interativa com a participação de todo o grupo de permaculturandos.

Expor de forma sistematizada como a energia do sol se transforma em outras por intermédio de sua contínua conversão em diferentes fluxos. Nessa sistematização é necessário mostrar também onde é possível usar energias que são provenientes do calor interno do planeta, como, por exemplo, a geotermal.

Aula interativa

Energias na paisagem

90 min

Selecione um bom tanto de fotos de paisagens incluindo diferentes locais, morfologias de terreno e climas no mundo. Separe uma dúzia delas, deixando bem sortidas as cenas para fazer com que os participantes possam opinar sobre fluxos energéticos em diferentes paisagens.

Dica: Use imagens de acesso livre para confeccionar seus materiais didáticos. Um bom banco pode ser encontrado em Wikimedia Commons ou em Pexels. Você pode acessar aqui um conjunto de imagens obtido no Wikimedia Commons, que utilizamos nessa aula, mas vale pesquisa por outras na fonte indicada.

Projete uma primeira imagem (costumamos projetar uma que apresenta uma rede de alta-tensão) e pergunte ao grupo: “Onde está a energia?”. Várias respostas virão, como “nos cabos da rede” (o mais óbvio). Outros dirão “no vento”, pois parece ventar muito nessa paisagem. Renomeie os arquivos das imagens; deixe numa sequência previamente sabida por você e siga alguns passos:

  • Siga perguntando com base na mesma paisagem. “Onde mais tem energia”? Dê alguns estímulos, do tipo “Pega sol nesse lugar?”, “Vocês consideram ser frio ou quente aí?”.
  • Devem aparecer ao todo seis energias: sol, vento, água, minerais, biomassa e gravidade. Vê-se que desse grupo temos tanto as potenciais, como as cinéticas (em conversão). Geralmente “gravidade” aparece por último, pois a ignoramos sumariamente, por ser tão óbvia.
  • Com essas energias colocadas, crie uma tabela inserindo números nas colunas ou nome para cada uma das 12 ou mais paisagens, selecionadas previamente. Nas linhas, coloque às seis energias.

Paisagem natural em Uganda. Fonte: Dave Proffer (2007).

  • Tente estabelecer/interpretar com o grande grupo quais as energias presentes na paisagem e qual a intensidade de cada uma, procurando hierarquizá-las na tabela, por exemplo, na imagem acima, da savana em Uganda – solar > vento > mineral > biomassa > água > gravidade. Sugere-se colocar números de 1 a 6 na tabela para ranquear as diferentes energias e evidenciar para o participante as melhores a serem aproveitadas.
  • Faça o mesmo procedimento com as demais paisagens, como na imagem abaixo, do interior da Áustria – água > mineral > sol > biomassa > vento > gravidade. Veja que a interpretação é subjetiva. Por essa razão, a decisão precisa ser tomada em grupo, e o papel do instrutor é o de intermediar as opiniões, preencher a tabela e ir elucidando o porquê dessa hierarquização de intensidade de energias na paisagem.

Paisagem na Áustria. Fonte: Zeitblick (2015).

O resultado será uma matriz com esses escores definidos pelo grande grupo, possibilitando o reconhecimento e o estabelecimento de prioridades de aproveitamento das diferentes energias/fluxos em cada paisagem.

Dica: Procure inserir uma foto da paisagem onde está sendo ofertado o CPP para que os participantes locais possam reconhecer e “se reconhecer” na aula interativa. Caso você saiba a proveniência de cada participante, procure inserir fotos dos seus locais de origem, buscando o mesmo efeito. Não se esqueça de contemplar paisagens em outros climas, pois a formação em permacultura como ciência prevê sua aplicação em todo o planeta.

Comparativo de intensidades de fluxos em cada paisagem construída na dinâmica de grupo. Fonte: Videoaula do “CPP EaD Terra Permanente” – Rede NEPerma Brasil.

Exposição

60 min

No intuito de resumir a aula interativa anterior e esclarecer eventuais dúvidas quanto às energias que fluem no planeta, faz-se necessária uma breve exposição a respeito de como o Sol é o grande promotor de geração e transformação de energias em torno da superfície terrestre. Nessa exposição, costumamos trazer algumas imagens que mostram de forma sistêmica como esse processo de transformação da energia se dá na Terra, estabelecendo um momento de reflexão por parte do participante, que passa a vislumbrar outras possibilidades de aproveitamento/conservação de energia na paisagem que está planejando.

Resultados da dissipação/transformação da energia do Sol quando chega à superfície do planeta. Fonte: Cena da aula de “Energias” utilizada pelo NEPerma/UFSC.

Ainda nessa etapa conceitual, a abordagem do conceito de “emergia” deve ser introduzido. Sua abordagem deve ser o mais lúdica possível, na busca de traduzir o pensamento sistêmico aos permaculturandos e fortalece a análise ambiental crítica individual e coletiva. Em nossos cursos gostamo muito de usar o breve vídeo A extraordinária vida e tempos de um morango.

O conceito de emergia abordado de forma lúdica.

Na segunda parte dessa exposição é possível fazer a apresentação das tecnologias apropriadas para manejar os fluxos energéticos na paisagem. Isso possibilita mostrar como transformar estes em outros tipos de energia, como a elétrica, por exemplo, e também, mostrar como, no manejo, é possível estocar essas energias de forma dinâmica na paisagem, ou seja, mantendo os fluxos.

As tecnologias sugeridas para transformação/conversão local de energias. Fonte: Cena da aula de “Energias” utilizada pelo NEPerma/UFSC.

O fechamento dessa parte de ensino deve colocar uma sétima energia, a animal. Nessa, estamos inseridos como promotores de fluxos e força de trabalho, mas também como planejadores, que decidirão como e onde se dará a nossa participação e a de outras espécies animais no ambiente planejado.

Atividade no EaD

  • Conforme a área escolhida para o planejamento permacultural, solicite ao aluno que reconheça e liste as energias que fluem na paisagem, enumerando-as da mais para a menos intensa.
  • Com base nas energias identificadas, solicite que o participante apresente os melhores aproveitamentos e as tecnologias apropriadas para tal e argumente sobre sua decisão de escolha, lembrando-lhe que ele está buscando a sua autossuficiência energética.

Conteúdo complementar

Vídeos

  • Assista à playlistEnergias” no canal da Rede NEPerma Brasil.

Leitura

Aula

Referências sugeridas

MARS, R. O design básico em permacultura. Porto Alegre: Via Sapiens, 2008.

Chapter 7 – Houses, water and energy and Chapter 17 – Animals. In: MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 02 mar 2022.

ODUM, E. P.; BARRETT, G. W. Fundamentos de ecologia. Trad. Pégasus Sistemas e Soluções. São Paulo: Cengage Learning, 2008. 612 p.

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Águas

Importância

Assim como os demais elementos a serem inseridos na paisagem de planejamento, as águas também possuem características, necessidades e funções. Uma aula específica para abordar o tema no processo de formação em permacultura, se deve ao fato de das águas serem consideradas como um elemento naturalmente presente e, na maior parte das vezes, necessário em todas as zonas.

Objetivo

Fazer com que o participante compreenda as águas que fluem na paisagem de forma sistêmica, visando manejá-las como uma fonte de energia, um fluxo que pode e deve ser sistematizado no planejamento.

Conteúdo mínimo

É importante mostrar as águas como elemento fluido na paisagem de planejamento. Assim, esse entendimento necessita abordar:

DETALHAR CADA UM DOS ITENS A SEGUIR

  • O ciclos das águas em escala global, regional e local; MACRO
  • Os ciclos curtos; MESO
  • A percepção individual dos ciclos; MICRO
  • O reconhecimento das características, necessidades e funções das águas;
  • Os reservatórios de águas: atmosfera, hidrosfera, pedosfera, biosfera e litosfera;
  • Estratégias possíveis de manutenção das águas nas diferentes zonas de planejamento;
  • As tecnologias apropriadas ao seu uso e manejo, e;
    • VINÍCIUS
  • A água como um bem comum.

CICLO GLOBAL – ESQUEMA

Desenho esquemático mostrando a movimentação das águas no grande ciclo, que envolve a evaporação nos oceanos e a migração da umidade para os conteinentes. Nessa migração há a formação de pequenos ciclos.

O ciclo das águas em grande escala e os ciclos curtos com atuação em escalas menores. Fonte: Traduzida de Widows (2015).

 

A CASA AUTÔNOMA – ESQUEMA

Metodologia

Uso de exposição de conteúdos intercalada com dinâmicas de grupo, como “Você é um pingo” e a “Água como elemento no planejamento”. Comente sobre as legislações pertinentes às águas e suas implicações para os diferentes usos da água.

De forma complementar, faça uma prática de aplicação dos conhecimentos na área de planejamento que será foco do projeto final do curso. Caso haja um espaço com uma boa sistematização das águas, proporcione uma visita técnica, unindo o tema das práticas de campo da ecologia cultivada com o de manejo das águas.

Exposição

60 min

Estruture em uma apresentação as bases conceituais sobre água para dialogar de forma mais tranquila com os participantes. Essa apresentação deve iniciar pela escala macro, mencionando o ciclo em escala global – aplicação da dinâmica “Você é um pingo” – e seguindo até a escala de percepção humana – a paisagem local. Aqui entra a dinâmica “Água como elemento no planejamento”. Siga apresentando suas peculiaridades na paisagem de planejamento e aborde as estratégias de manejo em cada zona energética.

Na sequência do conteúdo, apresente uma simulação de captação de águas das chuvas para sua região e, somente então, parta para as tecnologias apropriadas – técnicas de manejo.

Dinâmicas

Você é um pingo

10 min

Essa dinâmica é proposta logo após a apresentação da imagem do ciclo das águas na exposição de slides. Serve para fugir da mesmice do ciclo tradicionalmente apresentado quando se estuda o assunto.

A ideia dessa dinâmica é que ela seja lúdica para um público infantil, pois é em nossa infância que, com a cabeça “aberta”, fica mais fácil assimilar os ensinamentos.

Para iniciar, avise que esta é a história de um pingo, que cada um passará a ser um pingo e que, para isso, deverá voltar a ser criança. A partir desse ponto, solicite que todos fechem seus olhos. Daqui em diante não valem mais risos e manifestações de descontração. É preciso concentração!

Comece a narrativa de um pingo e seus amigos pingos a partir do mar, a agitação deles com o nascer do dia e o calor do sol. Narre a evaporação das águas e a ascensão dos vapores para a atmosfera. Desloque “os pingos” em direção ao continente com os ventos. Após isso, gere chuvas e faça os pingos entrarem em impacto com as folhas das árvores. Escoe os pingos pelas folhas em direção aos galhos e, após isso, ao caule. Migre até a serrapilheira e infiltre-se nos solos. Migre por entre os grãos do meio subterrâneo até uma nascente. Depois disso, seja ingerido por um animal e, finalmente, retorne a um curso de água através de sua urina. Daí em diante é só migrar com todos os seus amigos que partilharam dessa aventura até o mar, passando por rios mais turbulentos e mais calmos. No final, você, “pingo”, reencontra uma galera amiga que ainda não conseguiu sair do mar.

Assista aqui a aplicação dessa dinâmica no modo presencial.

Água como elemento no planejamento

20 min

Essa dinâmica procura estabelecer as águas como um elemento na paisagem de planejamento. Para tal, sua análise em relação às suas necessidades, características e funções deve ser realizada.

É muito comum os participantes confundirem necessidades e características com funções. Isso se deve a uma criação falha devido a uma civilização que costuma enxergar apenas o lado utilitarista da natureza. Assim, vá corrigindo esses equívocos ao longo da interação. Uma forma de melhorar isso é projetar um slide com as palavras flutuantes “características”, “necessidades” e “funções” e solicitar ao grupo que mencione as características, depois as necessidades e, por último, as funções da água. Conduza o grupo e vá preenchendo cada um dos quesitos.

Só após esgotadas as possibilidades, projete aquelas respostas que você considerou, dentro do seu ponto de vista.

Projeção na tela com a análise do elemento água para permaculturandos pensarem no grande grupo. Fonte: Arthur Nanni

Na maioria das vezes o conjunto de respostas dadas pelo grande grupo é mais completo que o apresentado pelo instrutor ao final da interação. Isso pode ser abordado como um ponto positivo do pensar coletivo.

Proposta de exercício em grupos. Fonte: Arthur Nanni

Exercícios

Olhando para as águas das chuvas

60 min

Esse exercício busca promover a compreensão do regime de chuvas de uma determinada região e auxiliar na simulação de captação e dimensionamento do volume de armazenamento de águas das chuvas.

Separe os permaculturandos em grupos, que podem ser os mesmos definidos no exercício Planejamento produtivo para diferentes biomas, passe as normais climatológicas da região onde será realizado o projeto de planejamento final e as fórmulas e coeficientes.

Apresentamos uma simulação hipotética para o contexto bioclimático de Pirenópolis/GO. Para outros contextos bioclimáticos brasileiros deverão ser consultados dados de estações meteorológicas mais próximas, que podem ser obtidos em Normais Climatológicas do Brasil.

Práticas

Sistematize as águas

60 min

Reúna os participantes em grupos com a composição já definida para o planejamento final, distribua folhas para cartazes (papel kraft) e conjuntos de canetas e lápis. Projete a imagem da área de planejamento com as curvas de nível e os cursos de água. Consulte ou peça para a turma consultar as normais climatológicas de precipitação mensal e anual; o número provável de dias no ano e no mês com precipitação igual ou acima de 35mm e os valores da evapotranspiração potencial mensal e anual para a estação meteorológica mais próxima no sítio do Instituto Nacional de Meteorologia (endereço disponível nas referências).

Dê cerca de 30 minutos para que os grupos discutam sobre o manejo de águas na paisagem de planejamento. Reserve cerca de 20 minutos para que cada grupo apresente suas estratégias ao coletivo.

Atividades no EaD

Analise as águas como um elemento na paisagem

Analise as águas que fluem na paisagem como sendo um elemento no planejamento. Assim, enuncie:

  • As características intrínsecas da água.
  • As necessidades da água.
  • As funções da água.

Solicite que os mesmos enviem o resultado da análise no Ambiente Virtual de Aprendizado do curso.

Sistematização da água na propriedade

Descreva como é a dinâmica de águas na área escolhida para realizar o planejamento permacultural (quantos milímetros chove por mês, as variações sazonais, fontes, usos, tratamentos, escoamento, contaminantes, relações de vizinhança, secas e cheias). Aponte técnicas de uso das águas de consumo e de descarte que você considera que melhor se adaptariam a essa realidade e justifique cada uma delas.

Solicite a aplicação do exercício “Olhando para as águas das chuvas”, descrito anteriormente, para o contexto bioclimático onde o participante irá realizar o projeto de planejamento final.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aulas

  • Acesse o conteúdo das aulas sobre o tema Águas.

Referências sugeridas

INSTITUTO NACIONAL DE METEOROLOGIA (INMET). Normais climatológicas do Brasil, período 1981-2010. Disponível em https://portal.inmet.gov.br/normais. Acesso em 11 fev. 2022.

INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS (IPT). Manual para captação emergencial e uso doméstico de água de chuva. 2015. Disponível em: https://www.ipt.br/banco_arquivos/1200-Manual_para_captacao_emergencial_e_uso_domestico_de_AGUA_DA_CHUVA.pdf. Acesso em: 11 fev. 2022.

INSTITUTO DE PROJETOS E PESQUISAS SOCIOAMBIENTAIS (IPESA). Manejo apropriado da água. São Paulo: FEHIDRO, 2012. Disponível em: https://docplayer.com.br/4065410-Manejo-apropriado-da-agua-cartilha.html. Acesso em: 15 ago. 2019.

WIDOWS, R. Rehydrating the Earth: new paradigm for water. Holistic Science Journal ISSN 2044-4389, v. 2, n. 4, 2015. Disponível em: https://holisticsciencejournal.co.uk/ojs/index.php/hsj/article/view/118. Acesso em: 11 fev 2022.

WILKES, John. Flowforms, the Rhythmic Power of Water. Edinburgh: Floris Books, 2003.

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Método de planejamento do espaço

Importância

A metodologia de planejamento do espaço, proposta pela permacultura, é o passo-chave no processo de planejar um sistema, pois considera os fluxos energéticos presentes na paisagem, bem como aqueles demandados pelo permacultor, para manejar um espaço geográfico. Com sua aplicação, é possível reduzir os tempos e esforços para resolver as rotinas de manejo de um determinado assentamento humano, envolvendo a produção de alimentos e a manutenção dos elementos que irão compor o ambiente planejado.

Objetivo

Mostrar aos participantes a parte mais “sistemática” da permacultura, que congrega essencialmente os conhecimentos de ecologia, clima, padrões e leitura da paisagem.

Conteúdo mínimo

Setores climáticos, zonas energéticas e análise dos elementos, considerando suas características, necessidades e funções. Estabelecimento de conexões entre elementos e zonas.

Metodologia

  • Aula expositiva e dialogada com construção coletiva de conceitos, onde os participantes vão incorporando as relações de ambiente e espacialização de elementos.
  • Prática em grupos para análise de elementos.

Exposição

60 min

Introduza o cenário de contexto, conceito e técnicas, onde o contexto de planejamento está vinculado à paisagem que será planejada, ao número de habitantes, suas necessidades, características e funções. O conceito de planejamento é a própria aplicação da filosofia da permacultura incluindo as éticas e princípios de planejamento e, por fim, as técnicas de manejo adequadas para cada elemento entram para auxiliar no planejamento sistêmico.

As escalas e o método de planejamento em permacultura. Figura: Arthur Nanni.

A partir daqui à exposição torna-se participativa. Não há projeção de imagens, o conteúdo será construído a caneta/giz e em tempo real com a opinião dos participantes.

Sugerimos que comece pela escala dos elementos. Escolha um bem fácil de analisar, como, por exemplo, a galinha ou a minhoca. Desenhe o elemento no quadro, separe três balões, sendo um para necessidades, outro para características e mais um para funções. Dos três quesitos, sugere-se não começar pelas funções, pois elas devem aparecer naturalmente, uma vez que a maior parte das pessoas tem uma visão utilitarista da natureza. Pergunte, então, quais são as necessidades do elemento e peça que descrevam suas características intrínsecas. Paralelamente, vá inserindo funções que acabam sendo “cantadas” pelo grupo.

A galinha como exemplo de elemento móvel, suas características, necessidades e funções. Foto: Arthur Nanni.

A essa altura, proponha uma dinâmica hipotética, em que o grupo irá pensar em uma propriedade rural para atender às necessidades de uma família. Solicite que o grande grupo indique o que é preciso para viver no campo. Em um canto do quadro, vá anotando essas coisas (elementos) e deixe o restante do quadro (maior parte) em branco.

Após esgotar os elementos que o grupo deseja colocar no espaço hipotético, migre para o espaço em branco reservado. Coloque um Norte e tome a decisão de descrever setores do local onde está sendo desenvolvido o PDC. Desenhe as direções dos ventos principais, indique se são quentes ou frios, secos ou úmidos. Trace a trajetória do sol de verão e de inverno. Enfim, ponha no quadro os diferentes setores reconhecidos pelo grupo.

Após isso, coloque a casa no meio desse espaço em branco e siga para a distribuição de cada elemento listado pelo grupo. Posicione-os considerando a necessidade de tempo/energia a ser gasto para seu manejo. Mais do que isso, agregue informações das características de cada elemento e suas necessidades de manutenção e, não se esqueça de posicioná-los de forma a servir outros elementos além de você. A distribuição desses elementos tende a seguir a lógica energética, ficando os que necessitam de maior tempo de cuidado próximos da casa e vice-versa. Vá marcando/riscando na lista, aqueles elementos que já foram posicionados, para que os participantes possam ver o que ainda falta para ser alocado na paisagem.

Ao terminar de posicionar todos os elementos, desenhe as envoltórias das zonas energéticas e, ao terminar, faça uma espécie de curva de gasto de tempo e energia em relação a essas zonas, como se fosse um gráfico.

O Gasto energético de manejo na paisagem planejada, os elementos e as zonas. Foto: Arthur Nanni

Práticas

Análise de elementos

45 min

A ideia dessa prática é fazer com que os participantes, separados preferencialmente pela composição de seus grupos de planejamento final, possam iniciar o processo de análise de elementos, que será necessário ao projeto de conclusão do curso.

Materiais necessários:

  • folha parda ou cartolina com espaço para escrita e desenhos; e
  • canetas coloridas e lápis de cor.

Solicite aos participantes que escolham três elementos hipotéticos, sendo um animal, outro vegetal e, por fim, um estrutural. Solicite que os grupos façam a análise de cada elemento e definam as inter-relações entre eles. Essa análise de inter-relação é fundamental, porque o elemento cumpre a sua função direta e, somado a esses dois adicionais, poderá cumprir mais duas necessárias para ser inserido na paisagem de planejamento.

Prática de análise de elementos com a tutoria dos instrutores. Foto: Marcelo Venturi.

Reconhecendo zonas

60 a 180 min

Para essa prática deve-se ter um ambiente de campo planejado segundo a lógica energética da permacultura e, claro, um bom conhecimento sobre ele. O ideal é contar com o apoio de quem o planejou. No caso da disciplina da UFSC, são utilizadas geralmente propriedades permaculturais da Grande Florianópolis.

Prepare antecipadamente imagens aéreas desse ambiente planejado e imprima-as em folhas A4 em quantidade equivalente aos grupos que farão o projeto final, ou separe em três ou quatro grupos, caso os projetos finais sejam individuais. Distribua um conjunto contendo uma prancheta, a impressão e canetas em cores para cada grupo.

Dica: Use imagens do Google Earth capturadas via printscreen e imprima-as em uma folha. Insira elementos que possam dar ideia de dimensões (escala) e, claro, sinalize o Equador.

Mostre a imagem a todos os grupos e, uma vez separados, busque explicar-lhes como navegar olhando a imagem. Mostre onde estão no espaço e comente sobre a trajetória do passeio que farão nessa prática.

Alerte todos os grupos de que, ao longo da caminhada pela propriedade, serão apontados apenas elementos no sistema planejado. A tarefa de cada grupo é reconhecer a que zona pertencem determinados elementos. Após isso, dá-se início à dinâmica percorrendo um caminho que cruze todas as zonas e possibilite a visualização de suas trocas. A cada passagem podem ser feitos avisos a respeito da mudança de zonas, principalmente quando a mudança não for muito clara. Nessa caminhada, os grupos deverão desenhar a envoltória de cada uma das zonas energéticas na imagem.

Ao final da caminhada, cada grupo apresenta sua interpretação de zonas, e o instrutor faz uma breve discussão sobre as diferenças de cada interpretação, buscando clarear a distribuição das zonas energéticas. Nesse momento, vários conceitos-chave poderão/deverão ser trabalhados. O uso de um gabarito ajudará no processo didático. Caso algum grupo tenha acertado a distribuição das zonas, utilize essa interpretação como gabarito.

Atividade no EaD

Fixando os conceitos de zonas

Sugira uma zona energética correspondente para cada questão colocada conforme as características apresentadas:

  • Área onde há floresta preservada ou em estágio de regeneração. Serve como barreira física perante outras propriedades. Local de inspiração, descanso e lazer. (Zona 5)
  • Compreende a casa ou edificação principal. (Zona 0)
  • Espaço intensamente manejado, com árvores que necessitam de podas, frutíferas de pequeno porte, açudes e criação de aves. (Zona 2)
  • Espaço com a menor interferência humana possível. (Zona 5)
  • Aqui devem estar elementos que necessitam pouco manejo, como cultivos perenes, anuais ou bianuais. (Zona 3)
  • Utilizada para extração de madeira, serapilheira, alguns frutos e sementes. (Zona 4)
  • Podem ser criados aqui animais que se sustentam sozinhos, aqueles que necessitam o mínimo de atenção humana. (Zona 4)
  • Local onde há maior interação e convívio entre as pessoas. (Zona 0)
  • Onde se encontram a horta, composteira, plantas medicinais e ervas de uso rotineiro. (Zona 1)
  • Espaço ao redor da casa ou edificação principal. (Zona 1)

Metodologia do planejamento

Para esta atividade, solicite ao aluno que trabalhe no croqui feito anteriormente na atividade de leitura da paisagem.

  • Setores: com base na interpretação da paisagem da propriedade realizada na aula sobre Leitura da Paisagem, defina e desenhe os setores no croqui da propriedade:
    • insolação no inverno e verão;
    • ventos e suas épocas predominantes;
    • risco de incêndios;
    • áreas úmidas; e
    • fonte de ruídos e outras interferências externas.
  • Zonas energéticas: com base na rotina e no propósito da propriedade, estabeleça a melhor distribuição para zonas energéticas. Desenhe-as sobre o croqui. (O desenho pode ser feito no software de sua preferência ou a mão e, após, escaneado ou fotografado para envio a um tutor).
  • Análise de elementos: a partir dos elementos mapeados no módulo anterior para a propriedade que você escolheu:
    • Realize a análise de elementos, estabelecendo as características intrínsecas, as necessidades e as funções para cada elemento. Sistematize-os em forma de tabela.
    • Uma vez determinadas essas variáveis, reposicione os elementos nas zonas energéticas.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Referências sugeridas

MARS, R. O design básico em permacultura. Porto Alegre: Via Sapiens, 2008.

Permaculture design strategies and Techniques. In: MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 04 fev 2022.

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Leitura da paisagem

Importância

As diferentes paisagens a serem planejadas precisam ser incorporadas na visão do permacultor, para serem melhor compreendidos os fluxos energéticos que serão utilizados no dia a dia do território planejado. Reconhecer a paisagem e definir seus potenciais e suas limitações é muito importante para otimizar tempo, dinheiro e trabalho.

Conforme David Holmgren, “a habilidade em ler a paisagem fornece ao planejador a oportunidade de trabalhar com os processos naturais ao invés de contra eles”.

Objetivo

Fazer com que o participante reconheça as diferenças entre cada porção da paisagem a ser planejada para melhor utilizar as energias presentes, tanto na forma potencial quanto nas fluentes.

Conteúdo mínimo

Leitura a partir de dados científicos, a observação de campo, o conhecimento contemplativo, uso de geo e bioindicadores, reconhecimento de setores na paisagem como: insolação, relevo, ventos, risco de incêndio, escoamento das águas, sombreamentos, umidade, ventos, curva-chave, dentre outros.

Metodologia

A aula é dividida em duas partes, sendo uma prática e outra dinâmica. A primeira é uma prática ao ar livre em que os participantes constroem em escala reduzida a paisagem ao seu redor. A segunda exercita os conhecimentos compartilhados na primeira parte através de imagens de paisagens que podem ser facilmente encontradas na internet.

Práticas

Incorporando a paisagem

90 min

Essa prática ao ar livre busca, de forma lúdica, materializar aos participantes os principais setores da paisagem e como a dinâmica dos fluxos energéticos condicionam as variáveis que precisam ser reconhecidas e interpretadas. Você precisará de:

  • um local onde seja possível avistar com clareza a morfologia do terreno, onde o sol incida mesmo que parcialmente (sombra de uma árvore) e o grupo possa permanecer por até duas horas interagindo;
  • um carrinho de mão cheio de areia; e
  • folhas, galhos do entorno.

Solicite que o grupo reconheça características da paisagem, como elevações, baixios, cursos d’água, entre outros. Após isso, transfira a areia do carrinho para o chão e solicite a uns três a quatro participantes que, com a areia, modelem a paisagem topográfica que os rodeia.

Note que a miniatura da paisagem precisa estar na mesma orientação que a paisagem ao entorno. Isso quase sempre ocorre automaticamente. Aos que concluírem a construção da miniatura solicite que usem segmentos de galhos para desenhar (materializar) trechos de cursos de água. Folhas podem ser usadas para estabelecer onde ocorrem as florestas e vegetação arbórea. Trace com a ponta do dedo as estradas e acessos, use pedrinhas para indicar construções, etc. Com todas as características materializadas será possível falar de dinâmicas de energias na paisagem.

Aula de Leitura da paisagem no campus da UFSC em Florianópolis. Foto: Marcelo Venturi.

Sugerimos começar pela presença do sol. Solicite uns dois voluntários que sinalizem onde nasce o sol e onde ele se põe. No que concluírem, pergunte sobre os diferentes movimentos feitos pelo sol em relação à superfície da miniatura. Estabeleça as relações de intensidade de insolação para verão e inverno (solstícios).

Após isso é possível corrigir conceitos. Assim, sugere-se fazer a trajetória do sol em relação a miniatura. Você pode usar o próprio punho (fechado) para simular a trajetória do sol. Para crianças é possível usar uma bola de brinquedo, tornando o processo mais lúdico.

Logo após, comente como são os ventos predominantes, em que época do ano ocorrem e com que intensidade e persistência. Não se esqueça de indicar ventos ocasionais, que costumam ter curta duração, porém, grande intensidade.

Depois disso, trabalhe as questões sobre presença de águas na paisagem. Onde há mais água? Nos topos das elevações as águas se concentram ou escoam? E nas depressões? São perguntas óbvias, mas que serão muito importantes para o próximo passo.

Com a relação de dispersão/concentração de águas, mostre onde estão as inflexões nas encostas da miniatura e, então, evidencie nessas pelo menos uns 6 pontos-chave. Quando os educandos entenderem sua presença, solicite que alguém faça a projeção lateral da curva-chave com a ponta dos dedos.

Insira na dinâmica de grupo a questão das vertentes (encostas), suas direções, se irão receber insolação no período da manhã ou tarde, durante todo o dia, ou se quase não receberão. Esse passo é importante para que os participantes entendam as diferenças entre os pontos cardeais e a importância de planejar em diferentes exposições solares.

Ao final, pergunte ao grupo: Qual seria o melhor lugar para estabelecer uma moradia nessa paisagem? Nesse momento, todos partem a fazer muitos “cálculos” a respeito de cada fenômeno natural e os respectivos fluxos energéticos abordados durante a prática. Uma vez indicado o melhor local (virão diferentes), ou seja, aquele que um número maior de participantes tenha apontado, inicie uma série de reflexões sobre o porquê da escolha. O resultado deve mostrar que as visões individuais passam a se aproximar, o que facilita a compreensão dos fenômenos naturais a que a paisagem está submetida, permitindo ao grupo opinar e decidir sobre qual a melhor opção no terreno para se estabelecer moradia e um planejamento permacultural.

Traçando valas de infiltração/escoamento, passeios e rampas

30 min

Esta é uma prática fundamental para estabelecer/calibrar a visão tridimensional do terreno e sensibilizar os participantes para a necessidade do uso de ferramentas. Nesse caso, será usado o pé-de-galinha, que possibilitará marcar em uma topografia ondulada, uma determinada curva com o mesmo nível ou com uma inclinação preestabelecida.

Escolha uma área ondulada, mas não muito íngreme, de preferência com pastagem ou com espaço aberto entre árvores, onde os participantes possam transitar.

Apresente o pé-de-galinha ao grupo e mostre como ele funciona, quais seus princípios, sua forma de confecção e suas funções em campo.

Após isso, inicie a prática de fato. Solicite aos participantes que, de mãos dadas, se alinhem ao nível do terreno, conforme julguem ser o nível (mesma altitude) a olho nu.

Agora inicie por uma das pontas desse alinhamento o nivelamento da curva proposta pelos participantes e lembre-os de que não podem sair do local que eles escolheram como o “nível certo”.

Prática com o pé-de-galinha na formação de professores no CPP para academia ocorrido em 2020.

 

Auxilie cada participante a operar o pé de galinha quando este estiver à frente de cada um e vá fincando pedaços de galhos/bambus no solo, de acordo com o nível certo, estabelecido pelo pé-de-galinha. Ao mesmo tempo, vá corrigindo a posição de cada participante.

Após estabelecer um plano com o pé-de-galinha, inicia a demonstração do traçado de uma rampa usando um dos níveis de bolha por padrão. Após compreendida a transposição para o terreno, solicite aos participantes que façam para outra inclinação.

Exposição

60 min

Selecione fotos de paisagens de diversos lugares que mostrem bem as questões abordadas na prática de incorporação da paisagem.

Curva-chave, estradas, casas e plantações são elementos da paisagem que devem estar presentes nessas imagens. Se houver um quadro branco que possa ser riscado, projete as imagens sobre ele e solicite que os educandos desenhem a curva-chave de cada paisagem mostrada.

Dica: Use o Google Earth e as fotos de paisagens locais. Se você dispuser de conexão com a internet, ficará mais lúdico viajar até o ponto onde está a paisagem a ser mostrada.

Bases para o projeto final

Por tradição, na disciplina da UFSC, é nessa aula que são fornecidas aos participantes as bases topográficas e de uso da terra que compreendem a área/território onde serão desenvolvidos os projetos finais de planejamento permacultural. Na apresentação dessas bases é comentado o conceito de curvas de nível, bem como de identificação de diferentes coberturas da terra na paisagem. Essas imagens poderão ser impressas em escala maior, no intuito de serem usadas para inserção das informações a cerca dos setores, zonas e elementos que farão parte do ambiente planejado.

Dica: Considerando a informação topográfica pode-ser propor a preparação de uma maquete que irá servir de base ao projeto final. A construção da maquete poderá ser feita com camadas de papelão, isopor ou outros materiais para sua posterior apresentação. Isso facilitará aos participantes a compreensão do conceito de morfologia do terreno, auxiliando na visualização em três dimensões.

A partir da entrega das bases, é importante frisar aos participantes que o projeto final tem seu início deflagrado. Assim, eles já podem ir pensando sobre os quesitos apresentados até então, possibilitando estabelecer como eles se manifestam na paisagem da área de planejamento.

Atividades no EaD

Leitura da paisagem com modelo virtual

30 min

Em ambiente remoto é possível fazer uma abordagem em sala virtual, usando o Google Earth e sua perspectiva em 3 dimensões. Para tal, escolha uma paisagem de sua familiaridade. Compartilhe sua tela com os participantes e vá revelando elementos na paisagem e indagando-os sobre o porquê se encontram nessas posições. Destaque elementos como rios, estradas, casas, vegetação, etc.

Abordagem no modo remoto usando-se do Google Earth para destacar elementos na paisagem. Estradas antigas planejadas na curva-chave e a expansão da alça de contorno da BR-101 na grande Florianópolis que segue o eixo do vale, onde estão presentes solos moles e o risco de inundação é maior. Pode-ser abordar também os impactos da obra para o ecossistema local.

Atividade avaliativa

Aliando os conhecimentos prévios de topografia aos materiais da aula de Leitura da Paisagem, solicite ao participante que, usando a sua área de planejamento reconhecida no Google Earth, faça um croqui (desenho) contendo:

  • Seu nome e nome da propriedade (se houver);
  • Curvas-chave;
  • Desenho do relevo através de curvas de nível ou sombreamento;
  • Identificação e posicionamento dos elementos já existentes na propriedade;
  • Cursos de água e nascentes;
  • Equador geográfico; e
  • Uma legenda contendo os símbolos que foram utilizados.
  • Indicação ou posicionamento dos setores: insolação, umidade, declividade, inundação, fogo, etc.

Pode-se desenhar digitalmente as marcações sobre o mapa, ou imprimi-lo, fazer as anotações necessárias à mão e depois escanear o material.

Dica: Para abordagens mais avançadas, como cursos de especialização, sugere-se abrir as bases em PDF em um aplicativo de desenho como o Inkscape. Uma vez dentro do aplicativo, será possível criar camadas para cada tema a ser mapeado. Assista a uma aula contendo formas de Mapeamento de setores.

Conteúdo complementar

Vídeos

Aula

Referências sugeridas

Doherty, D. J. & Jeeves, A (2015). Regrarians eHandbook – 2 Geography )1st ed). Bendigo – Australia. 87p.

MARS, Ross. O design básico em Permacultura / Ross Mars e Martin Ducker; tradução Potira Preiss. – Porto Alegre: Via Sapiens, 2008. 167 p.

MOLLISON, Bill; SLAY, Reny Mia. Introdução à permacultura. Tradução André Luis Jaeger Soares. Brasília: MA/SDR/PNFC, 1998. p. 48-84. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/199851. Acesso em: 28 jan 2022.

Permaculture design strategies and Techniques. In: MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 04 fev 2022.

Powers, M. (2018). The Permaculture Student 2: A collection of regenerative solutions—The Text Book (2o ed). PowersPermaculture123. 416p.

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Padrões Naturais

 

Importância

Os padrões naturais refletem as estratégias evolutivas de adaptação a um meio promovidas por espécies e ambientes. Essas adaptações, sobretudo para seres vivos, são entendidas como cruciais para a permanência no espaço a longo prazo.

Uma boa compreensão dos padrões naturais permite uma melhor organização e eficiência energética do ambiente planejado, uma vez que otimizam os fluxos de energia e matéria, aumentam as interconexões no planejamento, tornando a vida mais fácil e o manejo mais eficiente.

Objetivo

Fazer com que o participante reconheça e compreenda como as coisas (elementos) se adaptam ao meio que as abriga e as mantém, a longo prazo, estáveis na paisagem. Estabelecer o elo sobre como utilizar os padrões naturais no espaço planejado para:

  • criar paisagens harmoniosas;
  • proporcionar fluxos de materiais e energia similares aos dos sistemas naturais;
  • conservar energia;
  • estabelecer a ciclagem de detritos; e
  • criar novos recursos (sinergia).

Conteúdo mínimo

Devem ser contemplados os padrões naturais biológicos, geológicos, minerais, de fluxo, sensoriais e temporais. É importante facilitar a compreensão da eficiência de cada padrão natural, bem como revelar suas relações/vocações no ambiente planejado.

Metodologia

Práticas

Observação na natureza

60 min

Levar os participantes a uma área verde e solicitar que, individualmente, observem e reconheçam padrões naturais ao seu redor. Após isso, reunir o grupo para ver o que cada um dos participantes encontrou e discutir sobre o padrão reconhecido, buscando facilitar o reconhecimento dos demais participantes, bem como explicar as estratégias evolutivas de otimização de energia explícitas no elemento/material em discussão.

Uma roda com os participantes junto a uma floresta onde são discutidos os padrões encontrados por cada um.

Participantes descobrindo padrões naturais junto ao CPP para a academia realizado em 2020 na UFV em Viçosa/MG. Foto: Jefferson Mota.

Em caso de chuva, vale ter uma coleção de materiais e artefatos com padrões claros naturais, como galhos, folhas, sementes etc. Em sala de aula coloque-os sobre uma mesa central e distribua-os entre os participantes. Solicite aos participantes que reconheçam padrões e, após isso, abra uma discussão sobre cada padrão, buscando dar nomes a eles. Uma variação dessa atividade pode ser solicitar que os participantes desenhem os padrões.

Dinâmicas

Trabalhando os sentidos

30 min

Esta prática é ideal para ser aplicada ao ar livre e em meio à natureza. Coloque os alunos em um círculo, sentados, voltados para fora, de costas para o centro. Solicite que fechem os olhos e passe objetos para que eles os toquem. Ofereça uma diversidade de formas, texturas e cheiros. Os objetos, antes escondidos em um sacolão são distribuídos pelo instrutor para cada participante, o qual, após senti-los, um a um, passa-os para o colega ao lado – sempre na mesma direção, de forma a sentir os padrões, sem se preocupar em identificá-los.

Ao final do reconhecimento de texturas e padrões dos objetos pelo tato, pedir para que se deitem no mesmo lugar, para que em silêncio ouçam e identifiquem padrões sonoros.

Padrões percebidos pelos sentidos além da visão. Foto: Marcelo Venturi.

Exposição

60 min

Em sala de aula, o instrutor deve expor, através de fotos, figuras e objetos, os diferentes tipos de padrões naturais. Nesse momento, busca-se o debate sobre que estratégias de permanência estão embutidas em cada padrão.

Padrão espiral em exemplar de Aloe polyphylla. Fonte: Just chaos – Aloe Plant, CC BY 2.0.

Padrões radial e concêntrico em uma teia. Fonte: CC BY-SA 3.0. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=103323. Acesso em: 31 maio 2019.

Dica: Use imagens de acesso livre para confeccionar seus materiais didáticos. Um bom banco pode ser encontrado em Wikimedia Commons.

Atividade no EaD

Solicite ao participante que dê um passeio na sua propriedade de estudo, que observe a paisagem e os elementos que a compõem, que identifique pelo menos três padrões naturais presentes, nomeie os padrões identificados e fotografe os elementos que os ilustram. É interessante solicitar que ele descreva o contexto em que o objeto se encontra na paisagem.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Referências sugeridas

MARS, Ross. O design básico em Permacultura / Ross Mars e Martin Ducker; tradução Potira Preiss. – Porto Alegre: Via Sapiens, 2008. 167 p.

MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. Natural Patterns. In: MCKENZIE, Lachlan; LEMOS. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: http://permacultureguidebook.org/. Acesso em: 20 jan 2022.

MOLLISON Bill; SLAY, Reny Mia. Compreendendo padrões. In: MOLLISON, Bill; SLAY, Reny Mia. Introdução à permacultura. Tradução André Luis Jaeger Soares. Brasília: MA/SDR/PNFC, 1998. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/199851. Acesso em: 20 jan 2022.

Entre em contato com os autores

Éticas e princípios de planejamento

Importância

Abordar as éticas e os princípios de planejamento logo no segundo encontro possibilita trabalhar com esses temas desde o início, permitindo que sejam resgatados ao longo do curso. As éticas e os princípios de planejamento são uma das bases que estabelecem a permacultura como uma ciência socioambiental e uma filosofia de vida, ou seja, muito mais que um balaio de técnicas.

Objetivo

Apresentar as éticas e os princípios de planejamento para que, além de serem incorporados, também possam ser consultados ao longo do curso.

Conteúdo mínimo

Éticas e princípios de planejamento propostos por David Holmgren. As Éticas propostas por vários autores são apresentadas e comparadas para que cada estudante opte pela forma que melhor se identificar. Os princípios propostos por Bill Mollison também são mencionados, mas de forma complementar, visto que muitos dos princípios sistematizados por Holmgren já contemplam aqueles a que Bill Mollison propôs.

Metodologia

Introdução às Éticas e História dos princípios

45 min

Se fazem duas perguntas de provocação à aula – como por exemplo: O que é ética? E o que nós humanos necessitamos para viver? – aguardando as respostas dos participantes que são escritas na lousa ou quadro de forma que todos vejam, tentando organizar as respostas, sem que os participantes percebam, segundo elas se encaixem nas necessidades propostas por Maslow em sua Pirâmide das Necessidades Humanas: sendo as necessidades das mais básicas até as mais complexas ou difíceis: Fisiológicas – de Segurança – Sociais – de Estima – de Autorrealização.

Então, apresenta-se a Pirâmide das Necessidades Humanas de Maslow, e se explica sua teoria: de que os humanos não conseguem focar no próximo degrau em busca de atender suas necessidades, enquanto não forem satisfeitas completamente as de níveis inferiores na hierarquia, e como isso explica  muitas atitudes humanas e formas de agir. Portanto quando buscamos uma sociedade/comunidade com adequadas condições de vida para todos, precisamos buscar esse crescimento de satisfações de forma que todos cresçamos em conjunto.

Isso nos leva à apresentação da Flor da Permacultura, proposta por David Holmgren, que mostra como a permacultura transpassa por todas essas necessidades humanas.

Éticas

A esta altura do encontro introduzimos a questão “O que é Ética?”

Assim, apresentamos as Éticas da permacultura por ordem, explicando a teoria proposta por Bill Mollison: de que se compreendêssemos a primeira ética que inclui o cuidado com o planeta, não precisaríamos de nenhuma das demais. Mas como ser humano não se vê como parte do planeta, precisamos ter algo mais explícito, e isso nos leva a segunda ética do cuidar as pessoas. Entretanto, há a compressão que não basta apenas cuidar, é necessário priorizarmos a inclusão de todos com paridade, o que nos levou a criar a terceira ética da permacultura. As palavras em destaque usadas para resumir as éticas foram propostas por Heather Jo Flores (3Ps: Planeta, Pessoas e Paridade).

Então explicamos que as éticas são sempre as mesmas três, mas que podem ser vistas, expressadas e compreendidas sob diferentes formas, segundo a releitura de diferentes autores, ou de forma que seja melhor compreendida por diferentes contextos.

Podendo ser:

  1. Cuidar da terra; ou
    Cuidar da Terra; ou
    Cuidar do Planeta; ou apenas
    Planeta.
  2. Cuidar das pessoas; ou apenas
    Pessoas.
  3. Limites ao crescimento populacional e ao Consumo; e/ou
    Compartilhar excedentes (inclusive conhecimentos); ou
    Partilha justa; ou
    Processo cuidadoso; ou
    Cuidar do futuro; ou
    Paridade.

Aqui encerra-se o conteúdo sobre as éticas, mostrando a diversidade e permitindo que os permaculturandos escolham a forma que melhor os representa de expressarem as mesmas três éticas. Então passamos para a abordagem sobre os princípios de planejamento.

Princípios de Planejamento

Inicia-se apresentando os princípios (em torno de 16) conforme foram abordados por Bill Mollison em seus primeiros livros. Em seguida, apresentamos uma comparação destes com os 12 princípios sistematizados por David Holmgrem, explicando ou solicitando que os estudantes comparem e façam as conexões de em quais princípios propostos por Bill que são representados por quais do David.

Finalizamos essa primeira parte mostrando a árvore da permacultura, proposta por Jo Flores, em que apresenta a permacultura como uma arvore, em que as éticas são as raízes, os troncos são os princípios, e os componentes do planejamento, que servem a atender nossas necessidades, são os ramos e folhas.

Trabalhando os Princípios

100 min

Inicia-se a aula solicitando que cada participante indique um princípio que aborde o tema sustentabilidade. Muitas indicações ambientais virão, e o instrutor deve estimular que venham as sociais e, por fim, as econômicas. Colocam-se as indicações no quadro posicionando-as de acordo com sua inserção, se o quesito é ambiental, social ou econômico.

Nesse ponto, é possível abordar as éticas, mostrando que “Cuidar da Terra” reflete de forma focada o quesito ambiental, “Cuidar das pessoas” reflete principalmente o social (mas também a saúde) e “Cuidar do futuro” reflete o quesito econômico (eco = casa e nomos = gestão) e inclui também questões sociais e organizativas, entre outras. Ao término dessa abordagem, sugere-se um breve intervalo.

Dica: A adoção da ética “Cuidar do futuro” como conteúdo é uma decisão do instrutor. Sua proposta é recente e ainda segue sendo avaliada quanto a sua adoção definitiva, porém, em muitos outros países, isso já está ocorrendo. Para essa ética, primeiramente Bill Mollison propôs “Limites ao crescimento” e “Redistribuição dos excedentes”, logo após, David Holmgren sintetizou esses dois em “Partilha justa”.

No retorno do intervalo, as atividades podem ser retomadas por meio da tarefa solicitada no primeiro encontro sobre os princípios de planejamento.

Solicite aos participantes, por ordem de princípio, que apresentem aquele que ficou a cargo do seu grupo na aula anterior, quando você entregou o material Princípios de Permacultura. Isso é feito em aproximadamente cinco minutos por princípio, podendo se alongar de acordo com o fluir do conteúdo e com a disposição do grupo em discutir a respeito de cada princípio. Após a apresentação, fixe a folha confeccionada para o princípio em um local de boa visibilidade na sala de aula. Faça o mesmo procedimento para os demais princípios, até fixar todos em uma parede ou painel visível. As folhas com cada princípio de planejamento ficarão nesse espaço até o término do curso e poderão/deverão ser consultadas sempre que oportuno, em cada tema que virá pela frente ao longo do curso.

Após esse momento, sugere-se a projeção do videoclipe da música The permaculture song, que resume os princípios.

Apresentação dos princípios pelos participantes. Foto: Marcelo Venturi.

Desenhos dos princípios feitos pelos participantes que ficam fixados até o final do curso. Foto: Marcelo Venturi.

Práticas

Revisando e sentindo os princípios

20 a 30 min

Logo após o videoclipe, é feita uma espécie de revisão/percepção sobre os princípios. Para tal, usa-se uma sequência de fotos com cenas que remetem aos princípios, sempre destacando um deles. Projetam-se as fotos e pergunta-se ao grande grupo sobre qual é o princípio que está em destaque na imagem. Ao final, os participantes compreendem que todas as cenas contêm todos os princípios, mas que há, também, a predominância de um deles.

Dica: Utilize imagens de livre acesso e uso, como as do Wikimedia Commons. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/Main_Page

Dinâmicas

Conectando princípios

30 min

Esta atividade pode ser apresentada previamente ao conteúdo dos princípios da permacultura ou a título de conhecimento histórico, logo a seguir da apresentação dos princípios. O objetivo da dinâmica é a comparação dos princípios de planejamento propostos por Bill Mollison em seus primeiros livros (em especial no Permaculture: A designer’s manual, 1988) com os 12 princípios de planejamento propostos por David Holmgren em seu livro Permaculture: Principles and Pathways Beyond Sustainability (2002).

Se lista em duas colunas distantes os princípios propostos por cada um dos autores. Então, com a participação da turma, se solicita para relacionar ou ligar, conectar os princípios que estão representados de uma coluna a algum equivalente na outra.

Assim se percebe que todos os princípios propostos por Bill Mollison estão bem representados nos princípios propostos por David Holmgren, e vice-versa. A partir destas listas pode-se também aprofundar alguns significados de cada um dos princípios, e explicar a sistematização didática feita por David Holmgren, que deu passos adiante em relação aos princípios propostos por Bill.

Coletivo unido

Ao final desse encontro, os participantes puderam trocar informações sobre si em pequenos grupos e também expor sua personalidade, como um “cartão de visitas” aos demais participantes. Entendemos que nesse momento é importante consolidar que seremos um grupo, “uma só família” até o final do CPP. Assim é proposta a dinâmica “Coletivo unido”.

10 min

Deixe preparadas etiquetas de quatro a cinco cores diferentes, de acordo com o número de participantes, incluindo você. Para cada cor haverá quatro, cinco ou mais etiquetas dependendo do número de participantes. A ideia é termos grupos de cores.

Solicite que todos permaneçam calados (“vaca amarela”) e fechem os olhos. Cole uma etiqueta na testa de cada participante e, por fim, solicite que um deles cole uma etiqueta em sua testa. Nesse ponto, todos conseguem ver as cores dos demais, mas não, a que está afixada em sua testa.

Solicite a todos que, calados, se unam por cores em grupos. É possível usar gestos e deslocar parceiros. Isso tudo deve ser feito no tempo máximo de 1 minuto. Ao longo do agrupamento, vá fazendo uma contagem regressiva, de 10 em 10 segundos.

Atividade no EaD

Solicite ao participante que relacione o princípio de planejamento adequado para cada frase a seguir:

  1. Muitas vezes, nossos olhos não enxergam a importância das margens. Esses ambientes são ricos em oportunidades. (Princípio 11: Use as bordas e valorize os elementos marginais.)

  2. Sincronizar o planejamento com o ritmo da natureza é uma das mais importantes escolhas para obter resultados eficazes e duradouros. (Princípio 9: Use soluções pequenas e lentas.)

  3. A integração de relacionamentos é chave para a obtenção da diversidade e do seu equilíbrio dinâmico. (Princípio 8: Integrar ao invés de segregar.)

  4. Recusar é a melhor forma de não gerar impactos negativos ao ambiente e também de alcançar a felicidade através da simplicidade, pois ela não pode ser comprada. (Princípio 6: Não produza desperdícios.)

  5. Não se pode compreender a importância de uma árvore sem antes entender o contexto da floresta. (Princípio 7: Design partindo de padrões para chegar nos detalhes.)

  6. A natureza está em constante mutação. Para acompanharmos sua dinâmica é necessário um bom grau de flexibilidade. (Princípio 12: Use a criatividade e responda às mudanças.)

  7. O equilíbrio dinâmico eficaz de um sistema planejado é mais facilmente obtido a partir da diversidade. (Princípio 10: Use e valorize a diversidade.)

  8. É necessário avaliar que fontes energéticas utilizamos e com qual finalidade. Na natureza todos os elementos possuem uma fonte energética embutida, com maior ou menor grau de concentração. A captação de energia deve vir acompanhada de um uso adequado e de uma armazenagem para que algum possível período de escassez energética seja superado com tranquilidade. (Princípio 2: Capte e armazene energia.)

  9. Utilizar materiais, fluxos de energia e valorizar os serviços ambientais de ciclo curto e local. (Princípio 5: Use e valorize os serviços e recursos renováveis.)

  10. Deve-se observar a disposição e a interação entre os elementos e os processos presentes em determinada área para então começar a interagir fazendo reflexões, planejamentos e ações sobre ela. (Princípio 1: Observe e interaja.)

  11. A natureza fornece respostas em relação às interações que mantemos com ela. Essas respostas podem contribuir para o crescimento da produção, seja ela de energia, alimentos ou outros itens, ou para a diminuição dela. Para buscar um equilíbrio no sistema é preciso estar atento a esses efeitos. (Princípio 4: Pratique a autorregulação e aceite feedback.)

  12. Para se construir um futuro mais seguro e saudável é necessário ter as necessidades atuais supridas. Portanto, deve-se pensar em resultados a curto, médio e longo prazo. (Princípio 3: Obtenha rendimento.)

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Acesse o conteúdo da aula Éticas e princípios de planejamento.

Referências sugeridas

DIXON, Milton. Future Care. Permaculture Productions LLC. Disponível em: https://permacultureproductions.com/2014/01/future-care/. Acesso em: 16 jan. 2022.

HARLAND, Maddy. Future Care – redefining the third permaculture ethic. Permaculture International, n. 95, Spring 2018. Disponível em: https://www.permaculture.co.uk/. Acesso em: 16 jan. 2022.

HOLMGREN, David. Permacultura: princípios e caminhos além da sustentabilidade. Tradução Luzia Araújo. Porto Alegre: Via Sapiens, 2013. 416 p.

PERMACULTURE Ethics and Principles. In: MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 16 jan. 2022.

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O que é permacultura?

Importância

Introduzir o tema da permacultura é essencial para fazer com que o grupo que receberá os conhecimentos se ambiente com a problemática e estabeleça uma conexão entre o que ocorreu até aqui e o que virá ao longo do curso.

Objetivo

Familiarizar o participante com o tema, sensibilizá-lo e trazer um resumo do que será visto no desenvolvimento das atividades de aprendizado.

Conteúdo mínimo

A introdução deve versar sobre todos os temas propostos na estrutura do CPP e às razões que levaram à idealização do conceito de permacultura (cultura de permanência). Isso pode ser feito através de um histórico dos fatos ocorridos na Austrália e no mundo diante das crises ambientais que se instalaram pelo processo de mercantilização do planeta e das pessoas. É importante ressaltar nessa abordagem inicial a problemática do consumismo e dos limites do planeta, mencionando capacidade de carga e finitude de recursos não renováveis.

Uma breve abordagem sobre as éticas e os princípios de planejamento deve ser realizada, mas o detalhamento deve ficar para o segundo encontro. Depois disso, deve ser abordada de forma sucinta a metodologia de planejamento, mencionando setores, zonas energéticas e elementos.

Logo após, vem uma breve apresentação dos temas que o CPP irá abordar, tais como: Fundamentos de ecologia, Leitura da paisagem, Padrões naturais, Solos, Ecologia cultivada, Águas, Energias, Arquitetura e permacultura, Planejamento para eventos extremos e Estruturas invisíveis. Breves explanações recheadas de imagens auxiliam nessa etapa.

Por fim, faz-se um resumo integrador dos conteúdos mencionando a necessidade de incorporação dos conhecimentos de forma sistêmica, para desenvolver um bom projeto de planejamento do espaço.

Visão sistêmica da permacultura em uma imagem.

Como se pode perceber, esse primeiro contato com os participantes pode ser feito numa linha formal de apresentação, por telas e projeção. Porém, para “quebrar o gelo” dessa primeira manifestação “formal”, uma dinâmica é sugerida. Na UFSC, costumamos trabalhar a dinâmica “Unindo irmãos”.

Metodologia

Dinâmicas

Apresentação do curso e do grupo

60 min

Em círculo dão-se as boas-vindas, apresenta-se a equipe de instrutores e fala-se sobre as motivações de oferecer o CPP.

Após essa passagem, dê a palavra para que cada um dos participantes se apresente. Geralmente solicitamos que o participante se identifique e responda: “Quais as razões que o trouxeram aqui e por que permacultura?”.

Sobre as razões apresentadas, procure comentar sobre sua experiência como permacultor e também evidenciar as razões que lhe fizeram optar pela filosofia da permacultura. Muitas coisas em comum aparecerão em relação aos depoimentos dos participantes.

Unindo irmãos

10 min

Faz-se um círculo com todos os participantes. Entrelaçam-se os braços de modo que todos se encostem uns nos outros, facilitando a troca de calor humano.

Logo após, o instrutor indica alguém aleatoriamente e solicita que essa pessoa beije um das pessoas imediatamente ao seu lado. Essa pessoa propagará o beijo de forma que ele percorra todo o círculo e volte a quem começou. Essa dinâmica encurta caminhos entre as pessoas e permite fazer com que elas troquem, além de calor, conversas, gestos que virão a facilitar a relação grupal.

Dinâmica “Unindo irmãos”, em sua finalização, quando os participantes fecham o círculo. Foto Marcelo Venturi.

Exposição

90 min

Exposição de telas com a sequência de conteúdos mínimos que serão abordados ao longo do curso.

Tarefas

Ao final da exposição é solicitada uma tarefa para ser realizada para o próximo encontro. Essa tarefa deverá versar sobre os princípios de planejamento propostos por David Holmgren.

Divida os participantes em 12 grupos/princípios, passe o conteúdo Princípios de Permacultura, separado por cada um dos princípios e entregue a cada grupo. Solicite que cada grupo leia em conjunto o texto referente ao princípio e que, em uma folha A4, seja repetido o ícone do princípio, seguido de seu número e nome. Na mesma folha solicite ainda que o grupo cunhe um novo provérbio que sintetize o princípio, tal como faz David.

Atividade no EaD

Solicita-se ao participante que escreva, com base no material estudado neste primeiro tema e em sua percepção, o que ele entende por permacultura. Pede-se um texto breve, com no máximo duas páginas.

No caso da tarefa sobre princípios de planejamento para o segundo encontro, siga da mesma forma que no presencial, apenas solicite que os participantes fotografem a folha com o princípio a ser explicado e compartilhem a imagem no momento da apresentação.

Conteúdo complementar

Vídeos

Leitura

Aula

Acesse o conteúdo da aula O que é Permacultura?.

Referências sugeridas

MOLLISON, B. Permaculture: Designers Manual. Tasmania, Australia: Tagari, 1999.

MOLLISON, Bill; SLAY, Reny Mia. Introdução à permacultura. Tradução André Luis Jaeger Soares. Brasília: MA/SDR/PNFC, 1998. p. 48-84. Disponível em: https://repositorio.ufsc.br/handle/123456789/199851. Acesso em: 04 janeiro 2022.

MARS, R. O design básico em permacultura. Porto Alegre: Via Sapiens, 2008.

MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 04 fev 2022.

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O formato do CPP

As formas de ensinar

O ensino de permacultura no formato do Curso de Planejamento em Permacultura (CPP), que possui o mesmo conteúdo do Permaculture Design Certificate Course (PDC), é organizado de forma a ser o mais interdisciplinar possível, visando falar com todos os públicos desde o ensino médio ao superior.

O ensino da permacultura, de modo geral, dialoga com distintas metodologias, de acordo com quem ensina. No entanto, há uma característica importante no instrutor que ensina permacultura, ele não é um teórico do assunto. Ele é antes um cientista prático, que não baseia sua opinião apenas em livros, mas que está o tempo todo estudando e aprendendo na prática, com vivências concretas em permacultura.

O currículo de um CPP deve seguir minimamente a proposta de Bill Mollison, publicada em 1985 no Syllabus, as éticas e os princípios de planejamento propostos por ele e por David Holmgren, lembrando que os princípios estão em constante revisão.

Nas vivências dos instrutores de permacultura, discute-se que a ordem de compartilhamento dos conteúdos é irrelevante, podendo iniciar por qualquer ponta, mas, no fim, todo o conteúdo proposto terá de ser abrangido. Neste livro buscamos transmitir a forma de ensinar o CPP que tem sido desenvolvida pelo NEPerma/UFSC, através da experiência de ensino da disciplina “Introdução à permacultura”, lecionada desde 2012 na UFSC e, mais tarde, com agregações de outras experiências de colegas da Rede NEPerma Brasil. O currículo dessa disciplina é baseado em fluxos energéticos.

Outras entidades parceiras trabalham com diferentes abordagens. A linha de desenvolvimento do Instituto Çarakura é estruturada por zonas energéticas, já a da estação de permacultura Yvy Porã segue por pedagogia de projetos. Para todos os CPP mencionados, compreendemos que podemos começar por onde bem quisermos, desde que mantida a lógica de transmissão sistêmica dos conteúdos.

Ensinando por zonas

No Instituto Çarakura o CPP é desenvolvido de forma coletiva com a participação de um time de instrutores. O ensino começa pela Zona 0 (zero), a casa, e em alguns casos pela “-1”, que se refere à consciência das pessoas. Nessa abordagem iniciada pela Zona -1, o primeiro dia de CPP é marcado pela sensibilização dos participantes com relação às questões ambientais e sociais. Após essa sensibilização, os dias posteriores seguem abordando as demais zonas 0, 1, 2, 3, 4 e 5, e culmina com o desenvolvimento do projeto final.

A ideia de ensinar por zonas prevê estimular o participante de dentro para fora e, à medida que ele se afasta para zonas mais periféricas, vão se agregando os novas técnicas e elementos. Em cada zona estudada, são repassados todos os conteúdos que podem ser trabalhados para esses espaços, por exemplo, Zona 1: manejo de águas, energias, ecologia cultivada (cultivos e criações), planejamento para eventos extremos, construções etc. Zona 2: idem para as técnicas e elementos que serão implantados nela, e assim sucessivamente para as demais zonas energéticas de planejamento. Alguns temas podem ser passados de forma única ou transversal, pois independem de zonas, como a leitura da paisagem, a metodologia de planejamento (elementos/características, necessidades e funções/zonas e setores), as estruturas invisíveis, os conceitos básicos de ecologia, os solos etc.

Ensinando por pedagogia de projetos

Na estação de permacultura de Yvy Porã, os permacultores Jorge Timmermann e Suzana Maringoni propõem que o ensino de permacultura dialogue com a pedagogia de projetos, partindo das vivências dos participantes. Ou seja, que o grupo repense as reais necessidades das pessoas e a sua relação com o meio ambiente.

O curso inicia com as demandas do grupo a partir da pergunta: “O que o ser humano precisa para viver e ser feliz?”. As demandas do grupo geralmente apontam para pontos concretos como abrigo, água, alimentação, saneamento, entre outros. Elas também olham para pontos que levam à ética, ao respeito, companhia, amor, saúde etc. Assim, via de regra, parte-se da moradia e segue-se permeando as demais zonas energéticas dialogando com as éticas e princípios de planejamento durante todo o curso.

No sentido de vivenciar as aulas teóricas, aparecem as práticas que servem de ilustração para o que foi desenvolvido em sala ou que venham a servir de problematização para a aula teórica que virá depois.

A elaboração do planejamento permacultural no final do curso busca fazer a síntese de tudo o que foi estudado e discutido. O fato de um aprendiz de permacultura fazer o exercício do planejamento em grupo, num ambiente com amparo dos seus instrutores, é de suma importância para que haja a possibilidade de todos se debruçarem sobre o estudado e de aplicarem, numa área determinada, os conceitos e os conteúdos trabalhados nas aulas.

Ensinando por princípios

Em todos os CPP, as éticas e princípios de planejamento devem paulatinamente estar presentes, pois sua incorporação é fundamental para a formação do permacultor. Pensar um curso em que cada princípio de planejamento (segundo David Holmgren) possa ser abordado em meio turno (manhãs e tardes) no decorrer do período pode ser uma via para obter essa incorporação. O quadro a seguir dá uma sugestão de conexão entre cada princípio de planejamento e o tema a ser abordado no CPP.

Princípio de planejamentoTema a ser abordado
Observe e interajaLeitura da paisagem
Capte e armazene energiaEnergias
Obtenha rendimentoEcologia cultivada
Pratique a autorregulação e aceite conselhos (retornos)Planejamento para eventos extremos
Use e valorize os recursos naturais renováveisSolos
Não produza desperdíciosMetodologia de planejamento
Planejamento partindo dos padrões para chegar aos detalhesPadrões naturais
Integrar ao invés de segregarEstruturas invisíveis
Pense soluções pequenas e lentasIntrodução e sensibilização
Use e valorize a diversidadeFundamentos de ecologia
Use as bordas e valorize os elementos marginaisÁguas
Use a criatividade e responda às mudançasArquitetura e permacultura

Assim, temos o currículo todo com foco na intensidade de cada princípio, e o participante pode realizar conexões (pensamento sistêmico) entre os temas, construindo, dessa forma, o seu conhecimento. A proposta norteadora é manter os princípios de planejamento presentes ao longo de todo o curso.

Caso não seja adotada como estrutura de ensino, pode-se usar essa abordagem como uma dinâmica ao final de cada aula/tema, em que os participantes devem opinar sobre qual princípio é o mais intenso para o tema que foi abordado no dia/período. Pode-se ir fixando, dia a dia, cada princípio aos temas abordados em um cartaz fixado na parede da sala de aula.

Ensinando por fluxos energéticos

O currículo do CPP/disciplina “Introdução à permacultura” é baseado em fluxos energéticos. Nele, para cada um dos temas propostos por Bill Mollison, há sempre uma abordagem focando a conservação da energia no ambiente planejado, seja ela estocada em elementos “estáticos” ou “dinâmicos”. O currículo está baseado em três estágios que buscam introduzir a temática, sentir os fluxos e estabelecer formas de convívio harmonioso com o ambiente hospedeiro.

A introdução versa sobre a permacultura em sua essência como ciência holística de cunho socioambiental e filosofia de vida. Logo após são ensinadas as éticas e os princípios de planejamento, seguidos dos fundamentos de ecologia, versando sobre conceitos básicos com ênfase na sucessão ecológica de espécies em ecossistemas naturais.

A percepção dos fluxos energéticos aparece nitidamente na abordagem dos padrões naturais, pois esses fluxos são baseados na eficiência de cada padrão em conservar energia por meio do seu uso otimizado em processos de sobrevivência, pois as espécies evoluíram desenvolvendo padrões eficientes e capazes de se adaptar em diferentes contextos da natureza. Em leitura da paisagem os fluxos energéticos aparecem como moldadores da natureza e o entendimento de sua presença sempre tem uma razão de ser/estar, que deve ser observada, reconhecida e aproveitada.

Após essa passagem de reconhecer e entender o porque dos fluxos energéticos, é ensinada a metodologia de planejamento, que mapeia a paisagem colocando setores, zonas energéticas e elementos no ambiente a ser planejado. Esse é o conteúdo “cerne” de todo o aprendizado, no que tange à formação básica em permacultura.

Logo após temos uma imersão em solos, que versa esse meio como um reservatório de energia acumulada, através da matéria orgânica depositada e contida nas porções minerais. Os solos são tratados, na permacultura, como um grande banco de energias, incluindo a importância como meio estruturante para nossas moradas, como reservatório do ciclo de água e de calor oriundo da decomposição de matéria orgânica. Além disso, serve de substrato fértil ao crescimento das culturas, sendo a base da vida. Essas culturas são abordadas na lógica da ecologia cultivada, por meio da qual é incentivada a inserção de espécies bem adaptadas a cada condição climática e a cada paisagem bem como o uso de técnicas de obtenção de alimentos com baixo consumo de energia. Sobretudo aquelas energias gastas pelo permacultor, pois este se valerá das conexões entre elementos e zonas energéticas para realizar o manejo do sistema planejado.

Para finalizar a parte de entendimento do contexto ambiental do espaço, são trabalhadas as principais energias nos temas águas e energias no sistema planejado. Nesses dois temas, são mostrados todos os fluxos e estratégias de conservação e de conversão das águas e das energias, por meio de dispositivos naturais de manejo ou por tecnologias apropriadas.

A compreensão sobre como podemos ter uma relação harmoniosa entre a espécie humana e os ecossistemas abarca a temática da permacultura urbana, seguida da arquitetura e permacultura que foca na construção o abrigo, seja ele unifamiliar ou coletivo. Segue-se pelo planejamento para eventos extremos, no intuito de nos prepararmos para as mudanças ambientais em escala global, mas de reflexo local e, por último, versa-se sobre a organização social por meio da revelação das estruturas invisíveis, que nos cercam no atual modelo organizado de forma hierárquica e centralizada.

A estrutura do CPP por energias

Esta seção tem sua estrutura baseada no currículo de ensino por fluxos energéticos, que compartilha os conhecimentos da permacultura considerando três estágios de aprendizado, que incluem bases fundamentais de conhecimento para a [re]conexão à natureza, o manejar do espaço planejado e a inserção do humano na paisagem.

O primeiro estágio fala dos conhecimentos fundamentais para a formação de um permacultor, passando pela sensibilização para os problemas ambientais e o nosso distanciamento da natureza. Logo após, vem a apresentação das éticas e princípios de planejamento, fundamentos de ecologia e clima, reconhecimento de padrões naturais e como fazer uma boa leitura da paisagem.

O segundo estágio compreende o manejo da paisagem considerando a metodologia de planejamento da permacultura, conhecimentos sobre solos e o cultivo de alimentos, bem como o entendimento sobre como as energias fluem na paisagem.

O terceiro estágio insere o humano atual dentro de toda sua cultura de infraestrutura desenvolvida no contexto da paisagem, seja ela rural ou urbana, considerando o abrigo, o reconhecimento de riscos e a construção de relacionamentos sociais.

O quadro a seguir apresenta a carga horária e os temas e subtemas relacionados a cada estágio.

TemasSubtemas abordadosCarga
horária
PRIMEIRO ESTÁGIO – [RE]CONEXÃO COM A NATUREZA
O que é permacultura e qual é a sua história?Por que Permacultura?
Resumo do PDC
Programação do curso
Forma de funcionamento
4
Éticas e princípios de planejamentoAs três éticas da permacultura
Os princípios de planejamento
4
Fundamentos de ecologiaVisão global: geomorfologia, climas e biomas associados
Relações ecológicas
Ecologia florestal e sucessão ecológica
Reciclagem e compostagem
4
Padrões naturaisTipos
Funções
Percepção
Interpretação
Aplicação
4
Leitura da paisagemInsolação
Ventos
Curva-chave
Estratégias em diferentes climas
4
SEGUNDO ESTÁGIO – MANEJO DA NATUREZA
Método de planejamento do espaçoSetores
Zonas
Análise de elementos
Localização relativa
4
SolosCaracterísticas
Importância
Identificação
Manejo ecológico
4
Ecologia cultivadaTipos de agroecossistemas
Estratégias de cultivos
Animais como elementos
Plantas alimentícias não convencionais ou plantas da biodiversidade
Plantas medicinais e seus usos
8
ÁguaO ciclo e distribuição da água
Água como elemento na paisagem
Águas no espaço de planejamento e estratégias de uso
Manutenção da qualidade
Tecnologias apropriadas ao uso
4
EnergiaPercepção na paisagem e no sistema planejado
Potenciais de aproveitamento
Tecnologias apropriadas ao aproveitamento
4
TERCEIRO ESTÁGIO – O HUMANO NA PAISAGEM
Permacultura urbanaPlanejamento em pequenos espaços
Zonas energéticas urbanas
Organização comunitária
4
Arquitetura e permaculturaConceitos fundamentais
Cultura e paisagem
Conforto ambiental e estratégias bioclimáticas
Projeto e sistemas construtivos
Técnicas de bioconstrução
4
Planejamento para eventos extremosO que são eventos extremos?
Níveis de risco
Planejamento de prevenção
Planejamento de remediação
4
Estruturas invisíveisCompreensão das estruturas biológicas, culturais, econômicas e sociais e seus impactos
Autorregulação contínua
Planejamento permacultural pessoal
Ampliação para uma perspectiva não especista de animais
4
Projeto finalDiretrizes
Concepção
Desenvolvimento
Apresentação
12

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O Projeto Final

O projeto final de um curso de planejamento permacultural precisa apresentar um plano para autossuficiência, contemplando a segurança alimentar, hídrica, energética e financeira em curto, médio e longo prazos. O detalhamento das áreas e elementos planejados também é fundamental. Para tal, é importante estabelecer tamanho de áreas, quantificar o que se espera produzir e o gasto envolvido nesta produção. Quanto mais detalhado o projeto, melhor a compreensão da proposta para os futuros leitores. 

Importante estimular os participantes a imprimirem as suas identidades no projeto. Neste momento é crucial a não interferência do instrutor, a fim de propiciar uma maior diversidade de visões e opiniões, visando a autenticidade dos projetos. Porém instruções básicas podem ajudar.

O que cada participante ou grupo deve apresentar?

O projeto deve ser apresentado tanto graficamente quanto textualmente, ou seja, além de ser apresentado na forma de maquete virtual ou analógica, planta ou mapa, deverá também possuir um relatório que defina o plano de manejo da área planejada ao longo do tempo. Esses produtos devem apresentar:

Plano de desenvolvimento (relatório);

  1. Contexto do lugar
    • História do lugar;
    • Localização (mapa);
    • Bioma;
    • Clima.
  2. Leitura da paisagem (acesse a aula)
    • Regime de chuvas; 
    • Temperatura;
    • Solos;
    • Mapa-base contendo: topografia, escala, pontos cardeais, título;
    • Setores energéticos (mapa).
      • Ventos;
      • Insolação;
      • Sons;
      • Outros.
  3. Planejamento do espaço (acesse a aula)
    • Zoneamento (mapa); 
    • Análise de elementos; 
    • Elementos em conexão (nas zonas e entre zonas); 
    • Cronograma de implantação e operação.
  4. Arquitetura Apropriada
    • Estratégias bioclimáticas para a eficiência energética das edificações;
    • Estratégias construtivas para lidar com os eventos extremos da região;
    • Técnicas construtivas adequadas ao contexto.
  5. Ecologia cultivada
    • Áreas de cultivo;
    • Sistemas de produção
    • Tipos de cultura.
  6. Águas e Energias (acesse as aulas: águas e energias)
    • Detalhamento do manejo de água no espaço (mapa);
    • Potenciais energéticos do espaço.
  7. Planejamento para eventos extremos (acesse a aula)
    • Prevenção;
    • Mitigação;
    • Rotas de fuga;
    • Contaminações;
    • Espacialização dos eventos extremos (mapa).
  8. Estruturas invisíveis (acesse a aula)
    • Organização social (individual, familar ou coletiva?);
    • Estruturas sociais; ambientais, culturais, econômicas e políticas.

Sobre os mapas:

Mapas que se sobreponham, seja por transparências ou por aplicativos de geoprocessamento, são muito úteis para melhor compreender a espacialização do planejamento. É necessário desenvolver pelo menos seis mapas temáticos para um melhor entendimento do planejamento:

  • Mapa-base – deve conter informações como limite da área e estruturas permanentes como acessos, casas e cursos de água. É importante também situar os pontos cardeais e, se possível, ter curvas de nível e escala.
  • Mapa de águas – deve indicar por onde passam os fluxos e onde podem ser estocados volumes de água para sua utilização. É importante incluir as trajetórias e reservatórios, tanto os naturais quanto aqueles que modificarão esse cenário após implementado o planejamento. 
  • Mapa de setores – deve incluir os setores com suas manifestações energéticas: águas (áreas drenadas e sujeitas a cheias), ventos predominantes e suas direções, insolação (inverno e verão), microclimas e outros. 
  • Mapa de zoneamento – deve incluir a distribuição das zonas energéticas de manejo da área planejada.
  • Mapa de eventos extremos – deve indicar rotas de fuga, áreas de risco de incêndios, alagamentos, deslizamentos etc.
  • Mapa-mestre – é um mapa que resume o planejamento e que orienta o manejo do espaço. 

Via de regra, o mapa-mestre de planejamento tem mais de uma versão. Isso é normal e deve ser incentivado. Na prática, o dinamismo do manejo fará com que novas versões dessa distribuição de elementos no terreno ocorram em escala real, espacial e ao longo do tempo.

Dica: um bom mapa mestre é limpo e completo, ou seja, deve conter todas as informações para que um observador compreenda a distribuição dos elementos propostos no planejamento. Atente-se para não incluir no mestre informações excessivas. Você pode usar programas como Google Earth, que possibilita trabalhar com camadas e, também, visualizar o sombreamento no terreno.

Mapa de setores. Fonte: Grupo Sol, no segundo semestre de 2015 da disciplina “Introdução à Permacultura”.

 

Mapas de insolação para o inverno e para o verão em uma das áreas planejadas na disciplina “Introdução à Permacultura” da UFSC. Fonte: Arthur Nanni.

 

Mapa de zonas energéticas. Fonte: Grupo “Sol”, no segundo semestre de 2015 da disciplina “Introdução à permacultura”.

 

Maquete-mestre do projeto final de planejamento, na qual foram utilizadas folhas de papelão para a construção da morfologia do terreno e linhas de barbante para a separação de zonas energéticas e cursos d’água. Foto: Arthur Nanni.

 

Um desenho em papel kraft onde os permaculturandos definem as estratégias de planejamento de uma unidade familiar rural.

Mapa mestre do projeto final em uma Unidade Familiar Rural no assentamento Vitória da Conquista em Fraiburgo/SC. O mapa contém setores e elementos. Após os participantes traçaram as zonas energéticas com base na posição relativa dos elementos.

 

Apresentação

A apresentação dos projetos finais é um momento chave no curso, pois possibilita uma intensa interação entre os participantes e uma fabulosa troca de saberes. É nesse momento que cada um dos participantes tem a oportunidade de reconhecer novas possibilidades de planejamento, bem como agregar outras linhas de manejo ao seu projeto.

Na UFSC, temos por cultura desenvolver de três a quatro projetos em diferentes grupos para a mesma área. Sempre sugerimos aos grupos que maximizem as discussões intragrupo e evitem saber sobre os projetos dos demais grupos. Isso gera projetos diferentes e enriquece o processo da sala toda. No dia final do curso, as apresentações mostram isso, na prática.

Discussão coletiva após a apresentação dos projetos finais de planejamento.

Atividade no EaD

É preciso lembrar que o projeto final dos alunos na modalidade de ensino à distância, será realizado na área de trabalho previamente escolhida pelo participante quando da sua inscrição no curso e a qual o aluno tem focado, durante as atividades de avaliação do curso até aqui.  Para auxiliar no projeto final, será preciso apresentar o planejamento tal como é aplicado no curso presencial.

Síntese

O projeto final trará muitas formas de apresentação e interpretação. Erros de representação em escala, tanto para a base cartográfica quanto para os elementos, são comuns. O que importará de fato como avaliação é o planejamento conter a lógica sistêmica de pensar da permacultura.

Na mesma linha, o relatório final poderá apresentar algumas confusões de interpretação e de disposição dos ítens a serem versados. É comum constatarmos confusões na análise de elementos. Frequentemente, os participantes conseguem definir muito bem as funções dos elementos, mas ficam devendo uma melhor compreensão das suas características e necessidades.  Acreditamos que isso se deva à visão utilitarista da natureza que nos é inculcada desde a infância. Assim, sugere-se que se aborde essa temática sempre que possível ao longo do curso, buscando desconstruí-la para, então, construir uma lógica de pertencimento humano à natureza.

É importante lembrar que o perfil do participante de permacultura é bastante eclético. Assim, fica difícil fazer com que todos tenham uma boa compreensão de elementos do terreno, como topografia, declividade, etc. Alguns manifestarão mais afinidade pelas espécies vegetais e animais. Ainda haverá aquele grupo que mostrará afinidade com questões de planejamento social. Enfim, alunos de ciências naturais terão aptidões diferentes daqueles que provêm da área da saúde, das ciências sociais, das engenharias, etc. Explore esta diversidade e desfrute a riqueza dos resultados finais!

Ao longo do curso, caberá ao grupo de instrutores perceber essas nuances de aptidão e, a partir delas, melhor guiar o grupo para um aprendizado mais fluido. Esse é um dos principais papéis do instrutor-âncora, que deverá estar em todos os encontros, promovendo as conexões necessárias entre as diferentes temáticas. 

Referências sugeridas

AVIS, R.; AVIS, M.; COEN, T. Building Your Permaculture Property. New Society Publishers, 2021.

MARS, R. O design básico em permacultura. Porto Alegre: Via Sapiens, 2008.

MCKENZIE, Lachlan; LEMOS, Ego. The Tropical Permaculture Guidebook: A Gift from Timor-Leste. International Edition, 2017. v. 1. ISBN: 978-0-6481669-9-3. Disponível em: https://permatilglobal.org/. Acesso em: 04 fev 2022.

TENTH ACRE FARM. 6 Maps for the Permaculture Farm Design. Disponível em: https://www.tenthacrefarm.com/6-maps-permaculture-farm-design/. Acesso em: 14/5/2022.

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